É normal sentir empatia pela mãe narcisista?
O abuso e a negligência sofridos por filhos e filhas de mães narcisistas, embora pareçam inimagináveis para aqueles que não ousam questionar os valores rígidos e obsoletos do senso comum, tais como “Toda a mãe ama os filhos” e “Família é tudo”, são bastante reais. Seja através dos e-mails que recebo, diariamente, através do Filhas de Mães Narcisistas ou de relatos direitos de clientes, nunca deixo de me impressionar com as histórias chocantes dos maltratos que sofrem, independente de idade, gênero, nível de escolaridade, social ou financeiro.

Seja de natureza física, sexual, emocional/psicológica, verbal, espiritual ou até vicária, o abuso praticado por um adulto a uma criança, adolescente ou a outro adulto vulnerável consiste em um ato bárbaro, tirano e impiedoso. Sobretudo, mulher ou homem – quando comete abuso e negligencia os filhos – não é merecedor de consideração excepcional por ser mãe ou pai. Na realidade, os efeitos do trauma causados por abuso e negligência cometidos por uma mãe ou pai narcisista/tóxico é muito mais difícil de ser tratado e superado do que o cometido por um estranho. Portanto, a responsabilidade dos genitores é muito maior por causa do impacto que exerce no desenvolvimento, saúde e bem-estar dos filhos, assim como na habilidade de se tornar um adulto competente e realizar-se como pessoa.
Quando temos conhecimento disso e vemos claramente o poder nocivo do trauma familiar e os efeitos negativos não somente em nível individual, mas também coletivo, é inevitável sentirmos certo desconforto emocional e até nutrimos raiva contra os responsáveis, como a mãe narcisista. Se esse for o seu caso, gostaria de reiterar que tem todo o direito de se sentir desta forma, pois é humano e foi programado para proteger-se de ameaças ao seu bem-estar. Eu, Michele Engelke, também reajo com indignação e revolta contra qualquer pessoa abusiva que se recusa a assumir a responsabilidade pelos danos causados às suas vítimas, principalmente quando são os próprios filhos, contudo, também sou capaz de sentir empatia por tais indivíduos. Isso não é privilégio meu por ser terapeuta e, supostamente, “superior”, mas da maioria dos seres humanos, já que somos hábeis para possuir sentimentos opostos ao mesmo tempo e a nos identificarmos com o sofrimento alheio, mesmo quando desconhecemos a sua origem.
É normal e humano sentir empatia por uma pessoa abusiva, mesmo quando este sentimento provenha da vítima/sobrevivente, contudo, isso não implica, necessariamente, ação. Em outras palavras, você pode sentir empatia por sua mãe narcisista (e até pena), mas não é responsável pelo bem-estar dela ou pela suposta “cura” do problema dela. Afinal, a empatia é, em essência, a capacidade de se colocar no lugar do outro de forma abstrata, não corresponde, portanto, à incumbência de corrigir a deficiência deste nem reparar o relacionamento, sobretudo, quando uma das partes envolvidas recusa-se a refletir sobre os comportamentos impróprios e admitir a culpa. Caso tenha dificuldade de agir empática e autonomamente não apenas com a mãe narcisista, como também com outras pessoas chaves em sua vida, recomendo muitíssimo o meu curso online A codependência.