Por que choro quando estou com raiva?
Os pais e demais adultos influentes na vida da criança em desenvolvimento que a punem, envergonham-na e a culpam por ter e expressar as emoções negativas contribuem, imensamente, para que esta associe a raiva, por exemplo, a uma experiência traumática. Sofrer esta rejeição é traumatizante pois exerce um impacto disfuncional na forma com que se conecta com o eu, fazendo com que se sinta insegura por possuir emoções negativas, e inadequada por não conseguir conectar com estas livremente e expressá-las de uma forma saudável enquanto se sente percebida, vista e ouvida pelos pais. Desse modo, o trauma resultante da atitude imatura e negligente dos genitores fica armazenado no corpo e extravasa em momentos de raiva – com ou sem a consciência da vítima – fazendo com que reviva os sentimentos de inadequação de sua infância na idade adulta e reaja de modo incongruente e vulnerável quando embrabecida.

Quando você sente raiva e começa a chorar, também está processando o luto da perda de conexão com o próprio corpo e outros seres humanos, bem como de identidade, autonomia, autenticidade, amor-próprio e afeto. Equivale-se, portanto, a uma grande perda de humanidade ser forçado, desde pequeno, não somente a reprimir as emoções, bem como rejeitá-las. Isso se deve ao fato de que repelir as emoções, independente da natureza – consiste em um processo de autorrejeição, já que são partes de nós. A vergonha, o medo de abandono e o luto que sente quando com raiva indicam que não foi exposta, ao longo de seu desenvolvimento, a uma atitude parental de maturidade e tolerância emocional que a possibilitariam nutrir um relacionamento livre a complacente com o que sente e, por consequência, consigo própria.
Se é como a maioria da população e foi criada por pais emocionalmente negligentes, é provável que possua uma conexão com o corpo e as emoções marcada por esta incongruência, o que perpetua o seu desconforto emocional. Se chora quando sente raiva ou ri quando está triste ou envergonhada, por exemplo, recomendo monitorar estas tendências ativamente e corrigir estes maus hábitos, preferivelmente, em tempo real. Na prática, pode tornar-se mais coerente e centrada quando honra a tristeza e a raiva que ocorrem simultaneamente, registrando a presença de ambas até que, com o tempo, consiga processar o luto por completo e restabelecer uma conexão mais íntegra com estas, especialmente com a raiva, permitindo-se senti-la sem culpa, vergonha ou medo de ser rejeitada e abandonada por ter-se dado o direito de possuí-la e expressá-la (de forma não abusiva, é claro).
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