Autor: Michele Engelke

Você está se sentindo ansioso ou simplesmente com raiva?

A ansiedade nem sempre é o motivo pelo qual a pessoa não se sente bem, já que não é o único sentimento que nos impacta negativamente. Caso você tenha um sentimento complicado com a raiva, por exemplo, pode ter o hábito de não a reconhecer no corpo. A ansiedade é um sentimento que se origina do medo, portanto, trata-se de uma emoção de agitação intensa – tal como a raiva – e é propensa a ser identificada erroneamente. Desta forma, se a pessoa não tolera a raiva, pode ser que a esteja chamando de “ansiedade”. Aqueles que fazem isso, contudo, tendem a fazê-lo inconscientemente. Para ajudá-lo a entender o que está sentindo e estabelecer uma conexão saudável com a raiva, continue lendo para explorar se você está se sentindo ansioso ou simplesmente com raiva.

Você está se sentindo ansioso ou simplesmente com raiva
Você sabe se o que está sentindo é ansiedade ou raiva?

Semelhanças entre a raiva e ansiedade

A ansiedade, um sentimento que se origina do medo, e a raiva são desencadeadas pela percepção de uma ameaça. Você se sente ansioso/com medo ou com raiva quando se encontra diante de algum tipo de perigo. Quando isso acontece, o corpo se prepara para lutar contra aquela coisa, pessoa ou animal perigoso, desde congelar no local para enganá-los até escapar destes. Por essa razão, a raiva e a ansiedade têm fisiologias semelhantes. Quando o corpo está se preparando para lutar, congelar ou fugir, os músculos ficam tensos, a respiração torna-se superficial, o coração bate mais rápido e a digestão é suprimida. Assim sendo, todos os recursos são mobilizados para a sobrevivência. Portanto, do ponto de vista físico, a ansiedade/medo e a raiva são sentidos de modo similar no corpo.

Diferenças entre a ansiedade e raiva

Embora a ansiedade e a raiva sejam sentidas de maneira semelhante, os gatilhos podem não ser os mesmos, pois são vivenciadas em diferentes circunstâncias. A ansiedade compreende um sentimento negativo em relação a algo que está para acontecer. A maioria das pessoas fica ansiosa antes de fazer uma apresentação, por exemplo, pois se preocupa com o desempenho. Isso é ansiedade, ou seja, a pessoa não tem como saber o que realmente vai acontecer, isto o coloca numa posição vulnerável não só porque se lembra de suas limitações pessoais, bem como devido à possibilidade de obter resultados negativos.

A raiva, por outro lado, pode ser empoderadora, visto que surge quando a pessoa sente que os seus limites não foram respeitados, portanto, é ativada para ajudá-la a recuperar a autoestima e a protegê-la de si própria e das outras pessoas. Em virtude disso, a raiva consiste numa reação emocional a uma ameaça e, embora não a antecipe, pode ajudar a evitá-la – a longo prazo – devido à sua conexão com os comportamentos de autoafirmação. A raiva promove a autoconfiança e o poder saudável quando se expressa de modo funcional e não abusivo.

Para se conectar com a raiva de uma forma adaptativa e funcional, resista o impulso de reprimi-la, acalmá-la ou racionalizá-la. Sinta-a no corpo – com a atenção plena – e sem julgamento. Ouça a sua mensagem e valide a sua importância para salvaguardar o seu bem-estar, assim como daqueles que dependem de você.

5 sinais que você não respeita os limites das outras pessoas

Impor limites é essencial para aqueles que investem no crescimento e desenvolvimento pessoal. Quando se pensa em limites, associamo-lo a dizer não aos outros, isto serve para mostrar o modo como os limites não são respeitados e o que fazer a respeito. Mas se muitos de nós pensamos desta maneira, quem, então, desrespeita os limites do outro? Poderíamos ser nós, também? Se você acha que se impõe limites fracos, provavelmente tem dificuldade de respeitar os limites das outras pessoas. Para ajudá-lo a ver se incorre nisso, elenca-se 5 sinais que você não respeita os limites das outras pessoas:

Você tem dificuldade de aceitar os limites das outras pessoas?

1- Você tem certeza dos problemas dos outros: você não reconhece os outros como capazes de gerenciarem as suas próprias vidas e acredita ser aquele que conhece a verdadeira raiz do sofrimento deles. Portanto, despende grande energia psicanalisando-os, enquanto ignora as próprias vulnerabilidades e limitações.

2- Você não aceita quando os outros precisam de distância: você se sente pessoalmente atacado quando os outros não querem a sua companhia. Quando expressam a necessidade de se distanciar, não demonstra interesse pelos motivos, tampouco os leva em consideração.

3- Você se ressente dos outros quando não concordam com você: você sente-se rejeitado e alienado quando não consegue influenciar os outros. Além disso, mantém valores rígidos sobre os relacionamentos e tem dificuldade de aceitar a individualidade e separar-se emocional e psicologicamente das pessoas.

4- Você não aceita as limitações dos outros: você tem altas expectativas em relação aos outros e, quando não são atendidas, sente-se inquieto, desapontado e/ou ressentido, pois tem dificuldade de aceitar as pessoas e as coisas como são e não como deseja que sejam.

5- Você não vê os outros de forma íntegra: as suas opiniões sobre os outros são baseadas em projeções ou em como o fazem se sentir. Você vê os outros apenas em seus sofrimentos e limitações para se sentir empoderado e elevar a sua autoestima, embora tenha dificuldade de separar os sentimentos de insegurança e inadequação da percepção sobre estes.

Os relacionamentos são desafiadores e pouco sabemos sobre eles. Os limites saudáveis, portanto, estão no cerne do que torna os relacionamentos funcionais. Saber se impor limites, no entanto, é uma via de mão dupla: você pode tomar consciência dos seus limites, aprender como expressá-los e obter uma maior sensação de bem-estar nos relacionamentos, mas isso não exclui estar ciente de honrar e respeitar os limites das outras pessoas.

O que é um relacionamento codependente?

Um relacionamento codependente é um relacionamento disfuncional porque não favorece o crescimento nem o desenvolvimento pessoal, portanto, quando a pessoa se encontra em um, sente-se descontente, pois as suas necessidades não são atendidas. Os relacionamentos codependentes não são compostos de heróis e vilões. Aqueles que colocam as necessidades dos outros antes das suas podem ter motivações obscuras que vão além da bondade ilimitada. Os considerados maus ou aqueles que recebem a atenção e a dedicação exageradas e, muitas vezes, a ajuda não solicitada, têm vulnerabilidades que vão além do egoísmo e do egocentrismo. Desta forma, a dinâmica do relacionamento codependente é complexa, sem ser estática e não pode ser totalmente compreendida por meio de termos simplistas.

O que é um relacionamento codependente?
Os relacionamentos codependentes são marcados pelos limites fracos

A principal vulnerabilidade dos envolvidos nos relacionamentos codependentes se baseia nos limites fracos. Embora isso seja facilmente identificável no caso doador, já que a sua dedicação ao outro parece não ter limites, também está presente no receptor. Aqueles que dependem da dedicação e do esforço dos doadores para sentirem-se valorizados e conectados, fazem-no devido à incapacidade de nutrir estes sentimentos de forma autônoma. Quando a pessoa depende de fontes externas para o seu bem-estar, os limites entre ela, os outros e o mundo ao seu redor tornam-se porosos, o que leva a tipos de dependências, tais como a emocional e relacional.

Além disso, os limites fracos estão profundamente ligados a altas expectativas, à má comunicação e ao processo de leitura mental. Como não existe uma separação clara das necessidades individuais, tanto o doador quanto o receptor sentem-se insatisfeitos no relacionamento, o primeiro porque a sua dedicação e seu esforço não são correspondidos pelo receptor, enquanto o segundo sente-se sobrecarregado com a responsabilidade de igualá-los ou preso à dependência deles. Devido ao medo da rejeição e do abandono e à dificuldade de regulação emocional, tanto o doador como o receptor carecem de ferramentas para se expressarem emocionalmente, resolverem conflitos e sentirem-se ouvidos, vistos e percebidos.

Se se encontra em um relacionamento codependente e gostaria de mudar essa dinâmica, dê início a um trabalho interno de amadurecimento emocional. O foco dos indivíduos emocionalmente maduros é aprender a tolerar o desconforto sentido nos próprios corpos, em vez de psicanalisar e consertar os outros. Você pode conseguir isso por meio da autonomia emocional, permitindo-se sentir e processar os sentimentos negativos, tais como a raiva e insegurança, enquanto resiste à tendência de buscar o equilíbrio interior através de validação externa, seja através da dedicação exagerada ao bem-estar alheio ou da dependência desta para se sentir amado e seguro nos relacionamentos.

O mito da boa comunicação nos relacionamentos emocionalmente negligentes

Os relacionamentos amorosos têm grande influência em nosso bem-estar, pois nos afetam mesmo se não estivermos conscientes desse impacto. Neste sentido, os filhos adultos de pais emocionalmente negligentes (narcisistas, imaturos etc.) têm maior probabilidade de não perceberem quando não têm as emoções, necessidades e vontades atendidas pelos parceiros amorosos. Como resultado dessa falta de consciência, abordam os problemas do relacionamento sem saber quais são.

O mito da boa comunicação nos relacionamentos emocionalmente negligentes
A boa comunicação não é a única característica dos relacionamentos saudáveis

Ressalta-se que a “boa comunicação” é considerada como a característica primordial para vivenciar bons relacionamentos; e é nisso que a maioria das pessoas acredita. De fato, embora a boa comunicação esteja frequentemente presente como uma variável em relacionamentos saudáveis, não é, apenas, isso que os faz funcionar. Existem outros fatores que contribuem para o seu sucesso, tais como o amor, a atração sexual, a intimidade (não somente a física, mas também a emocional), o respeito pela autonomia, entre outros. Nas relações funcionais, existe um esforço consciente e uma vontade de ver, sentir e ouvir o outro. A consciência emocional não está presente apenas em nível individual, mas também orienta a compreensão do indivíduo sobre as necessidades do parceiro.

Eu ouço você, mas não valido as suas necessidades

O esforço consciente para melhorar um relacionamento através de uma comunicação melhor tende ao fracasso nos relacionamentos emocionalmente negligentes se a negligência não for identificada e abordada. Um indivíduo pode aprender como se expressar perfeitamente, como usar as palavras de sentimentos e vinculá-las a comportamentos e pensamentos para ajudar a aumentar a consciência do outro (“quando você _____ (comportamento), eu sinto _____ (sentimento) e penso _____ (pensamento)”) e, ainda assim, não se sentir visto, ouvido ou sentido pelo parceiro. Se não há a intenção ou o esforço real do parceiro de se conectar emocionalmente e validar as necessidades do outro – na prática – a boa comunicação, por si só, não resultará nos benefícios prometidos.

Se você está passando por um momento difícil no seu relacionamento, considere a negligência emocional como um fator provável e reflita sobre o tipo de conexão que você tem consigo próprio e quanta importância dá aos seus sentimentos, desejos e necessidades. Faça o mesmo com os sentimentos, os desejos e as necessidades do parceiro. Aprenda a se expressar, caso sinta que não sabe como fazê-lo; e, além disso, reserve um tempo para entender o parceiro. Acima de tudo, observe o que acontece quando a comunicação vai bem se há mudanças positivas. Se os mesmos problemas continuarem a surgir, e as suas necessidades (ou as do parceiro) permanecerem não atendidas, está na hora de abordar a negligência emocional com mais cuidado e atenção.

5 sinais de que o seu problema de peso está relacionado a um trauma

A conexão entre os maus comportamentos alimentares, como a restrição calórica e o vício alimentar, e o trauma é amplamente aceita (vide pesquisas abaixo). Portanto, caso tenha dificuldade de manter um peso saudável, é fundamental saber que apenas uma mudança na dieta pode ser insuficiente para produzir efeitos duradouros. Para se tornar ciente de como a saúde mental afeta o seu relacionamento com a comida, elenca-se 5 sinais de que o seu problema de peso está relacionado a um trauma:

5 sinais de que o seu problema de peso está relacionado a um trauma
As vítimas de abuso emocional, negligência física e/ou abuso sexual são mais propensas a recorrerem à comida para equilibrarem as emoções

1- Você come de forma emocional para se sentir melhor. A alimentação emocional é motivada pelos sentimentos negativos dos eventos traumáticos que ficam armazenados no corpo, como a solidão, o cansaço, a ansiedade, a tristeza, a vergonha, a culpa e a raiva. As vítimas de abuso emocional, negligência física e/ou abuso sexual, por exemplo, são mais propensas a recorrerem à comida para equilibrarem as emoções e lidarem com o estresse traumático (Kong et al., 2009). Conforme Stojek et al. (2019) esclarecem: “De uma perspectiva psicológica, consumir alimentos com alto teor calórico que estimulam o neurocircuito de recompensa é uma poderosa estratégia de regulação emocional em resposta ao aumento do estresse”.

2- Você se alimenta de forma desregrada para desafiar a autoridade. Você expressa a raiva dos pais abusivos e o controle do próprio corpo comendo demais ou de modo irresponsável para não se submeter a dietas rígidas e aos padrões de beleza.

3- Você se alimenta pouco para desafiar a autoridade. Você expressa a raiva dos pais abusivos e o controle do próprio corpo fazendo dieta e torna-se mais magro para provocar-lhes inveja ou ressentimento por sua autonomia e perda de peso.

4- O seu sobrepeso faz com que se sinta seguro. Você se sente mais forte e menos vulnerável ao abuso quando está fisicamente maior ou “invisível” a fim de protegê-lo da atenção alheia.

5- Você é viciado em açúcar. O trauma do desenvolvimento mal resolvido e o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) “comumente ocorrem de forma simultânea com o vício” (Flanagan et al., 2016). O açúcar é usado para aliviar o estresse traumático, propósito observado no uso de outras substâncias viciantes, tais como o álcool e as drogas.

Uma abordagem consciente do trauma revela-se essencial se estiver empenhado em superar um distúrbio alimentar ou administrar o peso de maneira eficaz. Para um resultado de sucesso, combine uma dieta saudável com o tratamento psicológico de traumas não resolvidos e trate a saúde integralmente, da cabeça aos pés.

Referências:

Kong S, Bernstein K. (2009). Childhood trauma as a predictor of eating psychopathology and its mediating variables in patients with eating disorders. Journal of clinical nursing. 18. 1897-907. 10.1111/j.1365-2702.2008.02740.x.

Flanagan JC, Korte KJ, Killeen TK, Back SE. Concurrent Treatment of Substance Use and PTSD. Curr. Psychiatry Rep. 2016 Aug;18(8):70. (doi: 10.1007/s11920-016-0709-y. PMID: 27278509; PMCID: PMC4928573).

Stojek MM, Maples-Keller JL, Dixon HD, Umpierrez GE, Gillespie CF, Michopoulos V. Associations of childhood trauma with food addiction and insulin resistance in African-American women with diabetes mellitus. Appetite. 2019 Oct 1;141:104317. (doi: 10.1016/j.appet.2019.104317. Epub 2019 Jun 8. PMID: 31185252; PMCID: PMC6629477.)

De onde vem a crença “eu não sou bom o suficiente”?

Quando a crença negativa “eu não sou bom o suficiente” está ativa, sentimo-nos inseguros, duvidamos de nós próprios e questionamos nossa inteligência e competência. Além disso, tornamo-nos hipervigilantes e dependentes de aprovação externa para nos sentirmos menos ansiosos. Se deseja obter mais controle sobre esse processo, recomendo fazer a ligação entre essa crença fundamental e o trauma infantil não resolvido. As experiências adversas, como sofrer bullying na escola, contribuem para fortalecer essas crenças negativas. Quando essa conexão é encontrada, encontra-se em uma posição favorecida para quebrá-la e livrar-se de seus efeitos na sua autoestima.

De onde vem a crença “eu não sou bom o suficiente”?
Quando a crença negativa “eu não sou bom o suficiente” está ativa, sentimo-nos inseguros e duvidamos de nós próprios

Contudo, se não sabe por onde começar, elencam-se exemplos de eventos traumáticos vividos na infância que resultam na crença de que não se é bom o suficiente na idade adulta:

– As suas notas escolares, mesmo quando muito boas ou excelentes, nunca foram boas o suficiente para os responsáveis pelo seu cuidado. Quando as compartilhava com eles, perguntavam quem mais as obteve ou se era o primeiro ou o segundo melhor da sua classe.

– Os responsáveis pelo seu cuidado não estavam emocionalmente presentes quando compartilhava as notas escolares com eles. Os seus esforços não eram nem validados nem rejeitados por eles, pois simplesmente não estavam interessados o suficiente para se importarem com isso.

– A sua escola e/ou professores era(m) ignorante(s) ou não possuíam ferramentas corretas para lidar com a sua vulnerabilidade psicológica, tal como o Transtorno de Déficit de Atenção ou Asperger. Você se sentia mal por ser diferente, solitário e até alienado por não ter apoio.

– Você estava com fome, cansado, raiva e/ou medo/ansioso para conseguir se concentrar na escola. Você tinha dificuldade de se concentrar e/ou não tinha estrutura para aprender como os colegas.

Como o seu cérebro construiu essa noção de que não é bom o suficiente? Quais são os eventos negativos que funcionam como “prova” da sua suposta incompetência? Vá para um lugar privado e concentre a atenção na respiração por 1 minuto. Em seguida, conecte-se com o corpo, da cabeça aos pés. Estabeleça a intenção de ser guiado por ele para encontrar uma conexão entre “eu não sou bom o suficiente” e um evento adverso da infância. Por fim, observe onde isso o leva. Depois do seu cérebro remeter-lhe a uma imagem, permita-se sentir-se presente com ela. Observe os efeitos que provocam em sua psique, no corpo e nas emoções. Repita essa prática em dias diferentes até que a imagem não tenha nenhum efeito negativo sobre você.

O autocuidado requer esforço

É comum entre aqueles que investem na saúde mental e física saberem do que se trata o autocuidado. Como conselheira de trauma, falo abertamente com meus clientes sobre a importância de uma rotina de autocuidado, que compreende práticas regulares para promover o bem-estar, tais como: a meditação, os exercícios respiratórios, a ioga, a alimentação saudável, a caminhada e a higiene pessoal, por exemplo. Quando os incorpora com sucesso na sua rotina diária, pratica um bom autocuidado. Quem pratica o autocuidado, regularmente, sente-se mais equilibrado e menos suscetível à sobrecarga emocional.

O autocuidado requer esforço
A meditação, os exercícios respiratórios, a ioga e a alimentação saudável são práticas de autocuidado.

Se cuidar de nós nos faz tanto bem, por que não o fazemos? Por que precisamos ser lembrados por nossas terapeutas da importância de mantermos uma rotina de autocuidado? Porque o autocuidado, para a maioria de nós, exige esforço. Tratar-se com cuidado pode ocorrer naturalmente, em especial para aqueles que sofreram negligência e abuso durante o crescimento e desenvolvimento. As vítimas do trauma complexo tendem a ter uma relação complicada com o corpo. Para esses indivíduos, negligenciar e até abusar de si próprio pode parecer mais instintivo do que adiar a gratificação para priorizar a saúde a longo prazo.

A hipervigilância – um efeito comum do trauma da infância – faz com que a pessoa se sinta constantemente em alerta máximo ou presa no modo de luta ou fuga. Aqueles que sofrem de hipervigilância são propensos ao armouring (tensão em várias partes do corpo), à preocupação excessiva e à ansiedade. Os corpos hipervigilantes também são inquietos e impacientes, portanto, a meditação diária, para alguém assim, representa um esforço gigantesco. Nesses casos, focar na respiração e observar os pensamentos sem julgamento parece contraintuitivo, quando tudo o que se quer fazer é se levantar e se distrair. 

Se você é um sobrevivente do trauma do desenvolvimento/infância, ou sofreu negligência e/ou abuso, é imprescindível que seja gentil consigo próprio. Embora o autocuidado seja bom, não significa dizer que é fácil de fazer. Provavelmente, você achará difícil incorporá-lo à sua rotina diária e, ainda mais difícil, mantê-lo. Não desista. Mais importante ainda, não se castigue por não conseguir acertar logo de cara. Dê tempo a si próprio. Você está ensinando o seu corpo um novo truque – algo que não conhece – então, dê um tempo para que se acostume. Com a prática, você começará a desfrutar dos benefícios de se tratar com cuidado, amor e respeito. Seja paciente e confie no processo.


O seu cérebro hipervigilante não é seu amigo

Como seres pensantes, exibimos uma tendência natural de acreditarmos nos pensamentos e confirmarmos as nossas visões tendenciosas, além de nos sentirmos seguros quando as nossas teorias sobre o mundo, nós mesmos e as outras pessoas parecem ser verdadeiras. No entanto, a realidade – assim como os seres humanos – é extremamente complexa. Em nossa ânsia de nos acalmarmos com a ajuda do intelecto, deixamos de levar em consideração diversas variáveis que influenciariam a nossa compreensão da realidade. Limitamos a nossa percepção ao que já sabemos para nos sentirmos seguros, mesmo quando esse conhecimento não favorece o nosso bem-estar.

O seu cérebro hipervigilante não é seu amigo
O cérebro hipervigilante está sempre em alerta

Essa tendência se pronuncia no cérebro traumatizado. Para as vítimas do trauma relacional, por exemplo, abordar os relacionamentos com a neutralidade e sem levar para o lado pessoal é um desafio, pois sofrem com a hipervigilância.  Num constante estado de atenção ao perigo – modo luta ou fuga – se protegem contra a dor, algo que conhecem tão bem. Para se sentirem seguros, confiam nas explicações sobre a ansiedade e insegurança que seus cérebros produzem com rapidez e aparente eficiência. Você está desanimado com a ideia de conhecer novas pessoas? Provavelmente, porque vão rejeitá-lo. Esse pensamento negativo e irracional, inclusive quando prejudicial à saúde mental e relacional, ajuda os socialmente ansiosos a se equilibrarem. Assim que a ameaça é extinguida (conhecer novas pessoas), não há mais perigo nem fonte de preocupação.

Portanto, o seu cérebro não é, necessariamente, seu amigo nem está sempre certo, em particular quando está traumatizado e hipervigilante – independente de quão convicto se sinta em relação aos pensamentos. Quando se torna consciente disso, a sua vida muda. Se sofreu com o trauma num relacionamento, desconfie muito do que o seu cérebro tem a dizer sobre as outras pessoas. Lembre-se de que tenta protegê-lo, de uma forma rígida e imperfeita. Observe os seus pensamentos de mente aberta e se esforce para considerar novas perspectivas. Não dê crédito, de saída, às teorias negativas que tentam convencê-lo a não confiar em ninguém e tolere o desconforto que surge ao se entregar ao desconhecido, com uma fé cega na própria competência e bondade dos seres humanos. Questione a resistência do seu cérebro em permiti-lo a aprender com a experiência. Você consegue tolerar a dor, caso surja, bem como superá-la com força emocional e maturidade.

Reconectando-se com as necessidades não atendidas: o alarme da raiva

As emoções são ferramentas poderosas que ajudam a nos conectarmos com o ambiente, com as outras pessoas e conosco. As emoções como a culpa e a raiva alertam-nos sobre os efeitos das nossas próprias ações e das ações dos outros. Quando percebe que as suas palavras magoaram alguém, por exemplo, sente-se culpado e, às vezes, com raiva de si próprio, o que o motiva a desculpar-se pelo ocorrido para reparar o relacionamento. Portanto, as emoções negativas também desencadeiam ações que levam a mudanças positivas.

Reconectando-se com as necessidades não atendidas: o alarme da raiva
A raiva ajuda-nos a identificar as necessidades não atendidas

Embora a culpa seja considerada uma emoção negativa, os efeitos positivos dos comportamentos que desencadeia são reconhecidos pela maioria. Infelizmente, essa atitude tende a não se aplicar à raiva, pois é amplamente mal compreendida, julgada indiscriminadamente, considerada destrutiva ou apenas um impulso a ser controlado. Apesar das demonstrações agressivas de raiva dificilmente passarem despercebidas, isso não ocorre com as suas causas. Contudo, as formas de expressão da raiva abusiva não devem dominar a narrativa e erradicar o propósito desta emoção.

O alarme da raiva

A raiva ajuda-nos a identificar as necessidades não atendidas. A raiva seguida de sentimentos de rejeição, por exemplo, lembra-nos da necessidade de sermos amados. Quando sentimos raiva por não atingirmos os objetivos, nós nos conectamos com a necessidade de criar um significado para a vida. Sentir-se amado e viver uma vida significativa aumentam o bem-estar, o que promove a saúde física, emocional e relacional.

A raiva também nos permite reconhecer quando os limites não são honrados. Quando dizemos não e não somos ouvidos, sentimo-nos sem importância e desrespeitados. Sentir-se menos ou alienado conecta-nos com a necessidade de valorização e pertencimento. Quando a nossa existência é validada, há um grande aumento não só do nosso senso de conexão conosco e com os outros, bem como da vontade de se engajar com a vida.

Em The Surprising Purpose of Anger: Beyond Anger Management, Finding the Gift, Rosenberg (2005) destaca a raiva como um meio de alerta, cuja função é chamar a nossa atenção para as necessidades a serem atendidas. Em face disso, o autor sugere mudarmos o foco do julgamento de nós mesmos e dos outros, quando estivermos sob a influência da raiva, para o que precisamos e queremos.

Para além da raiva

Um relacionamento saudável com a raiva é aquele que nos permite ver além dela. A raiva é altamente energizante e até viciante, pois desencadeia os sentimentos de força, honradez e legitimidade, desta forma, precisamos de treino árduo para resistir à atração de nos movermos nessa direção. Uma atitude consciente em relação à raiva ajuda-nos a concentrarmos no que realmente importa: identificarmos e nos conectarmos com as necessidades não atendidas, sejam nossas ou de outras pessoas. Embora produtivo, esse processo não se concretiza da noite para o dia, mas requer prática. Para criarmos uma relação saudável com a raiva, devemos nos permitir vivenciar esse processo e, inclusive, cometer erros, durante um período razoável, até que se torne internalizado.

Referência:

Rosenberg, M. B. (2005). The Surprising Purpose of Anger: Beyond Anger Management: Finding the Gift. PuddleDancer Press.

Vídeo: Reflexões sobre o perdão

Neste vídeo exclusivo para o Filhas de Mães Narcisistas, Michele Engelke oferece uma reflexão a respeito do perdão, um tema que geralmente permeia a consciência de filhos e filhas de famílias disfuncionais e tóxicas.

Nas reflexões sobre o perdão, a terapeuta do trauma e de EMDR Focada no Apego explora o que significa perdoar um pai negligente e/ou mãe abusiva de forma a honrar este processo quando vivenciado pela vítima do trauma relacional.

Se você estiver cogitando cortar o contato com a genitora abusiva e/ou o pai facilitador/negligente, ou se já cortou o contato e está reavaliando uma reaproximação, este vídeo o ajudará a abordar o perdão de modo maduro e condizente com o seu contexto pessoal.

Para aprofundar-se no assunto, recomendamos…

Livros:

O Capítulo 4, Reivindicando você, do Prisioneiras do espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas apresenta dicas de como recuperar o controle sobre si própria com o corte de contato ou a adoção de um relacionamento light, além de explorar o tema do perdão.  

Para quem está interessado em fazer terapia para auxiliar o processo de luto e cura do trauma, o capítulo 4.5, O aconselhamento do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura traz uma lista das abordagens terapêuticas que Michele Engelke recomenda. 

Curso online:

Como fazer o luto pela mãe narcisista de forma orgânica:

  • Entenda o que é o luto
  • Estude as 5 fases do luto de Kübler-Ross aplicadas no contexto da filha de mãe narcisista
  • Aprenda como reconectar-se com o corpo e a fazer o luto (pela mãe narcisista) de forma orgânica
  • Explore as sensações corporais das emoções negativas, tais como a tristeza e a raiva
  • Aprenda técnicas de autorrelaxamento

Além disso, o curso:

  • Contém uma prática guiada de luto orgânico
  • Possui a duração de 2h 07 min 30 seg
  • Inclui um certificado de conclusão

5 estratégias para lidar com a negligência emocional dos pais

Os pais emocionalmente negligentes falham em fazer com que os filhos se sintam vistos, sentidos e ouvidos, o que resulta numa necessidade de atenção, validação e apoio, mesmo na idade adulta. Embora tais necessidades sejam razoáveis, a insistência dos filhos adultos dos pais emocionalmente negligentes de que as satisfaçam perpetua a infelicidade e o desapontamento. Se esse comportamento lhe parece familiar, elenca-se 5 estratégias para lidar com a negligência emocional dos pais para ajudá-lo a sair desse ciclo:

5 estratégias para lidar com a negligência emocional dos pais
Se se sente inadequada para compartilhar os sentimentos com os pais, isso significa que não são aptos para dar-lhe o apoio emocional que procura

1- Acabe com a fantasia da família ideal: apesar de termos sido condicionados a acreditar que a família é a primeira e mais confiável ​​fonte de segurança, amor e apoio, isso é uma fantasia. Embora alguns se sintam seguros e acolhidos ao se conectarem emocionalmente com os pais, outros se sentem ignorados pelos pais egocêntricos e emocionalmente imaturos, o que tem um impacto negativo no seu desenvolvimento emocional. Se cresceu em um ambiente de negligência emocional, manter viva a fantasia da família ideal e a esperança que um dia os pais irão mudar e honrar como se sente é infrutífero.

2- Obtenha o apoio que necessita de pessoas emocionalmente maduras: se se sente invisível, insignificante ou inadequado para compartilhar os sentimentos com os pais, isso significa que não são aptos para dar-lhe o apoio emocional que procura. Quando os sentimentos de esperança tentarem convencê-lo do contrário, não os alimente, fale com um amigo emocionalmente maduro ou, se não possuir um, contrate uma terapeuta.

3- Limites, limites, limites: o que acontece com os seus pais não tem nada a ver com você, na maioria das vezes. A falta de interesse deles por você não significa que seja desinteressante, assim como a dificuldade de se conectarem emocionalmente começou antes do seu nascimento.Portanto, crie um limite bem sólido entre você e eles, permanecendo no próprio corpo e não alimente a narrativa de que é a razão de seu comportamento emocionalmente negligente.

4- Pratique o amor-próprio: como um adulto maduro, você não depende dos pais para se sentir digno de amor, competente e bom o suficiente. Você pode satisfazer essas necessidades através de relacionamentos com coisas e pessoas fora do seu círculo familiar, como amigos, parceiros amorosos, animais de estimação, colegas, vizinhos e até com pessoas aleatórias que lhe demonstram amor, consideração e respeito. Uma rica vida espiritual ou crenças que o ajudam a cultivar a sensação de fazer parte de algo maior do que si próprio também o conferem uma sensação de pertencimento e segurança interior.

5- Pratique a maturidade emocional: quebre o hábito de depender de fatores externos para se sentir melhor consigo próprio e passe a honrar as emoções de forma autônoma. Para lidar com a raiva e a tristeza que carrega como os efeitos do trauma relacional, reserve um tempo para processar a dor. Chorar quando surge a necessidade e expressar a raiva de forma criativa ou por meio de exercício ou atividade física, por exemplo, são meios saudáveis ​​de regular as emoções acumuladas no corpo.

Para aprofundar-se no tema negligência emocional parental e compreender como é vivenciada, recomendo a leitura do capítulo 5 A imaturidade e a negligência emocional das crianças grandes do meu terceiro livro Desconstruíndo a Família Disfuncional.

Vídeo: Por que eu sinto tanta raiva?

Neste vídeo exclusivo para o Filhas de Mães Narcisistas, a terapeuta do trauma Michele Engelke explica a relação entre o trauma, a raiva acumulada e o senso de direito.

Por ser uma emoção com o potencial de causar sofrimento na vida das vítimas de abuso narcisista, a raiva é comumente lidada na sala de terapia. Neste vídeo, a terapeuta especializada no trauma relacional compartilha práticas para lidar com a raiva de forma saudável e autônoma.

Neste vídeo, você aprenderá…

– De onde a sua raiva se origina

– Como lidar com a raiva de dentro para fora          

– O que precisa fazer para não sentir tanta raiva no futuro

Assista o vídeo “Por que eu sinto tanta raiva?” para começar a processar a raiva e tornar-se mais centrada e tranquila.

Para aprofundar-se no assunto, recomendamos…

Curso online:

“Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica”: contém uma prática de luto orgânico que ajuda a vítima de abuso a processar a raiva armazenada no corpo.  

Livros:

Prisioneiras do espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas: 5 anos após o seu lançamento, ainda permanece a voz mais influente de autoajuda para as vítimas de abuso narcisista, honrando o seu sofrimento de forma íntegra.

Descontruindo a família disfuncional: o capítulo 2, As crenças rígidas e as verdades inquestionáveis estuda o papel das crenças rígidas na nossa experiencia emocional.

8 sinais da imaturidade emocional

É comum as vítimas do trauma do desenvolvimento/da infância acreditarem que “atraem as pessoas erradas”, visto que os relacionamentos familiares não são uma boa referência de conexões que favoreçam o bem-estar e crescimento emocional. Se se identificou com essa vulnerabilidade e necessita de ajuda para quebrar o ciclo dos relacionamentos disfuncionais, seguem 8 sinais da imaturidade emocional:

8 sinais da imaturidade emocional
As pessoas emocionalmente imaturas são ruins em regularem as emoções de forma independente

1- Rigidez mental: os indivíduos emocionalmente imaturos possuem crenças rígidas sobre si próprios, o mundo e as outras pessoas que não evoluem com o tempo. Ademais, o seu pensamento preto e branco não lhes permite enxergarem além do certo ou errado, bom ou ruim, o que desemboca numa baixa tolerância à ambiguidade, a tomar riscos e a cometer erros. Devido à mentalidade inflexível, também não respeitam a individualidade nem honram os limites dos outros.

2- Má regulação emocional: as pessoas emocionalmente imaturas são ruins em regularem as emoções de forma independente. Por negligenciarem a saúde emocional, sofrem com a depressão, ansiedade e/ou raiva acumulada por um longo período. Devido à baixa tolerância ao desconforto, fazem o que consideram melhor para si próprios sem considerar os efeitos disso nos outros ou os benefícios de adiarem a gratificação.

3- Alta subjetividade: os emocionalmente imaturos não cultivam o hábito de se distanciarem da própria percepção para darem lugar às análises e interpretações neutras, pois são movidos por crenças fundamentais rígidas e emoções fortes.

4- Falta de responsabilidade: as pessoas emocionalmente imaturas são altamente motivadas pela vergonha e exibem uma mentalidade de vítima, pois não admitem as suas falhas nem se desculpam por estas.

5- Egocentrismo: as pessoas emocionalmente imaturas precisam se sentir o centro das atenções, portanto, despendem tempo excessivo absorbidos em si próprios e preocupando-se consigo mesmos. Além disso, tem o hábito de usarem-se como referência, exibindo traços narcisistas.

6- Comportamento infantil: os indivíduos emocionalmente imaturos esperam que os outros ajam de forma adulta no seu lugar, portanto, seus parceiros amorosos sentem-se pressionados a fazer o trabalho duro por eles, como confrontar as outras pessoas e tomar as decisões, por exemplo. Por outro lado, os filhos de pais emocionalmente imaturos são forçados a agir como se fossem os pais para se sentirem seguros (inversão de papéis/parentificação).

7- Medo da intimidade: a vulnerabilidade e a conexão emocional desencadeiam insegurança no emocionalmente imaturo. Quando “forçado” a se conectar com o eu interior e as outras pessoas, sente-se inadequado e sobrecarregado e lida com o desconforto mudando de assunto (fuga), desconectando-se/não se envolvendo (congelamento) e/ou de forma agressiva (luta).

8- Baixa empatia: devido à sua rigidez mental, má regulação emocional, alta subjetividade, falta de responsabilidade, egocentrismo e medo da intimidade, as pessoas emocionalmente imaturas são insensíveis aos sentimentos dos outros.

A imaturidade emocional também é um efeito do trauma de desenvolvimento. Se sofreu negligência ou abuso emocional na infância e identificou-se com o dito, buscar tratamento para as feridas do trauma o ajudará a abordar a vida e os relacionamentos com equilíbrio, confiança e maturidade.

Vídeo – Entenda o que é o incesto emocional

Neste vídeo exclusivo para o Filhas de Mães Narcisistas, Michele Engelke explica o que é o incesto emocional e como é vivenciado no contexto familiar disfuncional.

Embora o termo “incesto” seja compreendido como uma relação sexual entre parentes, a sua aplicação estende-se aos contextos de negligência emocional, ou seja, trata-se da segunda forma mais comum de maltrato vivenciada por crianças ao redor do mundo.[i] É precisamente por estar tão presente, em a narrativa pessoal de filhos e filhas de mães narcisistas/tóxicas/abusivas, que o incesto emocional merece a nossa atenção.

No vídeo Entenda o que é o incesto emocional, a conselheira do trauma Michele Engelke lida com o tema de forma simples e clara, facilitando a compreensão de seu significado para além do contexto de abuso sexual através de um enfoque direcionado à conexão emocional disfuncional estabelecida entre pais e mães com os filhos. 


Se gostou do vídeo e gostaria de aprofundar-se nos temas “incesto emocional”, “abuso e negligência emocional” e “codependência”, recomendamos:

Capítulo 5 “A imaturidade e a negligência emocional das crianças grandes” do livro Desconstruindo a família disfuncional 

“A cultura familiar de incesto emocional e codependência”, artigo do blog Filhas de Mães Narcisistas (8 de março de 2019)

Cursos online “O abuso e a negligência” e “A codependência”


[i] A primeira forma mais frequente de maltrato vivenciada por crianças é o abuso emocional. Para compreender a magnitude deste fato, recomenda-se a leitura da seguinte pesquisa (disponível somente em inglês): Gama, C.M.F. et al. The invisible scars of emotional abuse: a common and highly harmful form of childhood maltreatment. BMC Psychiatry 21, 156 (2021). https://doi.org/10.1186/s12888-021-03134-0

Gama, C.M.F., Portugal, L.C.L., Gonçalves, R.M. et al. The invisible scars of emotional abuse: a common and highly harmful form of childhood maltreatment. BMC Psychiatry 21, 156 (2021). https://doi.org/10.1186/s12888-021-03134-0

4 sinais de estafa relacional (relationship burnout)

Apesar de desembocar em sentimentos de ansiedade, a estafa relacional é um fato real e abrange todos os tipos de relacionamento, seja entre colegas de trabalho, amigos ou, até, entre pais e filhos. Todos somos suscetíveis a isso, mas os codependentes em recuperação, ou aqueles que apresentam dificuldades de honrar os limites, tendem a vivenciá-la com mais frequência. Elenca-se aqui 4 sinais de estafa relacional para você conhecer os seus efeitos no comportamento:

1- Você se sente exausto: o relacionamento tornou-se muito intenso e/ou unilateral. Você se sente esgotado por passar muito tempo com a outra pessoa, mesmo quando esta não se sente da mesma forma, o que também desemboca em uma sensação de sobrecarga, especialmente quando os limites não são respeitados. Você se sente culpado quando diz não, mas mantém a obrigação de priorizar as necessidades do outro.

2- Você perdeu o interesse: você tem dificuldade de se conectar com a outra pessoa de uma maneira prazerosa, significativa ou recompensadora, visto que os seus valores, ideias e interesses mudaram e não se alinham mais com os da outra pessoa. Você começa a dar desculpas para não vê-la ou despende grande tempo preocupando-se em encontrar razões “boas o suficiente” para não encontrá-la.

4 sinais de estafa relacional (relationship burnout)
Perder o interesse no outro é um sinal de estafa relacional

3- Você superou o relacionamento: você cresceu e se desenvolveu como pessoa, mas a outra pessoa, não. Como a versão atual sua não favorece a dinâmica relacional, sente-se pressionado a agir de forma inautêntica para preservar a conexão.

4- Você se sente impotente: como você mudou, mas a dinâmica do relacionamento não, você se sente pessimista sobre o futuro do relacionamento. Você considera a possibilidade de contar como se sente para a outra pessoa, mas fica desesperançado diante de uma mudança real. Como resultado, passa a fantasiar sobre reduzir ou, até mesmo, cortar o contato.

Se se identificou com o relatado, é um bom momento para reavaliar o relacionamento. Embora a conexão com as outras pessoas promova o engajamento com a vida, os relacionamentos disfuncionais nos fazem sentir desconectados do nosso verdadeiro eu. Considere dar uma pausa no relacionamento se parece exigir-lhe demasiada energia e sacrifício. Lembre-se de que tem o direito de mudar de preferências e levar uma vida tranquila.

Se os relacionamentos são fontes de estresse em sua vida, recomendo os meus cursos online “A codependência” e “A dependência emocional” para aprender a abordá-los de forma saudável.

VÍDEO: Como lidar com a culpa

Neste vídeo exclusivo para o Filhas de Mães Narcisistas, a autora do Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade para Filhas de Mães Narcisistas, Filhas de Mães Narcisistas Conhecimento Cura e Desconstruindo a Família Disfuncional, Michele Engelke, oferece uma análise esclarecedora da culpa para as vítimas de abuso emocional.

No Como lidar com a culpa, a conselheira do trauma e terapeuta cognitivo-comportamental explica porque as filhas e os filhos de mães narcisistas/tóxicas/abusivas sentem tanta culpa e, portanto, têm dificuldade de se autoafirmarem e viverem de forma livre e feliz. Você compreenderá porque a culpa é uma emoção tão presente na sua vida e o que deve fazer para superá-la.

Como é o caso em todos os seus cursos online, Michele Engelke usa temas da sua prática profissional para ilustrar as questões em pauta. Neste vídeo, questiona os argumentos, valores e atitudes que tornam as vítimas de abuso emocional prisioneiras da culpa, como os que vêm embutidos na expressão…

“mas se eu… (comportamento), vou me sentir culpada”.

Assista já o vídeo Como lidar com a culpa e aprenda estratégias cognitivas e comportamentais para lidar com esta emoção tóxica, tomar decisões mais assertivas e sentir-se no comando da própria vida.

O que fazer para ser feliz (mesmo vindo de uma família tóxica)

Qual é a importância da felicidade na sua vida? Você a considera quando toma decisões importantes ou tende a esquecê-la, pois se sente sobrecarregado com tanto caos e drama familiar? Se provém de uma família tóxica e é/foi vítima de abuso emocional, é comum apresentar uma tendência de negligenciar a própria felicidade para garantir um senso de (falsa) harmonia com os pais e irmãos, como quando se sente culpado por ter vontades, emoções e opiniões próprias e as sacrifica para não os aborrecer, ser rejeitado e, consequentemente, alienado do grupo, por exemplo. Naturalmente, revela-se como um desafio concentrar-se no que o faz feliz quando a atenção é constantemente divergida para os desentendimentos e a insegurança que causam.

O que fazer para ser feliz (mesmo vindo de uma família tóxica)
Qual é o caminho para a felicidade?

Em Happiness by Design, o professor de ciência do comportamento da London School of Economics Paul Dolan propõe que, para vivermos uma vida feliz, precisamos direcionar a atenção para o que nos faz felizes e não para o que achamos que deva nos fazer felizes. As pesquisas de Dolan expuseram a grande diferença na perspectiva dos dois tipos de “eu”, the experiencing self (o eu que vivencia) e the remembering self (o eu que lembra) e como a nossa confiança no segundo não favorece a nossa felicidade. O autor conclui que, para sermos felizes, precisamos conectar com as experiências no momento em que ocorrem para estabelecermos se nos afetam de forma positiva ou negativa, já que a informação proveniente destas é muito mais acurada do que a das lembranças que criamos.

Portanto, os filhos e filhas de mães narcisistas/abusivas/tóxicas que valorizam a felicidade e querem vivenciá-la na prática precisam atentar para o seguinte:

  • Seja cauteloso ao que dá atenção e com o tempo dispensado. Opte por dedicar-se a atividades e pessoas que o fazem – de fato – sentir-se bem, ou seja, leve, alegre, curioso, energético e animado, enquanto reduz a frequência ou corta o contato com aquelas que produzem o efeito oposto.
  • Não confie em versões de fatos que minimizam o efeito negativo que certas pessoas e circunstâncias provoca em você.
  • Honre o corpo de forma honesta e autêntica seguindo os valores que o favorecem, da cabeça aos pés, tolerando o desconforto que isso causa como um investimento na felicidade a longo prazo.

Embora a pressão cultural de negligenciar a própria felicidade para concentrar-se nas vontades dos pais seja defendida como correta, isso causa infelicidade a muitos. Contudo, é possível desvencilhar-se desta mentalidade medíocre e viver uma vida repleta de felicidade. Se precisa de ajuda para reavaliar os valores que o fazem se sentir preso aos relacionamentos disfuncionais, recomendo a leitura do meu novo livro, Desconstruindo a Família Disfuncional. O Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas contém dicas práticas de como colocar-se em primeiro lugar, como através do corte de contato com a mãe narcisista/tóxica/abusiva.  

Referência:

Dolan, P. (2014). Happiness by design: change what you do, not how you think.
New York, New York: Hudson Street Press.

Quem tem direito de ter sentimentos na sua família? Apresentando… A Filha Invisível 

Nas famílias disfuncionais e tóxicas, observa-se grande desigualdade nos relacionamentos, vivenciada de diversas formas, mas, essencialmente, por meio de comportamentos abusivos de quem faz uso de uma posição privilegiada para manipular os mais vulneráveis, dependentes de aprovação paterna para estabelecerem um senso interno de segurança.

Nas famílias regidas, pelo menos, por um genitor tóxico, como é o caso de uma mãe narcisista; e outro, negligente – o pai facilitador – desde cedo, os filhos aprendem, ao observarem o comportamento destes adultos, que o direito de ter sentimentos, pensamentos e vontades próprias é exclusivo da matriarca e do membro da família a quem favorece, tal como o filho dourado. Enquanto esta regra permite à mãe narcisista sentir-se soberana no ambiente familiar e ao pai facilitador resguardar a união frágil com ela, os restantes sentem-se ignorados e insignificantes, como se não existissem.

A filha invisível
Você se sente invisível na sua família?

No meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas, esclareço como este processo de invalidação revela-se como uma arma de manipulação e controle:

Para garantir a influência sobre você e perpetuando o abuso emocional da própria filha, a sua mãe narcisista renegou o seu sofrimento para que mantivesse a sua atenção centrada no dela.   

 (Prisioneiras, página 166)

Embora se sinta invisível no contexto familiar, como se a dor que sofre não fosse boa o suficiente para a consideração alheia (tal como a Filha Invisível acima), saiba que isso não reflete uma deficiência sua, mas é produto da dinâmica disfuncional da qual você faz parte.

Para compreender como a dinâmica relacional disfuncional afeta a sua capacidade de sentir-se digna de atenção, amor e respeito, recomendo a leitura do meu novo livro Desconstruindo a Família Disfuncional, pois explora como os “problemas de relacionamento” vivenciados dentro do ambiente familiar afetam a sua autoestima e habilidade de autoafirmar-se em todas as áreas da sua vida. Se você é filha de uma mãe narcisista/tóxica/abusiva e de um pai facilitador/negligente que não reconhecem o efeito negativo disso em você, vai adorar a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, cujos relatos das minhas clientes mostram o que vivenciam com a própria família. Além destes recursos, pode aprender dicas de como agir com o amor-próprio e parar de depender do reconhecimento alheio para sentir-se valorizada assistindo aos meus cursos online A Codependência e A Dependência Emocional.    

Psicologia nutricional: o que você come afeta a sua saúde mental

As nossas escolhas alimentares têm um efeito direto na cognição, em como nos sentimos e nos comportamos. Graças ao grande número de pesquisas na excitante nova área da Psicologia da Nutrição, a relação intrínseca entre a nutrição e a ocorrência de doenças mentais recebeu a exposição merecida. Atualmente, podemos afirmar que a nutrição não é apenas um fator contribuinte para o desenvolvimento de certas doenças mentais, mas também se revela como um importante auxílio para a prevenção e, até, o tratamento delas.

Psicologia nutricional o que você come afeta a sua saúde mental
As nossas escolhas alimentares têm um efeito direto na cognição

Em seu livro This is your brain on food, a Dra. Naidoo (2020), psiquiatra nutricional da Harvard Medical School, lista bolos, doces, refrigerantes e outros produtos adoçados com açúcar ou xarope de alta frutose; pão branco, arroz branco, batatas, massas e outros produtos feitos de farinha refinada; aspartame; batata frita, frango frito, frutos do mar fritos ou demais frituras seja em óleo, ou margarina; o bacon, o salame, a salsicha e a outras carnes curadas como alimentos que nos deixam infelizes e ansiosos. Aqueles que sofrem de depressão e ansiedade, portanto, devem comer alimentos ricos em fibras e fermentados, pare desfrutarem dos efeitos positivos e calmantes no humor.

O que você come também interfere com o sono. Enquanto a cafeína e o álcool afetam-no negativamente, os alimentos que contêm melatonina, como ovos, peixe, leite, arroz, frutas, nozes, sementes e vegetais, tais como: aspargos, tomates, brócolis e pepino ajudam a melhorá-lo.

Para combater a fadiga, a Dra. Naidoo recomenda a ingestão de alimentos ricos em ômega 3, magnésio, zinco, vitaminas B 1, 6, 9 e 12, C, D e E, além de vegetais coloridos e especiarias, tais como: o açafrão e o cominho preto.

Tanto a Dra. Naidoo como a psicóloga clínica e a pesquisadora Julia Rucklidge (2017) concordam que a dieta ocidental tem um efeito prejudicial para a saúde mental. Trata-se de uma dieta rica em gorduras ruins, carboidratos de alto índice glicêmico (IG) e glúten; e está fortemente ligada à expressão de uma variedade de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, TDAH e, até, esquizofrenia, além dos de memória e da diminuição da libido.

A conexão mente-intestino não pode mais ser ignorada pelos envolvidos nas práticas de bem-estar físico e mental/emocional. Para quem gostaria de melhorar a saúde mental, mas tem dificuldade de mudar os hábitos alimentares, recomendo buscar o aconselhamento psicológico e nutricional para facilitar o alcance deste objetivo através de uma abordagem mais holística e eficaz.

Referências:

Jacka, F.N., O’Neil, A., Opie, R. et al. A randomised controlled trial of dietary improvement for adults with major depression (the ‘SMILES’ trial). BMC Med 15, 23 (2017). https://doi.org/10.1186/s12916-017-0791-y

Naidoo, U. (2020). This is your brain on food. Hachette Book Group: NY, New York.

Palavras como armas: os efeitos crônicos do abuso verbal na infância

Se você anda por aí dizendo, “Paus e pedras podem quebrar os meus ossos, mas as palavras não me machucam” está na hora de reavaliar essa crença. A neurocientista Lisa Feldman Barrett explica em seu brilhante livro Seven and a Half Lessons About the Brain que a exposição ao abuso verbal durante um longo período produz efeitos prejudiciais significativos que vão além da baixa autoestima. Visto que as regiões do cérebro que processam a linguagem também controlam o interior do corpo, o abuso verbal também afeta o ritmo cardíaco, os níveis de glicose e o fluxo de substâncias químicas que sustentam o sistema imunológico. Assim como as palavras gentis ​​fazem-nos sentir amados, mais calmos e fortes; as agressivas têm o poder de prejudicar a saúde física.

As palavras, então, são ferramentas que regulam os corpos humanos. As palavras das outras pessoas têm um efeito direto na sua atividade cerebral e nos seus sistemas corporais, e as suas palavras têm o mesmo efeito nas outras pessoas. Se você tem ou não a intenção de afetá-las desta forma, isso é irrelevante. Fomos programados desta forma.

Lisa Feldman Barrett, 2020

Quando os indivíduos abusivos usam as palavras como armas para maltratar, manipular e controlar os outros, as suas vítimas também se tornam mais vulneráveis ​​à ansiedade, depressão, raiva, disfunção imunológica e a demais disfunções metabólicas, bem como aos distúrbios de humor quando se tornam jovens adultos. Diante de tais fatos, a conexão entre o abuso verbal e as doenças da mente e do corpo não deve mais ser menosprezada ou ignorada.

Palavras como armas os efeitos crônicos do abuso verbal na infância
A exposição ao abuso verbal pode prejudicar a sua saúde física

Embora o exposto seja concernente àqueles que trabalham na área de saúde mental, o que Barrett e outros neurocientistas demonstraram através de extensa pesquisa sobre os efeitos do abuso emocional e verbal não me surpreende (Recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, para compreender o que é o trauma e os efeitos que exerce na saúde mental). Como conselheira do trauma especializada no trauma de infância/desenvolvimento, tive vários clientes que cresceram em ambientes familiares altamente disfuncionais, e, atualmente, sofrem de, pelo menos, uma doença crônica ou vulnerabilidade física como as mencionadas. Curiosamente, seu início é percebido, em sua maioria, no final da adolescência ou na idade adulta, quando o corpo é submetido ao estresse crônico durante o desenvolvimento. Portanto, há grande probabilidade disso ter um efeito negativo nos sistemas imunológico, respiratório, digestivo, nervoso, endócrino e cardiovascular.

Chegou a hora da nossa cultura parar de normalizar o abuso verbal, seja na forma oral ou escrita. Se foi testemunha ou sofreu abuso verbal, lembre-se de como é tóxico para todos os envolvidos, e tome as medidas necessárias para impedir a sua perpetuação. Você pode fazer isso de modo autônomo, reavaliando as próprias crenças rígidas sobre a agressão verbal, as emoções negativas e vulnerabilidades, tais como, “Se eu deixar isso me afetar, significa que sou fraco”, por exemplo, comece a honrar como se sente com tolerância. Seja saindo da sua zona de conforto através do investimento proativo nos comportamentos assertivos ou participando abertamente de debates relacionados a abuso, pois ajudará a mudar não apenas a própria maneira de pensar, mas também a consciência coletiva.

Para um estudo aprofundado de todos os tipos de abuso, recomendo o meu curso online, “O abuso e a negligência”.

Referência:

Barrett, L. F. (2020). Seven and a half lessons about the brain. Picador: London, UK.

A validação inatingível: quando desistir de tentar sentir-se visto, percebido e ouvido pelos pais

A negligência emocional – apesar de ser mais comumente vivenciada do que os abusos verbal, emocional, físico e sexual – tem efeitos prejudiciais e duradouros no desenvolvimento. Embora incompreendida, mas recorrente na narrativa daqueles que cresceram em famílias disfuncionais e tóxicas, a negligência emocional é uma assassina silenciosa e real de autoestima. De forma compreensível, torna-se difícil nutrir amor e respeito por si próprio quando as emoções não são reconhecidas com a importância devida. Como é possível criar um senso de identidade confiável, quando o que vivenciamos nos corpos é consistentemente ignorado, negado e descartado por quem, supostamente, é visto como modelo de maturidade, congruência, autonomia e inteligência (emocionais)?

Está na hora de desistir de sentir-se visto, percebido e ouvido pelos pais?

Quando se é submetido a uma cultura familiar de negligência emocional (Para compreender como esta cultura é refletida no comportamento em família, recomendo a leitura do a leitura do capítulo 5 do Desconstruindo a Família Disfuncional, “A imaturidade e a negligência emocional das “crianças grandes”), a falha de conectar-se com os outros gera um vazio que é fortemente sentido no corpo, além de produzir um efeito de peso, solidão e alienação em quem o carrega. Alguns se sentem dormentes e sob os efeitos da dissociação, como se habitassem um corpo ou vivessem uma vida que não lhes pertencessem. Buscamos uma sensação de integridade para sermos capazes de desfrutar da felicidade e os que sofreram negligência emocional são particularmente propensos a confiar em fatores externos, como a aprovação e o reconhecimento dos outros, para se sentirem bem em relação a si próprios. Mesmo quando os pais são incapazes de ampará-los, continuam a buscar-lhes apoio e validação de forma exaustiva e, por vezes, obsessiva.

Então, como saber quando chegou a hora de dar um “basta!” a essa tendência? Em que ponto pode-se afirmar – com segurança – que os pais são realmente incapazes ou não têm desejo nenhum de validar o seu sofrimento?

Em Burnout (2019), as irmãs Nagoski recomendam as seguintes perguntas para determinar o valor de uma meta ou objetivo (meus comentários estão em parênteses):

  • Quais são os benefícios de continuar? (Existe uma probabilidade realista de seus pais reconhecerem o comportamento negligente de forma genuína? Qual é a probabilidade de sentir-se melhor ao continuar buscando esse reconhecimento?)
  • Quais são os benefícios de parar? (Que efeito deixar de perseguir a validação de seus pais teria na sua saúde mental/emocional? Qual é a probabilidade de sentir-se melhor ao abandonar esse hábito?)
  • Quais são os custos de continuar? (Que efeitos sentir-se invisível e sem importância, repetidamente, podem ocorrer em sua autoestima? Que influência isso continuaria a exercer na sua autoconfiança, também em outros contextos relacionais?)
  • Quais são os custos de parar? (Como sentir-se-ia ao parar de tentar se conectar emocionalmente com os seus pais? Quanto confia na sua capacidade de processar e aceitar essa perda de conexão?)

Embora a ideia de não contar com os pais como fonte de verdadeiro apoio e conexão emocional desperte grande tristeza a curto prazo, é superprodutivo processar essa perda como um investimento para a felicidade autêntica a longo prazo. Após desistir de consertar os relacionamentos disfuncionais e tóxicos, terá mais liberdade para se concentrar nos relacionamentos gratificantes e satisfatórios.

No meu curso online “Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica”, ensino como conectar com o corpo e processar os seus traumas de forma natural. Para assisti-lo, clique aqui

Referência:

Nagoski, E. & A (2019). Burnout. Solve Your Stress Cycle. Penguin Random House: London, UK 

Por que estou sempre com raiva? Entenda o vício da raiva

Sentir-se amado incondicionalmente pelo pai e/ou mãe é essencial para promover um senso saudável de autoestima. O amor incondicional é vivenciado quando a criança sente-se percebida, ouvida e vista de forma a satisfazer as necessidades básicas de seu desenvolvimento. Os pais que estão em sintonia com as emoções dos filhos com empatia e sem julgamento ajudam-lhes a cultivar um senso de integridade em seus corpos, mesmo quando afetados por emoções negativas intensas, tais como a vergonha, o medo e a raiva. A negligência (inclusive emocional) e o abuso sofrido durante a infância, entretanto, desembocam em trauma do desenvolvimento e sentimentos de baixa autoestima. Como esses são ativados com facilidade e não processados ​​funcionalmente com a ajuda de uma presença adulta emocionalmente consciente e madura, a criança em desenvolvimento torna-se suscetível a criar um relacionamento disfuncional com o seu mundo interior (Recomendo a leitura do Desconstruindo a família disfuncional para mais detalhes de como a imaturidade emocional parental é vivenciada na prática).

Por que estou sempre com raiva? Entenda o vício da raiva
A raiva ajuda-nos a regular os sentimentos de vulnerabilidade

As crianças que se sentem inadequadas por terem sentimentos negativos (ou, por vezes, sentimentos de qualquer natureza) devido à influência de pais abusivos e/ou (emocionalmente) negligentes têm pouco ou nenhum acesso a ferramentas funcionais para processá-los de modo saudável. Nesses casos, tendem a recorrer a estratégias de enfrentamento mal-adaptativas para lidarem com a vergonha, o medo de abandono e outros sentimentos que os fazem sentirem-se indignos de amor para recuperar alguma sensação de bem-estar, já que é lógico querer se sentir bem. Também é humano evitar o sofrimento e tentar controlá-lo. Os problemas surgem quando uma determinada estratégia se torna “a única” e, sobretudo, quando faz mais mal do que bem a longo prazo. Uma rara experiência de compulsão alimentar na frente da televisão é aceitável quando não é o meio exclusivo de tolerar a dor das perdas causadas pelo trauma. Quando isso é praticado diariamente para lidar com o estresse crônico, o luto não processado e os sentimentos de impotência e isolamento emocional, por exemplo, torna-se um vício (Para ajudá-la a processar o luto das perdas de sua infância, recomendo o meu curso online Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica).

A raiva – vivenciada predominantemente como uma emoção secundária – ajuda-nos a regular os sentimentos de vulnerabilidade. Sob a sua influência, nós nos sentimos dignos de respeito e direitos, bem como justificados, pois nos concede energia e poder, tornando-nos prontos para a luta e nos defendermos de quem ou o que quer que seja – inclusive sentimentos – que nos fazem sentir pequenos e magoados. Nesse estado elevado de agitação, experienciamos uma sensação de euforia que pode tornar-se viciante. Tal como aqueles que estão acima do peso e concentram-se apenas em fazer dieta, mas evitam explorar os mecanismos subjacentes que alimentam o vício da comida e, por essa razão, têm dificuldade de manter um peso saudável – os viciados na raiva permanecem zangados por negligenciar as emoções primárias que a desencadeiam. Portanto, a razão pela qual você está “sempre com raiva” pode estar centrada no medo, na relutância ou dificuldade de acessar as emoções mais profundas e dolorosas que carrega como resultado de anos de negligência (emocional) e/ou abuso. Para aprofundar-se nos temas “abuso”, “negligência” e “trauma” e entender porque sofre de raiva acumulada, depressão e/ou ansiedade, recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.

Se se identifica com o acima relatado, recomendo o aconselhamento do trauma para lidar com os efeitos do trauma complexo, como a raiva acumulada e o vício nesta.

6 sinais de TEPT-C (Transtorno de Estresse Pós-traumático Complexo)

O Transtorno de Estresse Pós-traumático Complexo ou TEPT-C pode ocorrer como um efeito do trauma complexo, o qual resulta da exposição repetida a eventos adversos por um período prolongado. As filhas e filhos de pais narcisistas/tóxicos/abusivos e aqueles que cresceram e se desenvolveram em um ambiente altamente disfuncional são, portanto, propensos a terem sofrido abuso e negligência na infância (incluindo emocional) o que, por sua vez, aumenta a probabilidade de identificarem-se com os seguintes 6 sinais de TEPT-C:

6 sinais de TEPT-C (Transtorno de Estresse Pós-traumático Complexo)
O TEPT-C está conectado à dificuldade de regular as emoções

1- Alta reatividade e dificuldades de regulação emocional: o trauma da infância mal resolvido está ligado ao luto não processado, à raiva acumulada e aos sentimentos profundos de solidão e depressão do abandono que requerem esforços conscientes para serem administrados. Devido à hipervigilância, contudo, os sentimentos de ansiedade surgem rápida e facilmente, tornando mais difícil compreender e gerenciar a vida interior. Portanto, as emoções são frequentemente sentidas de forma intensa e sem uma sensação de correspondência ou mesmo de pertença a um contexto específico.

2- Mudanças na consciência: dissociação, dificuldade de recordar os eventos traumáticos, inclusive emoções relacionadas a estes.

3- Autoimagem negativa: fortes crenças negativas sobre si próprio que são sentidas no corpo mesmo quando não correspondem ao pensamento objetivo (“Sei que sou competente/bom o suficiente/digno de ser amado, mas não me sinto assim”). Presença de um crítico interno influente, tendência a ver o mundo em preto e branco e síndrome do impostor são comuns.

4- Dificuldades na área dos relacionamentos: dificuldade de confiar nos outros e ver os relacionamentos como fontes de bem-estar. Tendência natural de gravitar em torno de indivíduos abusivos/tóxicos e relacionamentos codependentes e emocionalmente dependentes, uma vez que parecem familiares e criam uma falsa sensação de segurança.

5- Percepção distorcida do abusador: ver o abusador como todo poderoso e capaz de causar dor contínua, controlar ou mesmo destruir vidas, mesmo quando é muito mais velho(a), física e mentalmente mais fraco(a) e emocionalmente imaturo(a), por exemplo. Tendência a ficar obcecado por se sentir ouvido e ter as emoções e experiências validadas por este, bem como nutrir pensamentos e fantasias recorrentes sobre conversas, acerto de contas e planos de vingança.

6- Perda dos sistemas de significados: sentimentos de desesperança e perda de propósito em relação ao mundo, à vida, às pessoas e à espiritualidade.

Outros sintomas incluem: dor no peito, dores de cabeça frequentes, enxaqueca, armouring, bruxismo, problemas gastrointestinais, baixa libido, dificuldade de apreciar o sexo, sistema imunológico enfraquecido, distúrbios do sono, flashbacks, comportamentos de evitação, pensamentos suicidas, maior suscetibilidade a comportamentos que desembocam em vício e depressão.

Se se identificou com o relatado, saiba que o tratamento do TEPT-C é possível através de uma atitude consciente e proativa que inclui uma combinação da terapia do trauma, tal como a de EMDR Focada no Apego, e medidas de cuidado pessoal.

Para compreender como crescer em um ambiente de estresse crônico e sob a tirania de uma mãe tóxica pode desembocar em TEPT-C, recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.

Você não é uma farsa. Entenda as dimensões do seu direito a limites e à privacidade

Todos temos direito a limites, ou seja, a criarmos um espaço só nosso e que vai além da pele, o qual contém a nossa identidade, valores, vontades, sentimentos e necessidades próprios. Os nossos limites, portanto, asseguram o nosso direito, também, à autonomia, autenticidade e, sobretudo, à autoafirmação, autoproteção e autopreservação nos relacionamentos. Embora racionais e saudáveis, correspondem a um direito universal humano. Contudo, os limites pessoais e o direito à privacidade não são respeitados pela cultura da família disfuncional, a qual rege os valores do senso comum (para compreender o que são limites e aprender como aplicá-los, recomendo a leitura do capítulo 4.7 “Entendendo e respeitando seus limites” do Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas. Para adquiri-lo, clique aqui).

Você não é uma farsa. Entenda as dimensões do seu direito a limites e à privacidade
Os nossos limites asseguram o nosso direito à autoproteção e autopreservação

Ainda que mais prevalente nas culturas latinas, tais como a brasileira, a italiana e a portuguesa, a negação do direito à individualidade e a rotulação disso como um ato de rebeldia e desonestidade perante a família permanecem vivas também, nas culturas germânica e, até, britânica. Observe como vem embutida na narrativa de baixa autoestima de duas clientes minhas, Siobhan[i], irlandesa de 28 anos, e Lisa,[ii] inglesa de 36 anos:

“…a viagem foi um sucesso, mesmo. O meu chefe me elogiou muito, em especial, a forma como eu lidei com os clientes. Aí logo me bateu aquele pensamento, “se soubessem da minha doença autoimune e como sofro de fadiga nos dias seguintes, ninguém me veria como essa mulher ‘incrível’ e ‘superanimada’. Fiquei com muita vergonha e culpada por esconder a minha doença deles.”

“…tem vezes que olho para os meus clientes enquanto compartilham as suas histórias de abuso e trauma e fico chocada com a confiança que depositam em mim como sua terapeuta. Imagina se soubessem do que presenciei quando criança, da bagunça e sujeira que era a casa da minha família… dos abusos e da negligência que eu, também, vivenciei e fui testemunha… Sinto que a pessoa que me tornei nega tudo isso… Me sinto uma farsa.”   

Ambas, Siobhan e Lisa, acreditam na visão rígida de permanência e completa transparência nos relacionamentos como virtude. Desta forma, o seu direito à complexidade e expressão das suas diversas camadas quando e com quem desejam é julgado como impróprio. Portanto, Siobhan e Lisa sentem-se mal – envergonhadas e culpadas – por serem compostas de diferentes partes: boas, não muito boas, fortes, vulneráveis, escuras, foscas e brilhantes, como se tivessem de possuir somente uma e, se não, fossem obrigadas a expô-la(s) para que se tornassem dignas de respeito.

A sua vida não tem de ser um livro aberto.

Você tem, sim, direito a uma vida privada e o respeito de possuí-la. 

Não, você não é uma farsa por exercer esse direito, mas emocionalmente madura por reconhecê-lo e validá-lo de forma autônoma.  

Para um estudo completo de como os valores rígidos da família disfuncional afetam o seu desenvolvimento, recomendo a leitura do capítulo de número 2 intitulado As crenças rígidas e as verdades inquestionáveis do meu novo livro, Desconstruindo a Família Disfuncional.


[i] Nome fantasia para proteger o direito à anonimidade de minha cliente.

[ii] Nome fantasia para proteger o direito à anonimidade de minha cliente.

Por que a maioria das pessoas não sabe dar apoio emocional?

A conexão emocional é um dos meios mais básicos e necessários para estabelecermos relacionamentos saudáveis, conforme esclareço no capítulo intitulado A imaturidade e negligência emocional das crianças grandes do meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional

“Quando validamos os sentimentos uns dos outros confirmamos não somente a sua própria relevância, mas também do relacionamento em si, de nós mesmos e da nossa experiência”

Desconstruindo a Família Disfuncional, Página 85

Partindo deste princípio, é natural que nos sintamos vazios, solitários, tristes, alienados e, às vezes, com muita raiva, quando aqueles com quem convivemos falham em apoiar-nos emocionalmente, sobretudo, pais, amigos e parceiros amorosos. Se a validação emocional é tão importante para o nosso bem-estar e dos relacionamentos, por que é tão difícil de obtê-la?

Por que a maioria das pessoas não sabe dar apoio emocional
É natural sentir-se vazio, solitário, triste, alienado e, às vezes, com muita raiva, quando aqueles com quem convivemos falham em apoiar-nos emocionalmente

Se já devorou o Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, tem ciência dos inúmeros efeitos do trauma do desenvolvimento/da infância causado por abuso de qualquer natureza, inclusive o emocional. Um dos efeitos mais comuns de pertencer a uma família regida por um ou mais genitores tóxicos/abusivos/narcisistas e/ou emocionalmente negligentes é a intolerância às emoções negativas e vulnerabilidades, o que consiste em um mecanismo de defesa e autoproteção disfuncional.

As vítimas de abuso e/ou negligência que apresentam um histórico de trauma mal-resolvido terão dificuldade de conectar com o corpo de forma aberta e livre, pois associam a conexão com as emoções negativas como uma fraqueza. Portanto, relacionam a algo exclusivamente doloroso e, até, sem propósito, já que foram expostos à rejeição, invalidação, exclusão e alienação ao longo de seu desenvolvimento. Esses comportamentos são observados tanto nos pais que os reproduzem, como nos filhos que os perpetuam.

Quando nos informamos acerca da natureza do trauma e seus efeitos nos conscientizamos de que possui natureza penetrante e afeta a maior parte da população, que, por sua vez, dá forma e tom aos valores do senso comum. Vivemos em uma cultura de negligência emocional e disfunção familiar que corrompe a natureza das conexões humanas, promovendo o antagonismo e o distanciamento em vez da união através da empatia. Como resultado, quando passamos por momentos difíceis e estamos tristes, com raiva ou vergonha, por exemplo, a probabilidade de termos estes estados emocionais reconhecidos pelos outros a nossa volta e sem causar-nos ainda mais desconforto e inadequação é quase nula.

Naturalmente e nestes contextos, caso se sinta incompreendido e desconectado daqueles com os quais compartilha certa intimidade não é porque seja “exigente” ou “sensível”, mas se encontra insatisfeito com a qualidade desses relacionamentos e da habilidade daqueles que o amam (ou alegam fazê-lo) de aceitarem e respeitarem não somente a expressão das emoções, bem como de apoiá-las quando isso se fizer necessário.

Se deseja aprofundar o seu conhecimento acerca da forma mais comum de abuso – a negligência emocional – e entender como ocorre na prática, recomendo a leitura do meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional.

Descubra porque tem medo de confiar em si própria (e o que fazer sobre isso)

“Não é tão ruim assim!”

“Você é muito sensível”

“Eu nunca disse isso!”

“Se você tivesse me ouvido, isso não teria acontecido”

“Você não faz nada certo”

“Está bom, mas…”

Para quem cresceu ouvindo essas frases com frequência é natural que tenha medo de confiar em si própria. Este processo de perda de autoconfiança ocorre ao longo do desenvolvimento da criança proveniente de lares disfuncionais e tóxicos, pois é exposta a um estilo parental emocionalmente negligente e/ou controlador e/ou abusivo, o que compromete a sua capacidade de desenvolver um senso interno de autodireção seguro, pois afetado também pelo medo de abandono, vergonha e culpa.  

Descubra porque tem medo de confiar em si própria
Os filhos e filhas de famílias disfuncionais duvidam de si próprios e questionam o mérito das emoções, visões de mundo, necessidades e vontades

Diferente das crianças que cresceram sentindo-se vistas, ouvidas e percebidas pelos pais, aos filhos e as filhas de pais tóxicos/abusivos e/ou negligentes é negado o privilégio de terem emoções, visões de mundo, necessidades e vontades reconhecidas e validadas pelos adultos responsáveis por seus cuidados, como esclarecido no meu novo livro, Desconstruindo a Família Disfuncional. Com o tempo e a idade, aprendem a trataram-se de forma negligente, desconfiada e, até, abusiva, duvidando de si próprias e questionando o mérito de emoções, visões de mundo, necessidades e vontades, tais como fizeram-lhes os pais.

Por ter ciência deste efeito marcante do trauma complexo, quando os meus clientes recusam-se a acreditar na sabedoria dos corpos, pois reagem de forma insegurança e infantil, inclusive, autossabotadora, questiono-os, no ato, e sugiro-lhes seguirem uma filosofia simples embora bastante libertadora:

Faça de seu eu autêntico a sua religião”

O eu autêntico é aquele que floresce quando se conecta com a sua verdade (emoções, visões de mundo, necessidades e vontades), ou seja, quando os seus valores se alinham com o que pensa, como sente e age. Na prática, isso é vivenciado quando a história de abuso emocional praticado por uma mãe narcisista, por exemplo, é validada através da leitura do Prisioneiras do Espelho Quando pratica “O meu eu autêntico é a minha religião”, o sentimento de validação proveniente de tais experiências é suficiente para que corresponda à expressão da verdade. Portanto, não precisa de ninguém, além de si própria, para validar-se. Por mais que tais leituras sejam motivadoras e produtivas, a decisão de acreditar ou desacreditar em si própria sempre vem de você e, sobretudo, da coragem de se conectar e de ter fé no que sente e pensa, incondicionalmente.  

Direito à autonomia: sim, você é quem decide com quem manter contato em sua vida

Quando você reflete acerca do que já aprendeu sobre o narcisismo materno e o efeito nefasto dos relacionamentos disfuncionais no seu desenvolvimento, crescimento pessoal e qualidade de vida, como se posiciona em relação ao seu direito de ver-se livre dessa influência? Você acredita no próprio sofrimento e direito de autodireção, escolha e mudança, para viver tranquila e centrada na autoestima, no amor e na harmonia? Se a sua resposta for sim, parabéns! Pois embora tenha sofrido abuso e manipulação emocional, tornou-se capaz de se reconectar com o seu direito à autonomia. Se a sua resposta for não, continue lendo, pois precisa ser relembrada de que sim, você é quem decide com quem quer ter contato em sua vida.

Direito à autonomia sim, você é que decide com quem tem contato em sua vida
Você é quem decide com quem manter contato em sua vida

Apesar de eu ser uma defensora do contato zero quando se julgar necessário, não se trata de algo que sirva a todos os filhos e filhas de mães narcisistas/tóxicas/abusivas, globalmente. Portanto, se este for o seu caso, gostaria de relembrar que, mesmo sem querer cortar o contato definitivamente, ainda possui o direito de reduzi-lo drasticamente ou mantê-lo, exclusivamente, nos seus termos. Também vale ressaltar que este princípio é valido não somente no contexto de famílias disfuncionais ou tóxicas, mas pode ser aplicado a qualquer relacionamento que a faça se sentir diminuída, negligenciada, impotente e/ou rejeitada. O seu direito à liberdade de escolha é universal e inquestionável, independente da mensagem comunicada, de forma direta ou indireta, de que é seu dever submeter-se, perpetuamente, às vontades, necessidades, opiniões e aos valores dos outros, seja da própria família ou demais pessoas influentes em sua vida.

Isso se deve ao fato de que somente você possui consciência real sobre o impacto que o comportamento dos outros exerce no seu bem-estar, em sua saúde mental e, até, física. Desta forma, se ignora quando alguém a faz sentir-se mal e continua mantendo o contato, embora se sinta inadequada, habitualmente, em sua presença, nega-se o direito à autonomia ou de escolher o que é melhor para si. O seu direito ao autogoverno, portanto, também compreende o seu direito à autoproteção, autopreservação e expressão de seu eu autêntico. Quando se recusa a dizer não ou a sair de situações e interações com aqueles que, de alguma forma, maltratam-lhe, está ferindo o próprio corpo e sabotando o seu direito à felicidade e realização pessoal. Lembre-se disso na próxima vez que se pegar se forçando a conviver com tais indivíduos. Isso pode lhe ajudar a, finalmente, quebrar o ciclo de abuso e negligência que sofre, seja proveniente de uma fonte externa ou resultante do que impõe a si própria.   

Se necessita de ajuda para cortar o contato com a mãe narcisista/toxica/abusiva, recomendo a leitura do Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas, pois contém dicas práticas de como fazê-lo.

Para um estudo aprofundado das famílias e relacionamentos disfuncionais, recomendo a leitura do meu novo livro, Descontruíndo a família disfuncional.  

Para aprender como quebrar o ciclo de dependência dos relacionamentos disfuncionais, também recomendo os meus cursos online “A codependência” e “A dependência emocional”.   

A ilusão de conexão na família disfuncional: a “união” através da culpa

Para quem pertence a um sistema familiar disfuncional ou tóxico, é comum sentir-se impotente, sentir que não é visto, ouvido e percebido, como explico no meu novo livro Descontruíndo a família disfuncional. Enquanto pais maduros emocionalmente cultivam uma dinâmica de consciência e inclusão, monitorando, também, o próprio comportamento para que os filhos se sintam amados e respeitados; nas famílias regidas por um estilo parental negligente e até abusivo, predominam a solidão, a rejeição e o medo de abandono, mas, sobretudo, a culpa. Isso se deve ao fato de que os filhos das famílias disfuncionais são condicionados, desde pequenos, a concentrarem-se nos direitos, nas vontades, nos sentimentos e nas necessidades dos pais, algo que, com o tempo, torna-se o meio ou “moeda” que os concede acesso a alguma forma de aceitação, afeição e validação.

A ilusão de conexão na família disfuncional: a “união” através da culpa
A culpa faz com que os filhos das famílias disfuncionais sintam-se responsáveis pelos sentimentos dos pais

Quanto mais disfuncional for a família, maior a dependência dos filhos da aprovação dos pais e menor a capacidade de desenvolverem um senso próprio autêntico, autoconfiante e de honrarem os limites pessoais. Quando se tornam cientes disto, como ocorreu com Kata[i] de 24 anos, proveniente do Leste Europeu, começam a questionar as motivações de seu comportamento autossabotador. Para esta jovem cliente, ficou claro, de forma surpreendentemente rápida, que grande parte da razão de ainda investir tanto tempo e atenção em quem a tratava com desrespeito e desconsideração originara-se do senso de obrigação, de “ter que” cumprir com todas as expectativas dos pais e, assim, garantir o bem-estar deles e a união relacional. Esta incumbência, incutida na psique dela havia muitos anos, perpetuara a subjugação e, quando ousava agir de forma autônoma – questionando o seu suposto mérito universal – resultava, invariavelmente, em um excruciante sentimento de culpa.

Esta culpa presente não somente em Kata, mas em muitos filhos e filhas de pais abusivos/narcisistas/tóxicos, faz com que…

  • Digam sim quando querem dizer não, forçando-os a fazerem algo que não querem
  • Sintam-se infantilizados, impotentes, insignificantes e sem voz
  • Perpetuem um senso falso de identidade que desemboca em descontentamento pessoal inclusive fora dos relacionamentos familiares
  • Confundam o amor e a conexão emocional verdadeiras, livres e recompensadoras com os sentimentos de angústia da culpa, estendendo o processo de vitimização 

Para libertar-se da prisão da culpa e de um mindset limitado e medíocre, recomendo questionar os valores rígidos de família que corrompem a sua noção de realidade e do poder de mudar a própria vida. Se necessita de ajuda para fazer este questionamento, recomendo a leitura do meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas e os meus cursos online A codependência e A dependência emocional.  


[i] Nome fantasia para proteger o anonimato da minha cliente

Contente-se com pouco: a autossabotagem e a mentalidade de mediocridade da família disfuncional

A insatisfação pessoal não é só um sintoma da depressão, mas também o produto de um pensamento influenciado por crenças rígidas e disfuncionais. Como explico no meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional, o teor de flexibilidade dos valores de uma família exerce um impacto direto no desenvolvimento sadio de uma criança. No capítulo As crenças rígidas e as verdades inquestionáveis, exploro como a rigidez da mentalidade “é tudo ou nada”, em especial, corrompe a autoimagem e desemboca em insegurança pessoal, limitando a capacidade de nos conectarmos com confiança como, por exemplo, com a complexidade do eu autêntico. Os valores rígidos perpetuados pela cultura familiar disfuncional, tais como “Conectar-se com as emoções negativas é coisa de gente fraca” e “Cometer erros é sinal de incompetência”, embora não sejam evidentes nas interações comunicativas entre pais e filhos, são sentidos na carne por estes quando são condicionados a se moldarem às necessidades e expectativas dos pais não somente para se tornarem dignos do afeto deles, bem como se sentirem capazes e aceitos.

Contente-se com pouco: a autossabotagem e a mentalidade de mediocridade da família disfuncional
É comum para quem provém de uma família disfuncional sabotar o eu autêntico para manter o relacionamento com os pais

Este processo faz com que os indivíduos provenientes dos lares disfuncionais e tóxicos adotem uma atitude de autossabotagem que compromete a capacidade de viverem livre, plenamente e com realizações. Por serem submetidos à extensa manipulação e chantagem emocional durante o período de crescimento, os filhos das famílias disfuncionais criam um senso de direção deturpado, o qual se vê imerso em sentimentos de culpa, vergonha e medo de abandono. Já que quando se conformam com a visão de mundo e valores rígidos dos pais e não desenvolvem uma identidade própria são recompensados com demonstrações de afeto ou a ausência de atitudes abusivas, aprendem a associar a forma limitada de pensar e agir como algo benéfico para o relacionamento, mesmo quando se sentem inadequados e desgostosos internamente. É comum, portanto, considerarem a existência sob uma perspectiva de escassez e não de abundância, forçando-se a contentarem-se com pouco e a viverem de modo medíocre.

Na prática, a mentalidade de autossabotagem e mediocridade torna-se óbvia quando não se permitem sentirem-se bem ao adotarem uma atitude autônoma e de amor-próprio e autoaceitação incondicionais, por exemplo. Em outras palavras, em vez de sentirem-se íntegros quando…

… honram os limites pessoais independente do efeito que isso exerce no outro

… criam uma visão do eu como bom o suficiente independente de condição financeira, estado civil, profissão, aparência, título acadêmico ou profissional

…. se acreditam dignos de escolherem com quem mantêm relacionamentos, nomeadamente, concentrando-se nas pessoas maduras, empáticas e genuínas

sentem-se diminuídos e alienados por terem uma atitude autoafirmadora.

Para aprofundar o conhecimento acerca das diversas maneiras com as quais a dinâmica relacional disfuncional aprisiona a mente e compromete a conquista da felicidade e o contentamento pessoal, recomendo a leitura do Desconstruindo a família disfuncional.

Desconstruindo a Família Disfuncional, o novo livro de Michele Engelke

O que faz uma família ser disfuncional? O que pode ser observado no comportamento de seus membros e na forma como se relacionam que a definem como tal? De que maneira crescer sem acesso ao amor incondicional dos genitores, em um ambiente estressante e sem harmonia relacional afeta o nosso desenvolvimento e habilidade de nos realizarmos, também, na idade adulta?

Desconstruindo a família disfuncional eBook Image
Chegou o novo livro de Michele Engelke sobre famílias disfuncionais

Chegou o novo livro de Michele Engelke, Desconstruindo a Família Disfuncional, nele, você irá compreender porque…

  • os valores, as atitudes e as estratégias de enfrentamento de problemas das famílias consideradas disfuncionais interferem negativamente na saúde psicológica/mental e relacional
  • tem problemas de relacionamento com a mãe, pai e/ou irmão(os) que parecem não melhorar com o tempo, a idade e a experiência
  • demonstra dificuldade de criar e manter relacionamentos saudáveis também fora do ambiente familiar
  • possui problemas de baixa autoestima e equilíbrio emocional, é codependente, sofre de dependência emocional e tem dificuldade de agir de forma madura, autoconfiante e assertiva – sobretudo com os familiares e, em especial, com os pais
  • se sente frequentemente triste, com raiva, ansioso, culpado, envergonhado, manipulado e com medo de ser rejeitado pela família se agir de forma adulta, consciente, autêntica e autônoma
  • não se sente visto, percebido tampouco ouvido pelos pais

O livro apresenta um conteúdo franco, esclarecedor, além de questionar os valores rígidos e obsoletos sobre a família, os quais servem para perpetuar a falta de funcionalidade deste sistema. Trata-se de uma ferramenta de empoderamento pessoal não somente para os filhos de mães e pais narcisistas/tóxicos/abusivos e negligentes, bem como para os demais indivíduos que desejam validar a história de disfunção familiar e os efeitos que tiveram em si, contribuindo, de modo consciente e proativo, para a expansão da consciência acerca da própria influência, inclusive, para aqueles com quem tem convívio, melhorando, portanto, a qualidade dos relacionamentos e ajudando a interromper o ciclo vicioso de disfunção.

Por que choro quando estou com raiva?

Os pais e demais adultos influentes na vida da criança em desenvolvimento que a punem, envergonham-na e a culpam por ter e expressar as emoções negativas contribuem, imensamente, para que esta associe a raiva, por exemplo, a uma experiência traumática. Sofrer esta rejeição é traumatizante pois exerce um impacto disfuncional na forma com que se conecta com o eu, fazendo com que se sinta insegura por possuir emoções negativas, e inadequada por não conseguir conectar com estas livremente e expressá-las de uma forma saudável enquanto se sente percebida, vista e ouvida pelos pais. Desse modo, o trauma resultante da atitude imatura e negligente dos genitores fica armazenado no corpo e extravasa em momentos de raiva – com ou sem a consciência da vítima – fazendo com que reviva os sentimentos de inadequação de sua infância na idade adulta e reaja de modo incongruente e vulnerável quando embrabecida.

Por que choro quando estou com raiva
Quando você sente raiva e começa a chorar está processando o luto da perda de conexão com o próprio corpo e outros seres humanos

Quando você sente raiva e começa a chorar, também está processando o luto da perda de conexão com o próprio corpo e outros seres humanos, bem como de identidade, autonomia, autenticidade, amor-próprio e afeto. Equivale-se, portanto, a uma grande perda de humanidade ser forçado, desde pequeno, não somente a reprimir as emoções, bem como rejeitá-las. Isso se deve ao fato de que repelir as emoções, independente da natureza – consiste em um processo de autorrejeição, já que são partes de nós. A vergonha, o medo de abandono e o luto que sente quando com raiva indicam que não foi exposta, ao longo de seu desenvolvimento, a uma atitude parental de maturidade e tolerância emocional que a possibilitariam nutrir um relacionamento livre a complacente com o que sente e, por consequência, consigo própria.

Se é como a maioria da população e foi criada por pais emocionalmente negligentes, é provável que possua uma conexão com o corpo e as emoções marcada por esta incongruência, o que perpetua o seu desconforto emocional. Se chora quando sente raiva ou ri quando está triste ou envergonhada, por exemplo, recomendo monitorar estas tendências ativamente e corrigir estes maus hábitos, preferivelmente, em tempo real. Na prática, pode tornar-se mais coerente e centrada quando honra a tristeza e a raiva que ocorrem simultaneamente, registrando a presença de ambas até que, com o tempo, consiga processar o luto por completo e restabelecer uma conexão mais íntegra com estas, especialmente com a raiva, permitindo-se senti-la sem culpa, vergonha ou medo de ser rejeitada e abandonada por ter-se dado o direito de possuí-la e expressá-la (de forma não abusiva, é claro).       

No meu curso online “Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica, ensino como conectar com o corpo e processar a raiva e tristeza que carrega de forma natural e autônoma. Para adqui-lo, clique aqui.  

Como se proteger dos relacionamentos tóxicos: identificando a sua criptonita

Os relacionamentos que a pessoa é exposta ao longo de seu desenvolvimento funcionam como uma referência para os futuramente criados e mantidos fora do ambiente familiar, como explico no meu livro Desconstruíndo a família disfuncional. Desta forma, se você provém de uma família disfuncional ou tóxica, é fundamental que se conscientize disto caso deseje relacionar-se de forma saudável. A maioria dos filhos e filhas de mães narcisistas/tóxicas/abusivas tende a sofrer de baixa autoestima, dependência emocional e codependência, sentem-se forçados a agradar, gostar e até tolerar a companhia das outras pessoas com quem não tenham afinidade. Isso se deve, muitas vezes, ao fato de se acreditarem menos interessantes e considerarem o outro melhor e, portanto, merecedor de atenção, tempo e consideração até quando não os favorecem.       

Como se proteger dos relacionamentos tóxicos: identificando a sua criptonita
A criptonita é aquela pessoa que funciona como um gatilho de traumas passados

A maneira de se proteger de influências negativas ao bem-estar e crescimento pessoal é identificar a “criptonita”. Para quem não sabe o que isso significa, a criptonita, apesar de ser um material originário do planeta nativo de Superman, personagem dos quadrinhos, causa-lhe fraqueza quando entra em contato com ela. No contexto dos relacionamentos disfuncionais e tóxicos, uso o termo como metáfora para ilustrar aquela pessoa que, quando nos vemos expostos a sua presença – com ou sem a nossa intenção – faz-nos sentir inadequados, vulneráveis, envergonhados, inseguros, pressionados, incompetentes e/ou indignos de amor e respeito. Para quem sofreu abuso, manipulação e negligência na infância, a criptonita tende a ser aquela pessoa que funciona como um gatilho de traumas passados. Isto afeta a vítima de maneira automática inconsciente, fazendo-a sentir como uma criança desprotegida que deve diminuir-se perante o outro para não ser agredida, por exemplo, ou por se sentir responsável pelo bem-estar do outro para ser aceita e sentir-se segura.

Há muitos exemplos de criptonitas que ativam as reações emocionalmente imaturas nos filhos e filhas de mães narcisistas/tóxicas/abusivas, como as figuras de autoridade que têm o hábito de subjugar,  manipular e praticar o bullying; indivíduos controladores, com problema de raiva acumulada e que agem de forma agressiva ou passivo-agressiva; pessoas que se encontram presas à vitimização e, portanto, projetam a responsabilidade de melhorar as condições próprias no outro; filhos e filhas de famílias tóxicas que se recusam a quebrar a barreira da negação e inadequação em relação ao tratamento que recebem da própria família abusiva e, por isso, projetam a vergonha no outro (isso ocorre num esforço para manter as aparências de uma conexão emocional e afetiva inexistente); e aqueles que têm dificuldade de ouvir, acreditar e ter empatia com o próximo, entre outros.

Então, quem é a sua criptonita?      

Se respondeu “a minha mãe”, recomendo adquirir o Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas para confirmar se a sua mãe é narcisista e validar a sua experiência de abuso. Para comprar o seu exemplar, clique aqui.

Descubra o que é o medo de abandono

Se já é leitor ávido deste blog, está ciente de como crescer em um ambiente de estresse crônico tal como o característico de uma família tóxica e regida pela tirania narcisista tende a resultar em trauma da infância/do desenvolvimento. Além disso, tem conhecimento dos efeitos comuns deste trauma, como a hipervigilância e a codependência, por exemplo. Neste artigo, dedico o espaço a expandir o seu entendimento acerca de uma das vulnerabilidades mais comuns entre os filhos e as filhas de mães narcisistas: o medo de abandono – já que está no cerne dos problemas de relacionamento.  

Descubra o que é o medo de abandono
O medo de abandono está no cerne dos problemas de relacionamento.  

A criança em desenvolvimento necessita de amor incondicional e da presença consistente dos adultos responsáveis para formar um senso sólido de segurança interno e autoestima. Precisa, também, da influência adulta e centrada para confiar não somente em si mesma, como também nos relacionamentos humanos como uma fonte segura de apoio, equilíbrio e conexão emocional. Isso, contudo, não acontece nos contextos em que o desenvolvimento é afetado por uma mãe narcisista e abusiva e um pai facilitador e negligente (para compreender como o seu pai “facilita” a atitude abusiva da sua mãe, recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura). Em vez da criança associar os relacionamentos humanos como algo que favoreça o bem-estar e a saúde emocional, associa-os como uma fonte de sofrimento, inadequação e ansiedade.

O medo do abandono surge, portanto, da deficiência de tais genitores, em especial, de contribuírem para que os filhos sintam-se amados, valorizados, protegidos e equilibrados emocionalmente. O abandono emocional e afetivo vivenciados na infância desemboca em trauma e uma grande fobia a sofrerem o mesmo na idade adulta, que podem ser observados nos seguintes comportamentos e atitudes:

  • Evitar comprometer-se amorosamente
  • Hábito de terminar os relacionamentos ou afastar-se do outro quando a “fase lua de mel” é encerrada
  • Ter o hábito de encontrar defeitos nos outros ou ter expectativas altas e irrealistas em relação ao outro e seu papel no relacionamento
  • Dificuldade de confiar nos outros; acreditar que querem somente tirar-lhe proveito, manipulá-lo ou usá-lo de alguma maneira
  • Baixa autoestima, necessidade de agradar os outros, levar tudo para o lado pessoal e culpar-se por problemas ou atitudes disfuncionais dos outros
  • Tendência a criar e manter relacionamentos disfuncionais e dificuldade de terminá-los mesmo quando tem consciência de que não o favorecem
  • Sentir-se desvalorizado pelo outro e no contexto dos relacionamentos
  • Ter medo de intimidade seja emocional e/ou sexual
  • Dificuldade de saber as próprias necessidades em um relacionamento e honrar os limites pessoais
  • Medo de ficar sozinho, “pular” de um relacionamento para outro com grande facilidade
  • Agir de forma codependente e dependente emocionalmente (para estudar ambas as vulnerabilidades e aprender como superá-las, recomendo os meus cursos online A codependência e A Dependência Emocional)
  • Excesso de autonomia e ojeriza a depender dos outros de qualquer forma, inclusive quando a dependência é saudável e favorece uma conexão emocional 
  • Passar por longos períodos sem um relacionamento amoroso, ter aversão a relacionamentos mais sérios ou nunca ter tido um
  • Ter problema de raiva acumulada, depressão e/ou ansiedade

5 sinais de que está preparada para cortar o contato com a mãe narcisista

Quando a percepção de família evolui como resultado da descoberta da verdade narcisista e expande-se para muito além dos chavões do senso comum tais como “Mãe é mãe” e “Família é tudo”, por exemplo, é natural para a vítima de abuso narcisista considerar a possibilidade de cortar contato com o seu gatilho número um: a genitora tóxica. Se necessita de ajuda para avaliar se está de fato disposta a tomar esta decisão, elenco 5 sinais de que está preparada para cortar o contato com a mãe narcisista:

5 sinais de que está preparada para cortar o contato com a mãe narcisista
Você tem o direito de dizer não ao abuso

1- Você está exausta de se sentir responsável pelo modo como os outros sentem: filhos e filhas de pais tóxicos são comumente codependentes, ou seja, colocam sentimentos, vontades e interesses dos outros na frente dos seus. Se já está consciente deste fato e se esforça para mudar isto, você está com uma predisposição favorável a priorizar o próprio bem-estar e iniciar o contato zero.

2- Você está exausta de se preocupar com o que os outros pensam: enquanto o emocionalmente dependente apresenta tendência à ansiedade, coloca a atenção no outro para criar um senso de direção e sabota a própria realização pessoal no processo; o emocionalmente maduro considera a opinião do parente, amigo, vizinho, colega etc. de forma centrada, ou seja, refletindo e levando em consideração quando esta lhe favorece – na maioria das vezes.     

3- Você está ciente de que a culpa que sente faz parte do processo de distanciamento: os filhos e filhas de mães narcisistas que conseguem superar a fobia às emoções negativas e contextualizá-las de acordo com a sua história de abuso e trauma, não permitem que estas os paralisem, mas lidam com elas de forma equilibrada, vendo-as como sintomas da manipulação e chantagem emocional as quais foram expostos por longos anos.

4- Você se vê como a expert da própria vida: a sobrevivente que consegue superar os efeitos de seu trauma é aquela que tem o próprio eu como o guia mais influente e sábio. Só você realmente sabe o que é sofrer abuso de uma mãe tóxica e ser negligenciada por um pai facilitador, portanto, é a única que possui verdadeira experiência e conhecimento para saber tanto o que compromete como o que promove o seu desenvolvimento pessoal.

5- Você confia nos seus sentimentos: se já superou os efeitos de anos de gaslighting e abuso da verdade, e acredita na sabedoria do próprio corpo – o qual não é facilmente corruptível como o pensamento – e segue a sua direção com consistência e comprometimento, ciente de que não há necessidade de explicar as próprias decisões, inclusive aos familiares.

Diferente do que é defendido pelos valores rígidos da família disfuncional e tóxica, o amor é fluido e independe de laço sanguíneo, portanto, é possível, sim, ser feliz e realizar-se como pessoa quando se corta o contato com qualquer indivíduo tóxico – inclusive a própria genitora. Recomendo o meu livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas, no qual incluo dicas práticas de como cortar o contato a mãe narcisista; caso concorde comigo e esteja disposta e revolucionar a própria vida de maneira corajosa e inovadora. Se já leu o Prisioneiras… e necessita de ajuda para processar o luto desta perda, também sugiro o meu curso online: Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica.

O legado dos pais emocionalmente ausentes: os sentimentos de solidão, rejeição e abandono

Para quem provém de uma família disfuncional tende a ser difícil, se não impossível, sentir-se devidamente visto, ouvido e percebido. Isso se deve ao fato de ter sido educado, de crescer e se desenvolver em um meio de grande negligência emocional e até abuso. Quando uma criança não tem as emoções validadas e lhe é negado expor seus interesses, vontades e limites pessoais, sente-se alienada, invisível e sem importância, como se não existisse nem tivesse valor. O trauma gerado por carregar este vazio existencial por tantos anos resulta em baixa autoestima que perdura até a idade adulta, além da dificuldade de confiar nos outros e de se sentir seguro nos seus relacionamentos.

O legado dos pais emocionalmente ausentes: os sentimentos de solidão, rejeição e abandono
Para quem tem pais emocionalmente ausentes, é difícil sentir-se devidamente visto, ouvido e percebido

Na prática, ter pais emocionalmente ausentes faz com que o filho sinta que raramente algo referente a si ou a sua vida seja importante o suficiente para merecer a atenção alheia. Como terapeuta do trauma especializada em filhos de famílias disfuncionais e tóxicas, já ouvi muitos relatos de clientes que nunca tiveram momentos relevantes de suas vidas reconhecidos e levados em consideração de forma apropriada pelos pais, seja por razões positivas ou negativas. Por forma apropriada significa dizer terem demostrado atenção genuína em tempo real e se feito presentes física direta ou indiretamente (através de meios de comunicação) e, sobretudo, mental/emocionalmente, permitindo, portanto, que os filhos se sentissem valorizados e dignos de seu amor.

Por serem egocêntricos e negligentes, além de terem um baixíssimo nível de consciência, mães narcisistas e pais facilitadores, por exemplo, têm a tendência de ignorarem, invalidarem e, inclusive, esquecerem eventos marcantes na vida dos filhos, tais como conquistas acadêmicas e profissionais, casamento, nascimento de filho, aniversários, mudança de residência/cidade/país, bem como rompimentos de relacionamento/separação/divórcio,  presença ou diagnóstico de doenças crônicas (de ordem mental ou física) perda de emprego, falecimento de cônjuge ou amigo etc. Os pais em questão se mantêm absorvidos nos próprios dilemas, dramas e necessidades enquanto negligenciam os dos filhos; são incapazes, portanto, de os apoiarem e fazer com que se sintam amados e confortados quando mais necessitam.

O legado de pais emocionalmente ausentes é observado na constante presença de fortes sentimentos de solidão, rejeição e abandono que parecem não diminuírem com o tempo, a idade e a experiência. Basta passarem por momentos difíceis para que os filhos se sintam invadidos por sentimentos de impotência, inadequação e desesperança. Se se identifica com o aqui reportado, recomendo tratar esse vazio de forma consciente e proativa, volte a atenção para o próprio eu e coloque as necessidades das emoções sentidas no corpo em primeiro lugar. Para restabelecer uma relação saudável e livre com o eu autêntico, sugiro os meus três cursos online: A codependência, A dependência emocional e Como Fazer o Luto da Mãe Narcisista de Forma Orgânica.

É normal sentir empatia pela mãe narcisista?

O abuso e a negligência sofridos por filhos e filhas de mães narcisistas, embora pareçam inimagináveis para aqueles que não ousam questionar os valores rígidos e obsoletos do senso comum, tais como “Toda a mãe ama os filhos” e “Família é tudo”, são bastante reais. Seja através dos e-mails que recebo, diariamente, através do Filhas de Mães Narcisistas ou de relatos direitos de clientes, nunca deixo de me impressionar com as histórias chocantes dos maltratos que sofrem, independente de idade, gênero, nível de escolaridade, social ou financeiro.

É normal sentir empatia pela mãe narcisista
É normal sentir empatia por uma pessoa abusiva?

Seja de natureza física, sexual, emocional/psicológica, verbal, espiritual ou até vicária, o abuso praticado por um adulto a uma criança, adolescente ou a outro adulto vulnerável consiste em um ato bárbaro, tirano e impiedoso. Sobretudo, mulher ou homem – quando comete abuso e negligencia os filhos – não é merecedor de consideração excepcional por ser mãe ou pai. Na realidade, os efeitos do trauma causados por abuso e negligência cometidos por uma mãe ou pai narcisista/tóxico é muito mais difícil de ser tratado e superado do que o cometido por um estranho. Portanto, a responsabilidade dos genitores é muito maior por causa do impacto que exerce no desenvolvimento, saúde e bem-estar dos filhos, assim como na habilidade de se tornar um adulto competente e realizar-se como pessoa.

Quando temos conhecimento disso e vemos claramente o poder nocivo do trauma familiar e os efeitos negativos não somente em nível individual, mas também coletivo, é inevitável sentirmos certo desconforto emocional e até nutrimos raiva contra os responsáveis, como a mãe narcisista. Se esse for o seu caso, gostaria de reiterar que tem todo o direito de se sentir desta forma, pois é humano e foi programado para proteger-se de ameaças ao seu bem-estar. Eu, Michele Engelke, também reajo com indignação e revolta contra qualquer pessoa abusiva que se recusa a assumir a responsabilidade pelos danos causados às suas vítimas, principalmente quando são os próprios filhos, contudo, também sou capaz de sentir empatia por tais indivíduos. Isso não é privilégio meu por ser terapeuta e, supostamente, “superior”, mas da maioria dos seres humanos, já que somos hábeis para possuir sentimentos opostos ao mesmo tempo e a nos identificarmos com o sofrimento alheio, mesmo quando desconhecemos a sua origem.

É normal e humano sentir empatia por uma pessoa abusiva, mesmo quando este sentimento provenha da vítima/sobrevivente, contudo, isso não implica, necessariamente, ação. Em outras palavras, você pode sentir empatia por sua mãe narcisista (e até pena), mas não é responsável pelo bem-estar dela ou pela suposta “cura” do problema dela. Afinal, a empatia é, em essência, a capacidade de se colocar no lugar do outro de forma abstrata,  não corresponde, portanto, à incumbência de corrigir a deficiência deste nem reparar o relacionamento, sobretudo, quando uma das partes envolvidas recusa-se a refletir sobre os comportamentos impróprios e admitir a culpa. Caso tenha dificuldade de agir empática e autonomamente não apenas com a mãe narcisista, como também com outras pessoas chaves em sua vida, recomendo muitíssimo o meu curso online A codependência.

2 grandes mitos sobre a raiva que impedem a assertividade

Aqueles que provenham de famílias tóxicas e, portanto, já sofreram abuso, possuem uma dificuldade natural de se conectarem com a raiva de forma saudável e agirem assertivamente. A assertividade – ou habilidade de nos posicionarmos com autoconfiança e fazermos valer nossos interesses e sentimentos, bem como os nossos limites pessoais – é um recurso precioso para os sobreviventes de abuso narcisista que desejam superar o trauma e viver uma vida autêntica e realizadora. Ser assertivo exige que o indivíduo se conecte com a raiva de modo maduro e centrado, respeitando-a e honrando-a sem culpa, medo e vergonha. A fim de melhorar o seu relacionamento com esta emoção tão importante e conseguir priorizar as necessidades de seu eu autêntico, elencam-se 2 grandes mitos sobre a raiva que impedem a assertividade:

2 grandes mitos sobre a raiva que impedem a assertividade
A raiva fica armazenada no corpo e pode tornar-se tóxica com o tempo

Sentir a raiva é feio: você não precisa ter uma mãe narcisista ou provir de uma família tóxica para já ter ouvido a famosa frase, “Sentir raiva da mamãe/do papai/da vovó… é feio”. Muitos de meus clientes se orgulham de “não sentir raiva”, como se isso fosse sinônimo de uma atitude educada, nobre, adulta e até sofisticada. Isso não somente é impossível, visto que são humanos e a raiva é uma expressão bastante orgânica desta humanidade, como também superprejudicial à saúde mental e dos relacionamentos. Conectar e sentir a raiva não é feio ou bonito, bom ou ruim, mas humano e essencial para nos protegermos e mantermos a nossa integridade e autoestima.   

A raiva é sempre expressa de forma tóxica: esta crença é típica de quem nunca presenciou a raiva no ambiente familiar sendo expressa de forma adulta e funcional, mas de forma agressivo-passiva ou superagressiva, ou seja, de um ou outro extremo disfuncional. A vítima de abuso narcisista, em particular, sabe muito bem o poder destruidor da agressividade tóxica – seja expressa de forma ativa (Para mais informações sobre “A ira narcisista”, recomendo a leitura do meu primeiro livro, Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas) ou passiva (ofereço um estudo detalhado da agressividade passiva no meu segundo livro, Filha de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura) e nutre um receio terrível de comportar-se que nem a genitora abusiva, “perder o controle” e magoar as outras pessoas. Nós somos capazes de expressar a raiva de forma centrada e até empática, basta nos conectarmos com ela e comunicá-la de forma emocionalmente madura, como, por exemplo: “Eu entendo como se sente, mas quando você ______ (comportamento) eu me sinto _______ (emoção ou sentimento, tal como com raiva/frustrada/irritada etc.)”.

Para conseguir conectar e expressar a raiva de forma saudável e comportar-se assertivamente, revela-se fundamental começar a questionar as crenças rígidas e disfuncionais sobre as emoções “negativas” como a raiva, como fizemos acima. Vale lembrar que, por mais que não seja registrada totalmente de modo consciente, a raiva fica armazenada no corpo e pode tornar-se tóxica com o tempo, causando problemas não somente de ordem psicológica/emocional, como também física. Se quiser se tornar mais tolerante com a própria raiva, recomendo a leitura dos seguintes artigos de minha autoria:

As diferenças importantíssimas entre a responsabilidade e a culpa

Descobrir que a própria mãe tem tendências abusivas e, provavelmente, é narcisista representa um evento marcante na vida de qualquer indivíduo, independente de idade, sexo, etnia ou classe social. Isso ocorre porque fomos criados para nos conectarmos emocional e afetivamente com outros seres humanos, principalmente dos quais dependemos quando pequenos e vulneráveis para sobrevivermos, desenvolvermo-nos de modo saudável e operarmos de forma satisfatória também ao nos tornamos adultos. Portanto, quem possui, pelo menos, um genitor tóxico, tem todo o direito de buscar informações que o esclareçam sobre como esse comportamento afetou o desenvolvimento, especialmente, a sua neurobiologia, saúde emocional/psicológica, habilidade de formar e manter relacionamentos funcionais e realizar-se como pessoa.

As diferenças importantíssimas entre a responsabilidade e a culpa
Embora tenha todo o direito de investigar o seu passado, isto tende a desembocar em culpa

Embora a pessoa tenha todo o direito de investigar o seu passado e tentar compreender como os pais influenciaram a sua habilidade de perceber-se como um indivíduo competente, bom o suficiente e digno de ser amado incondicionalmente, isto tende a desembocar em culpa. Muitos de meus clientes, quando começam a desabafar a respeito do modo como foram maltratados e negligenciados pelos genitores tóxicos, citando vulnerabilidades, atitudes impróprias e até abusivas, sentem-se envergonhados de “falarem mal” deles ou “culpá-los” por seus atos. Após os relatos, tendem a despender grande energia para justificar as suas atitudes como se fossem obrigados a desculparem-se pelo seu comportamento, negligenciando as próprias emoções e os efeitos de seu trauma no processo.

Isso se deve ao fato de que a nossa cultura não reconhece as importantíssimas diferenças entre a responsabilidade e a culpa, seja por influência religiosa seja devido aos valores rígidos do senso comum. Contudo, não precisa seguir esta mentalidade simplista e conformar-se com uma atitude julgadora, pois você é um indivíduo autônomo e capaz de posicionar-se de forma diferente, com consciência, inteligência e empatia. A culpa não lhe permite conduzir-se assim, pois resulta em inadequação, hostilidade e ressentimento, enquanto atribuir responsabilidade de forma adulta e centrada – constitui um direito humano e universal de se conhecer, assim como as circunstâncias de seu desenvolvimento – consiste em um ato emancipador. Diante disso, abdique da vergonha, dependência e vitimização promovida pela cultura da culpa e chantagem emocional, torne-se verdadeiramente livre e dono de seu corpo e destino.   

O conteúdo de Filhas de Mães Narcisistas e dos livros Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas e o Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura de minha autoria, tem como objetivo promover a conscientização e ajudar-lhe a organizar a sua narrativa validando a sua história, seus sentimentos e seu direito ao conhecimento. Portanto, na próxima vez que alguém disser: “Deixa isso prá lá, está no passado” ao relatar o abuso e a negligência sofridos na infância que lhe afetaram como pessoa, lembre-se de que este tipo de balela retarda o crescimento pessoal tanto do falante quanto do ouvinte, além de criar uma distância emocional e afetiva entre os dois. 

5 razões dos irmãos não ficarem do seu lado

Se for leitora assídua deste blog e já devorou o meu segundo livro Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura sabe como uso a minha experiência como terapeuta de filhas e filhos de mães narcisistas para ilustrar como o abuso narcisista afeta a saúde mental e os relacionamentos. Uma reclamação frequente é a dificuldade de terem o seu sofrimento reconhecido de forma íntegra pelos irmãos, algo que se torna um grande desapontamento. Para entender isso e libertar-se de outro fardo do legado narcisista, elencam-se 5 razões dos irmãos não ficarem do seu lado:

5 razões dos irmãos não ficarem do seu lado
A filha de mãe narcisista raramente tem o seu sofrimento reconhecido pelos irmãos

1- Carência de amor de mãe: mesmo que amem muito os irmãos, este amor não é páreo para a sua necessidade orgânica de sentirem-se amados e aceitos pela mãe, o que nunca se materializa de forma incondicional e genuína, já que se trata de uma narcisista. Além disso, vivem em um mundo de negação e recusam-se a enfrentar a verdade narcisista; o luto pela perda da mãe no sentido afetivo da palavra fica pendente e contribui para perpetuarem esta carência profunda.  

2- Medo, culpa e vergonha: a mãe narcisista é mestra em chantagem emocional, portanto, usa o medo, a culpa e a vergonha para manipular os filhos a sentirem-se eternamente endividados, dependentes e aprisionados a si. Desta forma, ir contra uma mãe narcisista para defender o irmão ou a irmã que ousa expor o seu comportamento abusivo e impróprio não somente requer estâmina, mas muita coragem.

3- Falta de empatia: é natural para certos filhos e filhas de mães narcisistas terem certa dificuldade de sentirem verdadeira empatia pelos outros, já que foram educados por um indivíduo extremamente egoísta e egocêntrico.  

4- Dependência emocional: como precisam que a mãe se sinta bem para nutrirem um falso senso de segurança interno, os filhos e filhas de mães narcisistas emocionalmente dependentes são incapazes de defenderem alguém de sua presença nefasta, sejam os irmãos ou, até, a si próprios.   

5- Conveniência e crença negativa “sou incompetente”: aquele irmão ou irmã condicionado a acreditar, desde criança, que não é capaz de prosperar ou conseguir administrar a própria vida sem a influência da mãe narcisista e da família tóxica, dificilmente irá desvencilhar-se desse controle e sacrificar os ganhos secundários (ajuda financeira e/ou com os filhos, acomodação grátis etc.) por você ou quem quer que seja.

Para conseguir superar ainda mais outra perda – a da validação e do apoio dos irmãos – recomendo continuar a praticar o luto e a agir de maneira adulta, centrada e emocionalmente autônoma. Lembre-se de que, apesar de sentir-se triste e com raiva da injustiça que ainda sofre, possui o dom da autoconsciência e uma incrível resiliência, os quais lhe permitem traçar uma jornada de crescimento pessoal intensa, autêntica e recompensadora.    

Você é viciada em drama?

Como filho ou filha de mãe narcisista, foi criado e se desenvolveu em um ambiente permeado de ameaças ao seu bem-estar. A longo prazo, isso tem um efeito marcante e duradouro no cérebro, particularmente na região que nos prepara para lidar com perigos, chamada sistema límbico (ou “cérebro emocional”). Para tais vítimas do estresse crônico e abuso por prolongados períodos, o sistema de alerta permanece preso no modo sobrevivência – o que pode contribuir para que se tornem “viciados no medo” ou nas sensações de euforia associadas ao efeito desta emoção no corpo.

Você é viciada em drama
O medo produz sensações de euforia que podem tornarem-se viciantes

Por mais que pareça incoerente, “sentir-se bem” ou “menos inadequado” quando com medo ou inseguro faz sentido sob uma perspectiva neurobiológica. Isso se deve ao fato de que a resposta luta ou fuga ou o medo que se origina da nossa percepção de perigo, por exemplo, aciona os receptores de adrenalina e dopamina no cérebro. A dopamina, em particular, foi conectada não apenas ao prazer, mas também aos comportamentos de recompensa, busca e evasão. A combinação desses hormônios nos faz sentir física e emocionalmente “turbinados” e produz uma sensação de euforia com o potencial, portanto, de tornar-se bastante viciante.

Esse vício no medo faz com que muitos filhos e filhas de mães narcisistas tornem-se, literalmente, viciados em drama. A seguir exemplos de como isso pode ser observado na prática:

  • A história da sua vida é facilmente resumida por um grande número de desastres e eventos adversos. A sua narrativa pessoal é, portanto, supernegativa e carregada de pessimismo e falta de objetividade.
  • Aqueles que são maduros emocionalmente, centrados, possuem uma atitude positiva e, portanto, vivem uma vida tranquila, entediam você. Embora de forma altamente inconsciente, você atrai pessoas difíceis, com problemas de saúde mental, abusivas e/ou imaturas emocionalmente ou gravita na direção destas para manter a vida repleta de altos e baixos e o medo de rejeição e abandono sempre presentes, o qual lhe é tão familiar e confere-lhe um senso de segurança deturpado.
  • O que você consome, faz e vivencia reforça o seu medo e estado de hipervigilância. Garantir que os dias sejam preenchidos com milhares de atividades, sentir-se (secretamente) orgulhosa de estar sempre ocupada, ouvir podcasts ou assistir documentários de crimes reais, ser viciada em notícias e controvérsias, recusar-se a não se envolver nas histórias de drama e participar dos processos de triangulação da família tóxica, assim como ler livros referentes a histórias de violência, abuso e trauma – sejam de natureza técnica ou biográfica – além de beber grandes quantidades de café e consumir alimentos ricos em carboidratos refinados – tais como pão branco e massa – são todos exemplos de como os viciados no drama mantêm-se “ligados”

Para reduzir a dependência no medo e manter-se em um estado equilibrado, recomendo as práticas que estimulam a ativação do córtex pré-frontal, a região do cérebro responsável, entre outros, pelo controle do impulso e equilíbrio emocional. Incluir a meditação mindfulness na sua rotina, aumentar a autoconsciência através do monitoramento e questionamento dos pensamentos negativos, adotar uma dieta integral baseada em plantas, fazer exercício regularmente e reduzir drasticamente ou cortar o contato com a família tóxica, por exemplo, são algumas medidas que o ajudarão a baixar o basal do estresse e garantir um aumento na qualidade de vida e melhora em sua saúde física e psicológica/emocional.

A mania de grandeza na filha de mãe narcisista: a pior e a melhor em tudo

Se você já possui certo conhecimento e experiência com o narcisismo, seja de forma direta como filho(a) de uma mãe ou pai narcisista, seja indireta como terapeuta de um(a), compreende como a mania de grandeza influencia o comportamento destes tipos de genitores. Trata-se de uma das características mais facilmente associadas ao narcisismo estereotipado ou àquele indivíduo arrogante e inseguro que usa o que é belo, caro e sofisticado, por exemplo, assim como tudo o que lhe confira poder, influência e status, tais como: títulos, aparência pessoal, sucesso profissional, financeiro e acadêmico etc. como suprimento para criar um falso senso de identidade, autoestima e bem-estar  (para um estudo mais aprofundado da mania de grandeza na mãe narcisista, recomendo a leitura do capitulo “1.7 A mania de grandeza” do meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas).   

A mania de grandeza na filha de mãe narcisista a pior e a melhor de tudo
Exagerar o valor de suas habilidades, aparência ou conquistas ou nutrir uma percepção pessoal negativa também é mania de grandeza

Embora a mania de grandeza e a necessidade patológica de se destacar sejam evidentes nos comportamentos narcisistas mencionados, não se limita a quem o possua, pois a mania de grandeza surge da ênfase do que é extremo e, portanto, qualquer um pode manifestá-la para exagerar a importância ou o valor de algo, seja para um nível alto ou baixo. Desta forma, tanto a filha de mãe narcisista quanto a genitora podem exibir comportamentos condizentes com a mania de grandeza quando, por exemplo, exageram o valor de suas habilidades, aparência ou conquistas ou nutrem uma percepção pessoal negativa. Em ambos os casos, o indivíduo não consegue obter um senso de bem-estar através de uma autoimagem realista e equilibrada, mas realça qualidades ou defeitos que supõe possuir para adquirir um senso de relevância e “amor-próprio” deturpados.

Isso se torna claro na sala de terapia quando os meus clientes, filhos de pais e mães tóxicos/narcisistas/abusivos/emocionalmente negligentes gravitam entre “a melhor” e “a pior” versão de si próprios no decorrer do processo de autoexploração e conhecimento ou na fase inicial de reorganização de sua narrativa pessoal. O relato do(a) cliente bem-sucedido(a) profissional e financeiramente, por exemplo, que não consegue ver-se além de seu peso e feitos incríveis de forma íntegra e centrada não se diferencia daquele(a) que quando pergunto, “Me conta algo sobre você” e define-se – exclusivamente – através de uma longa lista de eventos traumáticos, problemas catastróficos e diagnósticos terríveis. Vale lembrar que ter o sofrimento validado com empatia no contexto terapêutico é, sem dúvida, importante para lidar com os efeitos do trauma, contudo, é igualmente importante se reconhecer como filho(a) de mãe narcisista. Dessa maneira, há probabilidade do pensamento e comportamento estarem sendo guiados pela mania de grandeza herdada da educação tóxica, o que corrompe a autopercepção ao mesmo tempo em que pode impedir o indivíduo de se conceber de modo saudável e realizar-se como pessoa.        

Caso tenha se identificado, recomendo aumentar a autoconsciência e monitorar ativamente a tendência de formular uma visão própria demasiadamente tendenciosa – seja para o negativo ou positivo – como se houvesse algo de errado em ser simplesmente você, excluindo as ações extraordinárias e os superlativos. Celebre a sua humanidade através da prática de ver-se como uma mistura maravilhosa de adjetivos e cores variadas ou como uma linda pintura que, apesar de inacabada, bela e falha, exibe riqueza e complexidade únicas.    

A sua família é tóxica? Faça o teste

Faça o teste “A sua família é tóxica?” se acredita que provenha de uma. O questionário a seguir ajudará a revelar o nível de falta de funcionalidade de sua família. Responda com “sim” ou “não”. Após completar o questionário, conte o número de respostas “sim” e leia o comentário de interpretação de pontuação.

Descubra o nível de falta de funcionalidade de sua família

1- Embora não se sinta confortável com o termo “abuso” (verbal, emocional/psicológico, físico, sexual, espiritual), consegue identificar os comportamentos da mãe e/ou do pai como característicos de quem os pratica.

2- Há muitos segredos e triangulação em sua família, a ponto de nunca saber o que é verdade ou em quem pode confiar.

3- Os seus pais têm o hábito de envolvê-la, de forma direta e consciente, nos problemas de ordem financeira, relacional e/ou emocional deles, invertendo os papéis como se você fosse a mãe.

4- Você não se sente vista tampouco ouvida por sua família, é como se os seus sentimentos, interesses e suas vontades não tivessem nenhuma importância.

5- Pelo menos um de seus pais tem o vício ou hábito de se automedicar com drogas, álcool ou comida.

6- Você nunca recebe reconhecimento genuíno por esforços e conquistas, pelo contrário, quando consegue um êxito, é tratada com indiferença, desdém ou desrespeito.

7- Os seus pais usam as suas vulnerabilidades contra você para mantê-la pequena, infantilizada e submissa.

8- A autoafirmação é um supergatilho para você. Quando necessita defender-se ou tomar decisões de forma independente e assertiva, fica ansiosa, congela, faz tudo para evitar conflitos, procrastina e/ou age de modo desnecessariamente agressivo.

9- Na presença da sua família, sente-se inferior, insegura, inautêntica, impotente, desesperançada e cansada. É como se sugassem toda a sua alegria, boa vontade, autoestima e energia de vida.

10- Dizer não ou não fazer exatamente o que os seus pais querem desemboca em brigas e desentendimentos, portanto, acredita que é melhor submeter-se a sua tirania “para não se desgastar mais”.

11- Os seus pais exigiam que trabalhasse, cuidasse de si própria, dos irmãos e/ou da casa, quando ainda não tinha idade ou maturidade para isso.

12- Nenhum momento especial da sua vida é verdadeiramente seu ou celebrado com alegria e orgulho por seus pais. Aniversários, formatura, casamento, nascimento de filho, promoção no trabalho etc. passam em branco ou são “comemorados” de forma forçada ou sem entusiasmo genuíno.

13- Os seus pais não toleram erros. Quando alguém erra, é bombardeado com crítica destrutiva ou destratado.

14- Você vive pisando em ovos ao redor de, pelo menos, um de seus pais, pois são extremamente reativos e imprevisíveis.

15- Os sentimentos mais associados à sua família são culpa (dever/obrigação), vergonha, medo/ansiedade, tristeza, raiva e impotência.

16- Você não se sente compreendida pelos irmãos ou tem sérios problemas de relacionamento com eles.

17- Se já não cortou contato com pelo menos um membro de sua família, constantemente pensa nessa possibilidade.

18- Embora o seu pai ou a sua mãe reconheça, mesmo de forma silenciosa, que o outro é tóxico e uma péssima influência para os filhos, não se posiciona com firmeza para protegê-los, pelo contrário, facilita, de modo indireto e negligente, a perpetuação dos comportamentos disfuncionais.

19- Você tem a tendência de agir de forma codependente e emocionalmente dependente nos relacionamentos e, embora seja consciente disso, tem dificuldade de sentir-se confortável ao dizer não, em acreditar e priorizar os seus sentimentos, bem como agir de forma autônoma.

20- Você possui uma tolerância baixíssima ao desconforto, portanto, fica ansiosa quando alguém não está bem a sua volta ou quando as coisas não dão certo, levando tudo para o lado pessoal.

Análise de pontuação do teste família tóxica:

1 – 5: a sua família tem traços de falta de funcionalidade

6 – 9: a sua família é disfuncional

10 – 15: a sua família é altamente disfuncional

16 – 20: a sua família é tóxica

Para um estudo aprofundado do que é uma família disfuncional e os efeitos no desenvolvimento, recomendo a leitura do meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional

Isso também é abuso sexual: entenda o que é o abuso sexual oculto/dissimulado

Já que o índice de abuso sexual é tão alto entre filhos e filhas de mães narcisistas e suas consequências tão marcantes na sua autoimagem, autoestima e qualidade de vida sexual e nos relacionamentos a longo prazo, é pertinente usar este espaço para esclarecê-lo. Ao contrário do mantido pela população leiga, o abuso sexual é mais abrangente do que a violação sexual aberta através de toque ou relações induzidas ou forçadas, pois também ocorre de forma indireta através de comportamentos negligentes e verbalmente abusivos. Para auxiliar a sua compreensão acerca do abuso sexual oculto/dissimulado, incluo exemplos de como pode ser observado no contexto familiar disfuncional:

Abuso sexual oculto dissimulado
Não conversar com a criança sobre sexo e menstruação constitui abuso sexual oculto

Não receber educação sexual: não conversar com a criança sobre sexo e menstruação, por exemplo, constitui abuso sexual oculto, pois afeta a sua capacidade de entendimento e identificação funcional com os processos naturais de crescimento, desenvolvimento e funcionamento de seu corpo. Quem é forçado – através de muito segredo e sentimentos de inadequação – a negar a própria sexualidade como se fosse algo impróprio até para o diálogo, aprende a associar a expressão sexual com a vergonha não de uma forma saudável, mas de forma tóxica através da autorrejeição.

Abuso verbal: consiste em “falar sobre sexo de forma inapropriada” (Bradshaw, 2005). Isso pode compreender o uso frequente e indiscriminado de nomes de ordem chula ou desrespeitosa com a criança ou adolescente, tais como “puta” ou “vagabunda” quando demonstra interesse por sexo de uma forma saudável e condizente com o seu estágio de desenvolvimento, por exemplo. Condenar a masturbação e a autoexploração sexual através de comentários maldosos e insultos que comunicam a repugnância e visam envergonhar a criança também é abuso sexual oculto/dissimulado. Além disso, ter o hábito de tratar o filho com desdém por ser do sexo masculino e ter ereções e desejo sexual, afirmando que todos os homens “só pensam em sexo”, por exemplo, é um ato que compromete o desenvolvimento de uma identidade sexual saudável e sem culpa.  Fazer comentários inapropriados sobre o tamanho dos seios, vagina ou pênis da criança ou adolescente, por exemplo, ou sexualizar a união de afeto e carinho da filha com o pai ou do filho com a mãe são outros exemplos de como o abuso verbal também desemboca no sexual.

Violação de limites: pais que não trancam a porta ou agem de forma indiscreta quando estão tendo relações sexuais, por exemplo, que tem o hábito de circularem pela casa em vestimentas sexualmente provocativas ou até nus, assim como aqueles que não respeitam o direito da criança ou adolescente à privacidade em seus próprios quartos ou no banheiro, estão infringindo os limites e cometendo abuso sexual oculto (Para aprender a criar e honrar os limites pessoais, recomendo a leitura do capitulo “4.7 Entendendo e respeitando limites” do meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas).

Abuso sexual emocional/Incesto dissimulado: é quando o pai ou a mãe usa a criança ou adolescente como uma fonte de apoio emocional compartilhando detalhes de sua vida romântica/sexual como se estivessem conversando “de igual para igual”.  Tratar os filhos como pequenos cônjuges e usar o relacionamento para satisfazer as necessidades de conexão e intimidade emocional que deveriam ser atendidas por outro adulto também é abuso sexual oculto/dissimulado.

Portanto, é impossível manter um relacionamento íntimo e saudável consigo próprio e com um parceiro amoroso quando se sofre de vergonha crônica resultante de trauma provocado por abuso de qualquer natureza e, em especial, sexual (seja aberto ou oculto). Se se identificou com o que foi relatado, recomendo tratar a questão com a seriedade e atenção que merece e abordá-la de maneira proativa, já que pode estar afetando – de forma extremamente negativa – a sua habilidade de sentir-se confortável dentro da própria pele e no contexto de relacionamentos.

Referência:

Bradshaw, J. (2005). Healing the shame that binds you (2nd ed.). Deerfield Beach: Health Communications Inc.

Quando o sucesso é gatilho: a síndrome do impostor

Recentemente, a atitude de um cliente, filho de pais narcisistas, relembrou-me de como a síndrome do impostor é debilitante. Robert*, britânico de 35 anos, iniciou a sessão de terapia relatando, de forma bastante animada, como havia se destacado em um curso de liderança, do qual participou com os colegas da empresa de consultoria em que trabalha. Com um supersorriso, começou a descrever como haviam comentado de que, até então, não tinham percebido o quão significantes eram o seu conhecimento e experiência e entusiasmado, finalizou com o comentário: “Até o meu chefe e dono da empresa ofereceu-me um cargo fixo de liderança após o curso, foi mesmo incrível”.  Quando comecei a parabenizá-lo pelo sucesso e compartilhar de seu entusiasmo com o que havia acontecido, reparei que a sua linguagem corporal começou a mudar, os ombros caíram, os olhos ficaram brilhantes como se estivessem com lágrimas e o tom de sua voz tornou-se mais baixo e lento. O meu corpo e as emoções que sinto são grandes ferramentas no trabalho que faço, perguntei se havia algo de errado, pois captara certo desconforto da parte dele. Com a postura, então, já bastante retraída, confessou que estava se sentindo inadequado por ter falado de si próprio de modo autoconfiante e tido a sua história de sucesso validada por mim.

Quando o sucesso é gatilho: a síndrome do impostor
A síndrome do impostor é a tendência de questionar o próprio mérito e duvidar das próprias habilidades

O ataque de vergonha do Robert é típico de quem possui a síndrome do impostor. Como explico em meu livro Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, é a tendência de questionar o próprio mérito e duvidar das próprias habilidades, resultado de anos de abuso verbal e manipulação emocional por um ou demais genitores tóxicos e/ou negligentes emocionalmente. O excesso de crítica, a inveja, o desdém e a falta de interesse da mãe narcisista, por exemplo, causam grande trauma no filho ou na filha, a ponto destes associarem as conquistas e os eventos positivos em suas vidas com algo ruim com o potencial de desembocar em sentimentos de inadequação e perda. Porque a mãe narcisista tem o hábito de demonstrar grande desgosto ou ignorar, conscientemente, a performance de excelência dos filhos, assim como questionar o mérito de suas habilidades, ficam condicionados por tais experiências traumáticas a conceberem o próprio sucesso como algo vergonhoso. Foi triste observar como o momento de triunfo e glória de Robert funcionou como um gatilho para o surgimento de seu trauma da infância e afetou a sua capacidade de se sentir orgulhoso e celebrar a sua vitória sem um medo irracional da sua suposta “incompetência” ser descoberta, como se não fosse digno tanto de suas próprias qualidades como do reconhecimento destas.

Se como o Robert sente-se “nervoso” (envergonhado/inadequado e com medo/ansioso) quando alguém reconhece uma qualidade sua, faz um elogio ou expressa qualquer tipo de interesse e até entusiasmo por você e suas capacidades, recomendo analisar o problema conscientemente, pois a síndrome do impostor pode influenciar, de forma bastante negativa, a sua habilidade de realizar o seu potencial. Quando demonstra uma linguagem corporal insegura, desconfortável ou receosa de ser visto como um indivíduo adulto e competente, a probabilidade de que os outros o vejam desta forma aumenta. Enquanto que não se faz necessário sentir-se 100% confiante por dentro para emanar uma energia de autoestima por fora, é vital que mude a mentalidade de perdedor e farsante para uma de credibilidade e assertividade caso tenha como objetivo crescer e desenvolver-se, seja na área pessoal, acadêmica ou profissional. Se for filho ou filha de pais tóxicos e necessita de ajuda para agir com amor-próprio e sentir-se com mais autonomia de dentro para fora, recomendo a leitura, em especial, do capítulo final de número quatro do meu livro Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, “Os cinco ases de emancipação da filha de mãe narcisista”.

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Para honrar a sua raiva

Embora seja instrumental para o nosso senso de valor e autoproteção, a raiva é uma das emoções mais incompreendidas. Crianças e mulheres, especialmente, são criticadas por possuírem-na e expressarem-na, como se a raiva nunca tivesse mérito ou aplicação na sua experiencia. É através desta emoção, contudo, que o corpo mobiliza a energia para reavermos a nossa autoestima, por exemplo, bem como respeitarmos os nossos limites ou nos defendermos, seja de forma física ou verbal. A raiva também ajuda a equilibrar a tristeza e o medo e a fazer com que reavemos o controle sobre uma situação ou até de nós mesmos. Um corpo humano, cuja raiva tenha sido condicionada a ser reprimida, torna-se vulnerável ao abuso, à negligência e a uma grande variedade de problemas de ordem física, psicológica/emocional e relacional. Apesar da conexão com a raiva ser tão fundamental para garantir o nosso bem-estar, a atitude de ignorância em relação a ela é tão grande que achei pertinente usar o meu blog para ajudar a esclarecer para desmitificá-la e humanizá-la. Este artigo, portanto, tem o intuito de honrar a sua raiva.

Para honrar a sua raiva
A conexão com a raiva é fundamental para garantir o nosso bem-estar

“Sentir raiva da mãe é feio”

Você não precisa ter uma mãe narcisista para ter ouvido esse comentário em sua infância. Se como a maioria de nós, tiver recebido uma educação rígida e que reflita uma atitude de imaturidade e negligência emocional, aprendeu, desde pequeno, a negligenciar as emoções negativas como propósito prático e, por isso, não devem ser toleradas. Também aprendeu que deve sentir-se envergonhado e culpado por possui-las, as quais só são válidas se justificadas por um argumento objetivo e se aprovadas por outras pessoas. A sua raiva, portanto, assim como tristeza, surpresa, medo, nojo e vergonha sentidos, deve ser racionalizada e aceita por terceiros para que tenha valor. Esta atitude errônea e inflexível de racionalização e consequente desumanização das emoções negativas, embora mantida por pais bem-intencionados, compromete a nossa integridade e habilidade de nos desenvolvermos de forma saudável e operarmos satisfatoriamente em todas as áreas de nossas vidas.  

“Quem expressa a raiva é fraco, descontrolado”

Embora sufocar a raiva, fazer um esforço tremendo para controlar as emoções negativas e negar a sua existência seja visto como um sinal de força e equilíbrio, negligenciar as próprias emoções é, na realidade, uma atitude imatura e impensada de quem não monitora a própria experiência, seja de forma interna ou externa, para compreender o efeito que os seus atos tem em si e nas outras pessoas. A raiva, mesmo quando reprimida pela cultura de excesso de racionalização, fica armazenada no corpo e extravasa, até de forma inconsciente, em contextos diversos. Por não ser respeitada e aceita socialmente, a raiva tende a ser a emoção negativa que sofre mais descolamento, ou seja, mecanismo de defesa que faz com que lidemos com emoções negativas através de uma pessoa ou circunstância menos ameaçadoras, ou que nos deixa mais à vontade para a sentirmos e a expressarmos. A tendência de descarregar a raiva nos filhos e agir de modo agressivo-passivo, ambos comportamentos típicos de genitores tóxicos, tais como da mãe narcisista, são exemplos clássicos de como o esforço para negá-la é infrutífero e desemboca em problemas sérios de relacionamento e, até, em abuso e trauma.

A raiva acumulada

Caso tenha sido vítima de abuso narcisista, a probabilidade que sofra de raiva acumulada é muito grande, já que se trata de um dos efeitos mais comuns do trauma do desenvolvimento. Quem sofre de raiva acumulada tende a apresentar, entre outros, os seguintes sintomas:

  • alta reatividade
  • irritabilidade, falta de paciência
  • hipervigilância
  • tristeza
  • sentir-se usado, desvalorizado, baixa autoestima
  • sarcasmo, desejo de criticar e ferir o outro com palavras, agressividade passiva
  • ver a vida como uma batalha, os outros como inimigos ou pessoas que querem se aproveitar de você ou humilhá-lo  
  • levar tudo para o lado pessoal
  • problemas do sono
  • armouring: rigidez nos músculos dos ombros, costas, pescoço e mandíbula
  • dores de cabeça
  • fadiga
  • aumento da pressão sanguínea
  • problemas gastrointestinais

Se se identifica com o dito acima, recomendo abordar o seu problema de raiva acumulada o quanto antes através de uma atitude proativa, consciente e responsável, já que tem o potencial de afetar a sua saúde, a qualidade de vida e relacionamentos de uma forma dramática. 

Você tem direito a sua raiva

Como ser humano, você tem total direito de sentir o que for. Ninguém tira este direito de você, independente do argumento (incluindo, “Mas ela é sua mãe”), já que a sua experiência subjetiva consiste em um direito universal seu. Assim como você não precisa justificar o seu valor para tê-lo, todas as suas emoções não precisam ser explicadas para que adquiram relevância e sejam honradas, basta existirem para que, automaticamente, sejam merecedoras de sua atenção. É claro que honrar a sua raiva não lhe dá permissão para abusar dos outros livremente. Se você só consegue expressar a raiva de forma polarizada e disfuncional, ou seja, reprimindo-a ou expressando-a de forma extrema, precisa reavaliar o seu estilo e aprender formas saudáveis de lidar com ela.  Aprender a comunicar a sua insatisfação de forma assertiva, não violenta e polida, revela-se essencial para quem deseja conectar-se com a raiva de maneira autêntica e produtiva.

Honrando a raiva do filho e filha de mãe narcisista

Passar anos sendo humilhado, rejeitado e ignorado por uma mãe narcisista, abusiva, egoísta e egocêntrica, enquanto se é negado o direito de sentir-se mal em relação a tudo isso, é enfurecedor. Tornar-se adulto e dar-se conta disso e, ainda, não ter o direito de validar essa raiva, mais ainda. Para encerrar com este ciclo de negligência e dependência emocional (para compreender o que é a dependência emocional e como superá-la, recomendo o meu curso online, “A dependência emocional”), é vital que comece a honrar a sua raiva neste momento e de forma autônoma, mesmo que ninguém a sua volta esteja disposto a fazê-lo. Só você tem o poder de transformar a sua vida e o relacionamento que tem com as emoções. Para beneficiar-se de uma conexão saudável com a raiva, faça dela a sua melhor amiga e aprenda a processá-la e observá-la, sem julgamento. Quando acolhe todas as partes de si, está praticando o amor-próprio de dentro para fora. Se necessita de ajuda para mudar o relacionamento com a raiva, recomendo o meu curso online “Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica”. Neste curso, você aprenderá a reconectar com o corpo e a processar a raiva resultante de seu trauma de forma saudável.   

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