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Isso também é abuso sexual: entenda o que é o abuso sexual oculto/dissimulado

Já que o índice de abuso sexual é tão alto entre filhos e filhas de mães narcisistas e suas consequências tão marcantes na sua autoimagem, autoestima e qualidade de vida sexual e nos relacionamentos a longo prazo, é pertinente usar este espaço para esclarecê-lo. Ao contrário do mantido pela população leiga, o abuso sexual é mais abrangente do que a violação sexual aberta através de toque ou relações induzidas ou forçadas, pois também ocorre de forma indireta através de comportamentos negligentes e verbalmente abusivos. Para auxiliar a sua compreensão acerca do abuso sexual oculto/dissimulado, incluo exemplos de como pode ser observado no contexto familiar disfuncional:

Abuso sexual oculto dissimulado
Não conversar com a criança sobre sexo e menstruação constitui abuso sexual oculto

Não receber educação sexual: não conversar com a criança sobre sexo e menstruação, por exemplo, constitui abuso sexual oculto, pois afeta a sua capacidade de entendimento e identificação funcional com os processos naturais de crescimento, desenvolvimento e funcionamento de seu corpo. Quem é forçado – através de muito segredo e sentimentos de inadequação – a negar a própria sexualidade como se fosse algo impróprio até para o diálogo, aprende a associar a expressão sexual com a vergonha não de uma forma saudável, mas de forma tóxica através da autorrejeição.

Abuso verbal: consiste em “falar sobre sexo de forma inapropriada” (Bradshaw, 2005). Isso pode compreender o uso frequente e indiscriminado de nomes de ordem chula ou desrespeitosa com a criança ou adolescente, tais como “puta” ou “vagabunda” quando demonstra interesse por sexo de uma forma saudável e condizente com o seu estágio de desenvolvimento, por exemplo. Condenar a masturbação e a autoexploração sexual através de comentários maldosos e insultos que comunicam a repugnância e visam envergonhar a criança também é abuso sexual oculto/dissimulado. Além disso, ter o hábito de tratar o filho com desdém por ser do sexo masculino e ter ereções e desejo sexual, afirmando que todos os homens “só pensam em sexo”, por exemplo, é um ato que compromete o desenvolvimento de uma identidade sexual saudável e sem culpa.  Fazer comentários inapropriados sobre o tamanho dos seios, vagina ou pênis da criança ou adolescente, por exemplo, ou sexualizar a união de afeto e carinho da filha com o pai ou do filho com a mãe são outros exemplos de como o abuso verbal também desemboca no sexual.

Violação de limites: pais que não trancam a porta ou agem de forma indiscreta quando estão tendo relações sexuais, por exemplo, que tem o hábito de circularem pela casa em vestimentas sexualmente provocativas ou até nus, assim como aqueles que não respeitam o direito da criança ou adolescente à privacidade em seus próprios quartos ou no banheiro, estão infringindo os limites e cometendo abuso sexual oculto (Para aprender a criar e honrar os limites pessoais, recomendo a leitura do capitulo “4.7 Entendendo e respeitando limites” do meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas).

Abuso sexual emocional/Incesto dissimulado: é quando o pai ou a mãe usa a criança ou adolescente como uma fonte de apoio emocional compartilhando detalhes de sua vida romântica/sexual como se estivessem conversando “de igual para igual”.  Tratar os filhos como pequenos cônjuges e usar o relacionamento para satisfazer as necessidades de conexão e intimidade emocional que deveriam ser atendidas por outro adulto também é abuso sexual oculto/dissimulado.

Portanto, é impossível manter um relacionamento íntimo e saudável consigo próprio e com um parceiro amoroso quando se sofre de vergonha crônica resultante de trauma provocado por abuso de qualquer natureza e, em especial, sexual (seja aberto ou oculto). Se se identificou com o que foi relatado, recomendo tratar a questão com a seriedade e atenção que merece e abordá-la de maneira proativa, já que pode estar afetando – de forma extremamente negativa – a sua habilidade de sentir-se confortável dentro da própria pele e no contexto de relacionamentos.

Referência:

Bradshaw, J. (2005). Healing the shame that binds you (2nd ed.). Deerfield Beach: Health Communications Inc.

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