A validação inatingível: quando desistir de tentar sentir-se visto, percebido e ouvido pelos pais
A negligência emocional – apesar de ser mais comumente vivenciada do que os abusos verbal, emocional, físico e sexual – tem efeitos prejudiciais e duradouros no desenvolvimento. Embora incompreendida, mas recorrente na narrativa daqueles que cresceram em famílias disfuncionais e tóxicas, a negligência emocional é uma assassina silenciosa e real de autoestima. De forma compreensível, torna-se difícil nutrir amor e respeito por si próprio quando as emoções não são reconhecidas com a importância devida. Como é possível criar um senso de identidade confiável, quando o que vivenciamos nos corpos é consistentemente ignorado, negado e descartado por quem, supostamente, é visto como modelo de maturidade, congruência, autonomia e inteligência (emocionais)?

Quando se é submetido a uma cultura familiar de negligência emocional (Para compreender como esta cultura é refletida no comportamento em família, recomendo a leitura do a leitura do capítulo 5 do Desconstruindo a Família Disfuncional, “A imaturidade e a negligência emocional das “crianças grandes”), a falha de conectar-se com os outros gera um vazio que é fortemente sentido no corpo, além de produzir um efeito de peso, solidão e alienação em quem o carrega. Alguns se sentem dormentes e sob os efeitos da dissociação, como se habitassem um corpo ou vivessem uma vida que não lhes pertencessem. Buscamos uma sensação de integridade para sermos capazes de desfrutar da felicidade e os que sofreram negligência emocional são particularmente propensos a confiar em fatores externos, como a aprovação e o reconhecimento dos outros, para se sentirem bem em relação a si próprios. Mesmo quando os pais são incapazes de ampará-los, continuam a buscar-lhes apoio e validação de forma exaustiva e, por vezes, obsessiva.
Então, como saber quando chegou a hora de dar um “basta!” a essa tendência? Em que ponto pode-se afirmar – com segurança – que os pais são realmente incapazes ou não têm desejo nenhum de validar o seu sofrimento?
Em Burnout (2019), as irmãs Nagoski recomendam as seguintes perguntas para determinar o valor de uma meta ou objetivo (meus comentários estão em parênteses):
- Quais são os benefícios de continuar? (Existe uma probabilidade realista de seus pais reconhecerem o comportamento negligente de forma genuína? Qual é a probabilidade de sentir-se melhor ao continuar buscando esse reconhecimento?)
- Quais são os benefícios de parar? (Que efeito deixar de perseguir a validação de seus pais teria na sua saúde mental/emocional? Qual é a probabilidade de sentir-se melhor ao abandonar esse hábito?)
- Quais são os custos de continuar? (Que efeitos sentir-se invisível e sem importância, repetidamente, podem ocorrer em sua autoestima? Que influência isso continuaria a exercer na sua autoconfiança, também em outros contextos relacionais?)
- Quais são os custos de parar? (Como sentir-se-ia ao parar de tentar se conectar emocionalmente com os seus pais? Quanto confia na sua capacidade de processar e aceitar essa perda de conexão?)
Embora a ideia de não contar com os pais como fonte de verdadeiro apoio e conexão emocional desperte grande tristeza a curto prazo, é superprodutivo processar essa perda como um investimento para a felicidade autêntica a longo prazo. Após desistir de consertar os relacionamentos disfuncionais e tóxicos, terá mais liberdade para se concentrar nos relacionamentos gratificantes e satisfatórios.
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Referência:
Nagoski, E. & A (2019). Burnout. Solve Your Stress Cycle. Penguin Random House: London, UK
Obrigada Michele pela dicas de ouro. Eu sinto que ainda não consegui me libertar da angústia relativa à não validação emocional da mãe e de outros familiares.
Olá boa tarde, sinto o mesmo , como é difícil
Acredito que tudo tem um preço e tudo sempre vai gerar desconforto no início. Eu não procuro mais essa validação porque minhas conquistas nunca foram interessantes para meus pais, pois as do meu irmão são sempre mais plausíveis, pra eles. Então perdi essa necessidade ao presenciar ou ouvir muito e o bastante para entender. Hoje com relações cortadas, quando falo com meu pai (que de forma torta e falas em script, porém o único que não cortei 100%) não menciono minhas conquistas e lutas. Procurar isso é se frustrar, e a gente cansa. Então gosto de olhar para ao que fiz, busquei, conseguindo ou não bons resultados, com orgulho de mim mesma. É chato não compartilhar? É, mas não adianta ficar pensando “ah, mas se fossem diferentes..” Não são e ponto. Vida que segue com pessoas leves ao lado.
Nossa me descreveu : sinto como estivesse num corpo q não me pertence , é um vazio q eu busco a validação nos relacionamentos q tenho e ao contrário, sou tão desvalorizada , chega a ser humilhação