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O segredo do sucesso da sobrevivente de abuso narcisista

O segredo do sucesso da sobrevivente de abuso narcisista

A sobrevivente de sucesso é aquela que transcende o próprio trauma

Descobrir que se é filha ou filho de uma mãe narcisista representa um momento que marca não somente a história, como também a trajetória de crescimento e desenvolvimento pessoal destes indivíduos. Isso se deve ao fato de que a verdade narcisista é tão reveladora que se torna impossível ignorá-la e tocar a vida como se ela não existisse. A autoconsciência acerca do problema (narcisismo materno), seus efeitos (abuso e trauma) e implicações (cortar o contato) tende a dar origem a uma intensa mistura de sentimentos, tais como: alívio, medo, vergonha e revolta, entre outros. Sobretudo, tende a despertar na vítima uma grande vontade de mudar e reaver a sua autonomia e dignidade. Este forte desejo de viver uma existência feliz, de paz e realizações através da livre expressão de sua essência – tão castigada pelos ataques de uma mãe egoísta, controladora e invejosa – é a energia motivadora que dá início ao seu processo de libertação pessoal.

Embora a vontade de se libertar das garras de uma mãe abusiva tenda a ser voraz, nem todas as filhas de mães narcisistas conseguem retomar as rédeas da própria vida e se afastarem dessa influência nefasta. Este artigo visa explorar a diferença entre elas, ou trazer à luz as características da filha de mãe narcisista que pretende acabar com o ciclo de abuso narcisista e propulsar o seu processo de cura e sua independência psicológica e emocional.

Vítima ou sobrevivente?

A libertação pessoal da vítima de abuso narcisista, independente de sexo, é alcançada quando investe esforço e determinação em uma mudança radical de atitude. Mudar, neste contexto, exige pensar e agir como uma sobrevivente e, não mais, como uma vítima. Na prática, esta mudança pode ser observada quando a vítima substitui as suas estratégias de enfrentamento disfuncionais, como a negação e a repressão emocional por táticas mais saudáveis, autoconfiantes e maduras. Em vez de se sentir permanentemente intimidada e à mercê de sua própria inadequação a, então, sobrevivente não só é capaz de reconhecer o abuso sofrido como algo amoral, brutal e injusto, bem como validar todas as emoções antagônicas desta descoberta terrível, tais como: a tristeza, a raiva e os demais sentimentos que compreendem o luto, com honestidade e coragem. A sobrevivente não foge da própria dor e dos sentimentos de abandono e solidão que acompanham a genuína conscientização de sua perda, tampouco os normaliza ou diminui o impacto negativo que a mãe exerce sobre os seus bem-estares físico, psicológico e emocional, mas se permite registrá-los, processá-los e aprender com estes.

Devido ao fato da sobrevivente valorizar o próprio bem-estar e honrar suas emoções, cortar ou reduzir drasticamente o contato com a mãe narcisista revelam-se como as alternativas mais sensatas e responsáveis. Diferente da vítima que perpetua o processo de vitimização, insistindo em forçar uma falsa conexão afetiva com uma mãe exploradora e egoísta, a sobrevivente recusa-se a submeter-se a sua atitude errática, de forma consistente e firme, colocando a sua sanidade e qualidade de vida em primeiro lugar.

O segredo do sucesso da sobrevivente: a tolerância do desconforto emocional

Visto que se afastar da própria mãe – mesmo quando extremamente abusiva – trata-se de uma tarefa inédita nos contextos socioculturais que glorificam os valores de família rígidos e obsoletos, comportar-se como uma sobrevivente requer estâmina. Como se não bastasse esta mentalidade coletiva retrógrada, a filha de mãe narcisista também deve enfrentar a sua notória falta de autoconfiança e medo insuportável de se autoafirmar. Quando uma criança é sistematicamente atacada e rejeitada cada vez que expressa a sua identidade, vontades e interesses próprios, aprende a associar a autoafirmação com uma experiência extremamente dolorosa. No decorrer do tempo, é condicionada a fazer somente o que favorece os pais controladores e a família disfuncional, sacrificando a própria alma como se fosse algo irrelevante. Portanto, para a filha de mãe narcisista a qual foi submetida a anos de maltratos psicológicos, emocionais e físicos, dizer não a quem abusa dela resulta, naturalmente, em grande desconforto emocional.

Como se autoafirmar é um supergatilho que remete a filha de mãe narcisista a várias experiências traumáticas de seu passado, tais como desentendimentos e discussões intermináveis, aprender a tolerar o medo, a insegurança e a ansiedade, assim como os demais sentimentos de inadequação associados a uma atitude autêntica e autônoma é determinante para o sucesso de seu processo de emancipação e crescimento pós-traumático. A filha de mãe narcisista consegue superar o trauma e até prosperar nos campos pessoal e profissional, quando reconhece e aceita tais vulnerabilidades, mas não se permite ser dominada por elas. Logo, a sobrevivente de sucesso é aquela que, por estar ciente de seus gatilhos, transcende o próprio trauma resistindo à pressão de se diminuir e se fazer insignificante diante da mãe narcisista e demais familiares, ato que, apesar de sua natureza incoerente, ainda é encorajado por um grande número de indivíduos que defende as instituições “mãe” e “família” como invioláveis.

Se você está pensando ou já iniciou o processo de corte ou redução de contato com a mãe narcisista e/ou família tóxica, mas não se sente segura, lembre-se de que este desconforto é normal considerando o seu histórico de abuso e trauma. Você não foi educada para se autoafirmar e agir de acordo com a sua cabeça, mas para submeter-se a eterna tirania de sua mãe narcisista. O que você está fazendo é um ato revolucionário até para o seu próprio entendimento, logo, dê tempo a si mesma, ao seu cérebro, ao seu corpo e as suas emoções, para se acostumarem com a ideia. Todo o tipo de hábito, por mais prejudicial a sua saúde, não é fácil de ser erradicado ou substituído sem um mínimo de desconforto emocional. Se você se sente inadequada para tomar uma decisão tão adulta e independente, tal como se distanciar de uma pessoa ou pessoas que lhe faz/fazem mal, a sua inquietação é um bom sinal, pois marca a saída da sua zona de conforto e um superavanço na sua habilidade de implementar mudanças positivas na própria vida.

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