Os efeitos do trauma da infância na saúde fisica – O estudo dos ACEs

O trauma da infância compromete, também, a saúde física
Um dos objetivos centrais do Filhas de Mães Narcisistas é aumentar a consciência acerca do trauma da infância e dos efeitos do estresse tóxico na criança em desenvolvimento. Se você é um leitor assíduo deste blog e já devorou o Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade para Filhas de Mães Narcisistas e o Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, está ciente dos efeitos cognitivos, comportamentais, relacionais, sexuais e espirituais de seu trauma. Para um filho ou filha de uma mãe narcisista/tóxica/abusiva que exibe um alto nível de consciência, os termos “estresse (tóxico)”, “trauma”, “família disfuncional”, “abuso” e “negligência” são-lhe bastante conhecidos. O intuito do presente artigo é ampliar o seu conhecimento em relação aos efeitos que estas experiências negativas podem ter no seu corpo, precisamente, na sua saúde física. Para que consiga atingir este objetivo e compreender a verdadeira dimensão dos efeitos do trauma da infância, é essencial familiarizar-se com o estudo dos ACEs.
O estudo dos ACEs
O estudo dos ACEs foi uma pesquisa conduzida no final dos anos 90 por um centro de controle e prevenção de doenças nos Estados Unidos chamado Kaiser Permanente. A finalidade do estudo foi estabelecer a conexão entre as experiências adversas da infância (Adverse Childhood Experiences = ACEs) e a ocorrência de doenças a longo prazo. Elenca-se, abaixo, os exemplos centrais ao que se refere como ACEs ou experiências adversas/eventos traumáticos:
- Abuso físico
- Abuso sexual
- Abuso emocional
- Negligência física
- Negligência emocional
- Violência por um parceiro íntimo
- Mãe tratada violentamente
- Uso indevido de substâncias dentro de casa
- Doença mental de um membro da família
- Separação parental ou divórcio
- Membro da família encarcerado
Cada experiência adversa ou trauma listado equivale a uma pontuação de ACE. No estudo dos ACEs, realizado com mais de 17.000 adultos, 87% dos entrevistados apresentaram uma pontuação de pelo menos um trauma/evento adverso na infância, fato que revela, inequivocamente, a natureza penetrante do trauma. Os resultados da pesquisa também determinaram que quanto maior o nível de disfunção familiar e a exposição do indivíduo em desenvolvimento a maltrato e ao estresse tóxico, maior a sua probabilidade de sofrer a longo prazo os seguintes problemas de saúde física:
- Doenças gastrointestinais
- Doenças cardiovasculares
- Doenças respiratórias
- Doenças sexualmente transmissíveis
- Fraturas ósseas
- Obesidade
- Diabetes
- Câncer
O estudou também estabeleceu que uma pontuação de 4 ou mais ACEs aumenta a probabilidade de…
- Alcoolismo em 700%
- Câncer em 200%
- Doença pulmonar crônica em 390%
- Hepatite em 240%
- Depressão em 460%
- Tentativa de suicídio em 220%
Já uma pontuação de 6 ou mais ACEs, reduz a expectativa de vida, em média, 20 anos (é 80 anos para os indivíduos com uma pontuação de ACEs zero) e aumenta ainda mais a probabilidade de se tentar o suicídio (3.000%).
Reiterando a relevância do estudo dos ACEs
O estudo dos ACEs destacou a relação tão elementar entre a qualidade dos relacionamentos familiares e circunstâncias de desenvolvimento de uma criança com o seu bem-estar físico e não somente o aspecto psicológico e emocional. Através das estatísticas significativas de um estudo de tal magnitude obtém-se a confirmação cientifica de um conhecimento que para a sobrevivente é bastante intuitivo, ou seja, que o abuso e a negligência, em todas as suas formas, causam um grande impacto negativo no ser humano como um todo, corpo e mente. Portanto, faz-se elementar, também para a vítima que ainda busca tanto a validação do seu trauma como o entendimento do impacto que exerce em si e no seu desenvolvimento, inteirar-se sobre os resultados do estudo dos ACEs e informar-se a respeito dos potenciais efeitos prejudiciais que as experiências adversas sofridas na infância podem causar ou já causaram na sua saúde física na idade adulta.
O aumento da consciência acerca de sua condição de vulnerabilidade pode ajudá-lo a ganhar uma renovada apreciação pelas práticas de cuidado pessoal, manutenção do bem-estar e prevenção de doenças, tais como o exercício ou atividade física, uma dieta equilibrada e o controle do consumo de álcool e alimentos ricos em açúcar, por exemplo. Sobretudo, o estudo dos ACEs reafirma a necessidade de uma mudança radical nas atitudes relacionadas ao abuso e à negligência, seja em nível micro, meso ou macrossocial, já que as implicações à saúde pública, bem como sociais e econômicas, compreende a todo nós e não somente às minorias marginalizadas, como divulgado pelo senso comum. Os indivíduos e as famílias que compõem a nossa sociedade, assim como os profissionais da saúde mental e física, escolas e instituições religiosas e governamentais envolvidos direta ou indiretamente nos contextos de abuso e negligência necessitam adotar uma atitude de respeito e apoio evidentes às vítimas/sobreviventes, a qual é comunicada sem ambiguidade e sustentada incondicionalmente.
Para calcular a sua pontuação de ACEs, responda o questionário contido aqui (disponível somente em inglês).
Fontes:
Adverse Childhood Experiences Study
Center on the Developing Child Harvard University
SAMHSA Substance Abuse and Mental Health Services Administration