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Palavras como armas: os efeitos crônicos do abuso verbal na infância

Se você anda por aí dizendo, “Paus e pedras podem quebrar os meus ossos, mas as palavras não me machucam” está na hora de reavaliar essa crença. A neurocientista Lisa Feldman Barrett explica em seu brilhante livro Seven and a Half Lessons About the Brain que a exposição ao abuso verbal durante um longo período produz efeitos prejudiciais significativos que vão além da baixa autoestima. Visto que as regiões do cérebro que processam a linguagem também controlam o interior do corpo, o abuso verbal também afeta o ritmo cardíaco, os níveis de glicose e o fluxo de substâncias químicas que sustentam o sistema imunológico. Assim como as palavras gentis ​​fazem-nos sentir amados, mais calmos e fortes; as agressivas têm o poder de prejudicar a saúde física.

As palavras, então, são ferramentas que regulam os corpos humanos. As palavras das outras pessoas têm um efeito direto na sua atividade cerebral e nos seus sistemas corporais, e as suas palavras têm o mesmo efeito nas outras pessoas. Se você tem ou não a intenção de afetá-las desta forma, isso é irrelevante. Fomos programados desta forma.

Lisa Feldman Barrett, 2020

Quando os indivíduos abusivos usam as palavras como armas para maltratar, manipular e controlar os outros, as suas vítimas também se tornam mais vulneráveis ​​à ansiedade, depressão, raiva, disfunção imunológica e a demais disfunções metabólicas, bem como aos distúrbios de humor quando se tornam jovens adultos. Diante de tais fatos, a conexão entre o abuso verbal e as doenças da mente e do corpo não deve mais ser menosprezada ou ignorada.

Palavras como armas os efeitos crônicos do abuso verbal na infância
A exposição ao abuso verbal pode prejudicar a sua saúde física

Embora o exposto seja concernente àqueles que trabalham na área de saúde mental, o que Barrett e outros neurocientistas demonstraram através de extensa pesquisa sobre os efeitos do abuso emocional e verbal não me surpreende (Recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, para compreender o que é o trauma e os efeitos que exerce na saúde mental). Como conselheira do trauma especializada no trauma de infância/desenvolvimento, tive vários clientes que cresceram em ambientes familiares altamente disfuncionais, e, atualmente, sofrem de, pelo menos, uma doença crônica ou vulnerabilidade física como as mencionadas. Curiosamente, seu início é percebido, em sua maioria, no final da adolescência ou na idade adulta, quando o corpo é submetido ao estresse crônico durante o desenvolvimento. Portanto, há grande probabilidade disso ter um efeito negativo nos sistemas imunológico, respiratório, digestivo, nervoso, endócrino e cardiovascular.

Chegou a hora da nossa cultura parar de normalizar o abuso verbal, seja na forma oral ou escrita. Se foi testemunha ou sofreu abuso verbal, lembre-se de como é tóxico para todos os envolvidos, e tome as medidas necessárias para impedir a sua perpetuação. Você pode fazer isso de modo autônomo, reavaliando as próprias crenças rígidas sobre a agressão verbal, as emoções negativas e vulnerabilidades, tais como, “Se eu deixar isso me afetar, significa que sou fraco”, por exemplo, comece a honrar como se sente com tolerância. Seja saindo da sua zona de conforto através do investimento proativo nos comportamentos assertivos ou participando abertamente de debates relacionados a abuso, pois ajudará a mudar não apenas a própria maneira de pensar, mas também a consciência coletiva.

Para um estudo aprofundado de todos os tipos de abuso, recomendo o meu curso online, “O abuso e a negligência”.

Referência:

Barrett, L. F. (2020). Seven and a half lessons about the brain. Picador: London, UK.

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