Categoria: Codependência

O que é um relacionamento codependente?

Um relacionamento codependente é um relacionamento disfuncional porque não favorece o crescimento nem o desenvolvimento pessoal, portanto, quando a pessoa se encontra em um, sente-se descontente, pois as suas necessidades não são atendidas. Os relacionamentos codependentes não são compostos de heróis e vilões. Aqueles que colocam as necessidades dos outros antes das suas podem ter motivações obscuras que vão além da bondade ilimitada. Os considerados maus ou aqueles que recebem a atenção e a dedicação exageradas e, muitas vezes, a ajuda não solicitada, têm vulnerabilidades que vão além do egoísmo e do egocentrismo. Desta forma, a dinâmica do relacionamento codependente é complexa, sem ser estática e não pode ser totalmente compreendida por meio de termos simplistas.

O que é um relacionamento codependente?
Os relacionamentos codependentes são marcados pelos limites fracos

A principal vulnerabilidade dos envolvidos nos relacionamentos codependentes se baseia nos limites fracos. Embora isso seja facilmente identificável no caso doador, já que a sua dedicação ao outro parece não ter limites, também está presente no receptor. Aqueles que dependem da dedicação e do esforço dos doadores para sentirem-se valorizados e conectados, fazem-no devido à incapacidade de nutrir estes sentimentos de forma autônoma. Quando a pessoa depende de fontes externas para o seu bem-estar, os limites entre ela, os outros e o mundo ao seu redor tornam-se porosos, o que leva a tipos de dependências, tais como a emocional e relacional.

Além disso, os limites fracos estão profundamente ligados a altas expectativas, à má comunicação e ao processo de leitura mental. Como não existe uma separação clara das necessidades individuais, tanto o doador quanto o receptor sentem-se insatisfeitos no relacionamento, o primeiro porque a sua dedicação e seu esforço não são correspondidos pelo receptor, enquanto o segundo sente-se sobrecarregado com a responsabilidade de igualá-los ou preso à dependência deles. Devido ao medo da rejeição e do abandono e à dificuldade de regulação emocional, tanto o doador como o receptor carecem de ferramentas para se expressarem emocionalmente, resolverem conflitos e sentirem-se ouvidos, vistos e percebidos.

Se se encontra em um relacionamento codependente e gostaria de mudar essa dinâmica, dê início a um trabalho interno de amadurecimento emocional. O foco dos indivíduos emocionalmente maduros é aprender a tolerar o desconforto sentido nos próprios corpos, em vez de psicanalisar e consertar os outros. Você pode conseguir isso por meio da autonomia emocional, permitindo-se sentir e processar os sentimentos negativos, tais como a raiva e insegurança, enquanto resiste à tendência de buscar o equilíbrio interior através de validação externa, seja através da dedicação exagerada ao bem-estar alheio ou da dependência desta para se sentir amado e seguro nos relacionamentos.

Vídeo: Reflexões sobre o perdão

Neste vídeo exclusivo para o Filhas de Mães Narcisistas, Michele Engelke oferece uma reflexão a respeito do perdão, um tema que geralmente permeia a consciência de filhos e filhas de famílias disfuncionais e tóxicas.

Nas reflexões sobre o perdão, a terapeuta do trauma e de EMDR Focada no Apego explora o que significa perdoar um pai negligente e/ou mãe abusiva de forma a honrar este processo quando vivenciado pela vítima do trauma relacional.

Se você estiver cogitando cortar o contato com a genitora abusiva e/ou o pai facilitador/negligente, ou se já cortou o contato e está reavaliando uma reaproximação, este vídeo o ajudará a abordar o perdão de modo maduro e condizente com o seu contexto pessoal.

Para aprofundar-se no assunto, recomendamos…

Livros:

O Capítulo 4, Reivindicando você, do Prisioneiras do espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas apresenta dicas de como recuperar o controle sobre si própria com o corte de contato ou a adoção de um relacionamento light, além de explorar o tema do perdão.  

Para quem está interessado em fazer terapia para auxiliar o processo de luto e cura do trauma, o capítulo 4.5, O aconselhamento do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura traz uma lista das abordagens terapêuticas que Michele Engelke recomenda. 

Curso online:

Como fazer o luto pela mãe narcisista de forma orgânica:

  • Entenda o que é o luto
  • Estude as 5 fases do luto de Kübler-Ross aplicadas no contexto da filha de mãe narcisista
  • Aprenda como reconectar-se com o corpo e a fazer o luto (pela mãe narcisista) de forma orgânica
  • Explore as sensações corporais das emoções negativas, tais como a tristeza e a raiva
  • Aprenda técnicas de autorrelaxamento

Além disso, o curso:

  • Contém uma prática guiada de luto orgânico
  • Possui a duração de 2h 07 min 30 seg
  • Inclui um certificado de conclusão

4 sinais de estafa relacional (relationship burnout)

Apesar de desembocar em sentimentos de ansiedade, a estafa relacional é um fato real e abrange todos os tipos de relacionamento, seja entre colegas de trabalho, amigos ou, até, entre pais e filhos. Todos somos suscetíveis a isso, mas os codependentes em recuperação, ou aqueles que apresentam dificuldades de honrar os limites, tendem a vivenciá-la com mais frequência. Elenca-se aqui 4 sinais de estafa relacional para você conhecer os seus efeitos no comportamento:

1- Você se sente exausto: o relacionamento tornou-se muito intenso e/ou unilateral. Você se sente esgotado por passar muito tempo com a outra pessoa, mesmo quando esta não se sente da mesma forma, o que também desemboca em uma sensação de sobrecarga, especialmente quando os limites não são respeitados. Você se sente culpado quando diz não, mas mantém a obrigação de priorizar as necessidades do outro.

2- Você perdeu o interesse: você tem dificuldade de se conectar com a outra pessoa de uma maneira prazerosa, significativa ou recompensadora, visto que os seus valores, ideias e interesses mudaram e não se alinham mais com os da outra pessoa. Você começa a dar desculpas para não vê-la ou despende grande tempo preocupando-se em encontrar razões “boas o suficiente” para não encontrá-la.

4 sinais de estafa relacional (relationship burnout)
Perder o interesse no outro é um sinal de estafa relacional

3- Você superou o relacionamento: você cresceu e se desenvolveu como pessoa, mas a outra pessoa, não. Como a versão atual sua não favorece a dinâmica relacional, sente-se pressionado a agir de forma inautêntica para preservar a conexão.

4- Você se sente impotente: como você mudou, mas a dinâmica do relacionamento não, você se sente pessimista sobre o futuro do relacionamento. Você considera a possibilidade de contar como se sente para a outra pessoa, mas fica desesperançado diante de uma mudança real. Como resultado, passa a fantasiar sobre reduzir ou, até mesmo, cortar o contato.

Se se identificou com o relatado, é um bom momento para reavaliar o relacionamento. Embora a conexão com as outras pessoas promova o engajamento com a vida, os relacionamentos disfuncionais nos fazem sentir desconectados do nosso verdadeiro eu. Considere dar uma pausa no relacionamento se parece exigir-lhe demasiada energia e sacrifício. Lembre-se de que tem o direito de mudar de preferências e levar uma vida tranquila.

Se os relacionamentos são fontes de estresse em sua vida, recomendo os meus cursos online “A codependência” e “A dependência emocional” para aprender a abordá-los de forma saudável.

Direito à autonomia: sim, você é quem decide com quem manter contato em sua vida

Quando você reflete acerca do que já aprendeu sobre o narcisismo materno e o efeito nefasto dos relacionamentos disfuncionais no seu desenvolvimento, crescimento pessoal e qualidade de vida, como se posiciona em relação ao seu direito de ver-se livre dessa influência? Você acredita no próprio sofrimento e direito de autodireção, escolha e mudança, para viver tranquila e centrada na autoestima, no amor e na harmonia? Se a sua resposta for sim, parabéns! Pois embora tenha sofrido abuso e manipulação emocional, tornou-se capaz de se reconectar com o seu direito à autonomia. Se a sua resposta for não, continue lendo, pois precisa ser relembrada de que sim, você é quem decide com quem quer ter contato em sua vida.

Direito à autonomia sim, você é que decide com quem tem contato em sua vida
Você é quem decide com quem manter contato em sua vida

Apesar de eu ser uma defensora do contato zero quando se julgar necessário, não se trata de algo que sirva a todos os filhos e filhas de mães narcisistas/tóxicas/abusivas, globalmente. Portanto, se este for o seu caso, gostaria de relembrar que, mesmo sem querer cortar o contato definitivamente, ainda possui o direito de reduzi-lo drasticamente ou mantê-lo, exclusivamente, nos seus termos. Também vale ressaltar que este princípio é valido não somente no contexto de famílias disfuncionais ou tóxicas, mas pode ser aplicado a qualquer relacionamento que a faça se sentir diminuída, negligenciada, impotente e/ou rejeitada. O seu direito à liberdade de escolha é universal e inquestionável, independente da mensagem comunicada, de forma direta ou indireta, de que é seu dever submeter-se, perpetuamente, às vontades, necessidades, opiniões e aos valores dos outros, seja da própria família ou demais pessoas influentes em sua vida.

Isso se deve ao fato de que somente você possui consciência real sobre o impacto que o comportamento dos outros exerce no seu bem-estar, em sua saúde mental e, até, física. Desta forma, se ignora quando alguém a faz sentir-se mal e continua mantendo o contato, embora se sinta inadequada, habitualmente, em sua presença, nega-se o direito à autonomia ou de escolher o que é melhor para si. O seu direito ao autogoverno, portanto, também compreende o seu direito à autoproteção, autopreservação e expressão de seu eu autêntico. Quando se recusa a dizer não ou a sair de situações e interações com aqueles que, de alguma forma, maltratam-lhe, está ferindo o próprio corpo e sabotando o seu direito à felicidade e realização pessoal. Lembre-se disso na próxima vez que se pegar se forçando a conviver com tais indivíduos. Isso pode lhe ajudar a, finalmente, quebrar o ciclo de abuso e negligência que sofre, seja proveniente de uma fonte externa ou resultante do que impõe a si própria.   

Se necessita de ajuda para cortar o contato com a mãe narcisista/toxica/abusiva, recomendo a leitura do Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas, pois contém dicas práticas de como fazê-lo.

Para um estudo aprofundado das famílias e relacionamentos disfuncionais, recomendo a leitura do meu novo livro, Descontruíndo a família disfuncional.  

Para aprender como quebrar o ciclo de dependência dos relacionamentos disfuncionais, também recomendo os meus cursos online “A codependência” e “A dependência emocional”.   

A ilusão de conexão na família disfuncional: a “união” através da culpa

Para quem pertence a um sistema familiar disfuncional ou tóxico, é comum sentir-se impotente, sentir que não é visto, ouvido e percebido, como explico no meu novo livro Descontruíndo a família disfuncional. Enquanto pais maduros emocionalmente cultivam uma dinâmica de consciência e inclusão, monitorando, também, o próprio comportamento para que os filhos se sintam amados e respeitados; nas famílias regidas por um estilo parental negligente e até abusivo, predominam a solidão, a rejeição e o medo de abandono, mas, sobretudo, a culpa. Isso se deve ao fato de que os filhos das famílias disfuncionais são condicionados, desde pequenos, a concentrarem-se nos direitos, nas vontades, nos sentimentos e nas necessidades dos pais, algo que, com o tempo, torna-se o meio ou “moeda” que os concede acesso a alguma forma de aceitação, afeição e validação.

A ilusão de conexão na família disfuncional: a “união” através da culpa
A culpa faz com que os filhos das famílias disfuncionais sintam-se responsáveis pelos sentimentos dos pais

Quanto mais disfuncional for a família, maior a dependência dos filhos da aprovação dos pais e menor a capacidade de desenvolverem um senso próprio autêntico, autoconfiante e de honrarem os limites pessoais. Quando se tornam cientes disto, como ocorreu com Kata[i] de 24 anos, proveniente do Leste Europeu, começam a questionar as motivações de seu comportamento autossabotador. Para esta jovem cliente, ficou claro, de forma surpreendentemente rápida, que grande parte da razão de ainda investir tanto tempo e atenção em quem a tratava com desrespeito e desconsideração originara-se do senso de obrigação, de “ter que” cumprir com todas as expectativas dos pais e, assim, garantir o bem-estar deles e a união relacional. Esta incumbência, incutida na psique dela havia muitos anos, perpetuara a subjugação e, quando ousava agir de forma autônoma – questionando o seu suposto mérito universal – resultava, invariavelmente, em um excruciante sentimento de culpa.

Esta culpa presente não somente em Kata, mas em muitos filhos e filhas de pais abusivos/narcisistas/tóxicos, faz com que…

  • Digam sim quando querem dizer não, forçando-os a fazerem algo que não querem
  • Sintam-se infantilizados, impotentes, insignificantes e sem voz
  • Perpetuem um senso falso de identidade que desemboca em descontentamento pessoal inclusive fora dos relacionamentos familiares
  • Confundam o amor e a conexão emocional verdadeiras, livres e recompensadoras com os sentimentos de angústia da culpa, estendendo o processo de vitimização 

Para libertar-se da prisão da culpa e de um mindset limitado e medíocre, recomendo questionar os valores rígidos de família que corrompem a sua noção de realidade e do poder de mudar a própria vida. Se necessita de ajuda para fazer este questionamento, recomendo a leitura do meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas e os meus cursos online A codependência e A dependência emocional.  


[i] Nome fantasia para proteger o anonimato da minha cliente

Contente-se com pouco: a autossabotagem e a mentalidade de mediocridade da família disfuncional

A insatisfação pessoal não é só um sintoma da depressão, mas também o produto de um pensamento influenciado por crenças rígidas e disfuncionais. Como explico no meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional, o teor de flexibilidade dos valores de uma família exerce um impacto direto no desenvolvimento sadio de uma criança. No capítulo As crenças rígidas e as verdades inquestionáveis, exploro como a rigidez da mentalidade “é tudo ou nada”, em especial, corrompe a autoimagem e desemboca em insegurança pessoal, limitando a capacidade de nos conectarmos com confiança como, por exemplo, com a complexidade do eu autêntico. Os valores rígidos perpetuados pela cultura familiar disfuncional, tais como “Conectar-se com as emoções negativas é coisa de gente fraca” e “Cometer erros é sinal de incompetência”, embora não sejam evidentes nas interações comunicativas entre pais e filhos, são sentidos na carne por estes quando são condicionados a se moldarem às necessidades e expectativas dos pais não somente para se tornarem dignos do afeto deles, bem como se sentirem capazes e aceitos.

Contente-se com pouco: a autossabotagem e a mentalidade de mediocridade da família disfuncional
É comum para quem provém de uma família disfuncional sabotar o eu autêntico para manter o relacionamento com os pais

Este processo faz com que os indivíduos provenientes dos lares disfuncionais e tóxicos adotem uma atitude de autossabotagem que compromete a capacidade de viverem livre, plenamente e com realizações. Por serem submetidos à extensa manipulação e chantagem emocional durante o período de crescimento, os filhos das famílias disfuncionais criam um senso de direção deturpado, o qual se vê imerso em sentimentos de culpa, vergonha e medo de abandono. Já que quando se conformam com a visão de mundo e valores rígidos dos pais e não desenvolvem uma identidade própria são recompensados com demonstrações de afeto ou a ausência de atitudes abusivas, aprendem a associar a forma limitada de pensar e agir como algo benéfico para o relacionamento, mesmo quando se sentem inadequados e desgostosos internamente. É comum, portanto, considerarem a existência sob uma perspectiva de escassez e não de abundância, forçando-se a contentarem-se com pouco e a viverem de modo medíocre.

Na prática, a mentalidade de autossabotagem e mediocridade torna-se óbvia quando não se permitem sentirem-se bem ao adotarem uma atitude autônoma e de amor-próprio e autoaceitação incondicionais, por exemplo. Em outras palavras, em vez de sentirem-se íntegros quando…

… honram os limites pessoais independente do efeito que isso exerce no outro

… criam uma visão do eu como bom o suficiente independente de condição financeira, estado civil, profissão, aparência, título acadêmico ou profissional

…. se acreditam dignos de escolherem com quem mantêm relacionamentos, nomeadamente, concentrando-se nas pessoas maduras, empáticas e genuínas

sentem-se diminuídos e alienados por terem uma atitude autoafirmadora.

Para aprofundar o conhecimento acerca das diversas maneiras com as quais a dinâmica relacional disfuncional aprisiona a mente e compromete a conquista da felicidade e o contentamento pessoal, recomendo a leitura do Desconstruindo a família disfuncional.

Descubra o que é o medo de abandono

Se já é leitor ávido deste blog, está ciente de como crescer em um ambiente de estresse crônico tal como o característico de uma família tóxica e regida pela tirania narcisista tende a resultar em trauma da infância/do desenvolvimento. Além disso, tem conhecimento dos efeitos comuns deste trauma, como a hipervigilância e a codependência, por exemplo. Neste artigo, dedico o espaço a expandir o seu entendimento acerca de uma das vulnerabilidades mais comuns entre os filhos e as filhas de mães narcisistas: o medo de abandono – já que está no cerne dos problemas de relacionamento.  

Descubra o que é o medo de abandono
O medo de abandono está no cerne dos problemas de relacionamento.  

A criança em desenvolvimento necessita de amor incondicional e da presença consistente dos adultos responsáveis para formar um senso sólido de segurança interno e autoestima. Precisa, também, da influência adulta e centrada para confiar não somente em si mesma, como também nos relacionamentos humanos como uma fonte segura de apoio, equilíbrio e conexão emocional. Isso, contudo, não acontece nos contextos em que o desenvolvimento é afetado por uma mãe narcisista e abusiva e um pai facilitador e negligente (para compreender como o seu pai “facilita” a atitude abusiva da sua mãe, recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura). Em vez da criança associar os relacionamentos humanos como algo que favoreça o bem-estar e a saúde emocional, associa-os como uma fonte de sofrimento, inadequação e ansiedade.

O medo do abandono surge, portanto, da deficiência de tais genitores, em especial, de contribuírem para que os filhos sintam-se amados, valorizados, protegidos e equilibrados emocionalmente. O abandono emocional e afetivo vivenciados na infância desemboca em trauma e uma grande fobia a sofrerem o mesmo na idade adulta, que podem ser observados nos seguintes comportamentos e atitudes:

  • Evitar comprometer-se amorosamente
  • Hábito de terminar os relacionamentos ou afastar-se do outro quando a “fase lua de mel” é encerrada
  • Ter o hábito de encontrar defeitos nos outros ou ter expectativas altas e irrealistas em relação ao outro e seu papel no relacionamento
  • Dificuldade de confiar nos outros; acreditar que querem somente tirar-lhe proveito, manipulá-lo ou usá-lo de alguma maneira
  • Baixa autoestima, necessidade de agradar os outros, levar tudo para o lado pessoal e culpar-se por problemas ou atitudes disfuncionais dos outros
  • Tendência a criar e manter relacionamentos disfuncionais e dificuldade de terminá-los mesmo quando tem consciência de que não o favorecem
  • Sentir-se desvalorizado pelo outro e no contexto dos relacionamentos
  • Ter medo de intimidade seja emocional e/ou sexual
  • Dificuldade de saber as próprias necessidades em um relacionamento e honrar os limites pessoais
  • Medo de ficar sozinho, “pular” de um relacionamento para outro com grande facilidade
  • Agir de forma codependente e dependente emocionalmente (para estudar ambas as vulnerabilidades e aprender como superá-las, recomendo os meus cursos online A codependência e A Dependência Emocional)
  • Excesso de autonomia e ojeriza a depender dos outros de qualquer forma, inclusive quando a dependência é saudável e favorece uma conexão emocional 
  • Passar por longos períodos sem um relacionamento amoroso, ter aversão a relacionamentos mais sérios ou nunca ter tido um
  • Ter problema de raiva acumulada, depressão e/ou ansiedade

5 crenças rígidas de uma educação tóxica que resultam em baixa autoestima e codependência

5 crenças rígidas de uma educação tóxica que resultam em baixa autoestima e codependência

Uma educação tóxica prejudica o desenvolvimento sadio da criança

Uma educação tóxica é proveniente de um estilo parental inepto, inconsciente, imaturo, abusivo e negligente e, por esta razão, afeta prejudicialmente o desenvolvimento da criança sujeita a isto. Crescer sob tal influência interfere com a nossa capacidade de nos tornarmos adultos autoconfiantes, além de prejudicar a nossa habilidade de nos sentirmos seguros no campo dos relacionamentos.  Se você é pai ou mãe e não quer cometer os erros de seus genitores tóxicos ou deseja tornar-se mais consciente acerca da origem da sua falta de amor-próprio, elencam-se 5 crenças rígidas de uma educação tóxica que resultam em baixa autoestima e codependência:

“A criança deve comportar-se exatamente como os pais querem”

Segundo esta crença, a criança é como uma “tábula rasa”, ou seja, não tem personalidade ou conhecimento, portanto, quem sabe o que é bom para ela são, suposta e exclusivamente, os pais. Contudo, a falha dos pais de não reconhecerem a sua competência, individualidade e autonomia resulta em intensos sentimentos de insegurança pessoal na criança. Por ser forçada a ter um senso de direção para fora de si e nos sentimentos e necessidades alheias, distancia-se do próprio eu e de sua identidade, tornando-se, na idade adulta, um indivíduo inseguro e codependente.

“Os pais são superiores porque são pais”

Tal regra presume que a idade, maternidade e paternidade equivalem à maturidade, o que não é verdade, pois nem todo mundo torna-se responsável, consciente e mais inteligente com a passagem do tempo e a experiência, como é o caso de quem possui o transtorno de personalidade narcisista (para expandir o seu conhecimento acerca das características do narcisismo materno, recomendo o meu primeiro livro, Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas). Quem condiciona os filhos a acreditarem a não saberem quem são ou o que seja melhor para si próprios, educa-os para se tornarem dependentes emocionalmente de outras pessoas. Além disso, esta mentalidade impede que confiem na própria percepção, competência, valor e potencial, inclusive fora do ambiente familiar.

“Se você trata a criança bem, torna-se arrogante e mimada”

Trata-se de uma crença antiquíssima e, embora supererrônea, é repetida, ainda hoje, por pais mal informados e que não compreendem a verdadeira importância de nutrir a autoestima do filho para ter um desenvolvimento saudável. É somente através do amor incondicional expressado de forma clara e consistente com as necessidades de uma criança que esta aprende a amar-se e respeitar-se. Quem cresce sentindo-se invisível e sem ser apreciado e validado pelos pais aprende que não é bom o suficiente e digno de ser amado e bem tratado. Tal individuo terá grande dificuldade de reconhecer o próprio valor sem vergonha e culpa (síndrome do impostor), autoafirmar-se e defender os próprios interesses.

“Pais dedicados são aqueles que ‘se preocupam’ com a criança”

Pais controladores e/ou ansiosos usam esta crença para manipular e projetar a ansiedade nos filhos. Vamos deixar bem claro, a ansiedade não equivale a amor. Pais que se preocupam excessivamente com o bem-estar dos filhos, ou usam isso como desculpa para justificar o controle que tentam exercer sobre estes, ou fazem por motivações obscuras e deficiências de equilíbrio emocional próprias. Não é a responsabilidade de nenhum filho fazer o que os pais querem para que se sintam melhor, já que não são responsáveis por seu bem-estar emocional. As crianças que são condicionadas a acreditarem nesta crença vivem com medo de magoarem os pais e sentem-se culpadas por problemas e sentimentos que não são seus, aspecto que está no cerne de uma atitude codependente.

“A criança é responsável pelo descontentamento dos pais em relação a ela”

Quando uma criança não corresponde às expectativas dos pais, razoáveis ou não, desapontam-nos e sofre as consequências disto, independente de terem vindo de si própria ou refletirem o seu próprio eu.  Desta forma, aprende, desde cedo, que necessita não somente antecipar, como também atender as necessidades alheias para que se sinta amada e segura em um relacionamento (codependência), pois quem é, o que quer e sente não tem valor nenhum (baixa autoestima). Segundo esta lógica, o seu valor é condicional, está fora de si e depende de sua habilidade de agradar os outros.

Se se identificou com as crenças rígidas de uma educação tóxica, acredita ter sido vítima disso e deseja superar a codependência e a baixa autoestima, sugiro o seguinte:

  • Reconheça e respeite o seu direito à autonomia, assim como o de seus filhos: todos temos direito à individualidade. Torne-se um modelo de autenticidade e autoconfiança honrando a sua liberdade pessoal e a dos outros a sua volta. Aprenda a dizer não e a aceitar as preferências alheias quando diferem da sua. Chega de dar ajuda e opinião que não são solicitadas tampouco necessárias. Para mais dicas de como superar a tendência codependente e reaver a sua autoestima, recomendo o meu curso online “A codependência”.
  • Reconheça a própria competência, assim como a de seus filhos: seja consistente e aplique na própria vida o que acredita em teoria, com muita coragem. Se acredita nas suas habilidades e de seus filhos, dê prova concreta disso permitindo que todos se tornem responsáveis tanto por suas decisões, como pelas consequências destas. Seja tolerante e permita erros. Ninguém tem de ser perfeito, já que a vida é uma jornada de aprendizado para todos nós.
  • Ame-se, bem como os seus filhos, somente por estar viva: repita para si,Eu sou suficiente”, ponto final. Você não precisa provar o seu valor para ninguém. Se necessita de mais ajuda nesta área, recomendo o meu segundo livro, Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura. No capítulo de número 4, “Os cinco Ás de emancipação da filha de mãe narcisista”, exploro a autoestima e autoaceitação em profundidade e ofereço dicas práticas de como alcançá-las.    
  • Torne-se responsável por como se sente e separe o que é seu do que é do outro: passe a monitorar os seus sentimentos e comportamentos e a entender o que funciona como um gatilho para a sua ansiedade. Investigue-a e aprenda a regulá-la e a lidar com ela de forma independente.Para aprender como superar esta tendência emocionalmente dependente, recomendo o meu curso online “A dependência emocional”.

Por que as filhas de mães narcisistas atraem relacionamentos disfuncionais?

Por que as filhas de mães narcisistas atraem relacionamentos disfuncionais?

Um relacionamento é considerado disfuncional quando não fortalece a união

Um relacionamento é considerado disfuncional quando não fortalece a união, o bem-estar e o crescimento pessoal de todos os envolvidos, mas produz o efeito contrário, afetando negativamente o desenvolvimento tanto da saúde mental quanto emocional. No contexto do narcisismo materno, a importância do termo “relacionamento disfuncional” mostra-se óbvia quando a filha descobre que este não se limita ao contexto familiar, pois se aplica a quase todos os relacionamentos mantidos ao longo dos anos. É bem típico de minhas clientes quando refletem detidamente acerca da dinâmica dos seus relacionamentos, por exemplo, perceberem ter atraído um grande número de narcisistas para suas vidas. Isso não é, necessariamente, acurado, já que nem todo mundo é narcisista, mas corresponde, sim, a uma verdade: a tendência a criarem e manterem relacionamentos disfuncionais. A seguir, você descobrirá as raízes disso.

Porque vêm de uma família disfuncional: todos nós aprendemos como nos relacionar com os nossos pais e as demais pessoas influentes no período de nosso desenvolvimento, seja através de instrução direta ou observação de comportamentos. Familiar atrai familiar, independente disso nos favorecer ou complementar. Se os seus pais tinham o hábito de não validar os seus sentimentos e limites, você irá atrair e ser atraída, naturalmente, por pessoas que não os reconhecem nem os valorizam. Se você nunca teve um modelo de relacionamento funcional, fica praticamente impossível reproduzi-lo sem um esforço consciente e proativo.

Porque têm baixa autoestima: quem foi educada na base de amor condicional tem dificuldade de se considerar digna de ser amada por quem é e não pelo que possa oferecer. O abuso e a negligência também deixam marcas profundas na vítima, afetando negativamente não apenas a sua autoimagem, como também a sua capacidade de nutrir o amor e o respeito por si própria e honrar os seus limites. Devido a esta inclinação, a filha de mãe narcisista diminui-se na frente do outro, não sabe ou não consegue dizer não e tolera comportamentos impróprios, mesmo sem se dar conta, o que a torna uma presa irresistível para as pessoas difíceis, tóxicas e com tendências abusivas.

Porque são codependentes: é costume das filhas de mães narcisistas codependentes tentarem mudar e “ajudar” os outros e não a si próprias. Desta forma, comportam-se como a terapeuta ou pessoa responsável por resgatar os amigos e parceiros amorosos enquanto negligencia as próprias necessidades, tal como fez por muitos anos com a mãe narcisista e o pai facilitador. Esta característica faz com que atraiam pessoas egoístas, egocêntricas e imaturas emocionalmente, as quais não se sentem fortes o suficiente para se equilibrarem, assumirem o controle da própria vida e resolverem os próprios problemas.

Porque são dependentes emocionalmente: devido a sua dificuldade de regularem as emoções e sentirem-se bem de dentro para fora, as filhas de mães narcisistas veem os relacionamentos como fontes de direção, bem-estar e realização pessoal (“preciso de alguém para me sentir bem/inteira”, “quando os outros estão de bem comigo/ao meu redor, fico de bem comigo”, “só tenho valor/sei quem sou quando faço os outros sentirem-se bem). Portanto, atraem pessoas vulneráveis, dependentes e que não sabem como se relacionarem de forma autônoma e saudável. Vale lembrar que familiar atrai familiar.

Porque têm valores rígidos e disfuncionais: os nossos relacionamentos e as pessoas com as quais nos relacionamos refletem os nossos valores. Isso se deve ao fato de que atraímos as pessoas que compartilham e correspondem, de alguma forma, a nossa visão própria e de mundo. As filhas de mães narcisistas têm uma história longa de abuso e, com frequência, de trauma mal resolvido e, por isso, acreditam que não são dignas de ser amadas por pessoas boas e maduras. Se a sua identidade permanece atrelada ao trauma e aos valores e visões de mundo rígidas e narcisistas de seus pais, continuará atraindo as pessoas erradas.

Porque têm um baixo nível de maturidade emocional: quando crescemos aprendendo a não valorizarmos e aceitarmos todos os nossos sentimentos, sejam positivos ou negativos, temos dificuldade de conectar com esses na idade adulta. A filha de mãe narcisista que reprime os sentimentos antagônicos, em especial, e nega a sua sabedoria, por exemplo, torna-se mais suscetível a tolerar comportamentos impróprios ou até a não os reconhecer em tempo real. Quando cruza o caminho de uma pessoa imatura, abusiva e/ou com uma história de saúde mental e/ou trauma mal resolvido, por exemplo, descarta ou dissocia dos alarmes de perigo que o corpo emite para avisá-la e protegê-la de se envolver com uma pessoa tóxica. Como resultado, mantém-se aberta para os relacionamentos disfuncionais e, por fim, acaba por atrai-los.

Porque têm um problema de intimidade: as filhas de mães narcisistas, por terem uma história de trauma relacional e possuírem um estilo de apego inseguro, tendem a não se aceitarem de maneira íntegra e a se sentirem desconfortáveis dentro da própria pele e, principalmente, no campo dos relacionamentos. Isso faz com que não aceitem o lado vulnerável delas, tampouco o do potencial parceiro/parceira. No entanto, acabam atraindo pessoas intolerantes, que sofrem também de problema de intimidade e, por esta razão, não desenvolvem um relacionamento de forma aberta, madura e autêntica.

Caso tenha se identificado e deseje aprofundar o conhecimento a respeito do modo como o narcisismo materno afetou não só a sua saúde psicológica e emocional, bem como a habilidade de relacionar-se consigo e as outras pessoas, recomendo o meu segundo livro, Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura. Esta leitura, além de facilitar o entendimento das circunstâncias do seu desenvolvimento que lhe afetaram, ajudará a superar o trauma e a impulsionar o seu crescimento e a sua realização pessoal.

A cultura familiar de incesto emocional e codependência

Para quem é brasileiro ou português e provém de uma família tóxica, “ser filho” equivale a um grande peso. Este sentimento corresponde a uma cultura familiar sustentada por valores rígidos e obsoletos, os quais supervalorizam as necessidades dos pais e negligenciam as dos filhos. Tal cultura é centrada extensivamente nas emoções, carências, vontades e interesses dos genitores, além de promover uma dinâmica relacional disfuncional que nega a existência de limites pessoais e desencoraja a autonomia, seja psicológica, emocional ou, até, financeira, de todos os membros da família. Estas famílias são comumente referidas, também, como “emaranhadas” (enmeshed), pois são constituídas de relacionamentos cujos limites pessoais são bastante turvos e imprecisos, bem como os papéis de pai/mãe e filho/filha. Essa cultura difunde a visão de que os filhos encontram-se em eterno débito em relação aos pais, cultiva-se de geração em geração através de culpa, medo e vergonha, além de uma atitude abusiva de incesto emocional e de codependência.

A cultura familiar de incesto emocional e codependência

Em um relacionamento emocionalmente incestuoso, o pai e/ou mãe usa o filho para atender às necessidades que deveriam ser supridas por si mesmo ou outros adultos

Em um relacionamento emocionalmente incestuoso, o pai e/ou mãe usa o filho para atender às necessidades que deveriam ser supridas por si mesmo ou outros adultos, condicionando-o, desde pequeno, a concentrar-se no seu bem-estar e não no de si próprio. Recentemente, fui lembrada por um cliente brasileiro desta dinâmica disfuncional e que, embora muito comum, raramente é questionada. Em um momento bastante estressante e delicado financeiramente de mudança de residência, o cliente em questão foi comunicado de que a mãe havia se internado em um hospital privado para tratar um problema de saúde. Conversando ao telefone com ela, “compreendeu” que lhe era esperado que arcasse com todas as despesas hospitalares. Sentindo-se dominado por um grande sentimento de obrigação com a mãe porque cuidava dos filhos quando precisava, aceitou a incumbência sem ao menos esclarecê-la acerca de sua atual situação. Sem demonstrar o mínimo interesse sobre a sua condição atual – como lhe é de costume – a genitora aceitou a oferta do filho de boca fechada e mãos abertas. Para garantir os padrões de cuidado esperados pelos pais, o meu cliente teve de pedir um empréstimo no banco, endividando-se, ainda mais.

Nesse exemplo, fica claro que as necessidades da mãe prevalecem sobre as do filho. Fica evidente ainda que os seus sentimentos de inadequação, tais como a vergonha e o medo de ser internada em um hospital público, não foram lidados de forma honesta, aberta e autônoma, mas descarregados nas costas do filho para que os “resolvesse”. Embora o meu cliente também tenha se sentido sobrecarregado e cansado, tanto física como emocionalmente, não ocorreu aos genitores, em nenhum momento, oferecerem-no ajuda tampouco demonstrarem empatia com o período atribulado que atravessa. A lavagem cerebral a qual foi submetido desde criança e o acordo silencioso e de mérito irrefutável de que é sua obrigação não somente antecipar, mas também estar permanentemente disponível para atender as necessidades dos pais foi suficiente para que ignorasse as suas, as dos filhos e as da esposa e se sacrificasse por eles.

No relacionamento familiar codependente, os filhos também servem como garantia de que os padrões e o estilo de vida dos pais serão mantidos quando se tornarem idosos. Esta noção, bastante difundida em meu país de origem, cria um imenso problema na vida de milhões de brasileiros, especialmente, para quem é pai e mãe e se vê sobrecarregado financeiramente não somente com as necessidades da própria família, assim como de seus genitores. Neste cenário, sentem-se compelidos a “ajudar” os pais para “retribuírem” o que fizeram por si, como se a dedicação e o amor de pai e mãe fossem inteiramente condicionais e dependessem de recompensação financeira para serem validados. Em um país onde a corrupção política e o abuso são a regra e não a exceção e cujos cidadãos se veem forçados a compensar com os próprios recursos por um sistema previdenciário falho e que gera grande insegurança pessoal, não é surpreendente que a noção de que seja correto para os filhos comportarem-se como os pais dos próprios pais e isentarem-no da responsabilidade do próprio cuidado e bem-estar é apoiada, inclusive, por uma lei federal.

Portanto, no sistema de troca da família disfuncional, emocionalmente incestuosa e codependente, a bússola moral dos filhos é amplamente voltada para os estados emocionais e necessidades dos pais, já que estes são emocionalmente imaturos para lidarem com a própria inadequação e arcarem com as consequências de suas próprias escolhas e atitudes, como as que influenciam a sua segurança financeira, saúde física e qualidade de seus relacionamentos. De si, é esperado que restaure o seu equilíbrio emocional e supra as suas carências, independentemente de sua natureza. Assim sendo, um filho é considerado competente e bom o suficiente quando consegue compensar pela incapacidade dos pais de agirem de forma emocionalmente autônoma, consciente, madura e condizente com as próprias circunstências (ou sua recusa de aceitarem-nas).

Esta cultura, embora se pressuponha defender os princípios de união familiar e respeito aos idosos, sustenta uma mentalidade de sujeição, servidão, obediência e rejeição que corrompe a harmonia dos relacionamentos familiares e o crescimento e desenvolvimento pessoal de todos os envolvidos. Mesmo quando plenamente capazes, tanto física como intelectualmente, de concentrarem-se no próprio bem-estar e investirem em práticas de cuidado pessoal, tais genitores são negligentes com o corpo e a mente e modelam uma atitude de dependência que tem efeitos danosos tanto na sua saúde, autoestima e identidade, quanto nas dos filhos.

Para quem se vê como uma vítima de tal cultura familiar, é normal sentir-se abandonado, alienado, pequeno e insignificante. No meu trabalho com os filhos e filhas de famílias tóxicas torna-se claro que a cultura familiar reacionária, conservadora e de incesto emocional e codependência, tão reverenciada no Brasil e Portugal, ajuda a perpetuar a exploração e o abuso, além de desembocar, ultimamente, em problemas sérios de saúde mental e relacionamentos. Vale a pena lembrar que o respeito e a união familiar só são genuinamente observados na prática quando se originam da empatia, amor incondicional e respeito à liberdade pessoal e que, por esta razão, são mantidos de forma saudável e, sobretudo, sustentável, tanto pelos pais quanto pelos filhos.

Para um estudo avançado da codependência e dependência emocional, recomendo os meus cursos online “A codependência” e “A dependência emocional”.

Qual é a diferença entre a codependência e a dependência emocional?

Como já ouvi muitos de meus clientes usando os termos “codependência” e “dependência emocional” como se possuíssem o mesmo significado e os afetassem da mesma maneira, achei pertinente usar este espaço para esclarecer a diferença entre os dois. Visto que ambos são conceitos relevantes no contexto de abuso narcisista, mães tóxicas e relacionamentos disfuncionais e abusivos, é necessário que você aprenda a distingui-los para compreender a forma como interferem em seu desenvolvimento, sua qualidade de vida e de relacionamentos. Começaremos, então, explorando a codependência.

Qual é a diferença entre a codependência e a dependência emocional?

A filha de mãe narcisista toma para si a responsabilidade do bem-estar da genitora para sentir-se “amada” por ela

A codependência

Um indivíduo codependente é aquele que usa a dependência que os outros têm nele para se sentir amado e seguro, tanto consigo como em um relacionamento.  Um exemplo clássico de codependência é o do marido ou esposa que ignora o alcoolismo do(a) parceiro(a) ou nega que seja um problema para contentá-lo(a) e garantir a “estabilidade” do relacionamento. Análogo à filha de mãe narcisista que toma para si a responsabilidade do bem-estar da genitora e de seu relacionamento com ela, culpando-se por problemas que não são seus para sentir-se “amada” e aceita por ela. Logo, a filha de mãe narcisista é codependente quando usa a dependência (emocional, psicológica, financeira etc.) da mãe em si para sentir-se valorizada e manter um relacionamento “harmonioso” com esta.  A codependência, portanto, é sempre disfuncional, pois direciona o foco do indivíduo para fora de si, assim como para as estratégias de enfrentamento de problemas mal-adaptativas, retardando o seu desenvolvimento. Além disso, a codependência, como um comportamento que corrobora e facilita as atitudes impróprias de terceiros, ajuda a perpetuar os problemas de saúde mental e relacionamento e, até, o abuso.

Por esta razão, a filha de mãe narcisista, quando age de forma codependente, confunde a dedicação à mãe com os comportamentos facilitadores do narcisismo materno, tornando-os a sua fonte central de autoengrandecimento, quando não passam de um falso impulsionador de autoestima. Está sempre pensando na mãe e priorizando as suas necessidades, opiniões, vontades e seus sentimentos motivada, na maioria das vezes, por sentimentos de inadequação como a culpa, vergonha e o medo e não por amor e respeito, mas para ter um senso interno de segurança. Esta tendência, contudo, compromete a sua capacidade não só de se equilibrar emocionalmente de modo independente, bem como criar uma identidade sólida e autônoma de sua genitora. Como consequência, a codependência, uma vez que firmemente estabelecida como um comportamento que a auxilia a lidar com o estresse e com um problema sem solução ou que está além de seus poderes, tal como o narcisismo, desencadeia um processo de dependência emocional que, com o passar do tempo, torna-se um traço de personalidade e o mecanismo pelo qual a filha consegue restaurar o seu “equilíbrio” emocional e amor-próprio (Eu sou amada/me sinto bem quando os outros precisam de mim/priorizo as necessidades dos outros).

A dependência emocional

Todos necessitamos de uma conexão emocional verdadeira com outro ser humano, sobretudo com os nossos pais, para nos sentirmos seguros, amados e aptos. A criança que desenvolve um apego seguro com a mãe – ou que confia nela e neste relacionamento como uma fonte sólida de amor, proteção e bem-estar emocional – torna-se um adulto autoconfiante, capaz e autônomo emocionalmente (Bowlby, 1988). É, através desta união, que se sente segura para explorar o mundo, receber o apoio emocional de que necessita e aprende a confiar nos relacionamentos humanos e a se beneficiar destes de uma forma saudável e sem medo. Isto favorece o seu crescimento e desenvolvimento, além de enriquecer a sua experiência e contribuir para o seu sucesso tanto nos campos pessoal como profissional. Neste contexto, a dependência emocional com a mãe permite que a criança concentre-se em si, além de prepará-la para operar de maneira funcional na área dos relacionamentos. Portanto, é benéfico e produtivo precisar de alguém quando esta dependência complementa o indivíduo e não o anula, liberta-o emocionalmente e não o oprime, fortalece a sua identidade e não a sufoca.

A dependência emocional é prejudicial quando motiva a criança – como a filha de mãe narcisista – a buscar este senso de segurança exclusivamente fora de si, já que não teve esta necessidade suprida pelo relacionamento com a genitora (precisamente, no período crítico de 0 a 2 anos[i]). Este tipo de dependência é exagerada e disfuncional, pois aponta o seu senso de direção para fora de si mesma e longe de sua própria essência, sentimentos, vontades, opiniões e interesses, além de mantê-la presa a uma visão de mundo e dos relacionamentos centrada na desconfiança, no sacrifício e sentimentos de culpa, medo, vergonha e insatisfação pessoal. Este tipo de dependência faz com que você…

  • Somente sinta-se amado quando recebe a aprovação de terceiros, corresponde às expectativas dos outros ou se torna quem querem que seja
  • Somente sinta-se feliz quando faz os outros se sentirem bem
  • Somente sinta-se calmo quando diz “sim” a tudo e a todos
  • Somente sinta-se completo quando está na companhia dos outros ou de quem é importante para si
  • Somente sinta-se valorizado quando alguém necessita ou precisa de você, quando o seu mérito é reconhecido ou se sente responsável pelo bem-estar dos envolvidos nos seus relacionamentos, bem como dos relacionamentos em si
  • Somente sinta-se centrado e disposto a concentrar-se na própria vida e nos próprios projetos quando os seus relacionamentos estão indo bem, ou quando consegue racionalizar os sentimentos de inadequação conectados a estes através da culpa (“estou me sentindo mal não porque a minha mãe não me ama, mas porque fiz algo de errado”).

A codependência e dependência emocional são usadas pela família tóxica como ferramentas de manipulação e abuso, ou armadilhas psicológicas que a mantém presa neste relacionamento. Enquanto que se revela impossível sentir-se genuinamente satisfeito sem nenhum tipo de conexão emocional com outro ser humano, é impraticável realizar-se tanto individualmente como nos relacionamentos quando se é escravo destes, tais como dos comportamentos codependentes que mantém para obter um senso de autoestima, identidade e equilíbrio emocional. A melhor forma de lidar tanto com a codependência como a dependência emocional é por meio de uma atitude autoafirmativa, confiante e autônoma, honrando as emoções e os limites pessoais e exercendo o seu direito à liberdade pessoal. Se este é o seu objetivo, recomendo a leitura de meu segundo livro, Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura. Para um estudo avançado dos temas “codependência” e “dependência emocional“, sugiro os meus cursos online.

Referência:

Bowlby, J. (1988). A secure base: Parent-child attachment and healthy human development. New York, NY: Basic Books.

[i] Para mais informações sobre o processo de formação e estilo de apego e como influencia o desenvolvimento (“Teoria do Apego”), recomendo a leitura dos trabalhos de Jown Bowlby e Mary Ainsworth.

Como se colocar em primeiro lugar em 2018

Como se colocar em primeiro lugar em 2018

Você tem todo o direito de se colocar em primeiro lugar

Dar prioridade ao próprio bem-estar não equivale a egoísmo, tampouco a narcisismo, já que uma autoestima alta é uma característica psicológica funcional e não patológica. Por mais que a sua mãe narcisista a tenha convencido do contrário ao longo de muitos anos de abuso, lavagem cerebral e um comportamento egoísta e egocêntrico, você tem todo o direito de se colocar em primeiro lugar. Mesmo que você seja mãe ou esteja vivendo um relacionamento amoroso, as suas necessidades, vontades e interesses têm grande relevância para a preservação de sua essência e saúde mental, bem como para garantir a sua qualidade de vida e a dos relacionamentos. Não há melhor exemplo de mãe, amiga ou parceira amorosa do que uma mulher que se valoriza como um indivíduo seguro e autônomo.

Sem dúvida, para quem foi criada em um ambiente familiar disfuncional e negligente, não se revela uma tarefa fácil concentrar-se em si, nos seus próprios problemas e objetivos. Se você está cansada de se sentir como uma atriz coadjuvante na própria vida, seguem 5 dicas de como se colocar em primeiro lugar em 2018:

1- Questione as atitudes e motivações codependentes

Colocar-se em primeiro lugar é dar atenção a si mesma de forma ativa e consciente, antes de tudo. Na prática, consiste em dizer não à codependência e sim ao amor-próprio, ou se concentrar em resolver a própria dor, assim como lidar efetivamente com os sintomas do trauma em vez de direcionar a atenção ao narcisismo da mãe, aos problemas do pai, da irmã, do irmão, dos amigos, parentes, parceiros amorosos etc., já que não são sua responsabilidade. Portanto, se a sua mãe é narcisista, não cabe a você encontrar a cura para o problema dela, pois além de não lhe pedir ajuda, não a reconhece como tal, tampouco dá valor a sua dedicação. A codependência não é uma atitude nobre, mas uma tendência comportamental masoquista e de autossabotagem baseada em estratégias de defesa e enfrentamento disfuncionais que evitam lidar com as emoções negativas fortes, tais como a tristeza e a vergonha de não ser amada pela própria mãe (e muitas vezes também pelo próprio pai e demais membros da família) através da negação, repressão, sublimação e dissociação, entre outros.

Para questionar a sua tendência codependente, monitore os pensamentos (sobretudo em relação a sua família) e, toda a vez que se flagrar tentando resgatar quem quer que seja, pergunte-se:

“Por que eu estou mais preocupada com os outros do que comigo mesma?”

“Que inseguranças e emoções negativas estou tentando mascarar através desta atitude?”

 “Quais são as minhas necessidades neste momento?”  

2- Mantenha uma atitude de tolerância zero com a culpa e a vergonha

No contexto do narcisismo materno, a culpa e a vergonha são sentimentos extremamente contraproducentes a uma autoestima saudável. É comum eu recomendar cautela aos meus clientes quando se sentem invadidos por tais sentimentos devido ao seu grande poder tóxico; entretanto, no caso de filhas de mães narcisistas, esta recomendação é redobrada. Se você tem uma mãe tóxica narcisista, recomendo muitíssimo que desconfie de pensamentos em relação a ela e à família que resultam em culpa e vergonha, pois 99,99% das vezes são incoerentes e provenientes de crenças negativas capazes de travarem o seu crescimento e desenvolvimento pessoal. Lide com a culpa e a vergonha como lidaria com um incêndio dentro de casa, extinguindo-as imediatamente. Para fazê-lo, pode contar com a ajuda do seu diálogo interno iniciando um questionamento racional, adulto e centrado das verdadeiras motivações de tais sentimentos, como a chantagem emocional, por exemplo. Se preciso, verbalize a sua aversão à culpa e vergonha de forma clara através da escrita ou dizendo para si mesma em voz alta: “Culpa/vergonha em alta, autoestima em baixa!” Quando você se liberta da influência da culpa e vergonha, readquire a atenção e energia necessárias para focar em si, nos seus interesses e nas suas realizações.

3- Diga não à autossabotagem

Cultivar uma “autoestima” condicional, não respeitar os próprios limites e negligenciar os sentimentos, bem como se entregar ao perfeccionismo, à crítica negativa, à codependência, à procrastinação e à imobilidade são atitudes autossabotadoras. Tudo aquilo que rejeita quem você é e cria uma distância entre você e a sua essência compromete a autorrealização, seja nos campos pessoal, acadêmico ou profissional. Se você tem o hábito de acreditar em todo e qualquer pensamento que passa pela sua cabeça – especialmente os motivados pela culpa e vergonha, que insistem em convencê-la de não ser e agir de acordo com o seu verdadeiro eu para garantir a aprovação alheia ou de que não é boa o suficiente para alcançar o que deseja – isso a torna uma vítima fácil da autossabotagem. Quebre o ciclo da ruminação e saia do seu estupor reivindicando o direito de ser você, independente do que isso signifique. Lembre-se de que se aprende muitíssimo a respeito de si mesmo por meio de todo e qualquer ato cometido de forma honesta e autêntica. Rejeite a voz derrotista do narcisismo materno, seja proveniente de sua própria cabeça ou da língua venenosa de sua mãe, dizendo não à autossabotagem e dê asas a sua criatividade e expressão pessoal.

Sentir-se bem e em harmonia consigo é possível por intermédio da expansão da autoconsciência e autoconhecimento. Para entrar o ano sentindo-se com mais autonomia, adote uma posição autoafirmativa e inovadora investindo em maneiras de pensar e agir que complementam a pessoa que é e o que deseja para a própria vida. Se ainda necessita de mais inspiração para começar a implementar mudanças positivas na própria vida, sugiro a leitura do meu novo livro, Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.  No capítulo de número 4, Os cinco As de emancipação da filha de mãe narcisista, descrevo as atitudes e comportamentos que ajudam a filha de mãe narcisista a superar problemas antigos, readquirir o controle sobre si e reconectar-se com a própria vida.

A mãe narcisista e a síndrome de Peter Pan

Uma das características mais marcantes de uma mãe narcisista é não se desenvolver com o tempo. Embora seja considerada adulta o suficiente para ser mãe, exibe as mesmas crenças rígidas, incongruência emocional e comportamentos disfuncionais de quando adolescente. A imaturidade emocional e a falta de responsabilidade não são apenas características do narcisismo, como também de um “transtorno mental” chamado “síndrome de Peter Pan”. Apesar de não ser oficialmente reconhecida como tal, esta síndrome já se faz presente no vocabulário terapêutico há muitos anos, mesmo antes de ter sido popularizada pelo psicólogo Dan Kiley (1983) em seu livro The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up (A Síndrome de Peter Pan: Homens que Nunca Cresceram) e é amplamente usada para descrever o comportamento pueril e imprudente de adultos de ambos os sexos.

A mãe narcisista, assim como demais “sofredores” da síndrome de Peter Pan, recusa-se a crescer.  Apesar de não admitir, e nunca admitirá abertamente que este é o seu caso, pois na frente de plateia é o exemplo de mulher adulta e mãe experiente, comprometida e dedicada. No entanto, dentro de quatro paredes e no ambiente familiar comporta-se de forma infantil e inconsequente com os filhos e o marido/parceiro amoroso. A seguir uma lista das atitudes disfuncionais da síndrome de Peter Pan que condizem com o repertório comportamental da mãe narcisista:

Não assume responsabilidade pelos seus atos: assim como uma criança malcriada que, embora flagrada com a boca suja de chocolate, nega tê-lo comido, a mãe narcisista se isenta de toda e qualquer responsabilidade não somente de seus atos impróprios, bem como das consequências destes, mesmo quando todos têm plena ciência de que foram a principal causa do problema. Tem o hábito de mentir descadaramente e distorcer a verdade para proteger-se com tanta energia, talento artístico e falta de vergonha que acaba convencendo as pessoas. Se algo ruim acontece consigo ou com a família, “certamente” a culpa não é dela.

Não assume responsabilidades por suas obrigações de mãe: no ambiente familiar, a mãe narcisista comporta-se de forma distraída e desinteressada como se estivesse de passagem ou fosse uma visita, conhecida ou colega de quarto dos filhos e não o adulto responsável por seus cuidados. Desde os 4, 5 anos, quando já é capaz de caminhar, comunicar-se e alimentar-se sozinha, a filha de mãe narcisista aprende que não pode contar com o apoio da mãe, seja financeiro, emocional ou psicológico, ou simplesmente para ajudá-la a completar uma tarefa básica, como ajudar no dever de casa. Além disso, a mãe narcisista se aborrece profundamente quando requisitada, como se os filhos e suas necessidades fossem uma grande inconveniência ou se já fossem adultos o suficiente para viverem de modo independente. Na família regida pela tirania do ego narcisista, a regra é cada um por si e todos pela mãe narcisista.

A mãe narcisista e a síndrome de Peter Pan

A mãe narcisista, assim como demais “sofredores” da síndrome de Peter Pan, recusa-se a crescer

Não assume responsabilidades por seus próprios problemas: se tem problemas financeiros, emocionais ou de relacionamento, por exemplo, a culpa é sempre dos outros, principalmente dos filhos ou marido, como já sabemos. A mãe narcisista está sempre descontente, irritada e de mau humor não por ser incapaz de se equilibrar emocionalmente, mas porque alguém fez algo ou se comportou de determinada maneira que a magoou “profundamente”. Por ter sérios problemas de identidade e equilíbrio, precisa constantemente de atenção, apoio e consolo como uma adolescente inexperiente e perdida, agindo como a filha da própria filha e não como a sua mãe. A inversão de papeis entre filha e mãe narcisista evidencia a total incoerência da matriarca e o alto nível de toxicidade deste relacionamento disfuncional.

Ignora problemas: o escapismo é o hobby favorito da mãe narcisista, pois é deslumbrada e vive sonhando acordada com fantasias de grandiosidade. Além disso, é desinteressada e negligente com relação ao que acontece na vida dos filhos porque é egocêntrica e, portanto, valoriza apenas o que refere a si mesma. Não monitora as atividades destes ou procura saber o que estão fazendo ou como estão se sentindo por pura falta de curiosidade, entusiasmo e zelo. Quando aparecem com problemas na escola, de ordem emocional ou comportamental, por exemplo, não hesita em culpá-los por suas “falhas” de maneira cruel e abusiva, enquanto se isenta de qualquer responsabilidade em tudo relacionado ao desenvolvimento dos filhos.

Considera-se o centro do universo: dado que tudo o que concerne à mãe narcisista é mais relevante e especial, o mundo revolve ao redor de seu umbigo. É “dever” de todos entretê-la, agradá-la e apaziguá-la como se necessitasse de atenção e cuidados constantes. Como um bebê de 6 meses, tem ataques de raiva quando não consegue o que quer, ou se comporta como vítima através de muita chantagem emocional e drama. Aqueles que não priorizam os sentimentos da mãe narcisista são isolados ou punidos. Invariavelmente, os filhos crescem acreditando que é de fato a sua obrigação colocar as necessidades e vontades da mãe na frente das suas e, como consequência, tornam-se codependentes, têm dificuldade de autodefinir-se, além de não conseguirem dizer não a situações desagradáveis nem honrarem os seus limites pessoais.

É rebelde: o antagonismo da mãe narcisista é superentediante, cuja atitude de oposição assemelha-se a de um adolescente rebelde que, para confirmar a autonomia e chamar a atenção, posiciona-se de maneira contrária a dos pais. Tem o hábito de discordar do que está sendo proposto, de querer o indisponível ou manifestar gostos diferentes da maioria não por estar agindo de forma autêntica, mas por necessidade de se destacar, seja da maneira que for. Como precisa ser notada para se sentir valorizada, a sua atitude é impertinente e maçante, além de ser difícil de agradar.

Não cumpre com o que promete: lembra quando você tinha 8 anos de idade e prometia que não iria mais provocar a sua irmã só para que o seu pai parasse de castigá-la? A mãe narcisista usa a mesma tática para se esquivar de compromissos e responsabilidades, principalmente as de mãe. Concorda com tudo e promete o mundo, inclusive quando tem plena ciência de que não moverá um dedinho para que as suas promessas se materializem. Como é mentirosa e não tem escrúpulos quando o assunto é a autopreservação e o favorecimento de seus interesses, o que a mãe narcisista diz definitivamente não se escreve.

Preocupação excessiva com a aparência: a mãe narcisista é tão vaidosa, superficial e fútil como uma menina pedante e insegura de 14 anos. Enquanto possui o hábito de ignorar problemas ou descartar a importância do que acontece com os membros de sua própria família, não há nada capaz de tirar sua atenção obsessiva com a imagem. Tudo o que puder projetar uma imagem de sucesso pessoal e perfeição estética vem em primeiro lugar, como, por exemplo, seguir as tendências da moda e encontrar produtos/técnicas inovadoras para corrigir “imperfeições”. A sua atenção é facilmente atraída quando o assunto discorre sobre tais tópicos, mas logo se sente entediada com conversas que provoquem uma autorreflexão aprofundada.

Falta de autoconfiança: a mãe narcisista é viciada em aprovação e vive preocupada com que os outros pensam como uma criança que copia o estilo dos amiguinhos para sentir-se aceita pelo grupo. Como possui um grande problema de identidade e autoestima, nada a seu respeito é autêntico, por isso tudo que faz é cuidadosamente planejado para produzir uma reação positiva nos outros.  

Não tolera críticas: imagine uma menininha de 3 anos que quando alguém a chama de “feia” começa a chorar incontrolavelmente. A reação da mãe narcisista à crítica é bastante similar a este comportamento infantil. Dado que possui zero autoestima, é incrivelmente fácil magoá-la. Além disso, por ser perfeccionista, pensar em extremos e por se considerar o centro do universo, a mãe narcisista leva tudo para o nível pessoal. Assim sendo, é impraticável ter uma discussão adulta e equilibrada com uma mãe narcisista a respeito de seu comportamento sem que acabe em conflito e drama.

Referência:

Dan Kiley (1983). The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up. Ann Arbor, MI: Dodd and Mead.

O verdadeiro significado do antagonismo da mãe narcisista

Denise[i], 20 anos, uma de minhas clientes e filha de mãe narcisista, conta como o ego incansável da mãe é fonte de eterna chateação:

“A minha está sempre me enchendo o saco para fazer coisas pra ela. Ela não me pede um favor como uma pessoa normal e de forma delicada, é sempre “Eu preciso que você faça isso pra mim”, como se eu fosse sua assistente de plantão. Nunca pede “Por favor” ou diz “Obrigada” de forma genuína, é como se fosse minha obrigação servi-la. Se eu digo “Não” pela razão que for, ela fica “p” da vida, faz o maior escândalo, fica braba pelo resto do dia e se recusa a falar comigo. A minha mãe tem um hábito superinfantil de se comportar como criança mimada cada vez que suas vontades não são atendidas.  

Até recentemente, custava-me recusar um “pedido” dela, sobretudo na frente dos outros. Mas algo mudou. Há dois dias atrás, eu e o Edu (namorado de Denise) estávamos comendo algo na cozinha quando ela já entrou dizendo, “Eu preciso que você fale com aquela sua amiga sobre o desconto que ela prometeu na estética do pai dela, pois precisando pintar e cortar o meu cabelo urgente”. Como eu já estava quase saindo e tinha planos para o resto do dia, falei pra ela que iria ligar pra minha amiga no outro dia à noite”. A minha mãe, indignada, disparou “Obrigada!” e saiu da cozinha toda apressada como se eu tivesse me recusado de salvá-la de um iminente enforcamento.

O verdadeiro significado do antagonismo da mãe narcisista

A intransigência da mãe narcisista é difícil de aturar

Em vez de ficar me sentindo culpada e mudar meus planos só para agradá-la, eu resisti. Não sei o que deu em mim e na frente do Edu eu respondi, mais “p” da vida do que ela, “Obrigada, por quê? Se você tem tanta urgência que não pode esperar um dia por um telefonema, pega o telefone e liga você!”, ela, então, rebateu com “ bem, já ouvi” (a minha mãe se comunica através de mensagens enigmáticas, se você não conhece o estilo narcisista, “ bem, já ouvi” quer dizer “ bem, insignificância, entendi que você está ‘tentando’ se autoafirmar”).

Eu achei o máximo o que eu fiz, fiquei tão orgulhosa! Pela primeira vez consegui mostrar pra ela que tenho coragem de dizer não também na frente dos outros. O Edu adorou o meu entusiasmo, pois conhece muito bem a sogra que tem!

No outro dia, eu liguei pra minha amiga e meio sem graça pedi aquele bendito desconto pra minha mãe (eu não gosto de pedir favores). Com o telefone na mão, fui atrás da minha mãe para, então, marcar um horário. A minha mãe me disse que não precisava mais, pois já tinha marcado horário com outro cabelereiro e, é claro, sem me avisar. Eu fiquei com a maior cara de idiota quando descobri e tive de inventar uma estória furada pra minha amiga pra justificar o porquê de ter ligado pra pedir algo de que não preciso. Como sempre, a minha mãe venceu, não somente me fez passar vergonha, mas também deixou bem claro que faz o que quer, na hora que quer.”

Conversando com a Denise a respeito do ocorrido em uma de nossas sessões de terapia, ela rapidamente reconheceu a extensão do papel que o antagonismo exerce na dinâmica de seu relacionamento com sua mãe narcisista. Denise compreendeu que a intransigência da mãe não se trata apenas de uma demonstração de poder (“Aqui quem manda não é você, sou eu. Se você não me obedecer, será punida”), como também um dos veículos narcisistas mais eficientes de invalidação da autonomia e dos limites pessoais de seus objetos de manipulação psicológica. Ao ignorar por completo o desejo da filha, a mãe narcisista ignora a pessoa inteira, fazendo com que esta se sinta destituída de sua própria individualidade, maturidade, identidade, livre-arbítrio e poder de decisão. O antagonismo da mãe narcisista é castrador. É usado, principalmente, para submeter a filha à tirania de seu ego, fazendo-a sentir-se impotente e como se estivesse perpetuamente subjugada a uma suposta força maior. Ver a filha perdida e com a autoconfiança destroçada, como foi o caso no relato de Denise, proporciona a mãe narcisista certa aura de superioridade, sentimento do qual depende para criar uma falsa ilusão de autoestima.

“O que fazer?”, pergunta a filha de mãe narcisista.

Se você convive cotidianamente com uma mãe narcisista e ainda não tem condições de alçar voo solo pela razão que for, passe a colocar o foco da sua atenção nela e não em você. Enquanto ela age de maneira inflexível e obstinada, analise seu comportamento mentalmente fazendo referência à longa lista de atitudes transtornadas narcisistas. Reafirme a sua posição e não ceda a chantagens emocionais, afinal, como dizem os norte-americanos: We don’t negotiate with terrorists (Nós não negociamos com terroristas). Aprenda a colocar os seus limites em prática dizendo “Não!” e reitere as suas vontades pelo número de vezes que se fizer necessário (para dicas de como dizer não a sua mãe narcisista, clique aqui). Embora a sua mãe não mude a tendência antagonista por sua causa, você se sentirá muito mais adulta, autoconfiante e livre.

[i] Nome fantasia para proteger o anonimato de minha cliente

15 mantras para reduzir o efeito da culpa

15 mantras para reduzir o efeito da culpa

Mantras podem ajudá-la a reduzir o efeito corrosivo da culpa

Toda filha de mãe narcisista eventualmente sente-se oprimida pela culpa. Isso se deve ao fato de que a mãe narcisista usa e abusa da culpa para manipular a filha, desde pequena até a idade adulta. Por ser um sentimento tão familiar e automático, a culpa acaba tornando-se um fardo que a filha de mãe narcisista carrega ao longo de seu desenvolvimento, limitando seu crescimento pessoal e a sua capacidade de sentir-se adulta, realizada e no controle de si mesma. A culpa não somente rouba a filha de mãe narcisista de sua autonomia, mas corrompe seus limites pessoais, fazendo-a sentir-se perdida e completamente a mercê do ego narcisista.

Por ser um sentimento extremamente tóxico e nocivo a sua autoestima, como filha de mãe narcisista faz-se vital monitorar e identificar a presença da culpa para então contextualiza-la na sua experiência com o narcisismo materno. Os “mantras” – ou palavras/frases usadas de forma repetitiva para induzir um estado de paz interior – são ferramentas cognitivas poderosas para ajudá-la a alcançar este objetivo, ou seja, a colocar a culpa “no seu lugar” e restringir o impacto danoso que provoca na sua autoestima.

Seguem 15 mantras para reduzir o efeito da culpa em você: 

“Este sentimento é uma herança do narcisismo, portanto, não é acurado”

“Eu priorizo o meu bem-estar emocional e não a culpa”

“Culpa em baixa, autoestima em alta”

“Quem manda aqui sou eu e não a culpa”

“Xô, culpa! Eu me amo!”

“Eu sei o que é melhor para mim, não a culpa”

“O passado pertence ao passado”

“Eu tenho direito a dizer não”

“Eu não respondo à chantagem emocional”

“A culpa não é benvinda”

“A culpa é um convite ao auto boicote”

“Eu não me permito ser manipulada pela culpa”

“Sai, culpa! Eu não saboto a minha felicidade”

“Quando a motivação é culpa o resultado é insatisfação”

“A culpa não me favorece”

Eu recomendo muito se você sofre com a culpa que se torne alerta de seu poder de destruição. Faça a sua prioridade aumentar a sua consciência do valor de seu diálogo interno e questione a “sabedoria” cega da culpa em toda e qualquer situação em que a mesma tentar influencia-la. Não se iluda, a culpa não é sua amiga tampouco a voz da verdade. Só porque você manteve um relacionamento de muitos anos com ela não significa que é um sentimento benéfico. Valorize o seu amor-próprio acima de tudo e busque na sua essência as respostas que está procurando.

A ascensão e a queda da filha-mártir

O desenvolvimento emocional da filha de mãe narcisista tende a ser um processo longo e repleto de altos e baixos. Por possuir uma mãe extremamente egoísta e egocêntrica, é condicionada a acreditar que somente os interesses desta devam prevalecer. Já criança aprende que suas vontades não são atendidas se forem diferentes dos desejos da mãe. Na adolescência, mesmo quando se arrisca a revoltar-se contra a injustiça e o abuso sofridos exibindo um comportamento problemático, seus atos não causam impacto suficiente para que a mãe remova o foco de si mesma para as necessidades e carências da filha. Na idade adulta e já cansada de lutar uma batalha perdida contra o narcisismo materno, entrega-se a ele sacrificando a si mesma no processo.

A sensação de impotência em face do narcisismo materno faz com que a filha de mãe narcisista sinta-se ainda mais insignificante. Se não está preparada a implementar mudanças radicais na dinâmica do relacionamento com a mãe ou a cortá-la de sua vida definitivamente, cria uma falsa ilusão de controle renunciando de seus sentimentos para concentrar-se exclusivamente no bem-estar da família, sobretudo da mãe.

Este momento de intensa insatisfação pessoal e confusão mental marca a ascensão da filha-mártir.

A filha de mãe narcisista, quando no papel de filha-mártir, é aquela que se desdobra em duas para atender os interesses de todos. A filha-mártir deixa de se concentrar no que quer para si, em seus sonhos e objetivos, para garantir a felicidade da mãe ou tornar-se sua versão de “filha perfeita” (serviçal, submissa e irrelevante) para ser “amada” e aceita por ela. Está sempre mudando de planos e postergando decisões importantes para resolver dramas que não são seus, enquanto usa a sabedoria popular do senso comum para sustentar e defender sua atitude incoerente, assim como absolutos de aplicação moral, ética e religiosa para valorizar seu sofrimento. Tudo, é claro, sem receber nenhum reconhecimento por seus esforços e com um sorriso de quem está “sempre pronta” para se entregar de corpo e alma ao próximo sem perder a elegância.

Neste processo de falso autoengrandecimento, também conta com a ajuda de amigos e parentes e, sobretudo, de uma cultura patriarcal e machista que concede a responsabilidade dos pais como dever vitalício dos filhos, independente de como sejam tratados ou do efeito que tal incumbência exerça em suas vidas e em seu bem-estar. Se religiosa, a filha-mártir se refugia na Bíblia e na imagem de Jesus Cristo crucificado como inspiração de seu martírio pessoal. Sentindo-se orgulhosa e magnânima, a ilusão de que é de fato relevante produz certa euforia da qual se torna dependente para criar um aparente senso de autoestima e amor-próprio.

É precisamente no ápice de sua autoalienação que a filha-mártir dá início a sua queda. Em um piscar de olhos é como se estivesse no topo de uma montanha-russa e, em seguida, descendo com força total ao encontro de sua própria destruição. Mesmo que tenha um grande talento para escamotear sentimentos antagônicos e alimentar sua imagem de fortaleza, seus recursos emocionais não são infinitos. Após um longo período de negligência pessoal, torna-se, entre outros, deprimida, ansiosa, irritadiça, estafada, insatisfeita, impaciente e infeliz; ou acaba na emergência de hospital por causa de um ataque de pânico, esbaforida, entontecida ou com sintomas de arritmia cardíaca; ou em um consultório médico reclamando de enxaquecas, complicações de ordem intestinal, dores de estômago, musculares ou das costas, com queda de cabelo, insônia, fatiga; ou em um consultório psiquiátrico atrás de uma cura milagrosa (prozac, celexa, zoloft, paxil, lexapro) para sua falta de entusiasmo pela vida ou na sala de terapia para entender o porquê de sua indisposição “repentina”.

filha-mártir

É no ápice de sua auto alienação que a filha-mártir dá início a sua queda

Invalidar a importância de sua essência como de seus próprios sentimentos para assegurar uma harmonia fictícia com uma mãe narcisista não é uma demonstração de amor, mas um ato de autossabotagem. Relacionamentos saudáveis não a fazem se sentir usada, vazia nem exaurida. O amor verdadeiro não requer abnegação nem recusa pessoal, mas incentiva e realça seus atributos naturais fazendo-a sentir-se aceita, inteira e a valoriza pelo que você é e não pelo que pode proporcionar.

Filha-mártir ou presa de mais uma armadilha narcisista?

Como você compensa as deficiências da mãe narcisista

A filha compensa as deficiências da mãe narcisista de diversas formas, assim como filhos de pais com doença mental ou que possuem um transtorno de personalidade, e, por isso, tende a desenvolver mecanismos para lidar com o comportamento irregular e muitas vezes impróprio da mãe. Como esta reação é automática e na maioria das vezes inconsciente, a filha de mãe narcisista só percebe o impacto real desta tendência quando profundamente entremeada com o problema da mãe, sentindo-se perdida e desconectada de si mesma.

Para ajudá-la a entender este processo e a identificar as atitudes que favorecem esta dinâmica e minam o seu crescimento pessoal, seguem 5 estratégias de como você compensa as deficiências da mãe narcisista:

1- Atua como objeto regulador dos estados psicológico e emocional da mãe

Devido ao fato de a mãe narcisista ser incapaz de se autorregular emocionalmente e de forma independente, usa os estímulos à sua volta para “controlar” seus humores. Ao contrário do que é observado nos relacionamentos entre mãe e filha em contextos familiares sem a presença de um transtorno de personalidade como o narcisismo, a filha acaba agindo de forma a compensar o déficit psicológico da mãe. Nas situações em que a mãe narcisista se vê dominada pela raiva e a insatisfação, por exemplo, a filha ignora suas próprias necessidades, afazeres e objetivos para concentrar-se no bem-estar da mãe. Faz tudo para agradá-la e remediar seu sofrimento para que, somente então, consiga dedicar-se a si mesma, o que acaba raramente acontecendo da maneira como gostaria.

2- Torna-se mãe da própria mãe

compensa as deficiências da mãe narcisista

A troca de papéis entre mãe e filha é extremamente comum no relacionamento entre filha e mãe narcisista.

Em face da imaturidade da mãe narcisista, cabe à filha tornar-se responsável não apenas por si mesma, mas também pela própria mãe. A troca de papéis entre mãe e filha é extremamente comum neste relacionamento, visto que esta frequentemente se encontra na posição de “adulto” e não de criança, sendo exposta prematuramente a problemas não condizentes com seu nível de desenvolvimento. A mãe narcisista deliberadamente envolve os filhos em discussões e dilemas que não são seus. Em vez de poupar a filha de seu eterno drama e depressão crônica, extravasa suas insatisfações livremente dentro do ambiente familiar independente de sua natureza, de maneira a manter a atenção em si mesma como se fosse criança e merecedora de tratamento especial. Este comportando – egoísta e infantil – exerce grande impacto na filha, que acuada por tamanha incoerência, vê-se forçada a apoiar e a atender ao desafeto da mãe para salvaguardar o equilíbrio do sistema familiar.

3- Torna-se invisível

Para se preservar dos ataques gratuitos de ira da mãe, a filha de mãe narcisista faz o que pode para se tornar imperceptível. Como medida adaptativa, mantém um perfil discreto e comedido dentro do ambiente familiar para se esquivar de ser tratada de maneira abusiva. Desde cedo, evita cruzar o caminho da mãe sempre que possível, tornando-se rapidamente independente de seu cuidado e atenção. Visto que tudo tem o potencial de abalar a autoestima frágil e o humor inconsistente da mãe, esconde seus problemas ou nega a existência destes para não “sobrecarregá-la”. Além disso, autoanula-se psicológica e emocionalmente, conformando-se com as suas vontades enquanto negligencia seus próprios interesses e sentimentos. Quanto mais ausente, submissa e irrelevante, maior a probabilidade de evitar conflitos.

4- Assume a culpa dos problemas da mãe

Como a mãe narcisista nega ter responsabilidade por tudo que lhe acontece de errado, quem está a sua volta torna-se imediatamente “o ofensor”. Para que a mãe narcisista se sinta em relativa paz consigo mesma e com seus altíssimos padrões de perfeição e excelência, a filha assume a responsabilidade por tudo que não corresponde ao seu idealismo irracional. Se a mãe não consegue atingir seus objetivos ou sentir-se realizada consigo mesma ou com os outros, é porque não recebeu a atenção ou dedicação devidas. Cabe a quem tem intimidade e convívio direto com ela, como seus filhos e parceiros amorosos, assumir a culpa de seus problemas, sejam da natureza que for, para então resolvê-los. A filha de mãe narcisista, registrando esta mensagem já criança, responde à inconsequência da mãe se colocando eternamente disponível para remediar seu sofrimento, desenvolvendo uma inclinação quase intuitiva ao remorso e à culpa quando ao lado dela.

5- Vira o bobo da corte

Crescer ao lado de um pai ou mãe com depressão crônica costuma exercer muita influência no desenvolvimento da criança. Os filhos seguidamente compensam o mau humor e insatisfação dos pais tornando-se responsáveis por seu entretenimento e, portanto, fazem tudo para agradá-los e despertar uma reação positiva, pois seu descontentamento generalizado é fonte de desconforto e uma profunda inquietação. Como não está apta a compreender a extensão do problema da mãe, a filha de mãe narcisista usa de sua graça e simpatia para tentar animá-la e reduzir o efeito de sua perpétua amargura. Ao longo dos anos, este comportamento transforma-se em um traço de personalidade que contribui com a formação da crença de que para ser aceita pelos outros, tem que agradá-los. Já na idade adulta, sente-se insegura e inadequada quando não consegue cativar ou contentar a todos com quem interage, como se fosse de fato sua obrigação fazê-lo.

Mesmo sem perceber, você compensa as deficiências da mãe narcisista em suas tentativas desesperadas de reduzir a angústia de todos. Apesar deste hábito soar “nobre” e “magnânimo” na superfície, só promove a codependência e um sentimento de profundo vazio e insatisfação pessoal, além de não ajudar sua mãe tampouco quem se encontra sob a influência dela. Para mais informações sobre “comportamentos facilitadores” do narcisismo materno, clique aqui

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