Categoria: Famílias disfuncionais

O mito da boa comunicação nos relacionamentos emocionalmente negligentes

Os relacionamentos amorosos têm grande influência em nosso bem-estar, pois nos afetam mesmo se não estivermos conscientes desse impacto. Neste sentido, os filhos adultos de pais emocionalmente negligentes (narcisistas, imaturos etc.) têm maior probabilidade de não perceberem quando não têm as emoções, necessidades e vontades atendidas pelos parceiros amorosos. Como resultado dessa falta de consciência, abordam os problemas do relacionamento sem saber quais são.

O mito da boa comunicação nos relacionamentos emocionalmente negligentes
A boa comunicação não é a única característica dos relacionamentos saudáveis

Ressalta-se que a “boa comunicação” é considerada como a característica primordial para vivenciar bons relacionamentos; e é nisso que a maioria das pessoas acredita. De fato, embora a boa comunicação esteja frequentemente presente como uma variável em relacionamentos saudáveis, não é, apenas, isso que os faz funcionar. Existem outros fatores que contribuem para o seu sucesso, tais como o amor, a atração sexual, a intimidade (não somente a física, mas também a emocional), o respeito pela autonomia, entre outros. Nas relações funcionais, existe um esforço consciente e uma vontade de ver, sentir e ouvir o outro. A consciência emocional não está presente apenas em nível individual, mas também orienta a compreensão do indivíduo sobre as necessidades do parceiro.

Eu ouço você, mas não valido as suas necessidades

O esforço consciente para melhorar um relacionamento através de uma comunicação melhor tende ao fracasso nos relacionamentos emocionalmente negligentes se a negligência não for identificada e abordada. Um indivíduo pode aprender como se expressar perfeitamente, como usar as palavras de sentimentos e vinculá-las a comportamentos e pensamentos para ajudar a aumentar a consciência do outro (“quando você _____ (comportamento), eu sinto _____ (sentimento) e penso _____ (pensamento)”) e, ainda assim, não se sentir visto, ouvido ou sentido pelo parceiro. Se não há a intenção ou o esforço real do parceiro de se conectar emocionalmente e validar as necessidades do outro – na prática – a boa comunicação, por si só, não resultará nos benefícios prometidos.

Se você está passando por um momento difícil no seu relacionamento, considere a negligência emocional como um fator provável e reflita sobre o tipo de conexão que você tem consigo próprio e quanta importância dá aos seus sentimentos, desejos e necessidades. Faça o mesmo com os sentimentos, os desejos e as necessidades do parceiro. Aprenda a se expressar, caso sinta que não sabe como fazê-lo; e, além disso, reserve um tempo para entender o parceiro. Acima de tudo, observe o que acontece quando a comunicação vai bem se há mudanças positivas. Se os mesmos problemas continuarem a surgir, e as suas necessidades (ou as do parceiro) permanecerem não atendidas, está na hora de abordar a negligência emocional com mais cuidado e atenção.

Quem tem direito de ter sentimentos na sua família? Apresentando… A Filha Invisível 

Nas famílias disfuncionais e tóxicas, observa-se grande desigualdade nos relacionamentos, vivenciada de diversas formas, mas, essencialmente, por meio de comportamentos abusivos de quem faz uso de uma posição privilegiada para manipular os mais vulneráveis, dependentes de aprovação paterna para estabelecerem um senso interno de segurança.

Nas famílias regidas, pelo menos, por um genitor tóxico, como é o caso de uma mãe narcisista; e outro, negligente – o pai facilitador – desde cedo, os filhos aprendem, ao observarem o comportamento destes adultos, que o direito de ter sentimentos, pensamentos e vontades próprias é exclusivo da matriarca e do membro da família a quem favorece, tal como o filho dourado. Enquanto esta regra permite à mãe narcisista sentir-se soberana no ambiente familiar e ao pai facilitador resguardar a união frágil com ela, os restantes sentem-se ignorados e insignificantes, como se não existissem.

A filha invisível
Você se sente invisível na sua família?

No meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas, esclareço como este processo de invalidação revela-se como uma arma de manipulação e controle:

Para garantir a influência sobre você e perpetuando o abuso emocional da própria filha, a sua mãe narcisista renegou o seu sofrimento para que mantivesse a sua atenção centrada no dela.   

 (Prisioneiras, página 166)

Embora se sinta invisível no contexto familiar, como se a dor que sofre não fosse boa o suficiente para a consideração alheia (tal como a Filha Invisível acima), saiba que isso não reflete uma deficiência sua, mas é produto da dinâmica disfuncional da qual você faz parte.

Para compreender como a dinâmica relacional disfuncional afeta a sua capacidade de sentir-se digna de atenção, amor e respeito, recomendo a leitura do meu novo livro Desconstruindo a Família Disfuncional, pois explora como os “problemas de relacionamento” vivenciados dentro do ambiente familiar afetam a sua autoestima e habilidade de autoafirmar-se em todas as áreas da sua vida. Se você é filha de uma mãe narcisista/tóxica/abusiva e de um pai facilitador/negligente que não reconhecem o efeito negativo disso em você, vai adorar a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, cujos relatos das minhas clientes mostram o que vivenciam com a própria família. Além destes recursos, pode aprender dicas de como agir com o amor-próprio e parar de depender do reconhecimento alheio para sentir-se valorizada assistindo aos meus cursos online A Codependência e A Dependência Emocional.    

Palavras como armas: os efeitos crônicos do abuso verbal na infância

Se você anda por aí dizendo, “Paus e pedras podem quebrar os meus ossos, mas as palavras não me machucam” está na hora de reavaliar essa crença. A neurocientista Lisa Feldman Barrett explica em seu brilhante livro Seven and a Half Lessons About the Brain que a exposição ao abuso verbal durante um longo período produz efeitos prejudiciais significativos que vão além da baixa autoestima. Visto que as regiões do cérebro que processam a linguagem também controlam o interior do corpo, o abuso verbal também afeta o ritmo cardíaco, os níveis de glicose e o fluxo de substâncias químicas que sustentam o sistema imunológico. Assim como as palavras gentis ​​fazem-nos sentir amados, mais calmos e fortes; as agressivas têm o poder de prejudicar a saúde física.

As palavras, então, são ferramentas que regulam os corpos humanos. As palavras das outras pessoas têm um efeito direto na sua atividade cerebral e nos seus sistemas corporais, e as suas palavras têm o mesmo efeito nas outras pessoas. Se você tem ou não a intenção de afetá-las desta forma, isso é irrelevante. Fomos programados desta forma.

Lisa Feldman Barrett, 2020

Quando os indivíduos abusivos usam as palavras como armas para maltratar, manipular e controlar os outros, as suas vítimas também se tornam mais vulneráveis ​​à ansiedade, depressão, raiva, disfunção imunológica e a demais disfunções metabólicas, bem como aos distúrbios de humor quando se tornam jovens adultos. Diante de tais fatos, a conexão entre o abuso verbal e as doenças da mente e do corpo não deve mais ser menosprezada ou ignorada.

Palavras como armas os efeitos crônicos do abuso verbal na infância
A exposição ao abuso verbal pode prejudicar a sua saúde física

Embora o exposto seja concernente àqueles que trabalham na área de saúde mental, o que Barrett e outros neurocientistas demonstraram através de extensa pesquisa sobre os efeitos do abuso emocional e verbal não me surpreende (Recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, para compreender o que é o trauma e os efeitos que exerce na saúde mental). Como conselheira do trauma especializada no trauma de infância/desenvolvimento, tive vários clientes que cresceram em ambientes familiares altamente disfuncionais, e, atualmente, sofrem de, pelo menos, uma doença crônica ou vulnerabilidade física como as mencionadas. Curiosamente, seu início é percebido, em sua maioria, no final da adolescência ou na idade adulta, quando o corpo é submetido ao estresse crônico durante o desenvolvimento. Portanto, há grande probabilidade disso ter um efeito negativo nos sistemas imunológico, respiratório, digestivo, nervoso, endócrino e cardiovascular.

Chegou a hora da nossa cultura parar de normalizar o abuso verbal, seja na forma oral ou escrita. Se foi testemunha ou sofreu abuso verbal, lembre-se de como é tóxico para todos os envolvidos, e tome as medidas necessárias para impedir a sua perpetuação. Você pode fazer isso de modo autônomo, reavaliando as próprias crenças rígidas sobre a agressão verbal, as emoções negativas e vulnerabilidades, tais como, “Se eu deixar isso me afetar, significa que sou fraco”, por exemplo, comece a honrar como se sente com tolerância. Seja saindo da sua zona de conforto através do investimento proativo nos comportamentos assertivos ou participando abertamente de debates relacionados a abuso, pois ajudará a mudar não apenas a própria maneira de pensar, mas também a consciência coletiva.

Para um estudo aprofundado de todos os tipos de abuso, recomendo o meu curso online, “O abuso e a negligência”.

Referência:

Barrett, L. F. (2020). Seven and a half lessons about the brain. Picador: London, UK.

A validação inatingível: quando desistir de tentar sentir-se visto, percebido e ouvido pelos pais

A negligência emocional – apesar de ser mais comumente vivenciada do que os abusos verbal, emocional, físico e sexual – tem efeitos prejudiciais e duradouros no desenvolvimento. Embora incompreendida, mas recorrente na narrativa daqueles que cresceram em famílias disfuncionais e tóxicas, a negligência emocional é uma assassina silenciosa e real de autoestima. De forma compreensível, torna-se difícil nutrir amor e respeito por si próprio quando as emoções não são reconhecidas com a importância devida. Como é possível criar um senso de identidade confiável, quando o que vivenciamos nos corpos é consistentemente ignorado, negado e descartado por quem, supostamente, é visto como modelo de maturidade, congruência, autonomia e inteligência (emocionais)?

Está na hora de desistir de sentir-se visto, percebido e ouvido pelos pais?

Quando se é submetido a uma cultura familiar de negligência emocional (Para compreender como esta cultura é refletida no comportamento em família, recomendo a leitura do a leitura do capítulo 5 do Desconstruindo a Família Disfuncional, “A imaturidade e a negligência emocional das “crianças grandes”), a falha de conectar-se com os outros gera um vazio que é fortemente sentido no corpo, além de produzir um efeito de peso, solidão e alienação em quem o carrega. Alguns se sentem dormentes e sob os efeitos da dissociação, como se habitassem um corpo ou vivessem uma vida que não lhes pertencessem. Buscamos uma sensação de integridade para sermos capazes de desfrutar da felicidade e os que sofreram negligência emocional são particularmente propensos a confiar em fatores externos, como a aprovação e o reconhecimento dos outros, para se sentirem bem em relação a si próprios. Mesmo quando os pais são incapazes de ampará-los, continuam a buscar-lhes apoio e validação de forma exaustiva e, por vezes, obsessiva.

Então, como saber quando chegou a hora de dar um “basta!” a essa tendência? Em que ponto pode-se afirmar – com segurança – que os pais são realmente incapazes ou não têm desejo nenhum de validar o seu sofrimento?

Em Burnout (2019), as irmãs Nagoski recomendam as seguintes perguntas para determinar o valor de uma meta ou objetivo (meus comentários estão em parênteses):

  • Quais são os benefícios de continuar? (Existe uma probabilidade realista de seus pais reconhecerem o comportamento negligente de forma genuína? Qual é a probabilidade de sentir-se melhor ao continuar buscando esse reconhecimento?)
  • Quais são os benefícios de parar? (Que efeito deixar de perseguir a validação de seus pais teria na sua saúde mental/emocional? Qual é a probabilidade de sentir-se melhor ao abandonar esse hábito?)
  • Quais são os custos de continuar? (Que efeitos sentir-se invisível e sem importância, repetidamente, podem ocorrer em sua autoestima? Que influência isso continuaria a exercer na sua autoconfiança, também em outros contextos relacionais?)
  • Quais são os custos de parar? (Como sentir-se-ia ao parar de tentar se conectar emocionalmente com os seus pais? Quanto confia na sua capacidade de processar e aceitar essa perda de conexão?)

Embora a ideia de não contar com os pais como fonte de verdadeiro apoio e conexão emocional desperte grande tristeza a curto prazo, é superprodutivo processar essa perda como um investimento para a felicidade autêntica a longo prazo. Após desistir de consertar os relacionamentos disfuncionais e tóxicos, terá mais liberdade para se concentrar nos relacionamentos gratificantes e satisfatórios.

No meu curso online “Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica”, ensino como conectar com o corpo e processar os seus traumas de forma natural. Para assisti-lo, clique aqui

Referência:

Nagoski, E. & A (2019). Burnout. Solve Your Stress Cycle. Penguin Random House: London, UK 

Você não é uma farsa. Entenda as dimensões do seu direito a limites e à privacidade

Todos temos direito a limites, ou seja, a criarmos um espaço só nosso e que vai além da pele, o qual contém a nossa identidade, valores, vontades, sentimentos e necessidades próprios. Os nossos limites, portanto, asseguram o nosso direito, também, à autonomia, autenticidade e, sobretudo, à autoafirmação, autoproteção e autopreservação nos relacionamentos. Embora racionais e saudáveis, correspondem a um direito universal humano. Contudo, os limites pessoais e o direito à privacidade não são respeitados pela cultura da família disfuncional, a qual rege os valores do senso comum (para compreender o que são limites e aprender como aplicá-los, recomendo a leitura do capítulo 4.7 “Entendendo e respeitando seus limites” do Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas. Para adquiri-lo, clique aqui).

Você não é uma farsa. Entenda as dimensões do seu direito a limites e à privacidade
Os nossos limites asseguram o nosso direito à autoproteção e autopreservação

Ainda que mais prevalente nas culturas latinas, tais como a brasileira, a italiana e a portuguesa, a negação do direito à individualidade e a rotulação disso como um ato de rebeldia e desonestidade perante a família permanecem vivas também, nas culturas germânica e, até, britânica. Observe como vem embutida na narrativa de baixa autoestima de duas clientes minhas, Siobhan[i], irlandesa de 28 anos, e Lisa,[ii] inglesa de 36 anos:

“…a viagem foi um sucesso, mesmo. O meu chefe me elogiou muito, em especial, a forma como eu lidei com os clientes. Aí logo me bateu aquele pensamento, “se soubessem da minha doença autoimune e como sofro de fadiga nos dias seguintes, ninguém me veria como essa mulher ‘incrível’ e ‘superanimada’. Fiquei com muita vergonha e culpada por esconder a minha doença deles.”

“…tem vezes que olho para os meus clientes enquanto compartilham as suas histórias de abuso e trauma e fico chocada com a confiança que depositam em mim como sua terapeuta. Imagina se soubessem do que presenciei quando criança, da bagunça e sujeira que era a casa da minha família… dos abusos e da negligência que eu, também, vivenciei e fui testemunha… Sinto que a pessoa que me tornei nega tudo isso… Me sinto uma farsa.”   

Ambas, Siobhan e Lisa, acreditam na visão rígida de permanência e completa transparência nos relacionamentos como virtude. Desta forma, o seu direito à complexidade e expressão das suas diversas camadas quando e com quem desejam é julgado como impróprio. Portanto, Siobhan e Lisa sentem-se mal – envergonhadas e culpadas – por serem compostas de diferentes partes: boas, não muito boas, fortes, vulneráveis, escuras, foscas e brilhantes, como se tivessem de possuir somente uma e, se não, fossem obrigadas a expô-la(s) para que se tornassem dignas de respeito.

A sua vida não tem de ser um livro aberto.

Você tem, sim, direito a uma vida privada e o respeito de possuí-la. 

Não, você não é uma farsa por exercer esse direito, mas emocionalmente madura por reconhecê-lo e validá-lo de forma autônoma.  

Para um estudo completo de como os valores rígidos da família disfuncional afetam o seu desenvolvimento, recomendo a leitura do capítulo de número 2 intitulado As crenças rígidas e as verdades inquestionáveis do meu novo livro, Desconstruindo a Família Disfuncional.


[i] Nome fantasia para proteger o direito à anonimidade de minha cliente.

[ii] Nome fantasia para proteger o direito à anonimidade de minha cliente.

Por que a maioria das pessoas não sabe dar apoio emocional?

A conexão emocional é um dos meios mais básicos e necessários para estabelecermos relacionamentos saudáveis, conforme esclareço no capítulo intitulado A imaturidade e negligência emocional das crianças grandes do meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional

“Quando validamos os sentimentos uns dos outros confirmamos não somente a sua própria relevância, mas também do relacionamento em si, de nós mesmos e da nossa experiência”

Desconstruindo a Família Disfuncional, Página 85

Partindo deste princípio, é natural que nos sintamos vazios, solitários, tristes, alienados e, às vezes, com muita raiva, quando aqueles com quem convivemos falham em apoiar-nos emocionalmente, sobretudo, pais, amigos e parceiros amorosos. Se a validação emocional é tão importante para o nosso bem-estar e dos relacionamentos, por que é tão difícil de obtê-la?

Por que a maioria das pessoas não sabe dar apoio emocional
É natural sentir-se vazio, solitário, triste, alienado e, às vezes, com muita raiva, quando aqueles com quem convivemos falham em apoiar-nos emocionalmente

Se já devorou o Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, tem ciência dos inúmeros efeitos do trauma do desenvolvimento/da infância causado por abuso de qualquer natureza, inclusive o emocional. Um dos efeitos mais comuns de pertencer a uma família regida por um ou mais genitores tóxicos/abusivos/narcisistas e/ou emocionalmente negligentes é a intolerância às emoções negativas e vulnerabilidades, o que consiste em um mecanismo de defesa e autoproteção disfuncional.

As vítimas de abuso e/ou negligência que apresentam um histórico de trauma mal-resolvido terão dificuldade de conectar com o corpo de forma aberta e livre, pois associam a conexão com as emoções negativas como uma fraqueza. Portanto, relacionam a algo exclusivamente doloroso e, até, sem propósito, já que foram expostos à rejeição, invalidação, exclusão e alienação ao longo de seu desenvolvimento. Esses comportamentos são observados tanto nos pais que os reproduzem, como nos filhos que os perpetuam.

Quando nos informamos acerca da natureza do trauma e seus efeitos nos conscientizamos de que possui natureza penetrante e afeta a maior parte da população, que, por sua vez, dá forma e tom aos valores do senso comum. Vivemos em uma cultura de negligência emocional e disfunção familiar que corrompe a natureza das conexões humanas, promovendo o antagonismo e o distanciamento em vez da união através da empatia. Como resultado, quando passamos por momentos difíceis e estamos tristes, com raiva ou vergonha, por exemplo, a probabilidade de termos estes estados emocionais reconhecidos pelos outros a nossa volta e sem causar-nos ainda mais desconforto e inadequação é quase nula.

Naturalmente e nestes contextos, caso se sinta incompreendido e desconectado daqueles com os quais compartilha certa intimidade não é porque seja “exigente” ou “sensível”, mas se encontra insatisfeito com a qualidade desses relacionamentos e da habilidade daqueles que o amam (ou alegam fazê-lo) de aceitarem e respeitarem não somente a expressão das emoções, bem como de apoiá-las quando isso se fizer necessário.

Se deseja aprofundar o seu conhecimento acerca da forma mais comum de abuso – a negligência emocional – e entender como ocorre na prática, recomendo a leitura do meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional.

Direito à autonomia: sim, você é quem decide com quem manter contato em sua vida

Quando você reflete acerca do que já aprendeu sobre o narcisismo materno e o efeito nefasto dos relacionamentos disfuncionais no seu desenvolvimento, crescimento pessoal e qualidade de vida, como se posiciona em relação ao seu direito de ver-se livre dessa influência? Você acredita no próprio sofrimento e direito de autodireção, escolha e mudança, para viver tranquila e centrada na autoestima, no amor e na harmonia? Se a sua resposta for sim, parabéns! Pois embora tenha sofrido abuso e manipulação emocional, tornou-se capaz de se reconectar com o seu direito à autonomia. Se a sua resposta for não, continue lendo, pois precisa ser relembrada de que sim, você é quem decide com quem quer ter contato em sua vida.

Direito à autonomia sim, você é que decide com quem tem contato em sua vida
Você é quem decide com quem manter contato em sua vida

Apesar de eu ser uma defensora do contato zero quando se julgar necessário, não se trata de algo que sirva a todos os filhos e filhas de mães narcisistas/tóxicas/abusivas, globalmente. Portanto, se este for o seu caso, gostaria de relembrar que, mesmo sem querer cortar o contato definitivamente, ainda possui o direito de reduzi-lo drasticamente ou mantê-lo, exclusivamente, nos seus termos. Também vale ressaltar que este princípio é valido não somente no contexto de famílias disfuncionais ou tóxicas, mas pode ser aplicado a qualquer relacionamento que a faça se sentir diminuída, negligenciada, impotente e/ou rejeitada. O seu direito à liberdade de escolha é universal e inquestionável, independente da mensagem comunicada, de forma direta ou indireta, de que é seu dever submeter-se, perpetuamente, às vontades, necessidades, opiniões e aos valores dos outros, seja da própria família ou demais pessoas influentes em sua vida.

Isso se deve ao fato de que somente você possui consciência real sobre o impacto que o comportamento dos outros exerce no seu bem-estar, em sua saúde mental e, até, física. Desta forma, se ignora quando alguém a faz sentir-se mal e continua mantendo o contato, embora se sinta inadequada, habitualmente, em sua presença, nega-se o direito à autonomia ou de escolher o que é melhor para si. O seu direito ao autogoverno, portanto, também compreende o seu direito à autoproteção, autopreservação e expressão de seu eu autêntico. Quando se recusa a dizer não ou a sair de situações e interações com aqueles que, de alguma forma, maltratam-lhe, está ferindo o próprio corpo e sabotando o seu direito à felicidade e realização pessoal. Lembre-se disso na próxima vez que se pegar se forçando a conviver com tais indivíduos. Isso pode lhe ajudar a, finalmente, quebrar o ciclo de abuso e negligência que sofre, seja proveniente de uma fonte externa ou resultante do que impõe a si própria.   

Se necessita de ajuda para cortar o contato com a mãe narcisista/toxica/abusiva, recomendo a leitura do Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas, pois contém dicas práticas de como fazê-lo.

Para um estudo aprofundado das famílias e relacionamentos disfuncionais, recomendo a leitura do meu novo livro, Descontruíndo a família disfuncional.  

Para aprender como quebrar o ciclo de dependência dos relacionamentos disfuncionais, também recomendo os meus cursos online “A codependência” e “A dependência emocional”.   

A ilusão de conexão na família disfuncional: a “união” através da culpa

Para quem pertence a um sistema familiar disfuncional ou tóxico, é comum sentir-se impotente, sentir que não é visto, ouvido e percebido, como explico no meu novo livro Descontruíndo a família disfuncional. Enquanto pais maduros emocionalmente cultivam uma dinâmica de consciência e inclusão, monitorando, também, o próprio comportamento para que os filhos se sintam amados e respeitados; nas famílias regidas por um estilo parental negligente e até abusivo, predominam a solidão, a rejeição e o medo de abandono, mas, sobretudo, a culpa. Isso se deve ao fato de que os filhos das famílias disfuncionais são condicionados, desde pequenos, a concentrarem-se nos direitos, nas vontades, nos sentimentos e nas necessidades dos pais, algo que, com o tempo, torna-se o meio ou “moeda” que os concede acesso a alguma forma de aceitação, afeição e validação.

A ilusão de conexão na família disfuncional: a “união” através da culpa
A culpa faz com que os filhos das famílias disfuncionais sintam-se responsáveis pelos sentimentos dos pais

Quanto mais disfuncional for a família, maior a dependência dos filhos da aprovação dos pais e menor a capacidade de desenvolverem um senso próprio autêntico, autoconfiante e de honrarem os limites pessoais. Quando se tornam cientes disto, como ocorreu com Kata[i] de 24 anos, proveniente do Leste Europeu, começam a questionar as motivações de seu comportamento autossabotador. Para esta jovem cliente, ficou claro, de forma surpreendentemente rápida, que grande parte da razão de ainda investir tanto tempo e atenção em quem a tratava com desrespeito e desconsideração originara-se do senso de obrigação, de “ter que” cumprir com todas as expectativas dos pais e, assim, garantir o bem-estar deles e a união relacional. Esta incumbência, incutida na psique dela havia muitos anos, perpetuara a subjugação e, quando ousava agir de forma autônoma – questionando o seu suposto mérito universal – resultava, invariavelmente, em um excruciante sentimento de culpa.

Esta culpa presente não somente em Kata, mas em muitos filhos e filhas de pais abusivos/narcisistas/tóxicos, faz com que…

  • Digam sim quando querem dizer não, forçando-os a fazerem algo que não querem
  • Sintam-se infantilizados, impotentes, insignificantes e sem voz
  • Perpetuem um senso falso de identidade que desemboca em descontentamento pessoal inclusive fora dos relacionamentos familiares
  • Confundam o amor e a conexão emocional verdadeiras, livres e recompensadoras com os sentimentos de angústia da culpa, estendendo o processo de vitimização 

Para libertar-se da prisão da culpa e de um mindset limitado e medíocre, recomendo questionar os valores rígidos de família que corrompem a sua noção de realidade e do poder de mudar a própria vida. Se necessita de ajuda para fazer este questionamento, recomendo a leitura do meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas e os meus cursos online A codependência e A dependência emocional.  


[i] Nome fantasia para proteger o anonimato da minha cliente

Contente-se com pouco: a autossabotagem e a mentalidade de mediocridade da família disfuncional

A insatisfação pessoal não é só um sintoma da depressão, mas também o produto de um pensamento influenciado por crenças rígidas e disfuncionais. Como explico no meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional, o teor de flexibilidade dos valores de uma família exerce um impacto direto no desenvolvimento sadio de uma criança. No capítulo As crenças rígidas e as verdades inquestionáveis, exploro como a rigidez da mentalidade “é tudo ou nada”, em especial, corrompe a autoimagem e desemboca em insegurança pessoal, limitando a capacidade de nos conectarmos com confiança como, por exemplo, com a complexidade do eu autêntico. Os valores rígidos perpetuados pela cultura familiar disfuncional, tais como “Conectar-se com as emoções negativas é coisa de gente fraca” e “Cometer erros é sinal de incompetência”, embora não sejam evidentes nas interações comunicativas entre pais e filhos, são sentidos na carne por estes quando são condicionados a se moldarem às necessidades e expectativas dos pais não somente para se tornarem dignos do afeto deles, bem como se sentirem capazes e aceitos.

Contente-se com pouco: a autossabotagem e a mentalidade de mediocridade da família disfuncional
É comum para quem provém de uma família disfuncional sabotar o eu autêntico para manter o relacionamento com os pais

Este processo faz com que os indivíduos provenientes dos lares disfuncionais e tóxicos adotem uma atitude de autossabotagem que compromete a capacidade de viverem livre, plenamente e com realizações. Por serem submetidos à extensa manipulação e chantagem emocional durante o período de crescimento, os filhos das famílias disfuncionais criam um senso de direção deturpado, o qual se vê imerso em sentimentos de culpa, vergonha e medo de abandono. Já que quando se conformam com a visão de mundo e valores rígidos dos pais e não desenvolvem uma identidade própria são recompensados com demonstrações de afeto ou a ausência de atitudes abusivas, aprendem a associar a forma limitada de pensar e agir como algo benéfico para o relacionamento, mesmo quando se sentem inadequados e desgostosos internamente. É comum, portanto, considerarem a existência sob uma perspectiva de escassez e não de abundância, forçando-se a contentarem-se com pouco e a viverem de modo medíocre.

Na prática, a mentalidade de autossabotagem e mediocridade torna-se óbvia quando não se permitem sentirem-se bem ao adotarem uma atitude autônoma e de amor-próprio e autoaceitação incondicionais, por exemplo. Em outras palavras, em vez de sentirem-se íntegros quando…

… honram os limites pessoais independente do efeito que isso exerce no outro

… criam uma visão do eu como bom o suficiente independente de condição financeira, estado civil, profissão, aparência, título acadêmico ou profissional

…. se acreditam dignos de escolherem com quem mantêm relacionamentos, nomeadamente, concentrando-se nas pessoas maduras, empáticas e genuínas

sentem-se diminuídos e alienados por terem uma atitude autoafirmadora.

Para aprofundar o conhecimento acerca das diversas maneiras com as quais a dinâmica relacional disfuncional aprisiona a mente e compromete a conquista da felicidade e o contentamento pessoal, recomendo a leitura do Desconstruindo a família disfuncional.

Descubra o que é o medo de abandono

Se já é leitor ávido deste blog, está ciente de como crescer em um ambiente de estresse crônico tal como o característico de uma família tóxica e regida pela tirania narcisista tende a resultar em trauma da infância/do desenvolvimento. Além disso, tem conhecimento dos efeitos comuns deste trauma, como a hipervigilância e a codependência, por exemplo. Neste artigo, dedico o espaço a expandir o seu entendimento acerca de uma das vulnerabilidades mais comuns entre os filhos e as filhas de mães narcisistas: o medo de abandono – já que está no cerne dos problemas de relacionamento.  

Descubra o que é o medo de abandono
O medo de abandono está no cerne dos problemas de relacionamento.  

A criança em desenvolvimento necessita de amor incondicional e da presença consistente dos adultos responsáveis para formar um senso sólido de segurança interno e autoestima. Precisa, também, da influência adulta e centrada para confiar não somente em si mesma, como também nos relacionamentos humanos como uma fonte segura de apoio, equilíbrio e conexão emocional. Isso, contudo, não acontece nos contextos em que o desenvolvimento é afetado por uma mãe narcisista e abusiva e um pai facilitador e negligente (para compreender como o seu pai “facilita” a atitude abusiva da sua mãe, recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura). Em vez da criança associar os relacionamentos humanos como algo que favoreça o bem-estar e a saúde emocional, associa-os como uma fonte de sofrimento, inadequação e ansiedade.

O medo do abandono surge, portanto, da deficiência de tais genitores, em especial, de contribuírem para que os filhos sintam-se amados, valorizados, protegidos e equilibrados emocionalmente. O abandono emocional e afetivo vivenciados na infância desemboca em trauma e uma grande fobia a sofrerem o mesmo na idade adulta, que podem ser observados nos seguintes comportamentos e atitudes:

  • Evitar comprometer-se amorosamente
  • Hábito de terminar os relacionamentos ou afastar-se do outro quando a “fase lua de mel” é encerrada
  • Ter o hábito de encontrar defeitos nos outros ou ter expectativas altas e irrealistas em relação ao outro e seu papel no relacionamento
  • Dificuldade de confiar nos outros; acreditar que querem somente tirar-lhe proveito, manipulá-lo ou usá-lo de alguma maneira
  • Baixa autoestima, necessidade de agradar os outros, levar tudo para o lado pessoal e culpar-se por problemas ou atitudes disfuncionais dos outros
  • Tendência a criar e manter relacionamentos disfuncionais e dificuldade de terminá-los mesmo quando tem consciência de que não o favorecem
  • Sentir-se desvalorizado pelo outro e no contexto dos relacionamentos
  • Ter medo de intimidade seja emocional e/ou sexual
  • Dificuldade de saber as próprias necessidades em um relacionamento e honrar os limites pessoais
  • Medo de ficar sozinho, “pular” de um relacionamento para outro com grande facilidade
  • Agir de forma codependente e dependente emocionalmente (para estudar ambas as vulnerabilidades e aprender como superá-las, recomendo os meus cursos online A codependência e A Dependência Emocional)
  • Excesso de autonomia e ojeriza a depender dos outros de qualquer forma, inclusive quando a dependência é saudável e favorece uma conexão emocional 
  • Passar por longos períodos sem um relacionamento amoroso, ter aversão a relacionamentos mais sérios ou nunca ter tido um
  • Ter problema de raiva acumulada, depressão e/ou ansiedade

A cultura familiar de incesto emocional e codependência

Para quem é brasileiro ou português e provém de uma família tóxica, “ser filho” equivale a um grande peso. Este sentimento corresponde a uma cultura familiar sustentada por valores rígidos e obsoletos, os quais supervalorizam as necessidades dos pais e negligenciam as dos filhos. Tal cultura é centrada extensivamente nas emoções, carências, vontades e interesses dos genitores, além de promover uma dinâmica relacional disfuncional que nega a existência de limites pessoais e desencoraja a autonomia, seja psicológica, emocional ou, até, financeira, de todos os membros da família. Estas famílias são comumente referidas, também, como “emaranhadas” (enmeshed), pois são constituídas de relacionamentos cujos limites pessoais são bastante turvos e imprecisos, bem como os papéis de pai/mãe e filho/filha. Essa cultura difunde a visão de que os filhos encontram-se em eterno débito em relação aos pais, cultiva-se de geração em geração através de culpa, medo e vergonha, além de uma atitude abusiva de incesto emocional e de codependência.

A cultura familiar de incesto emocional e codependência

Em um relacionamento emocionalmente incestuoso, o pai e/ou mãe usa o filho para atender às necessidades que deveriam ser supridas por si mesmo ou outros adultos

Em um relacionamento emocionalmente incestuoso, o pai e/ou mãe usa o filho para atender às necessidades que deveriam ser supridas por si mesmo ou outros adultos, condicionando-o, desde pequeno, a concentrar-se no seu bem-estar e não no de si próprio. Recentemente, fui lembrada por um cliente brasileiro desta dinâmica disfuncional e que, embora muito comum, raramente é questionada. Em um momento bastante estressante e delicado financeiramente de mudança de residência, o cliente em questão foi comunicado de que a mãe havia se internado em um hospital privado para tratar um problema de saúde. Conversando ao telefone com ela, “compreendeu” que lhe era esperado que arcasse com todas as despesas hospitalares. Sentindo-se dominado por um grande sentimento de obrigação com a mãe porque cuidava dos filhos quando precisava, aceitou a incumbência sem ao menos esclarecê-la acerca de sua atual situação. Sem demonstrar o mínimo interesse sobre a sua condição atual – como lhe é de costume – a genitora aceitou a oferta do filho de boca fechada e mãos abertas. Para garantir os padrões de cuidado esperados pelos pais, o meu cliente teve de pedir um empréstimo no banco, endividando-se, ainda mais.

Nesse exemplo, fica claro que as necessidades da mãe prevalecem sobre as do filho. Fica evidente ainda que os seus sentimentos de inadequação, tais como a vergonha e o medo de ser internada em um hospital público, não foram lidados de forma honesta, aberta e autônoma, mas descarregados nas costas do filho para que os “resolvesse”. Embora o meu cliente também tenha se sentido sobrecarregado e cansado, tanto física como emocionalmente, não ocorreu aos genitores, em nenhum momento, oferecerem-no ajuda tampouco demonstrarem empatia com o período atribulado que atravessa. A lavagem cerebral a qual foi submetido desde criança e o acordo silencioso e de mérito irrefutável de que é sua obrigação não somente antecipar, mas também estar permanentemente disponível para atender as necessidades dos pais foi suficiente para que ignorasse as suas, as dos filhos e as da esposa e se sacrificasse por eles.

No relacionamento familiar codependente, os filhos também servem como garantia de que os padrões e o estilo de vida dos pais serão mantidos quando se tornarem idosos. Esta noção, bastante difundida em meu país de origem, cria um imenso problema na vida de milhões de brasileiros, especialmente, para quem é pai e mãe e se vê sobrecarregado financeiramente não somente com as necessidades da própria família, assim como de seus genitores. Neste cenário, sentem-se compelidos a “ajudar” os pais para “retribuírem” o que fizeram por si, como se a dedicação e o amor de pai e mãe fossem inteiramente condicionais e dependessem de recompensação financeira para serem validados. Em um país onde a corrupção política e o abuso são a regra e não a exceção e cujos cidadãos se veem forçados a compensar com os próprios recursos por um sistema previdenciário falho e que gera grande insegurança pessoal, não é surpreendente que a noção de que seja correto para os filhos comportarem-se como os pais dos próprios pais e isentarem-no da responsabilidade do próprio cuidado e bem-estar é apoiada, inclusive, por uma lei federal.

Portanto, no sistema de troca da família disfuncional, emocionalmente incestuosa e codependente, a bússola moral dos filhos é amplamente voltada para os estados emocionais e necessidades dos pais, já que estes são emocionalmente imaturos para lidarem com a própria inadequação e arcarem com as consequências de suas próprias escolhas e atitudes, como as que influenciam a sua segurança financeira, saúde física e qualidade de seus relacionamentos. De si, é esperado que restaure o seu equilíbrio emocional e supra as suas carências, independentemente de sua natureza. Assim sendo, um filho é considerado competente e bom o suficiente quando consegue compensar pela incapacidade dos pais de agirem de forma emocionalmente autônoma, consciente, madura e condizente com as próprias circunstências (ou sua recusa de aceitarem-nas).

Esta cultura, embora se pressuponha defender os princípios de união familiar e respeito aos idosos, sustenta uma mentalidade de sujeição, servidão, obediência e rejeição que corrompe a harmonia dos relacionamentos familiares e o crescimento e desenvolvimento pessoal de todos os envolvidos. Mesmo quando plenamente capazes, tanto física como intelectualmente, de concentrarem-se no próprio bem-estar e investirem em práticas de cuidado pessoal, tais genitores são negligentes com o corpo e a mente e modelam uma atitude de dependência que tem efeitos danosos tanto na sua saúde, autoestima e identidade, quanto nas dos filhos.

Para quem se vê como uma vítima de tal cultura familiar, é normal sentir-se abandonado, alienado, pequeno e insignificante. No meu trabalho com os filhos e filhas de famílias tóxicas torna-se claro que a cultura familiar reacionária, conservadora e de incesto emocional e codependência, tão reverenciada no Brasil e Portugal, ajuda a perpetuar a exploração e o abuso, além de desembocar, ultimamente, em problemas sérios de saúde mental e relacionamentos. Vale a pena lembrar que o respeito e a união familiar só são genuinamente observados na prática quando se originam da empatia, amor incondicional e respeito à liberdade pessoal e que, por esta razão, são mantidos de forma saudável e, sobretudo, sustentável, tanto pelos pais quanto pelos filhos.

Para um estudo avançado da codependência e dependência emocional, recomendo os meus cursos online “A codependência” e “A dependência emocional”.

Os efeitos do trauma da infância na saúde fisica – O estudo dos ACEs

Os efeitos do trauma da infância na saúde fisica - O estudo dos ACEs

O trauma da infância compromete, também, a saúde física

Um dos objetivos centrais do Filhas de Mães Narcisistas é aumentar a consciência acerca do trauma da infância e dos efeitos do estresse tóxico na criança em desenvolvimento. Se você é um leitor assíduo deste blog e já devorou o Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade para Filhas de Mães Narcisistas e o Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, está ciente dos efeitos cognitivos, comportamentais, relacionais, sexuais e espirituais de seu trauma. Para um filho ou filha de uma mãe narcisista/tóxica/abusiva que exibe um alto nível de consciência, os termos “estresse (tóxico)”, “trauma”, “família disfuncional”, “abuso” e “negligência” são-lhe bastante conhecidos. O intuito do presente artigo é ampliar o seu conhecimento em relação aos efeitos que estas experiências negativas podem ter no seu corpo, precisamente, na sua saúde física. Para que consiga atingir este objetivo e compreender a verdadeira dimensão dos efeitos do trauma da infância, é essencial familiarizar-se com o estudo dos ACEs.

O estudo dos ACEs      

O estudo dos ACEs foi uma pesquisa conduzida no final dos anos 90 por um centro de controle e prevenção de doenças nos Estados Unidos chamado Kaiser Permanente. A finalidade do estudo foi estabelecer a conexão entre as experiências adversas da infância (Adverse Childhood Experiences = ACEs) e a ocorrência de doenças a longo prazo. Elenca-se, abaixo, os exemplos centrais ao que se refere como ACEs ou experiências adversas/eventos traumáticos:

  • Abuso físico
  • Abuso sexual
  • Abuso emocional
  • Negligência física
  • Negligência emocional
  • Violência por um parceiro íntimo
  • Mãe tratada violentamente
  • Uso indevido de substâncias dentro de casa
  • Doença mental de um membro da família
  • Separação parental ou divórcio
  • Membro da família encarcerado

Cada experiência adversa ou trauma listado equivale a uma pontuação de ACE. No estudo dos ACEs, realizado com mais de 17.000 adultos, 87% dos entrevistados apresentaram uma pontuação de pelo menos um trauma/evento adverso na infância, fato que revela, inequivocamente, a natureza penetrante do trauma. Os resultados da pesquisa também determinaram que quanto maior o nível de disfunção familiar e a exposição do indivíduo em desenvolvimento a maltrato e ao estresse tóxico, maior a sua probabilidade de sofrer a longo prazo os seguintes problemas de saúde física:

  • Doenças gastrointestinais
  • Doenças cardiovasculares
  • Doenças respiratórias
  • Doenças sexualmente transmissíveis
  • Fraturas ósseas
  • Obesidade
  • Diabetes
  • Câncer

O estudou também estabeleceu que uma pontuação de 4 ou mais ACEs aumenta a probabilidade de…

  • Alcoolismo em 700%
  • Câncer em 200%
  • Doença pulmonar crônica em 390%
  • Hepatite em 240%
  • Depressão em 460%
  • Tentativa de suicídio em 220%

Já uma pontuação de 6 ou mais ACEs, reduz a expectativa de vida, em média, 20 anos (é 80 anos para os indivíduos com uma pontuação de ACEs zero) e aumenta ainda mais a probabilidade de se tentar o suicídio (3.000%).

Reiterando a relevância do estudo dos ACEs

O estudo dos ACEs destacou a relação tão elementar entre a qualidade dos relacionamentos familiares e circunstâncias de desenvolvimento de uma criança com o seu bem-estar físico e não somente o aspecto psicológico e emocional. Através das estatísticas significativas de um estudo de tal magnitude obtém-se a confirmação cientifica de um conhecimento que para a sobrevivente é bastante intuitivo, ou seja, que o abuso e a negligência, em todas as suas formas, causam um grande impacto negativo no ser humano como um todo, corpo e mente. Portanto, faz-se elementar, também para a vítima que ainda busca tanto a validação do seu trauma como o entendimento do impacto que exerce em si e no seu desenvolvimento, inteirar-se sobre os resultados do estudo dos ACEs e informar-se a respeito dos potenciais efeitos prejudiciais que as experiências adversas sofridas na infância podem causar ou já causaram na sua saúde física na idade adulta.

O aumento da consciência acerca de sua condição de vulnerabilidade pode ajudá-lo a ganhar uma renovada apreciação pelas práticas de cuidado pessoal, manutenção do bem-estar e prevenção de doenças, tais como o exercício ou atividade física, uma dieta equilibrada e o controle do consumo de álcool e alimentos ricos em açúcar, por exemplo. Sobretudo, o estudo dos ACEs reafirma a necessidade de uma mudança radical nas atitudes relacionadas ao abuso e à negligência, seja em nível micro, meso ou macrossocial, já que as implicações à saúde pública, bem como sociais e econômicas, compreende a todo nós e não somente às minorias marginalizadas, como divulgado pelo senso comum. Os indivíduos e as famílias que compõem a nossa sociedade, assim como os profissionais da saúde mental e física, escolas e instituições religiosas e governamentais envolvidos direta ou indiretamente nos contextos de abuso e negligência necessitam adotar uma atitude de respeito e apoio evidentes às vítimas/sobreviventes, a qual é comunicada sem ambiguidade e sustentada incondicionalmente.

Para calcular a sua pontuação de ACEs, responda o questionário contido aqui (disponível somente em inglês).

Fontes:

Aces too High News

Adverse Childhood Experiences Study

Center on the Developing Child Harvard University

SAMHSA Substance Abuse and Mental Health Services Administration

Eu devo perdoar a minha mãe narcisista? 5 mitos sobre o perdão

Se você é filha de uma mãe narcisista/tóxica/abusiva, a seguinte questão já deve ter permeado a sua consciência, reiteradamente:

“Eu devo perdoar a minha mãe narcisista?”

Como qualquer decisão de peso, o perdão em relação a sua mãe narcisista precisa ser uma reflexão proveniente de sua essência e de seu momento e não uma obrigação, resultado de uma pressão sociocultural ou imposição de terceiros, é importante refletir detidamente sobre essa questão antes de tomar uma decisão precipitada. Como acredito no poder transformador do conhecimento e no livre-arbítrio, bem como da autoconsciência e do amor-próprio, este artigo é dedicado a oferecer-lhe uma nova perspectiva acerca do perdão, que valide a sua realidade de filha de mãe narcisista e história de abuso e trauma, pois o seu contexto pessoal é bem especial. Para alcançar este objetivo, abaixo seguem 5 mitos sobre o perdão:

1- “Você tem que perdoar”

Primeiramente, vale a pena enfatizar: o perdão não é uma obrigação, mas uma escolha. Ninguém é obrigado a perdoar ninguém, seja ou não parente. Perdoar (ou não perdoar) é uma experiência íntima que diz respeito somente a você. “Ter que” carrega uma obrigatoriedade que lhe rouba o direito de ser e agir de acordo com a sua essência, vontade e sentimentos. Ninguém sabe como é ser você tampouco vivencia a sua experiência, portanto, não se entregue à intimidação e ao bullying de quem não veste a sua pele. Você é livre.

2- “Perdoar é um ato que beneficia a todo mundo”

Para quem acredita neste mito, convido a fazer ao que me refiro como “o teste do perdão”. Ao terminar de ler este artigo, perdoe a sua mãe narcisista para si mesma da forma mais genuína que conseguir e registre o momento em um pedaço de papel ou em seu celular. A partir desta data, mantenha um diário por, no mínimo 30 dias, relatando como se sente. No final deste período, faça uma avaliação franca de si. Então, sente-se substancialmente renovada, aliviada, mais centrada e feliz após ter perdoado a sua mãe narcisista, ou exatamente da mesma maneira (ou pior) do que antes? Não há nada de errado com você se nada mudou, pois você não é “todo mundo”, mas um indivíduo de alta complexidade, com personalidade e sentimentos próprios.

3- “Perdoar fará com que se sinta melhor”

Eu devo perdoar a minha mãe narcisista? 5 mitos sobre o perdão

Nas mãos da sua mãe narcisista, o perdão se torna mais um entre muitos dos instrumentos de manipulação emocional

Devido ao fato de que somos únicos em nosso jeito de ser e sentir, o perdão não é para todos, pois nem todo mundo sente-se instantaneamente bem após perdoar alguém. Além disso, o perdão que faz alguém sentir-se melhor – de forma sólida e duradora – vem no momento certo, ou seja, depois do luto. Isso é porque o perdão consiste em um processo de aceitação não somente de natureza intelectual, mas, sobretudo, emocional. Quem perdoa com “a cabeça” (racionalmente) e não com “o coração” (emocionalmente) pratica o perdão rápido demais e negligencia os estágios do luto que precedem o final (negação e isolamento, raiva, negociação e depressão), a aceitação. O luto é uma necessidade para quem perdoa, pois é um processo fundamental pelo qual se compreende e se aceita uma realidade, tanto com o corpo como com a alma. Colocar o perdão na frente do luto, ou querer perdoar a mãe narcisista sem nunca se ter permitido processar as emoções antagônicas em relação a este relacionamento disfuncional tende a não produzir resultados positivos a longo prazo.

4- “Quando se perdoa alguém, o relacionamento sempre melhora”

Se você acredita nesse mito, recomendo-lhe, mais uma vez, a fazer o meu teste do perdão. No término desta leitura ou quando tiver tempo, perdoe a sua mãe narcisista interna ou diretamente na presença dela. Após fazê-lo, registre o ocorrido e verifique consigo mesma depois de trinta dias. Como foi? O relacionamento com ela melhorou, continua igual ou pior do que antes? No Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade para Filhas de Mães Narcisistas questiono o suposto poder transformador do perdão no contexto do narcisismo materno, já que, “Nas mãos da sua mãe narcisista, o perdão se torna mais um entre muitos dos instrumentos de manipulação emocional” (Prisioneiras…, p. 203). Tendo em vista a prática da mãe narcisista e demais indivíduos abusivos usarem a vergonha e a culpa que frequentemente acompanham o perdão para nunca reconhecerem o sofrimento de suas vítimas e perpetuarem o abuso que as infringe, a probabilidade de que o perdão, sozinho, desencadeie um processo transformador deste relacionamento é, virtualmente, nula.

5- “O perdão só funciona quando é pedido ou dito diretamente para a pessoa”

Quando o perdão é uma experiência orgânica e não uma obrigatoriedade ocorre no seu tempo e é sentido de dentro para fora. Assim como os sentimentos que se originam de um estado de profunda e sincera aceitação, o perdão, quando autêntico, é uma experiência sua. Desta forma e porque está ciente disso, você não “tem que” comunicar ninguém quando (e se) o perdão materializa-se – tampouco a sua mãe narcisista – pois é algo concernente apenas a si. O perdão alardeado de modo afetado e com superioridade não corresponde a um ato equilibrado, mas à insegurança pessoal e à necessidade de aprovação.

Para quem cresceu sob a tirania e atitude transtornada e abusiva de uma mãe narcisista, o perdão não é uma novidade, mas um exercício diário de tolerância, dependência emocional, codependência e, até, sobrevivência. Contudo, afirmar que – inquestionavelmente e em todas as circunstâncias – o ato de perdoar a mãe narcisista, em si, cura as feridas do seu trauma é uma afirmativa errônea, não reflete a realidade de um grande número de filhos e filhas de mães tóxicas. Embora o perdão possa ser uma experiência genuinamente benéfica para alguns, não se trata de uma regra para todos os seres humanos nem possui a mesma relevância prática, relacional, psicológica e emocional. Caso esteja se questionando se “deve” perdoar a mãe narcisista, verifique com o seu corpo, e não somente com o seu intelecto, se verdadeiramente deseja isso. Acima de tudo, respeite o seu ritmo e honre as emoções ou quem neste momento você é.

A mãe narcisista tem consciência dos seus atos? Ela tem consciência do mal que faz aos filhos?

A mãe narcisista tem consciência dos seus atos? Ela tem consciência do mal que faz aos filhos?

Para que você chegue à resposta desta pergunta de forma independente, adulta e respeitando a sua verdade, convido-a, primeiramente, a reflexionar sobre as seguintes questões:

A mãe narcisista tem consciência dos seus atos?

Toda a filha de mãe narcisista reconhece que a genitora tem uma postura na frente de plateia e outra no convívio com a família

1- Se você ou qualquer outra pessoa defender que a mãe narcisista não tem consciência dos seus atos, está afirmando que ela é insana, ou seja, não sabe distinguir entre a fantasia e a realidade. Se a mãe narcisista não conseguisse distinguir entre a fantasia e a realidade, não saberia como agir de forma tão calculada e dissimulada, tanto dentro quanto fora do ambiente familiar. Portanto, a sua aparente “doidice” ou comportamento incontrolável e impulsivo seriam óbvios para todos com quem tem contato. Esse tipo de comportamento, contudo, não corresponde ao da mãe narcisista, pois sabe como cultivar uma imagem de perfeição e viver de aparências. Toda a filha de mãe narcisista reconhece que a genitora tem uma postura na frente de plateia (dedicada, educada e carinhosa) e outra no convívio com a família (negligente, abusiva e fria), o que denota possuir pleno controle das faculdades mentais e sabe com quem e onde pode se comportar de forma abusiva, sem nunca ser descoberta e considerada responsável por seu comportamento impróprio.

2- Para que a mãe narcisista consiga se sentir bem consigo mesma, precisa receber estímulo negativo daqueles com os quais se relaciona. Em outras palavras, precisa rebaixar os outros para se sentir superior (dinâmica a que me refiro como “o relacionamento gangorra” em meu segundo livro, Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura e que expõe o valor da filha como suprimento narcisista). Se a mãe narcisista não tivesse consciência de seus atos, ou de como magoa e faz a filha se sentir pequena e rejeitada, seria intelectualmente incapaz de se beneficiar destes sentimentos de inadequação ou de usar a filha ou qualquer outra pessoa como suprimento narcisista. Como resultado, os seus relacionamentos seriam funcionais e harmoniosos e não de extrema dependência emocional, como é o caso dos que mantém com todos a sua volta. Além disso, quando a filha de mãe narcisista se recusa a se submeter ao abuso com autoconfiança e cortando o contato, a matriarca narcisista sente-se desconsertada – mesmo não gostando da companhia da filha nem nutrindo nenhum amor genuíno ou respeito por ela. Diante disso, faz tudo para reaver o controle, provando, portanto, que entende a forma pela qual os seus comportamentos abusivos a conferem um senso de autoestima, identidade e “bem-estar” emocional.

3- Porque uma pessoa tem uma doença mental, tal como um transtorno de personalidade, não significa que seja abusiva. Por mais que haja um grande número de pessoas abusivas que possui uma doença mental, nem todo mundo que abusa é narcisista, por exemplo. Correlação não é causalidade. Uma doença mental ajuda a explicar o contexto do abuso, mas não o justifica. Assim como laço sanguíneo não equivale à licença para se comportar de maneira agressiva, doença mental não serve de desculpa para se aproveitar do amor e da vulnerabilidade de uma criança ou adolescente, afetar o seu crescimento e desenvolvimento negativamente e comprometer, de forma irresponsável e inconsequente, com a sua qualidade de vida não apenas na infância, como também na idade adulta. Para a profissional de saúde mental que tem ampla experiência com os relacionamentos abusivos, seja de forma direta como sobrevivente ou indireta através dos relatos de suas clientes, ou uma mistura de ambos, afirmar que o abusador faz o que faz porque é, supostamente, doente mental, simplesmente “não cola”. Vale a pena lembrar que a esmagadora maioria das filhas de mães tóxicas nunca recebe a confirmação de que as suas genitoras são, de fato, narcisistas, ou que possuem qualquer outro tipo de doença mental. Por mais que o termo “narcisismo” seja elucidador, não exclui as características mais marcantes das mães abusivas/tóxicas/narcisistas: o pensamento rígido e a falta de empatia e respeito pelos limites, identidade e direito à individualidade de seus filhos.

4- Sob esta perspectiva, pode-se alegar que a mãe narcisista não sabe da extensão do mal que causa a seus filhos porque também foi abusada e maltratada pelos próprios pais e, portanto, julga a sua atitude imprópria como “normal”. Isso pode ser considerado como uma “meia verdade”, em virtude dos seguintes aspectos:

  • A mãe abusiva/tóxica/narcisista usa as mesmas táticas de negação de problemas da maioria dos indivíduos provenientes de famílias disfuncionais. Estas táticas, como escudar-se atrás de chavões do senso comum tais como “Mãe/família é tudo”, “Toda a mãe boa” e “Toda a família tem problema” invalida a realidade de abuso e a negligência de todos, inclusive a de si mesma. O trauma e o abuso são tabus não somente para quem é vítima, mas também para quem é testemunha (direta ou indireta) ou os tolera sem questionamento. Nos casos de quem foi ou é vítima de abuso e se torna, também, um abusador, o peso deste tabu aumenta e, com ele, a vergonha e a necessidade de negá-lo, até para si.
  • Nem todo mundo que é vítima de abuso, abusa. Eu conheço inúmeras vítimas sobreviventes que nunca cometeriam as atrocidades que sofreram e que se sentem extremamente abaladas e decepcionadas consigo quando agem de forma agressiva.
  • Mesmo quando a mãe abusiva/tóxica/narcisista torna-se ciente de quão nociva a sua atitude é para a autoestima e bem-estar psicológico e emocional dos filhos, continua a tratá-los de forma imprópria e a negar o impacto negativo que lhes causa, bem como qualquer tipo de responsabilidade nos problemas deste relacionamento.

É importante sabermos as razões que podem levar um ser humano a cometer atos de abuso, assim como definir o seu nível de consciência acerca destes, sobretudo quando são nossos genitores e tiveram uma influência direta em nosso desenvolvimento. A ciência acerca dos fatores que contribuem com tal crueldade e o sentimento de compreensão e empatia que seguem esta descoberta não diminuem a sua malignidade, contudo, tampouco isentam quem os comete de sua responsabilidade, ou nas sábias palavras da grande psicóloga e filosofa suíça Alice Miller (2002):

“Empathising with a child’s unhappy beginnings does not imply exoneration of the cruel acts he later commits”

(“Demostrar empatia pela infância triste de uma criança não implica a exoneração dos atos cruéis que depois comete”)

Então, no que você acredita?

Referência:

Miller, A. (2002). For your own good. Hidden cruelty in child-rearing and the roots of violence (4th ed.). New York, NY: Farrar, Straus and Giroux.

A mãe narcisista como o seu gatilho número 1

Se você é filha ou filho de uma mãe narcisista, já deve ter formulado a seguinte suposição:

“Se eu aprender a lidar com a minha mãe, tornar-me mais fria e não me preocupar com o que ela diz ou faz, serei capaz de aguentá-la e não precisarei cortar o contato.”

No meu trabalho com filhas e filhos de mães narcisistas, é bastante comum encontrar clientes que mencionam isso como um de seus objetivos de terapia. Por ser uma noção tão comum e, ainda, tão errônea no contexto do relacionamento entre filhos e mães narcisistas/tóxicas, achei pertinente usar este espaço para esclarecer.

Então, vamos lá: é possível “treinar-se” para não se abalar emocionalmente com o comportamento abusivo e impróprio de uma mãe narcisista?

A resposta, na esmagadora maioria dos casos, é não. Isso se deve ao fato de que a sua mãe narcisista está no centro da sua história de trauma do desenvolvimento. Como a praticante de grande parte do abuso que você sofreu, a sua mãe narcisista é o seu gatilho número um. Para compreender a extensão do efeito que ela provoca sobre você, é vital entender o conceito de “gatilho”.

A mãe narcisista como um gatilho

A mãe narcisista como o seu gatilho número 1

Um “gatilho” é uma experiência que faz com que a vítima relembre um evento traumático

No contexto de qualquer tipo de trauma, seja físico, psicológico/emocional, de uma ocorrência singular ou complexo (uma série de eventos adversos), um “gatilho” (trigger, em inglês) é uma experiência que faz com que a vítima relembre um evento traumático de seu passado. Para usar um exemplo bem estereotípico, o barulho de uma explosão pode tornar-se um gatilho para um soldado de guerra traumatizado. Toda a vez que houve um barulho semelhante, independente da origem e donde esteja, sente-se aterrorizado tal como quando se encontrava no campo de batalha. Este gatilho – o barulho de explosão – ativa a sua memória do trauma que, por sua vez, ativa as emoções antagônicas sentidas no momento em que ocorreu (por exemplo, medo), fazendo-o sentir-se vulnerável e indefeso, inclusive se estiver longe de qualquer perigo real.

É claro que há diferentes contextos de trauma, nos quais os gatilhos não são tão simples de serem identificados, tal como o do exemplo. No contexto de trauma complexo – a modalidade sofrida por vítimas de abuso narcisista – estes gatilhos podem ser pessoas e até emoções. A mãe narcisista, portanto, representa um supergatilho. Isso se deve ao fato de que tudo a respeito de sua pessoa, bem como o seu olhar, linguagem corporal, maneira etc. funcionam como gatilhos. Na presença de uma mãe narcisista, o filho ou filha sente-se, com grande frequência e quase automaticamente, como aquela criança vulnerável de muitos anos atrás. Portanto, todo aquele autocontrole, autoridade e autoconfiança de homem ou mulher adulto conquistado ao longo de sua experiência e longe de influência materna parece desvanecer-se na presença de sua mãe narcisista.

Este processo é tão rápido e sutil que escapa a sua consciência. Basta um comentário afetado ou uma crítica destrutiva para que as memórias e crenças do seu trauma sejam ativadas. Uma vez que você é transportada para o passado através destes gatilhos, o seu sistema límbico é ativado e as suas reações tornam-se rápidas, subjetivas, emocionais e até irracionais. Como esclareci no artigo anterior deste blog, esta área do seu cérebro, referido como o “cérebro emocional”, é onde são armazenadas as memórias do seu trauma e é, também, a região responsável por detectar ameaças e nos mobilizar para uma resposta: a fuga ou a luta. Portanto, as suas reações, quando na presença da sua mãe, serão, na maioria das vezes, motivadas por intensas emoções antagônicas, até mesmo nas circunstâncias em que ela não estiver apresentando um comportamento que, tecnicamente, justifique a amplitude da sua reação. Lembre-se de que o seu sistema límbico é hiperativo em consequência do trauma, a probabilidade de você não se sentir inadequada na presença da pessoa que a abusou por longos e sofridos anos é quase nula. Quando você se familiariza com os aspectos neurobiológicos e entende o conceito de gatilhos, insistir em manter este relacionamento tóxico corresponde a uma atitude ingênua e incoerente.

Honrar as suas emoções é honrar você

A reação normal de um ser humano constantemente atacado verbal e fisicamente e tem a autoconfiança sistematicamente destroçada é se sentir mal e inadequado. Ninguém deve se esforçar para tolerar o abuso, seja de quem ou da natureza que for. As suas emoções, mesmo quando exageradas, são fontes de grande sabedoria, pois lhe avisam ou relembram da ameaça ao seu bem-estar. No contexto de abuso, tentar “controlá-las”, reprimi-las, ignorá-las ou normalizar o seu significado só promove ainda mais o mal-estar emocional e até a ocorrência de problemas de saúde física e mental. Logo, a melhor maneira de lidar com as suas emoções é respeitá-las e aprender com elas. Mesmo que você faça terapia e certas pessoas insistam que você “tem que” ter um relacionamento com a sua mãe, ou que cabe a você “aprender” a relevar a sua atitude abusiva e transtornada, o seu corpo ou você inteira – da cabeça aos pés – permanece o seu guia mais inteligente e humano. Está na hora de honrar a si própria e dizer não ao abuso narcisista. Se precisar de ajuda para reduzir ou cortar o contato com uma mãe narcisista, recomendo os meus livros, Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas e Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.

Tipos de abuso

Abuso é um comportamento cruel e violento intencionado a manter um indivíduo sob controle de, pelo menos, outra pessoa. Contrário ao que  se entende amplamente por abuso, compreende muito mais do que dano causado ao corpo por meio da violência física (ex. doméstica), mas inclui toda e qualquer conduta imprópria ou ato de violência que afeta os bem-estares físico, emocional, psicológico e/ou espiritual de outra pessoa. Na maioria dos casos de abuso – como o cometido por uma mãe tóxica/narcisista – o comportamento  abusivo não se limita a uma ocorrência, ocorre de forma repetitiva por um determinado período, podendo incluir grande parte ou toda a infância da vítima sobrevivente, assim como se estender à idade adulta. O abuso, no entanto, não ocorre somente no ambiente familiar, pode ser observado em todo e qualquer relacionamento. A seguir são elencados os tipos de abuso para que você entenda de que maneira acontece na prática e como pode afetá-la:

(A palavra “criança”, em muitos dos exemplos pode ser substituída por “pessoa”)

Abuso emocional/psicológico

Tipos de abuso

Culpar uma criança pelas próprias escolhas é abuso

  • Culpar a criança pelo que acontece consigo, inclusive pelas próprias escolhas
  • Provocar a criança ou fazê-la se sentir mal para servir a um fim, de forma consciente e premeditada
  • Usar o medo, a culpa e a vergonha para manipular a criança a fazer somente o que deseja através de chantagem emocional
  • Ameaçar abandonar a criança quando faz algo errado ou não se comporta como desejado
  • Travar o crescimento e desenvolvimento pessoal da criança rejeitando a sua identidade e autonomia de modo consistente e sistemático
  • Tratar a criança como um ser inferior, incompetente ou indigno de ser amado
  • Submeter a criança a grandes e constantes variações de humor, tal como testemunhar ataques de raiva frequentes
  • Ignorar, negar ou banalizar a existência de problemas de saúde mental na criança
  • Ignorar, negar ou rejeitar os limites pessoais da criança
  • Trivializar a natureza dos comportamentos abusivos, como ataques verbais e o uso indiscriminado de mentiras como se fossem aceitáveis, sem importância ou inconsequentes
  • Agir de forma passivo-agressiva fazendo a criança sentir-se inadequada de forma sofisticada e insidiosa para aliviar ou “lidar” com a própria raiva e insatisfação pessoal
  • Incesto emocional: tratar a criança como se fosse o adulto responsável pelos seus cuidados e bem-estares físico, psicológico e emocional. Buscar conselho ou compartilhar de problemas de ordem emocional com a criança, como se fosse adulta e com a incumbência de oferecer apoio emocional ao adulto.

Negligência emocional

  • Não reconhecer os sentimentos da criança, ignorá-los ou tratá-los como dispensáveis
  • Recusar-se a validar o efeito que as suas atitudes exercem no bem-estar emocional da criança
  • Não escutar a criança nem valorizar a sua expressão pessoal, assim como os sentimentos
  • Não expressar empatia pelo sofrimento ou desconforto emocional da criança
  • Incentivar, inclusive indiretamente, a repressão das emoções, sobretudo quando negativas
  • Manter-se emocionalmente distante e desinteressado dos sentimentos da criança
  • Rejeitar ou culpar a criança por sentimentos de natureza antagônica, tal como a raiva
  • Incentivar, através de exemplo de comportamento, a incongruência emocional, ou exigir que a criança pareça feliz quando se sente descontente

Negligência Física

  • Ignorar os problemas de saúde física da criança e não buscar assistência médica
  • Não fornecer abrigo ou ser capaz de manter a criança bem nutrida e/ou vestida de forma apropriada
  • Manter a criança sozinha e sem supervisão por períodos prolongados, principalmente quando ainda não tem a idade para cuidar de si
  • Tornar uma criança responsável pelos cuidados de outra(s) criança(s)
  • Forçar uma criança a prover ou contribuir financeiramente pelo seu próprio sustento (ou da família), seja através de trabalho, seja forçando-a roubar ou mendigar

Abuso Verbal

  • Intimidar e humilhar a criança com rótulos de conotação negativa, tal como “burro”, “estúpido”, “imbecil” etc.
  • Usar nomes de natureza chula e derrogatória para descrever a criança ou o seu comportamento
  • Provocar, rir ou zombar da criança
  • Ter o hábito de comparar a criança a outras pessoas
  • Ter o hábito de resmungar, importunar ou gritar com a criança

Abuso físico (violência doméstica)

  • Agredir uma criança fisicamente através de tapas, pancadas, chutes
  • Queimar ou agredir uma criança fisicamente por meio de um objeto, tal como um cinto
  • Sacudir ou empurrar a criança contra uma parede ou objeto
  • Forçar a criança a comer ou beber; ou se recusar a alimentá-la
  • Forçar a criança a se exercitar, fazer uma tarefa ou atividade física que supere a sua capacidade e disposição

Abuso sexual

  • Tocar ou acariciar as zonas erógenas e/ou órgão sexual da criança
  • Olhares impróprios, fazer “brincadeiras”, comentários ou insinuações maliciosas
  • Expor-se ou masturbar-se na frente da criança
  • Masturbação mútua com a criança
  • Ter relação sexual com a criança (vaginal, oral e/ou anal)
  • Penetrar uma criança com o uso de dedos ou objetos
  • Ejacular na criança
  • Forçar a criança a assistir filmes pornográficos, ou a fazer parte de um
  • Tirar fotos pornográficas de uma criança
  • Forçar uma criança a ter relações sexuais com outra, ou a assistir outros tendo relações sexuais
  • Forçar a criança a ter relações sexuais com animais
  • Forçar a criança a participar de jogos sexuais ou torturá-la sexualmente
  • Recusar-se a conversar com a criança a respeito de sexo, puberdade e menstruação, como se fosse algo sujo e impróprio

Abuso vicário

  • Expor a criança a abuso de qualquer natureza cometido a outrem, tal como membro da família

Abuso espiritual

  • Usar verdades espirituais, palavras ou textos religiosos para coagir, justificar comportamentos e atitudes impróprias, manipular ou cometer algum tipo de dano à criança, seja de ordem física, sexual, psicológica ou emocional
  • Conjurar uma autoridade divina ou usar da autoridade espiritual para endossar um comportamento impróprio ou forçar a criança para servir aos seus próprios interesses

Terapia que ajuda x terapia que não ajuda

Devido à recente exposição do tema narcisismo materno e o aumento da conscientização em relação ao problema, há um renovado interesse na terapia por parte daqueles que se veem como uma vítima de uma mãe narcisista. Dado a dimensão do prejuízo causado por crescer e se desenvolver sob a tirania de uma mãe abusiva, torna-se natural a ideia da filha procurar apoio de uma profissional na área de saúde mental para lidar com os problemas de ordem psicológica e emocional resultantes deste relacionamento tóxico. Contudo, reunir a coragem e os recursos financeiros necessários para iniciar o tratamento psicoterápico não garante o sucesso de seu resultado. Dentre os inúmeros e-mails que recebo através do filhasdemaesnarcisistas.com.br, muitos incluem relatos de filhas de mães narcisistas que, embora tenham procurado tratamento, não se sentem melhores após terem investido tempo e dinheiro significativos. Isto ocorre porque encontrar a profissional correta para lidar com um assunto tão delicado tem o potencial de tornar-se um processo difícil e até decepcionante, faz-se vital que se informe a respeito do tipo de terapia que tem a maior probabilidade de ajudá-la. Este artigo visa trazer à luz o papel que a terapeuta e o relacionamento com a cliente e, em especial, filha de mãe narcisista, exercem no sucesso ou fracasso da terapia.

O básico

Independente da abordagem terapêutica, a terapia funciona somente quando é Centrada na Pessoa, ou seja, respeita três condições básicas: a consideração positiva incondicional, empatia e congruência. Em termos práticos, isso quer dizer que a terapeuta não só aceita a cliente e suas circunstâncias sem julgá-la, bem como é capaz de se colocar no seu lugar e ver o mundo através de seus olhos com muito respeito, atitude refletida de forma inequívoca nos seus valores e comportamento. Como está ciente de que a cliente é a expert na sua própria vida, acredita nela e trabalha com ela para ajudá-la a promover a autoexploração e o conhecimento.

terapia

Encontrar a profissional correta para lidar com um assunto tão delicado pode tornar-se um processo difícil

Por mais que isso pareça evidente e até inquestionável para se criar um ambiente terapêutico seguro e produtivo, este cenário não é observado em todos os contextos, especialmente quando a cliente apresenta problemas que questionam as crenças da própria terapeuta. No caso da filha de mãe narcisista, uma terapeuta que acredita tão fielmente nas intuições Mãe e Família a ponto de não conseguir questioná-las ou analisá-las sob um ângulo negativo, irá comportar-se de forma naturalmente resistente quando se deparar com uma cliente cujos problemas de ordem psicológica e emocional estejam diretamente relacionados à atitude disfuncional, negligente e abusiva de seus genitores. Esta resistência se faz óbvia em comentários, tais como: “Mas ela é sua mãe”, “Você tem que entender e aprender como lidar com a sua mãe” etc.

Esse tipo de retórica somente reproduz o ambiente familiar de antagonismo e rejeição o qual a filha de mãe narcisista foi forçada a tolerar por longos e sofridos anos. É impossível sentir-se compreendida e aceita quando a própria terapeuta é incapaz de reconhecer e honrar a sua verdade, seja qual for. Portanto, não a complementa ou fortalece, tampouco ajuda a esclarecer os seus sentimentos de inadequação, mas apenas a faz sentir-se ainda mais incongruente, isolada e solitária.

Respeitando a verdade da filha de mãe narcisista

A função da terapeuta também é auxiliar a cliente a construir um senso de realidade que faça sentido e explique a sua experiência de modo coerente. Partindo desta premissa, a terapia que ajuda a filha de mãe narcisista é aquela que aborda os eventos que compõem a sua história como fatos e não fantasia. Quando o objetivo é emancipar a cliente, auxiliá-la a entender o que aconteceu consigo sob uma perspectiva clara e objetiva torna-se indispensável. Ajudá-la a entender que o que sofreu tem nome – abuso – e que, como tal, deixou marcas profundas na sua mente e corpo – o trauma – permite que a filha de mãe narcisista consiga organizar a sua narrativa pessoal de forma lógica. Nestas circunstâncias, há um grande senso de alívio e bem-estar, em que a cliente se torna apta a, finalmente, validar a sua história e os seus sentimentos de impropriedade. Saber a verdadeira origem de sua confusão e insegurança e ter esta verdade confirmada por uma terapeuta empática é, em si só, um ato transformador.

A terapeuta que evita tocar em assuntos tabus, e que, por isso, não associa a experiência da filha de mãe narcisista com a família disfuncional às palavras “abuso” e “trauma”, priva-a de conceber a verdadeira extensão e implicância de não lidar com o seu problema de maneira franca e proativa. Ser vítima de abuso materno narcisista resulta, em sua esmagadora maioria, em trauma de ordem complexa. Os efeitos desta modalidade de trauma são sentidos não somente na infância, como também na idade adulta, frequentemente limitando a capacidade da filha de mãe narcisista de viver uma vida plena e de realizações, pois afetam o seu sistema emocional, corpo, psique e relacionamentos negativamente. A abordagem terapêutica que ajuda a filha de mãe narcisista a superar o trauma é aquela que o entende como fato e o conceitua através de uma elucidação clara e de fácil identificação. Sobretudo, trata-se de uma abordagem que reconhece os seus efeitos não como produtos de simbolismo ou uma imaginação fértil, mas como manifestações reais de um problema de saúde mental que exerce um impacto negativo na sua qualidade de vida.

Se você é filha de mãe narcisista e está pensando em buscar um tratamento, escolher uma terapeuta sensível, que entenda e respeite você, a sua história e verdadeira dimensão do seu problema é fundamental. A terapia que ignora os fatores acima falha em reproduzi-los de forma satisfatória e, portanto, revela-se como uma perda de tempo e dinheiro. Além disso, uma “profissional” que está mais preocupada em provar uma teoria e proteger valores de família absolutos e obsoletos do que reconhecer a verdade de uma cliente traumatizada e vítima de abuso tem o potencial de aliená-la e até retraumatizá-la, prejudicando-a em vez de ajudá-la. Portanto, recomendo cautela.

Quando em terapia, reflita sobre as seguintes perguntas:

  • Eu me sinto compreendida e acolhida por esta terapeuta?
  • Ela parece possuir um conhecimento atualizado e apropriado sobre o meu tipo de problema?
  • Ela aborda o que passei sob a perspectiva do abuso e trauma?
  • Eu me sinto mais esclarecida com os comentários, esclarecimentos e as interpretações desta terapeuta?

Se a resposta for sim para todas essas perguntas, há uma grande probabilidade de que a terapia será produtiva.

A maldição do filho dourado

O filho dourado é o escolhido da mãe narcisista como “favorito” (Ofereço um estudo aprofundado do favoritismo no contexto familiar disfuncional e toxico no meu novo livro, Desconstruindo a família disfuncional). Trata-se daquela criança considerada “a melhor” de todas e, por esta razão, é protegida, favorecida e usada frequentemente como o seu instrumento de triangulação. Embora em um grande número de famílias regidas pela tirania narcisista revele-se ser extremamente fácil apontar a criança dourada, em algumas este processo não é tão óbvio. Há situações em que o papel de criança dourada não é fixo, mas passa de um filho para outro de acordo com a conveniência da mãe narcisista, pois tudo depende do seu interesse do momento e de quem seja capaz ou esteja desesperado o suficiente em sacrificar-se para atendê-lo – ao que me refiro como “leilão emocional” em meu livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas.

A maldição do filho dourado

Mesmo sem perceber, a criança dourada paga um preço altíssimo pelo favoritismo narcisista

Tipicamente, no entanto, a criança dourada tende a ser o filho de sexo masculino. Psicologicamente, associo esta tendência ao autodesprezo da mãe narcisista. Visto que a filha é uma extensão de si mesma e funciona como o espelho refletor de sua própria imagem, é tratada com o mesmo repúdio e ódio que a mãe narcisista cultiva pela sua própria pessoa. Se a mãe narcisista fosse capaz de amar e aceitar a si mesma ou reconhecer a filha como um indivíduo e entidade independente, essa tendência não seria tão predominante.

Independentemente do contexto ou explicação para esta atitude imatura, incoerente e disfuncional, a noção de que o favoritismo da mãe narcisista é algo benéfico para a criança dourada pode até fazer sentido em teoria, mas, na prática, revela-se seguidamente como um comportamento prejudicial ao crescimento e desenvolvimento pessoal do “escolhido”. O que se observa nas famílias disfuncionais de minhas clientes é que a esmagadora maioria dos filhos dourados que recebem tratamento especial das mães narcisistas tornam-se adultos imaturos e irresponsáveis, além de exibirem problemas sérios de autoestima, autorregulação emocional e relacionamentos. Muitos não têm ocupação, mudam de emprego com grande frequência e dependem financeiramente da mãe, embora tenham idade suficiente para se sustentarem. No lado amoroso, também não são bem-sucedidos ou têm o hábito de se envolverem em relacionamentos dramáticos e caóticos. Já como irmãos, os filhos dourados tendem a ser egoístas, frios, distantes e até agressivos fisicamente quando contrariados. Quando não são narcisistas como a mãe, também agem de forma apática e indiferente ao abuso do qual são testemunha e defendem a atitude da mãe mesmo que não seja abertamente.

Os fatos mencionados me permitem concluir que a influência direta que a mãe narcisista exerce no filho dourado também é nociva e, por vezes, tão tóxica quanto a que exerce no filho bode expiatório ou “ovelha negra”. Mesmo sem perceber, a criança dourada paga um preço altíssimo pelo favoritismo narcisista, o qual deve ser aceito até quando não é solicitado. Enquanto que o abuso e o efeito tóxico narcisista são muito mais evidentes nos demais filhos, a predileção da mãe narcisista pelo filho dourado é erroneamente concebida por todos como benéfica, pois vem disfarçada de amor materno. Somente quando o filho dourado não consegue comportar-se de forma adulta e competente é que se compreende como a educação narcisista foi falha em prepará-lo para a vida e ajudá-lo a tornar-se um indivíduo autônomo e sensato. A maldição do filho dourado é mais uma prova de que uma mãe narcisista – inclusive quando parece comportar-se como mãe – não é uma interferência saudável na vida de nenhum dos filhos.

Se necessita de ajuda para registrar a perda da “mãe” no sentido afetivo da palavra, recomendo o meu curso online, “Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica”. Neste curso, você aprenderá como reconectar-se com o corpo e a fazer o luto da mãe narcisista de forma saudável.

O que esperar quando se corta o contato com a mãe narcisista

O que esperar quando se corta o contato com a mãe narcisista

Cortar o contato com a mãe narcisista, apesar de ser uma tarefa difícil, permanece como o único meio de libertar-se de sua influência tóxica

Cortar o contato com a mãe narcisista compreende uma decisão muito importante capaz de mudar radicalmente a qualidade de vida da filha de mãe narcisista. Embora soe como uma medida extrema, cortar o contato faz-se necessário nos casos de filhas de mãe narcisistas e tóxicas cujo abuso sofrido as impede de viverem a própria vida da maneira que desejam, encontrarem paz de espírito e se realizarem como mulheres adultas, autônomas e competentes. Manter o relacionamento com a mãe narcisista afeta a capacidade da filha de crescer e se desenvolver como pessoa, assim como lidar de uma vez por todas com os efeitos do trauma, tal como a ansiedade, culpa, raiva, baixa autoestima e incapacidade de sentir prazer na vida, entre outros (para uma lista completa dos efeitos do trauma psicológico e emocional, clique aqui).

Devido ao fato do transtorno de personalidade narcisista ser incurável e narcisistas nunca admitirem ter qualquer tipo de problema, o narcisismo raramente é diagnosticado, abordado de maneira responsável e com a ajuda de um profissional especializado. Portanto, quem se encontra envolvido diretamente com um/uma narcisista, como os filhos, filhas e parceiros amorosos, por exemplo, possui como única alternativa: cortar o contato definitivamente com a fonte de sua angústia. Se você está considerando esta possibilidade, mas não sabe o que esperar quando se corta contato com a mãe narcisista, é válido se preparar psicológica e emocionalmente para este grande feito, já que, como explico no meu livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas, “narcisistas não gostam de ser rejeitados, muito menos esquecidos”.

1- Você será julgada

A nossa cultura (patriarcal, ocidental, católica) defende o respeito e dedicação cegos a pais e mães, assim como à família da qual descendemos. A sabedoria do senso comum é recheada de chavões que ilustram esta ideologia, tal como “Mãe/família é tudo”, “Mãe só tem uma” e “O sangue é mais denso que a água”. Quem ousa contestar estas “regras”, causa desconforto nos defensores do status quo, ou naqueles que organizam o seu senso de realidade ao redor de valores rígidos e absolutos que conferem um senso de controle sobre a sua vida e de outras pessoas. Tais indivíduos se sentirão não só incomodados pela sua atitude inovadora e independente, bem como pelas implicações da sua decisão. Quando você questiona tais crenças, abre o equivalente a uma “caixa de pandora”, pois inicia uma discussão – mesmo que sem intenção nenhuma – a respeito dessa veracidade e dos benefícios reais de segui-las fielmente. Como mudanças tendem a causar sentimentos de inadequação, sobretudo em pessoas inseguras e controladoras, você provavelmente será julgada de modo negativo por parentes e “amigos” com visão de mundo limitada e egoística.

2- Você terá duvidas

Como com toda decisão de peso, é perfeitamente normal sentir-se insegura após ter cortado o contato com a mãe narcisista. Lembre-se, você foi condicionada a acreditar que não é boa o suficiente para absolutamente nada e de que sem a sua mãe narcisista e a sua família disfuncional você é incapaz de conquistar algo positivo. Portanto, passará por um período de instabilidade emocional no qual se questionará se de fato tomou a decisão correta em cortar o contato com a matriarca transtornada. Este desconforto, embora difícil de tolerar, é uma reação típica de vítimas/sobreviventes de abuso pois tiveram a sua percepção corrompida ao longo de muitos anos de ataques verbais, manipulação psicológica e maltrato emocional. Nessas horas é vital relembrar-se do que motivou a sua decisão, e, se necessário, escrever uma lista contendo exemplos detalhados das inúmeras vezes em que foi torturada emocionalmente por uma mãe abusiva e negligente, assim como os efeitos físicos, psicológicos e emocionais resultantes deste relacionamento.

3- Você se sentirá acuada

A sua mãe narcisista embarcará em uma campanha difamatória contra a sua reputação assim que registrar a mensagem de que você está resoluta em cortar o contato definitivamente. Mobilizará parentes, conhecidos, amigos, ex-amigos, colegas, ex-colegas, namorado, ex-namorados, marido, ex-maridos e padres – basicamente qualquer contato disponível – como seus meninos de recados ou “macacos voadores” para persuadi-la de forma persistente e indireta a voltar atrás em sua decisão. Como nunca admite culpabilidade, pede desculpas ou perdão aberta e honestamente, usará de sua influência para denegri-la e acuá-la a se entregar ao seu controle novamente, pois perde grande parte de seu brilho sem o seu suprimento narcisista favorito. Diante de tamanha pressão, é normal que você se sinta acuada e até perseguida. Não desista. Lembre-se de que a sua saúde física, emocional e psicológica depende da sua determinação. Coragem! Com o tempo, a sua “rebeldia” se tornará história antiga ou até exemplo de sucesso pessoal.

4- Você se sentirá triste

Quando você corta o contato com a mãe narcisista dá início a um processo de luto pela mãe que nunca foi. Você finalmente registra, por meio de sua tristeza, que não tem nem nunca teve uma mãe de verdade. Essa verdade dói, e muito! Você se sentirá deprimida, sozinha e abandonada, como se fosse uma órfã. Novamente, conscientize-se de que este processo é normal e necessário para a recuperação da sua saúde física, psicológica e emocional. Embora seja um momento difícil, o período de luto não durará para sempre. Após uma média de três a seis meses sem contato com a mãe narcisista, a tendência é começar a curtir a independência e paz de espírito sem que se sinta cerceada pela culpa e vergonha. É claro que a sua vida não se tornará um mar de rosas automaticamente apenas por ter cortado contato, mas propiciará o espaço para se concentrar em si mesma e tratar os efeitos do trauma, medidas que a possibilitarão atingir um estado de congruência e contentamento pessoal até então nunca imaginado possível.

5- Você compreenderá a dimensão do problema

Sob a influência de uma mãe narcisista, a sua visão própria e de mundo se torna restrita ao seu comportamento transtornado e disfuncional. Você acredita ser seu dever de filha tolerar abuso, ser explorada e tratada como cidadã de terceira categoria, pois se vê forçada a se concentrar nos sentimentos dela, não somente por ter sido doutrinada a acreditar que são mais importantes, como também para proteger-se de sua ira. Quando se encontra finalmente sozinha e sem a sua interferência nefasta, passa a entender a extensão do prejuízo que a convivência com uma pessoa deste tipo lhe causou. Esta vítima/sobrevivente de abuso materno que possui a coragem de enfrentar a verdade narcisista, assumindo a sua realidade e cortando o contato com a origem, logo descobre a extensão do trauma que afetou a sua saúde psicológica e emocional. Quando se sente perdida, sem identidade e senso de direção, ou dominada por sentimentos antagônicos sem saber como controlá-los, percebe como grande parte da sua alma foi corrompida e o seu desenvolvimento foi retardado pelo relacionamento de dependência psicológica e emocional, forçada a manter com uma mãe egoísta e egocêntrica. Idealmente, quando este é o caso, eu recomendo a terapia como alternativa de apoio de primeira linha. Caso não disponha das condições financeiras para acessar este tipo de ajuda, é vital que invista em atitudes positivas com você mesma, como, por exemplo, buscar informação sobre o(s) seu(s) problema(s) e as maneiras saudáveis de abordá-lo(s) e resolvê-lo(s).

Cortar o contato com a mãe narcisista, apesar de ser uma tarefa difícil, permanece como o único meio de libertar-se de sua influência tóxica. Mesmo que não haja como evitar o já mencionado, tornar-se ciente dos problemas e desafios a serem enfrentados a ajudará a superar o seu desconforto emocional. Quando você entende ser normal sentir-se inadequada, insegura, triste e até impotente depois de cortar o contato com a mãe narcisista, fica mais fácil tolerar estas emoções antagônicas, já que fazem parte do repertório emocional e comportamental de filhas de mãe narcisista e demais vítimas/sobreviventes de abuso. Você não está sozinha, o que está acontecendo consigo é esperado em tais circunstâncias. Mantenha a sua cabeça erguida e fé em você mesma e no seu poder de decisão, pois é quem sabe o que é melhor para si.

O que é uma mãe abusiva?

mãe abusiva

É praticamente impossível manter um relacionamento harmonioso e funcional com uma mãe abusiva

Uma mãe abusiva é aquela que abusa da autoridade de mãe para subjugar os filhos. A mãe abusiva considera-se superior e acredita ter o direito de tratar os filhos de forma arbitrária por ser a mãe. É praticamente impossível manter um relacionamento harmonioso e funcional com uma mãe abusiva (Para compreender como os genitores tóxicos afetam a dinâmica dos relacionamentos familiares, recomendo a leitura do meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional), pois não respeita nem reconhece o valor dos filhos, tal como a sua individualidade, estágio de desenvolvimento e autonomia. Se você desconfia que a sua mãe seja abusiva, seguem as características mais típicas de uma mãe abusiva para ajudá-la a identificar e desmascarar as suas atitudes impróprias:

Não respeita os limites pessoais de seus filhos: invade sua privacidade, apropria-se do que não é seu e não aceita não como resposta.

É egoísta: só pensa em si mesma e não respeita os sentimentos, interesses, opiniões e vontades dos filhos.

Agride os filhos fisicamente: sempre tem uma justificativa “plausível” para descontar a raiva por meio de violência física.

É incapaz de amar os filhos de forma genuína: o seu “amor” e afeto são inteiramente condicionais.

Agride os filhos verbalmente: possui o hábito de criticar e humilhar os filhos de maneira sórdida e cruel.

É emocionalmente negligente: ignora, invalida, banaliza e até descarta os sentimentos dos filhos.

É incongruente: comporta-se de forma inversa aos seus supostos valores e ao que afirma acreditar.

É antagonista: nunca está satisfeita. Faz questão de exibir opiniões contrárias as dos filhos, quer sempre o que não está disponível ou o inverso do que está sendo oferecido.

É manipulativa: usa de agressividade passiva, chantagem emocional, ameaças, culpa e vergonha para punir e persuadir a todos a fazerem somente o que deseja.

Domina as conversações: precisa ser o centro das atenções, não respeita a vez dos outros de falar ou expressar opiniões e tem sempre a última palavra.

Está sempre certa: nunca admite erros de atitude e comportamento e, por isso, usa os filhos como bodes expiatórios. A “verdade” é de acordo com o que acredita e não corresponde necessariamente aos fatos.

Não pede desculpas: embora comporte-se de maneira abusiva e imprópria, não assume responsabilidade por nada do que diz ou faz, tampouco pelas consequências de seus atos. É sempre vítima de uma grande injustiça.

Não confia nos próprios filhos: age de maneira estranha em relação as suas capacidades, sejam no ramo profissional ou pessoal.  Trata-os como se fossem crianças, inexperientes ou incapazes de formular um julgamento independente, adulto e centrado.

Mente descaradamente: não hesita em usar da mentira para compelir os filhos a fazerem o que deseja. Além disso, mente para se proteger e se ausentar das responsabilidades de seus atos.

Projeta as suas inseguranças e defeitos nos filhos: ataca e culpa os filhos pelas suas próprias falhas e vulnerabilidades, seja de caráter, atitude ou comportamento.

É controladora: tudo em relação à família revolve ao redor de seus interesses. Faz o que pode, direta ou indiretamente, e por meio de triangulação para restringir a autonomia e o poder de decisão dos outros envolvidos.

É hostil: tem o hábito de provocar brigas e desentendimentos através de sua atitude fria e antagonista. É muito difícil de lidar e aturar a longo prazo.

É exploradora: acredita que seja obrigação dos filhos sacrificarem-se pelo seu bem-estar. Está sempre tentando tirar proveito de uma situação.

Comporta-se de maneira infantil: exibe comportamentos equivalentes aos de uma criança como se fosse filha e não mãe dos próprios filhos.

Enquanto toda mãe narcisista é abusiva, nem toda mãe abusiva é narcisista. Se você desconfia que a sua mãe seja narcisista, mas ainda não se sente segura, verifique se os seus traços de personalidade se encaixam no perfil da mãe narcisista contido aqui. Também recomendo a leitura do meu livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas para um estudo longo e detalhado do narcisismo materno e seus efeitos. Para um estudo avançado sobre os temas abuso e mãe abusiva, recomendo o meu curso online “O abuso e a negligência”. Neste curso, ofereço uma análise aprofundada das características da pessoa abusiva, exploro os sinais de abuso e negligência na filha de mãe narcisista e sugiro dicas para como lidar com o abuso e a negligência.

Como fazer o luto da mãe narcisista

fazer o luto da mãe narcisista

O luto faz parte da sua cura emocional

Você descobriu que a sua mãe é narcisista por meio de pesquisas na internet, já leu todos os artigos do filhasdemaesnarcisistas.com.br e o livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas e se tornou membro do grupo Apoio para Filhas de Mães Narcisistas, mas ainda se sente desolada em sua dor. Embora o seu intelecto compreenda perfeitamente que a sua mãe não é e nunca foi uma mãe de verdade, emocionalmente está sendo difícil lidar com esta perda. Como entender, tanto intelectual como emocionalmente, que a conexão biológica que você possui com a mulher que lhe deu à luz nunca se tornará afetiva e harmoniosa de fato? De que forma você poderá ajudar-se a aceitar esta verdade para que consiga viver uma vida de realizações e, principalmente, sem culpa?

Descobrir que a mãe é narcisista, ou seja, que você nunca será capaz de ser amada e respeitada pela própria mãe, equivale a uma imensa perda. Ter de se desfazer da fantasia do relacionamento afetivo com “a mãe bondosa e amorosa que ama os filhos igual e incondicionalmente” é doloroso. A filha de mãe narcisista que tem a coragem de enfrentar o que me refiro como “a verdade narcisista” sofre muito. Finalmente aceitar que o relacionamento com a própria mãe é uma farsa e que foi mantida estes anos todos não pelo amor e carinho associados com os relacionamentos normais entre mães e filhas, mas por intermédio de abuso, atitudes intolerantes e chantagem emocional  requer estamina. Devido à relevância deste evento, torna-se vital para a filha de mãe narcisista dedicar a mesma atenção ao luto da perda da mãe que nunca foi como se estivesse perdendo uma mãe de verdade. Para ajudá-la a lidar com este momento tão delicado e especial em sua vida, seguem seis dicas de como fazer o luto da mãe narcisista:

Processe a perda da mãe narcisista por completo

Vivenciar o luto da mãe narcisista não ocorre da noite para o dia, por isso, dê um tempo a si mesma para processar esta perda por completo. Segundo Elisabeth Kübler-Ross (1998), psiquiatra norte-americana e criadora do modelo dos cinco estágios do luto (negação e isolamento, raiva, negociação, depressão e aceitação), só conseguimos superar a dor de uma perda quando aprendemos a lidar com os sentimentos provocados por ela. Reprimir a sua angústia como se não tivesse propósito não fará com que ela simplesmente desapareça. O luto faz parte da sua cura emocional, portanto, sem luto não haverá bem-estar emocional. Você pode até adiar o momento de processar esta perda, mas nunca será capaz de evitar o processo por inteiro. No dia em que você menos esperar, aqueles sentimentos antagônicos que você se esforçou tanto em reprimir tomarão conta de você, desestabilizando-a por completo independentemente de onde e com quem você esteja. Abra o seu coração para a sua dor e lhe dê voz, seja conversando com uma amiga ou terapeuta empática, paciente e compreensiva; ou através da escrita, registrando o que você vê, pensa e sente. O luto tende a ser considerado normal na comunidade terapêutica quando não excede o período de um ano.

Permita-se sentir tristeza e raiva

Todas as nossas emoções têm seus papéis e implicações. A tristeza e a raiva são tão importantes para o nosso equilíbrio emocional quando a alegria e a felicidade. Eu não posso corrigir algo se não sou capaz de detectar o erro. No processo do luto, a tristeza e a raiva são emoções valiosas que a ajudam a processar a sua perda não somente no nível emocional, como também nos níveis psicológico e espiritual. Filhas de mãe narcisistas que não se permitem chorar e ficarem brabas quando fazem o luto da mãe narcisista tem mais dificuldades de se livrarem da culpa. Eu sei que uma cliente ainda não fez por completo o luto da mãe narcisista quando ainda se sente culpada por tudo de errado que acontece no seu relacionamento com a mãe. Se você não se dá tempo suficiente nem se permite realmente entender através do seu sofrimento que a sua mãe nunca teve nem terá uma conexão afetiva genuína com você, você se sentirá eternamente culpada toda a vez que o amor dela não se materializar. Ou você aceita que a sua mãe é narcisista e, portanto, é incapaz de amá-la, ou passará o resto da sua vida se martirizando por uma deficiência que não é sua.

Reveja crenças absolutas

Se você ainda acredita nas regras “Família é tudo” e “Toda mãe ama seus filhos”, o seu luto nunca será completo. Crenças inflexíveis e irrealistas deste tipo a mantêm presa à fantasia de que a sua mãe narcisista é uma mãe de verdade, que algum dia o seu relacionamento com ela melhorará e que você é incapaz de ser feliz sem a influência de uma mãe abusiva e família disfuncional. Tais ideias simplistas somente favorecem a culpa que você carrega. Família não é tudo, pois o amor independe de laço sanguíneo. Sobretudo, uma mãe narcisista e abusiva incapaz de amar, inclusive a si mesma. Se você está cansada de viver uma ilusão e deseja de fato fazer o luto da mãe narcisista por completo está na hora de reestruturar as suas crenças. Seja honesta consigo mesma, reconheça a complexidade da sua situação e abra o seu coração para a verdade narcisista.

Valorize os relacionamentos fora do ambiente familiar

Sentir-se confortável em expressar a sua tristeza e descontentamento com os membros de uma família disfuncional ou esperar que entendam o seu sofrimento tende a revelar-se como uma grande perda de tempo. Se a sua mãe é narcisista a sua família é disfuncional, ou seja, não funciona de maneira a contribuir com o seu crescimento e desenvolvimento pessoal (Para um estudo aprofundado do que é uma família disfuncional e os efeitos no desenvolvimento, recomendo a leitura do meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional). Qualquer tentativa sua de curar as suas feridas e evoluir emocionalmente provavelmente será rejeitada por eles, pois tendem a ser tão imaturos emocionalmente quanto a mãe ou a esposa/ex-mulher. Para que não se sinta envergonhada e ainda mais culpada por estar tentando processar esta perda de forma honesta e aberta, quando necessitar de companhia para compartilhar a sua dor recorra a amigos compreensivos e empáticos que aceitam a sua situação sem tentar “resolvê-la”, mas que toleram e respeitam o seu desconforto emocional sem insistir em diminui-lo a todos os custos.

Faça terapia

Fazer o luto da mãe narcisista é uma tarefa difícil. Filhas de mães narcisista costumam sentir-se imensamente solitárias e perdidas em sua dor, a ponto de acreditarem que não têm a quem recorrer para lidar com o próprio sofrimento de forma produtiva. Ninguém nos prepara para o luto ou para reconhecer a irracionalidade dos próprios pais. “Falar mal da mãe”, conversar a respeito de eventos traumáticos ou perdas emocionais ocorridas no ambiente familiar ainda é um assunto tabu. A tendência generalizada é evitar o tema, reagir de forma estoica e normalizar o sofrimento do outro com chavões do senso comum, atitudes e mensagens positivas demasiado rígidas que só tendem a invalidar a importância do luto e os sentimentos antagônicos que os acompanha. Eu recomendo muitíssimo a terapia para filhas de mãe narcisistas que precisam de apoio emocional para enfrentar os desafios desta etapa em suas jornadas. Uma terapeuta com experiência no tratamento do trauma, mães tóxicas e/ou relacionamentos disfuncionais pode auxiliá-la neste momento tão especial, fazendo com que se sinta aceita e em paz consigo mesma.

Aprenda a viver com a perda

Ninguém vem ao mundo como filha de mãe narcisista por opção, com certeza não foi uma escolha sua. Embora não seja capaz de apontar a mãe ideal, tenta lidar com a destruição do que para você sempre foi um grande sonho. Quando, enfim, você conseguir aceitar esta perda, encontre um lugar em seu coração para este vazio. Nas situações em que se sentir um pouquinho triste ou inadequada por não ter uma mãe verdadeira, permita-se acessá-lo, já que este buraquinho também faz parte de você. Conforte-se por ter tido a coragem de viver uma vida autêntica e celebre a pessoa que você é, inteira, afinal todos somos imperfeitos e vulneráveis.

Se necessita de ajuda para registrar a perda da “mãe” no sentido afetivo da palavra, recomendo o meu curso online, “Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica”. Neste curso, você aprenderá como reconectar-se com o corpo e fazer o luto da mãe narcisista de forma saudável.

Referencia:

Kübler-Ross, E. (1998). Sobre a morte e o morrer (8ª Ed.). São Paulo, SP: Martins Fontes.

Vivendo de aparências: a mãe de Facebook

A mãe de Facebook

A mãe narcisista usa o Facebook para se autopromover

Para quem vive de aparências, o Facebook é uma excelente ferramenta de propaganda. Em apenas um clique, é possível divulgar uma imagem idealizada de perfeição e sucesso pessoal. A mãe narcisista, mesmo que não entenda muito de informática, sabe muito bem como usar os meios de comunicação e socialização da internet para o autobenefício. Já que precisa alimentar a imagem de mãe perfeita e dedicada perante os outros, usa e abusa das redes sociais para este propósito. Em sua eterna campanha de autoengrandecimento, tem o hábito de recorrer ao ambiente virtual para promover as suas supostas qualidades pessoais, assim como alardear a sua “dedicação” maternal. Para quem não conhece ou se recusa a enxergar a verdadeira face narcisista por detrás de todo este teatro, a sua mãe narcisista, ou aquela que aparece nos sites de relacionamento, é o retrato – literalmente –  de figura materna atenciosa e devota aos filhos. A “mãe de Facebook” é aquela mãe narcisista/de mentira que usa a plataforma mais popular das redes sociais como veículo de manipulação das opiniões de parentes e amigos.

A imagem que a mãe narcisista se esmera tanto em projetar no Facebook é inversa da real, como em um espelho. Enquanto a mãe de Facebook é afetuosa e não poupa elogios às conquistas dos filhos, a mãe narcisista, entre quatro paredes e longe de plateia, é fria, rígida e tende a ignorar, rejeitar ou até invalidar tudo de bom que eles alcançam. A discrepância é tão grande que faz com que a filha se sinta invadida por uma mistura de sentimentos antagônicos tal como a raiva quando se depara com tamanha aberração. É exasperante ter de presenciar tamanha falsidade, seja direta ou indiretamente. Minhas clientes costumam relatar o efeito emocional massacrante de serem incluídas, mesmo sem desejo, no universo de mentiras das mães narcisistas. Inclusive quando conseguem cortar o contato definitivamente ou reduzir a influência que têm em suas vidas, sentem-se profundamente impotentes em relação ao seu comportamento transtornado, incoerente e desonesto que, infelizmente, é perpetuado livremente pela internet.

Vale relembrar que narcisista odeia perder o controle ou ser ignorado pelos outros. Se você está tentando diminuir ou cessar de vez o contato com a sua mãe narcisista para resgatar o controle de sua própria vida, a probabilidade é de que esta redobre o investimento de tempo e energia a fim de persuadir a todos de que está sendo tratada injustamente por uma filha egoísta e insensível para que você se sinta culpada e envergonhada dessa decisão e volte correndo para o papel de filha submissa e serviçal de seu ego gigantesco. Quanto maior for o seu comprometimento com a sua liberdade pessoal, maior será o esforço de sua mãe narcisista para reaver o controle sobre você. A personagem “mãe de Facebook” entra em cena precisamente nos momentos em que a mãe narcisista se sente vulnerável, intimidada e fragilizada pela atitude adulta, autônoma e autoconfiante da filha. Apesar de causar desgosto e raiva, a aparição da mãe de Facebook marca uma mudança dramaticamente positiva na dinâmica do relacionamento da mãe narcisista com a filha, em que a força e determinação da segunda começam a superar o poder das artimanhas e a pressuposta autoridade e superioridade da primeira.

Se você tem Facebook e ainda não bloqueou a sua mãe narcisista, recomendo muito fazê-lo. Se você a bloqueou, mas continua a receber notícias de suas publicações malucas por intermédio de parentes e amigos inconvenientes, está na hora de reforçar os seus limites pessoais. Deixe bem claro a todos, de forma polida e educada, que não tem interesse nenhum em saber o que a sua mãe narcisista anda comentando a seu respeito. Somente porque alguém tem intimidade com você, não significa que possa dizer e fazer o que quiser independentemente do impacto que seus atos tenham em você. Há várias maneiras adultas e delicadas de se dizer não a alguém, como “Tio/tia/vó/vô/primo/prima…, eu gosto muito de você e gostaria muito de bater um papo gostoso, mas sem envolver a minha mãe de forma nenhuma, direta ou indiretamente. Se você insistir, vou me sentir obrigada a desligar o telefone, o que eu sinceramente não quero fazer. Vamos mudar de assunto?” Não tolere desrespeito. Quem se recusar a respeitar o seu pedido pode ficar falando sozinho, pois você tem todo o direito de se recusar a ouvir a ladainha de quem for. Com o tempo, a sua persistência e autoconfiança comunicarão a mensagem de que não é mais uma criança indefesa e manipulável e que suas vontades também devem ser respeitadas.

5 atitudes típicas de pais facilitadores do narcisismo materno

Assim como “por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher”, por trás de uma mãe narcisista há sempre um pai facilitador do narcisismo materno. Mesmo que o relacionamento entre os pais já tenha acabado, a influência paterna representa um elemento essencial para a perpetuação do abuso narcisista que a mãe inflige ou infligiu aos filhos. Neste caso, o pai é considerado como “facilitador”, pois a dinâmica disfuncional de seu relacionamento com a mulher o impede de proteger os filhos contra essa influência nefasta. Isso se deve ao fato de que para criar um falso senso de harmonia com a esposa, o pai deve submeter-se completamente ao seu domínio. Como não corresponder às exigências do ego gigantesco narcisista tem grande potencial de colocar o seu relacionamento amoroso em risco, o pai acaba se tornando um agente coadjuvante do narcisismo materno, propiciando, ainda que indiretamente, que as vontades egoístas e a personalidade transtornada da esposa reinem absolutas no ambiente familiar.

Para ajudá-la a validar o seu sofrimento e identificar as maneiras com as quais o seu pai favorece ou favoreceu o narcisismo de sua mãe, seguem 5 atitudes típicas de pais facilitadores do narcisismo materno:

1- Venera a mãe narcisista

Ter um relacionamento com um narcisista só é possível por meio da anulação total da autonomia e individualidade, já que se equivale à pratica de um culto religioso. O marido aprende já no início do relacionamento que deve adorar e adular a parceira constantemente. É seu papel reverenciar as suas infinitas “qualidades” e relembrar a todos de seus “talentos” e “capacidades”.  A mãe narcisista, de acordo com a opinião do pai é, entre outros, inteligente, charmosa e merecedora de tratamento especial. Ao permitir-se convencer-se da suposta superioridade de sua parceira, o pai torna-se um dos aliados mais poderosos da matriarca ajudando-a a manipular a todos a acreditarem que é de fato seu dever servi-la.

2- Tem medo da mãe narcisista

pais facilitadores do narcisismo materno

A influência paterna representa um elemento essencial para a perpetuação do abuso narcisista

O pai facilitador está sempre pisando em ovos ao redor da mãe narcisista. Assim como a filha, vive com um receio profundo de contrariar a narcisista, pois o seu humor se altera radicalmente e com grande facilidade. Evita reconhecer as falhas e comportamentos impróprios da esposa para não desestabilizá-la emocionalmente, pois conhece o poder destruidor de sua ira. Além disso, recusa-se a reconhecer a existência de problemas familiares a fim de se autopreservar, já que tem plena ciência de onde se originam e das duras consequências de admiti-los abertamente.

3- Toma o lado da mãe narcisista

O pai facilitador – como todo acessório narcisista – é usado com sucesso no processo de triangulação. A mãe narcisista faz uso da chantagem emocional para manipular o marido a servir somente a seus interesses e costuma unir-se com ele contra o seu inimigo “em comum”, ou seja, os filhos que se opõem a segui-la. Por estar sempre carente da atenção e afeto da esposa, o pai facilitador se entrega ao charme narcisista para se sentir aceito e “amado” por ela, alimentando, como resultado, a desunião e a falta de funcionalidade familiar.

4-  Defende a mãe narcisista

Embora instintivamente saiba que o comportamento da esposa não é correto, o pai facilitador sempre tem uma justificativa para essa atitude transtornada. Sua preocupação central consiste não só em manter o relacionamento, bem como um falso senso de harmonia familiar e, por isso, protege a integridade da mãe narcisista colocando a culpa nos filhos. Como regra geral, se a mãe está de mau humor, irritada ou insatisfeita é porque os filhos fizeram algo de errado.

5- Minimiza o impacto negativo da mãe narcisista

O pai facilitador possui o hábito de se recusar a entender a gravidade da situação familiar até que algo muito ruim aconteça. Tende a normalizar o efeito nocivo da atitude narcisista da mãe no desenvolvimento e bem-estar psicológico e emocional de seus filhos com chavões do senso comum do tipo “ser mãe não é fácil”, diminuindo o valor de sua própria autoridade e aumentando o sentimento de impotência de todos. Acredita que quanto maior a sua capacidade de acobertar a irracionalidade da esposa com panos quentes, melhor será a sua chance de reduzir conflitos e garantir um mínimo de coesão entre os membros de sua família disfuncional.

Só há uma possibilidade do relacionamento entre o seu pai e a sua mãe narcisista não acabar em divórcio: o marido deve tornar-se escravo do ego gigantesco da esposa, funcionando como pai facilitador do narcisismo materno. Se o seu pai tem um problema de baixa autoestima – fato muito comum a parceiros e parceiras de narcisistas – há uma probabilidade muito grande de acreditar que não é digno de ser amado. Como não consegue amar-se incondicionalmente, nutre a crença negativa de que “para ter o direito” de ser amado pela mulher narcisista deve sacrificar-se de alguma forma. Essa dinâmica precede a sua existência de filha de mãe narcisista e pai facilitador, portanto, não cabe a você tentar resolver o problema deles, mas é vital que se concentre em seus próprios objetivos renunciando participar desta constelação narcisista e distanciando-se, definitivamente, dessa influência tóxica.

O que é uma mãe tóxica?

O termo “pais tóxicos” foi popularizado pela terapeuta norte-americana Susan Forward em seu best-seller internacional Toxic Parents, lançado no final dos anos oitenta.  Desde a sua publicação, o termo “toxic parent” ou “pai/mãe tóxico” tem sido amplamente usado como jargão psicoterápico para ilustrar um tipo de pai ou mãe deficiente e cujo comportamento exerce um impacto negativo significativo no desenvolvimento da criança. Como se fosse exposta a uma fonte insidiosa de veneno por um período prolongado, após anos sob a influência direta de um pai ou mãe tóxica, o filho ou filha acaba desenvolvendo problemas psicológicos e emocionais sérios como a depressão crônica, a falta de autoestima e amor-próprio, a dificuldade de estabelecer e manter relacionamentos e limites pessoais saudáveis e de se realizar no campo profissional, assim como transtornos de ansiedade, tal como o de estresse pós-traumático.

A seguir uma lista de exemplos de mães tóxicas para facilitar o seu entendimento sobre o termo:

Mãe inadequada/negligente: concentra-se exclusivamente em seus próprios problemas e faz os filhos responsáveis por seu bem-estar, tratando-os como adultos e não como crianças. O relacionamento entre mãe e filho/filha é marcado pela inversão de papéis em que o segundo age como pai ou mãe da primeira. Os sentimentos e carências dos filhos são ignorados, além dos interesses pessoais destes serem sistematicamente descartados.

Mãe controladora: usa de chantagem emocional para manipular o(a) filho/filha através da culpa e vergonha para conseguir o que quer em todas as situações. Além disso, faz uso de seu título de mãe/adulto responsável para justificar a sua atitude dominadora e sua obsessão em fazer com que todos sigam suas ordens, recomendações, “conselhos” ou “ajuda”, mesmo quando não requisitados ou incoerentes. O relacionamento é marcado pela desigualdade e invalidação da autonomia e dos limites pessoais dos filhos.

Mãe alcoólatra e/ou dependente de drogas: seu comportamento é errático e o humor incontrolável. Não dispõe de tempo ou energia para cuidar das necessidades básicas dos filhos e cumprir com os deveres de mãe e adulto responsável por seu bem-estar, seja físico ou psicológico/emocional. O relacionamento é marcado pela codependência, insegurança e períodos de altos e baixos.

Mãe que abusa do(a) filho/filha verbalmente: usa de palavras duras, criticas destrutivas, sarcasmo e agressividade passiva para desmoralizar, invalidar, ridicularizar e rejeitar os filhos para tirar-lhes o senso de identidade, autonomia, individualidade e autoconfiança. O relacionamento é marcado pela desarmonia, por discussões e desentendimentos constantes.

Mãe que abusa do(a) filho/filha fisicamente: é incapaz de controlar a sua frustação, descontentamento pessoal e raiva descontando-os com toda a força nos filhos por meio de agressão física, sempre os culpa por seus humores e atitude descontrolada. O relacionamento, portanto, é marcado pela instabilidade e governado pelo medo e ansiedade.

Mãe que abusa do(a) filho/filha sexualmente: é incapaz de controlar seus impulsos físicos e usa da confiança e pureza destes para servir aos seus interesses egoístas e desejos aberrantes. O relacionamento é marcado pelo medo, pela culpa e vergonha. A criança tem sua autoconfiança, limites pessoais e senso de autoimagem destruídos por esta relação incestuosa.

Embora nem todas as mães tóxicas sejam narcisistas, toda a mãe narcisista é tóxica, podendo exibir mais do que um ou até todos os comportamentos listados. Mesmo que você não tenha certeza de que sua mãe possua um transtorno de personalidade como o narcisismo, se vocês têm problemas sérios de relacionamento, a probabilidade de que ela seja, no mínimo, tóxica é muito grande. Para que você supere o legado deste relacionamento e restaure a sua saúde mental, eu recomendo um tratamento psicoterápico.

Referência:

Forward, S. (1989). Toxic Parents. New York, NY: Bantam Books.

O que é uma mãe tóxica

A mãe tóxica exerce um impacto negativo no desenvolvimento da criança

20 comportamentos de quem pratica o abuso psicológico/emocional

20 comportamentos de quem pratica o abuso psicológico/emocional

Aprenda como identificar atitudes abusivas

Por ser tão nocivo quanto o abuso de ordem física (ex.: abuso sexual, agressão física, violência doméstica), é extremamente importante que filhas de mães narcisistas entendam como o abuso psicológico/emocional ocorre na prática. Embora seja frequentemente ignorado e incompreendido devido a sua natureza abstrata e insidiosa, o abuso do tipo psicológico/emocional deixa marcas profundas em suas vítimas. É comum os sofredores deste tipo de abuso desenvolverem problemas crônicos de ansiedade, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), assim como a depressão e a baixa autoestima. O primeiro passo para se proteger contra o abuso psicológico/emocional é saber reconhecê-lo no dia-a-dia, pois, no contexto do narcisismo, ocorre – em sua esmagadora maioria – dentro de quatro paredes, no ambiente familiar e longe de plateia.  Para que você aprenda como identificar atitudes abusivas e reforce o seu poder de julgamento, seguem 20 comportamentos de quem pratica o abuso psicológico/emocional:

1- Usa de palavras duras e recriminadoras para fazer com que o outro se sinta pequeno, inadequado e/ou rejeitado enquanto se sente superior e de bem consigo mesmo.

2- Faz chantagem emocional para manipular os outros provocando-lhes vergonha e culpa para conseguir o que quer – sempre.

3- Recusa-se a reconhecer os limites pessoais dos outros para fazer somente o que favorece a si mesmo.

4- Embora seja afável na frente de outras pessoas para passar uma imagem de controle e maturidade, dentro de quatro paredes toma atitudes extremas, infantis e abusivas.

5- Faz promessas que nunca se tornam realidade – consciente de que não tem intenção alguma de cumpri-las – somente para isentar-se temporariamente de certas responsabilidades.

6- Invalida e/ou ignora sentimentos antagônicos nas outras pessoas quando resultantes de seus atos para que os erros e a falta de caráter não sejam reconhecidos.

7- Ignora a individualidade das outras pessoas e impõe vontades, gostos e preferências independente do impacto negativo causado nas autoestimas destas, para que somente seus interesses sejam atendidos.

8- Desconta as frustações pessoais nos outros e os culpa por suas falhas e, desse modo, exime-se de qualquer responsabilidade.

9- Usa da bondade, inocência e amor incondicional daqueles que dependem de si ou com quem tenha um relacionamento afetivo para manipulá-los a fazer somente o que beneficia a si próprio.

10- Trivializa a natureza dos comportamentos abusivos, como ataques verbais e o uso indiscriminado de mentiras como se fossem aceitáveis, sem importância ou inconsequentes.

11- Faz com que os outros se sintam isolados afetivamente, ignorando-lhes os estados psicológicos e emocionais para que se concentrem apenas em suas carências individuais.

12- Não reconhece a validade das ideias e opiniões dos outros – mesmo quando tem plena ciência de serem de fato úteis – para que somente seus pensamentos sejam considerados relevantes.

13- Mascara a frustração, a inveja ou o descontentamento pessoal por meio do sarcasmo, comentários afetados ou de duplo significado para atacar os outros de maneira não evidente, desestabilizando-os por completo para sentir-se superior e no controle (agressividade passiva e bullying).

14- Tem um ataque de nervos ou alimenta uma ira profunda quando as suas vontades não são atendidas para que todos se vejam forçados a fazer somente o que deseja.

15- Mente descaradamente e nega o que diz para que a sua atitude nunca seja julgada, mantendo uma posição privilegiada e evitando ser questionada.

16-  Usa títulos ou denominações de laços afetivo ou sanguíneo (pai, mãe, marido, esposa, filho, filha, namorado(a), chefe, parente, amigo(a), professor(a), padre etc.)  para justificar comportamentos abusivos, como se isso conferisse ao indivíduo o livre direito de agir de forma imprópria.

17- Não concede ao outro a oportunidade de expressar sentimentos ou pensamentos para se manter no centro das atenções.

18- Apropria-se de bens materiais e/ou financeiros sem consultar ou considerar as opiniões dos diretamente envolvidos para exercer controle absoluto sobre estes.

19- Trata o outro como uma extensão de si mesmo e critica ou rejeita tudo que confere a esta pessoa um senso de identidade própria, autonomia e individualidade para que esta se sinta eternamente inferior, subjugada e dependente.

20- Recusa-se a conversar com os outros e mantém-se em silêncio quando suas vontades não são atendidas para fazê-los se sentirem impotentes e compeli-los a se conformarem com os seus desejos e suas expectativas para serem aceitos.

Como filha de mãe narcisista, você cresceu e se desenvolveu em um ambiente familiar disfuncional e turbulento, característico dos contextos de abuso psicológico/emocional. Enfrentar esta verdade demanda coragem, reconhecê-la requer ação. A melhor maneira de lidar com o abuso, seja da natureza que for, é reduzir ou cortar definitivamente o contato com quem o pratica, ou seja, a sua mãe narcisista – a principal fonte supridora de estresse e descontentamento em sua vida. Para ajudá-la a libertar-se desta influência, eu recomendo o meu livro, Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas. Para um estudo avançado sobre os temas abuso e mãe abusiva, recomendo o meu curso online, “O abuso e a negligência”. Neste curso, ofereço uma análise aprofundada das características da pessoa abusiva, exploro os sinais de abuso e negligência na filha de mãe narcisista e sugiro dicas para como lidar com o abuso e a negligência.

5 táticas narcisistas para manter a ilusão da família perfeita

Para que a mãe narcisista passe a imagem de perfeição em todos os setores de sua vida, faz-se vital que brilhe também no seu papel de mãe. Vale destacar o termo “papel”, visto que a maternidade, para a narcisista, não passa de uma encenação desprovida de qualquer significado afetivo. Ainda que a união e a funcionalidade do sistema familiar estejam longe de refletirem a verdadeira prioridade da matriarca narcisista, esta nunca se abstém de dedicar grande energia em criar e manter a ilusão da família perfeita, para que tudo, absolutamente tudo referente a sua pessoa exale uma aura de excelência irrefutável.

As filhas de mães narcisistas, assim como qualquer membro da constelação narcisista, comumente demonstram-se cientes, mesmo que não abertamente, de que fazem parte de um sistema familiar caótico, incoerente e disfuncional. Também sabem, por intuição e desde pequenas que, em vez de sentirem-se incluídas e valorizadas por este suposto núcleo, sentem-se eternamente rejeitadas pela total falta de afeto de quem supostamente as ama de maneira genuína e incondicional. Se você está cansada de funcionar como atriz coadjuvante em mais uma pantomina narcisista, mas ainda se sente receosa de confiar em sua intuição, aqui estão as dicas que você estava esperando.

Seguem 5 táticas narcisistas para manter a ilusão da família perfeita:

1- Segredos

Embora o convívio com a narcisista revele-se extremamente difícil e seja marcado por desentendimentos, os únicos que têm conhecimento do que realmente ocorre debaixo do teto narcisista são os diretamente envolvidos. Diante de outras pessoas, no entanto, a mãe narcisista representa o retrato ideal de mãe amável e dedicada, pois nada pode danificar sua imagem de sucesso pessoal. Tudo que considera abaixo de seu patamar altíssimo de qualidade, como histórias complicadas de laços familiares (filhos de relacionamentos passados com os quais não tem intimidade alguma; parentes com doença mental, alcoólatras ou considerados “bastardos” (não reconhecidos); infidelidade; escândalos de ordem financeira, como problemas de herança ou monopólio indevido/roubo de dinheiro etc.) são cuidadosamente protegidas da curiosidade alheia. Informação que só sirva para “sujar o seu nome”, segundo a visão da mãe narcisista, não é compartilhada nem com quem convive diretamente, como filhos e parceiro amoroso.

2- Negligência emocional

Para que a mãe narcisista mantenha a falsa pretensa de que sua família é “perfeitamente normal”, qualquer sentimento que não a favoreça ou complemente esta ideia é ignorado ou invalidado por completo. Sentimentos antagônicos intensos como a ansiedade, insatisfação e a raiva, por exemplo, tendem a ser desconsiderados ou minimizados, pois se reconhecidos comprometem a validade da autoridade e soberania narcisista. Por meio de chavões do tipo “Homem não chora”, “Não adianta chorar”, “Eu só quero o melhor pra você” ou “É feio ter raiva da própria mãe”, a mãe narcisista move o foco do sofrimento dos filhos para longe de si mesma, distanciando-se da raiz de seus problemas. Quanto menor seu envolvimento com o estado emocional de quem a rodeia, menor sua responsabilidade para com este. Melhor se torna o quadro da família exemplar, aquele formado exclusivamente por membros “felizes” e “realizados” e sem qualquer “anormalidade” (tal como transtornos de personalidade ou outra doença mental como a depressão ou transtornos de ansiedade, dificuldade de aprendizado ou concentração etc.).

5 táticas narcisistas para manter a ilusão da família perfeita

A mãe narcisista faz o que pode para manter a ilusão da família perfeita

3- Negação de problemas

Apesar dos filhos sentirem-se rejeitados, sofrerem com a negligência afetiva e emocional ou acabem por apresentar problemas de desenvolvimento como resultado direto de sua nefasta influência, a mãe narcisista nunca admite nenhuma responsabilidade por qualquer tipo de problema relacionado a sua família. Se algo acontece de errado, a culpa com certeza não é dela. Sempre há uma explicação coerente e plausível para justificar a “incapacidade” de seus familiares. Evidentemente a justificativa é orquestrada para eximi-la – sempre – de qualquer dano causado a outrem. Se os filhos sofrem com a depressão ou ansiedade, desenvolvem vícios ou não conseguem se realizar pessoal, acadêmica ou profissionalmente é porque são de fato “fracos”. Quando se sente ameaçada, faz livre uso de lugares-comuns para ilustrar seus “comportamentos impróprios”, tal como “Eles nunca me ouvem” ou “Adolescente é difícil”, assim como pérolas do tipo “Eu nunca me comportei assim com meus pais”.  A mensagem é invariavelmente a mesma: “Tô fora!”.

4-Triangulação

Caso um drama familiar assuma proporções negativas que excedam a capacidade de acobertamento da mãe narcisista, a triangulação torna-se sua arma de contra-ataque. Para continuar a emanar a aparência de mãe perfeita da família perfeita, a mãe narcisista coloca uns membros contra os outros, mas a favor dela. A triangulação consiste, portanto, em uma tática astuta e sofisticada que usa da carência afetiva de filhos ou parceiros amorosos contra si mesmos para que, como já sabemos, a narcisista preserve seu status privilegiado. Nesta batalha contra o inimigo da “harmonia” familiar narcisista, vale tudo. Seja a combinação que for, mãe narcisista e filha contra filho, mãe narcisista e marido contra filhos ou mãe narcisista e filhos contra marido, a mãe narcisista se mantém vencedora enquanto aquele que ousa ameaçar a glória de seu reinado, pela razão que for, é excluído do ciclo de ouro materno.

5- Aparências

O teatro narcisista desconhece limites. Com a finalidade de destacar o mérito de sua posição e difundir seu suposto sucesso no âmbito familiar, a mãe narcisista usa seus dotes artísticos para veicular a figura de ícone maternal. Quando em público é inusitadamente afável e atenta às necessidades dos filhos e até “se emociona” em momentos de celebração de suas conquistas. Esta atitude, obviamente, é programada não só para causar um efeito marcante nos espectadores, bem como para alardear as habilidades dos filhos e aniquilar a “concorrência”, o que nunca acontece quando longe de plateia. O caráter inescrupuloso combinado com a vaidade e a arrogância da mãe narcisista tornam-se desconcertantes para os filhos, expostos, desde pequenos, a uma realidade repleta de contradições. Mas como o que sentem não é considerado importante, resignam-se a sua irracionalidade conformando-se com as expectativas da mãe transtornada, ou seja, comportam-se de forma irrepreensível inclusive quando se sentem destruídos emocionalmente. Tudo, é claro, em nome das aparências.

Pertencer a uma família regida pela tirania narcisista não precisa equivaler a uma sentença de prisão. Você tem todo o direito de quebrar o vínculo com relacionamentos familiares tóxicos. Para saber como dar um fim ao ciclo do abuso narcisista, eu recomendo muito o meu livro, Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas

É normal não amar a própria mãe?

Refletindo a respeito do narcisismo e do abuso sofrido, sentindo-se repleta de raiva de sua mãe, você conclui que o amor que, até então, nutria não existe mais. Sentindo-se inadequada e culpada pela escassez de afeto por quem a pôs no mundo, você se pergunta: “É normal não amar a própria mãe?

A resposta, decerto, é um grande e rotundo “SIM!”.

Quando bebê, você é programada para amar a mãe ou o adulto responsável por seus cuidados. Nos primeiros anos de vida, o amor que você sente por quem cuida é automático, pois consiste em um fator biológico. Este amor de natureza orgânica assegura o seu desenvolvimento e o sucesso de nossa espécie, já que nascemos totalmente frágeis e vulneráveis a um grande número de perigos e, precisamos, portanto, do cuidado e da proteção de um adulto.

Ao longo de nosso crescimento, passamos por vários estágios de desenvolvimento e aprendizado. Devido à influência de nossa cultura, religião e sabedoria popular, o significado do conceito “mãe”, como muitos outros, torna-se rígido. Você passa a acreditar que “mãe” significa “amor”.

Logo, na sua cabeça…

MÃE = AMOR

Esse conhecimento é adquirido e sedimentado de forma arbitrária. Questionar a validade desta crença em um país predominantemente católico como o Brasil, é como cuspir na cara da Virgem Maria. Mesmo que isto não reflita a sua realidade, você, no entanto, fica proibida de contrariar esta premissa, pois de uma mãe só se espera o bem. Toda mãe ama seus filhos, portanto, é seu dever honrá-la.

Crescer com esta falsa verdade tem um impacto de peso na saúde psicológica e emocional da filha de mãe narcisista. A contrariedade entre teoria e prática é tão grande, que acaba por se sentir como uma eterna farsa. Com a sua essência altamente abalada por não se encaixar no molde, a filha de mãe narcisista chega à idade adulta com um grande ponto de interrogação estampado na sua autoestima:

Por que a minha mãe não me ama?

O que há de errado comigo?

Por que ela me trata tão mal, me rejeita e me ataca verbalmente, quando tudo o que faço é amá-la e tratá-la bem?

O que eu fiz para merecer isso?

É normal não amar a própria mãe?

Não sentir amor por uma mãe narcisista e abusiva é perfeitamente normal

Estas e muitas outras perguntas nunca são respondidas e você amadurece sentindo-se insegura e perdida. Com o passar do tempo, a sua angústia se cristaliza transformando-se em uma permanente ansiedade que, por sua vez, torna-se uma característica fixa de sua personalidade.

Um belo dia você se dá de cara com a verdade narcisista. Você descobre que o problema da sua mãe tem nome: transtorno de personalidade narcisista. Tudo começa a fazer sentido e fica difícil de ignorar os fatos: não há nada de errado com você, mas há algo de muito errado com a sua mãe. A sua mãe é diferente.

No caso dela…

MÃE NARCISISTA ˃ AMOR

…ou seja, quanto mais narcisista menor a capacidade dela de nutrir amor genuíno por você.

Você se dá conta de que o suposto “amor” que até então mantinha vocês pretensamente unidas não passa de uma ilusão. Você compreende que este amor de mentira é como uma avenida de mão única na qual você passa a vida caminhando, sempre em frente na direção de sua mãe narcisista sem nunca alcançá-la.

Como você não é mais uma criança inexperiente e despreparada, enfim, compreende que alimentar este amor de mentira está lhe deixando doente. Por outro lado, você se sente forte e madura o suficiente para confrontar a noção de que laço sanguíneo se iguala a amor. Você entende que não é só porque ela a pôs no mundo que de fato a queira, respeite ou ame.

Pouco a pouco, você começa a restaurar a sua dignidade. Movida por uma intensa raiva de ter sido tão traída e injustiçada por tudo e por todos – tanto por quem a devia ter protegido, como por uma cultura absolutista e matriarcal que glorifica o papel da mãe enquanto negligencia o bem-estar da criança, promovendo a pressuposta superioridade da primeira, inadvertidamente e em todos os contextos familiares, criando as condições perfeitas para a prática e a manutenção do abuso.

Devido ao fato de você ter o mínimo de amor-próprio, você refuta a validade de uma dedicação cega. Das profundezas de uma autoestima destroçada, você se reergue. É neste preciso momento de reivindicação de sua própria alma que você reconhece que o “amor” antes sentido desvaneceu-se. “É normal não amar a própria mãe?”, você pergunta.

A resposta, é claro, é um grande, rotundo “SIM!”.

Se necessita de ajuda para registrar a perda da “mãe” no sentido afetivo da palavra, recomendo o meu curso online, “Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica”. Neste curso, você aprenderá como reconectar-se com o corpo e a fazer o luto da mãe narcisista de forma saudável.

Como dizer não a sua mãe narcisista

Como dizer não a sua mãe narcisista

Dizer não a uma mãe narcisista requer estâmina e determinação

Se você acha difícil dizer não a sua mãe narcisista, você não está sozinha. Narcisistas se recusam a respeitar os limites pessoais e acreditam que aqueles com quem convivem devem comportar-se como serviçais de seu ego gigantesco. Em vista disso, dizer não a uma narcisista requer estâmina e determinação. Como é imprescindível que você aprenda a dizer não para proteger seus limites pessoais assim como sua autoestima, individualidade e autonomia, seguem 6 estratégias para ajudá-la a dizer não a sua mãe narcisista.

Como dizer não a sua mãe narcisista:

1- Diga “não” de formas variadas

Negar uma oferta, convite ou pedido de ajuda, por exemplo, não precisa ser feito de maneira ríspida. Há várias formas de se recusar a fazer algo que não se deseja objetivamente e com polidez. Um tom centrado e imparcial comunica convicção e uma atitude adulta. Se você não sabe o que dizer quando pressionada por sua mãe narcisista e a se conformar com o que ela estiver propondo, as frases abaixo podem ajudá-la:

“Não estou com vontade”

“Não estou disposta”

“Isso não é o que planejei para mim”

“Isso não é o que eu quero”

“Não é isso que eu quero para mim”

“Prefiro seguir o/a(s) meu/minha(s) plano(s)/vontade(s)/sentimento(s)”

“Não é minha prioridade”

“Este não é o meu estilo”

“Não está nos meus planos”

“Este plano não fui eu quem fez”

“Este plano não é meu”

“Esta opção não me agrada”

“Não posso, preciso me concentrar nos meus afazeres/planos”

“Quero priorizar o que tenho para fazer”

2- Não peça desculpas

Quando você se des-culpa para uma mãe narcisista, você assume responsabilidade por problemas que não são seus. Vale reiterar que a sua mãe ou o que ela quer não é incumbência sua. Assim como você, ela já tem idade e experiência necessárias para responsabilizar-se por seu próprio bem-estar.

3- Repita a sua resposta

Uma das qualidades essenciais de um bom negociador é a resistência, ou seja, a capacidade de fazer valer a sua posição, independente dos humores ou interesses dos envolvidos na negociação. Como filha de uma narcisista, você tende a fazer o oposto disso, em vez de resistir às tentativas de sua mãe de manipulá-la, acaba cedendo. Para romper com este hábito, passe a reiterar sua posição repetindo sua resposta ou intercalando-a com as sugestões citadas, pelo tempo que for necessário.

4- Não se deixe levar por dramas

A mãe narcisista não perde a batalha sem uma luta sanguinária. Se ela quer algo de você, usará de toda arma possível para extrair uma resposta positiva: choramingo, chantagem emocional, acusações a sua pessoa etc. É neste instante que a dissociação torna-se a sua melhor amiga. Assim que a sua mãe narcisista começar a dramatizar, concentre-se em um ponto (objeto, cena, paisagem) e passe a analisá-lo detalhadamente em sua mente enquanto ela encena seu teatro, não reaja a provocações, agressividade passiva ou emoções antagônicas fortes. Quando ela terminar, repita a sua resposta de maneira calma e centrada.

5- Não dê explicação

Você tem todo o direito de dizer “não” a sua mãe narcisista ou a quem quer que seja. Você não deve explicação, pois é adulta o suficiente para saber o que é melhor para si. Justificativa é cortesia e não obrigação. Cada um é responsável por seus sentimentos, vontades e escolhas, por isso, não é seu dever sentir-se culpada pela frustação proveniente de ideias que não são suas. Você não veio ao mundo para servir aos interesses dos outros, seja pai, mãe, amigo(a), chefe, marido, filho(a) ou parente, mas para viver a vida de acordo com o seu pensamento. Só você se conhece bem o suficiente para saber a sua resposta certa, se é “não” é não. Ponto.

6- Mude de assunto

Se após repetir suas respostas intercalando-as com as opções mencionadas por um período prolongado e a sua mãe narcisista ainda estiver insistindo em convencê-la a fazer o que deseja, mude de assunto. Converse sobre algo totalmente diferente do que ela está falando, para tornar difícil o retorno ao tópico anterior. A intenção é passar a mensagem de que você não está disposta a concordar com ela – definitivamente – e que “a vida continua”, ou seja, há outros eventos acontecendo na sua e até na vida dela que também merecem atenção.

O diálogo a seguir contém as estratégias explicadas. Observe como elas são aplicadas na conversação entre uma mãe narcisista (MN) e sua filha (F):

(No telefone)

MN: Lembra da Juca?

F: Lembro.

MN: Hoje é aniversário dela. Eu queria muito ir, mas o meu carro na oficina. Ela gosta tanto de você… A gente poderia ir juntas no seu carro…

F: Não estou com vontade.

MN: Mas hoje é o aniversário dela e ela mora superlonge e eu não tenho como ir!

F: Não estou disposta.

MN: Que é isso minha filha!… Você doente?

F: Não. Não estou disposta.

MN: Se você não está doente, então, por que não pode me levar? Você não precisa ficar na festa, só me dar carona.

F: Não está nos meus planos.

MN: Mas você pode fazer o que quiser, só me deixa na casa da Juca e vai embora. Não estou pedindo muito! Você nunca faz nada pra mim…

F: Prefiro não ir.

MN: Que egoísmo! Você só pensa em si mesma, não é capaz de ajudar nem a própria mãe, quando tudo que eu faço… blá, blá, blá…

F: (Não entra no clima de drama da mãe e permanece em silêncio, enquanto remove casquinha de esmalte das unhas e faz planos para a próxima manicure).

MN: Alô?

F: Hum.

MN: Então, você vai me levar?

F: Não posso, preciso me concentrar nos meus afazeres.

MN: Que afazeres?

F: Prefiro cuidar dos meus planos (F mantém tom de voz calmo e centrado)

MN: Que planos? (Em tom sarcástico)

F: Meus planos, coisas que tenho para fazer (F mantém o mesmo tom de voz, calmo e centrado)

MN: Mas o que é tão importante que você não pode me ajudar? (Em tom de voz alto e irritadiço)

F: Meus planos, coisas que tenho para fazer (F mantém o mesmo tom de voz, calmo e centrado). Te contei que esta semana encontrei com a Lena, aquela amiga minha que se mudou para o Uruguai há dois anos? Ela…blá blá blá…

Dizer não a sua mãe narcisista exige dedicação e esforço de sua parte, mas é extremamente recompensador quando consegue. Nada lhe dará tamanha satisfação do que sentir-se em controle de si mesma e dona de sua própria vontade, e não como uma marionete à mercê dos interesses narcisistas. Se no princípio sentir-se insegura e culpada, em vez de se concentrar nestes sentimentos, congratule-se por sua coragem. A tendência é de que com o tempo dizer não a sua mãe narcisista se tornará um ato mais natural e automático. Para garantir seu sucesso, persistência, amor-próprio e complacência são essenciais. Não se recrimine quando não conseguir dizer não tampouco quando a culpa tentar minar o seu entusiasmo quando realizá-lo. Aja como sua melhor amiga consolando a si mesma e reconhecendo o valor de seu empenho.

A ascensão e a queda da filha-mártir

O desenvolvimento emocional da filha de mãe narcisista tende a ser um processo longo e repleto de altos e baixos. Por possuir uma mãe extremamente egoísta e egocêntrica, é condicionada a acreditar que somente os interesses desta devam prevalecer. Já criança aprende que suas vontades não são atendidas se forem diferentes dos desejos da mãe. Na adolescência, mesmo quando se arrisca a revoltar-se contra a injustiça e o abuso sofridos exibindo um comportamento problemático, seus atos não causam impacto suficiente para que a mãe remova o foco de si mesma para as necessidades e carências da filha. Na idade adulta e já cansada de lutar uma batalha perdida contra o narcisismo materno, entrega-se a ele sacrificando a si mesma no processo.

A sensação de impotência em face do narcisismo materno faz com que a filha de mãe narcisista sinta-se ainda mais insignificante. Se não está preparada a implementar mudanças radicais na dinâmica do relacionamento com a mãe ou a cortá-la de sua vida definitivamente, cria uma falsa ilusão de controle renunciando de seus sentimentos para concentrar-se exclusivamente no bem-estar da família, sobretudo da mãe.

Este momento de intensa insatisfação pessoal e confusão mental marca a ascensão da filha-mártir.

A filha de mãe narcisista, quando no papel de filha-mártir, é aquela que se desdobra em duas para atender os interesses de todos. A filha-mártir deixa de se concentrar no que quer para si, em seus sonhos e objetivos, para garantir a felicidade da mãe ou tornar-se sua versão de “filha perfeita” (serviçal, submissa e irrelevante) para ser “amada” e aceita por ela. Está sempre mudando de planos e postergando decisões importantes para resolver dramas que não são seus, enquanto usa a sabedoria popular do senso comum para sustentar e defender sua atitude incoerente, assim como absolutos de aplicação moral, ética e religiosa para valorizar seu sofrimento. Tudo, é claro, sem receber nenhum reconhecimento por seus esforços e com um sorriso de quem está “sempre pronta” para se entregar de corpo e alma ao próximo sem perder a elegância.

Neste processo de falso autoengrandecimento, também conta com a ajuda de amigos e parentes e, sobretudo, de uma cultura patriarcal e machista que concede a responsabilidade dos pais como dever vitalício dos filhos, independente de como sejam tratados ou do efeito que tal incumbência exerça em suas vidas e em seu bem-estar. Se religiosa, a filha-mártir se refugia na Bíblia e na imagem de Jesus Cristo crucificado como inspiração de seu martírio pessoal. Sentindo-se orgulhosa e magnânima, a ilusão de que é de fato relevante produz certa euforia da qual se torna dependente para criar um aparente senso de autoestima e amor-próprio.

É precisamente no ápice de sua autoalienação que a filha-mártir dá início a sua queda. Em um piscar de olhos é como se estivesse no topo de uma montanha-russa e, em seguida, descendo com força total ao encontro de sua própria destruição. Mesmo que tenha um grande talento para escamotear sentimentos antagônicos e alimentar sua imagem de fortaleza, seus recursos emocionais não são infinitos. Após um longo período de negligência pessoal, torna-se, entre outros, deprimida, ansiosa, irritadiça, estafada, insatisfeita, impaciente e infeliz; ou acaba na emergência de hospital por causa de um ataque de pânico, esbaforida, entontecida ou com sintomas de arritmia cardíaca; ou em um consultório médico reclamando de enxaquecas, complicações de ordem intestinal, dores de estômago, musculares ou das costas, com queda de cabelo, insônia, fatiga; ou em um consultório psiquiátrico atrás de uma cura milagrosa (prozac, celexa, zoloft, paxil, lexapro) para sua falta de entusiasmo pela vida ou na sala de terapia para entender o porquê de sua indisposição “repentina”.

filha-mártir

É no ápice de sua auto alienação que a filha-mártir dá início a sua queda

Invalidar a importância de sua essência como de seus próprios sentimentos para assegurar uma harmonia fictícia com uma mãe narcisista não é uma demonstração de amor, mas um ato de autossabotagem. Relacionamentos saudáveis não a fazem se sentir usada, vazia nem exaurida. O amor verdadeiro não requer abnegação nem recusa pessoal, mas incentiva e realça seus atributos naturais fazendo-a sentir-se aceita, inteira e a valoriza pelo que você é e não pelo que pode proporcionar.

Filha-mártir ou presa de mais uma armadilha narcisista?

Como você compensa as deficiências da mãe narcisista

A filha compensa as deficiências da mãe narcisista de diversas formas, assim como filhos de pais com doença mental ou que possuem um transtorno de personalidade, e, por isso, tende a desenvolver mecanismos para lidar com o comportamento irregular e muitas vezes impróprio da mãe. Como esta reação é automática e na maioria das vezes inconsciente, a filha de mãe narcisista só percebe o impacto real desta tendência quando profundamente entremeada com o problema da mãe, sentindo-se perdida e desconectada de si mesma.

Para ajudá-la a entender este processo e a identificar as atitudes que favorecem esta dinâmica e minam o seu crescimento pessoal, seguem 5 estratégias de como você compensa as deficiências da mãe narcisista:

1- Atua como objeto regulador dos estados psicológico e emocional da mãe

Devido ao fato de a mãe narcisista ser incapaz de se autorregular emocionalmente e de forma independente, usa os estímulos à sua volta para “controlar” seus humores. Ao contrário do que é observado nos relacionamentos entre mãe e filha em contextos familiares sem a presença de um transtorno de personalidade como o narcisismo, a filha acaba agindo de forma a compensar o déficit psicológico da mãe. Nas situações em que a mãe narcisista se vê dominada pela raiva e a insatisfação, por exemplo, a filha ignora suas próprias necessidades, afazeres e objetivos para concentrar-se no bem-estar da mãe. Faz tudo para agradá-la e remediar seu sofrimento para que, somente então, consiga dedicar-se a si mesma, o que acaba raramente acontecendo da maneira como gostaria.

2- Torna-se mãe da própria mãe

compensa as deficiências da mãe narcisista

A troca de papéis entre mãe e filha é extremamente comum no relacionamento entre filha e mãe narcisista.

Em face da imaturidade da mãe narcisista, cabe à filha tornar-se responsável não apenas por si mesma, mas também pela própria mãe. A troca de papéis entre mãe e filha é extremamente comum neste relacionamento, visto que esta frequentemente se encontra na posição de “adulto” e não de criança, sendo exposta prematuramente a problemas não condizentes com seu nível de desenvolvimento. A mãe narcisista deliberadamente envolve os filhos em discussões e dilemas que não são seus. Em vez de poupar a filha de seu eterno drama e depressão crônica, extravasa suas insatisfações livremente dentro do ambiente familiar independente de sua natureza, de maneira a manter a atenção em si mesma como se fosse criança e merecedora de tratamento especial. Este comportando – egoísta e infantil – exerce grande impacto na filha, que acuada por tamanha incoerência, vê-se forçada a apoiar e a atender ao desafeto da mãe para salvaguardar o equilíbrio do sistema familiar.

3- Torna-se invisível

Para se preservar dos ataques gratuitos de ira da mãe, a filha de mãe narcisista faz o que pode para se tornar imperceptível. Como medida adaptativa, mantém um perfil discreto e comedido dentro do ambiente familiar para se esquivar de ser tratada de maneira abusiva. Desde cedo, evita cruzar o caminho da mãe sempre que possível, tornando-se rapidamente independente de seu cuidado e atenção. Visto que tudo tem o potencial de abalar a autoestima frágil e o humor inconsistente da mãe, esconde seus problemas ou nega a existência destes para não “sobrecarregá-la”. Além disso, autoanula-se psicológica e emocionalmente, conformando-se com as suas vontades enquanto negligencia seus próprios interesses e sentimentos. Quanto mais ausente, submissa e irrelevante, maior a probabilidade de evitar conflitos.

4- Assume a culpa dos problemas da mãe

Como a mãe narcisista nega ter responsabilidade por tudo que lhe acontece de errado, quem está a sua volta torna-se imediatamente “o ofensor”. Para que a mãe narcisista se sinta em relativa paz consigo mesma e com seus altíssimos padrões de perfeição e excelência, a filha assume a responsabilidade por tudo que não corresponde ao seu idealismo irracional. Se a mãe não consegue atingir seus objetivos ou sentir-se realizada consigo mesma ou com os outros, é porque não recebeu a atenção ou dedicação devidas. Cabe a quem tem intimidade e convívio direto com ela, como seus filhos e parceiros amorosos, assumir a culpa de seus problemas, sejam da natureza que for, para então resolvê-los. A filha de mãe narcisista, registrando esta mensagem já criança, responde à inconsequência da mãe se colocando eternamente disponível para remediar seu sofrimento, desenvolvendo uma inclinação quase intuitiva ao remorso e à culpa quando ao lado dela.

5- Vira o bobo da corte

Crescer ao lado de um pai ou mãe com depressão crônica costuma exercer muita influência no desenvolvimento da criança. Os filhos seguidamente compensam o mau humor e insatisfação dos pais tornando-se responsáveis por seu entretenimento e, portanto, fazem tudo para agradá-los e despertar uma reação positiva, pois seu descontentamento generalizado é fonte de desconforto e uma profunda inquietação. Como não está apta a compreender a extensão do problema da mãe, a filha de mãe narcisista usa de sua graça e simpatia para tentar animá-la e reduzir o efeito de sua perpétua amargura. Ao longo dos anos, este comportamento transforma-se em um traço de personalidade que contribui com a formação da crença de que para ser aceita pelos outros, tem que agradá-los. Já na idade adulta, sente-se insegura e inadequada quando não consegue cativar ou contentar a todos com quem interage, como se fosse de fato sua obrigação fazê-lo.

Mesmo sem perceber, você compensa as deficiências da mãe narcisista em suas tentativas desesperadas de reduzir a angústia de todos. Apesar deste hábito soar “nobre” e “magnânimo” na superfície, só promove a codependência e um sentimento de profundo vazio e insatisfação pessoal, além de não ajudar sua mãe tampouco quem se encontra sob a influência dela. Para mais informações sobre “comportamentos facilitadores” do narcisismo materno, clique aqui

5 mentiras para proteger sua mãe narcisista

É comum vítimas de abuso emocional/psicológico, como filhas de mães narcisistas, usarem mentiras para proteger sua mãe narcisista. Após ler todo o conteúdo do Filhas de Mães Narcisistas como se estivesse lendo a respeito de sua própria vida, você fez o teste “mãe narcisista” somente para confirmar o que você já intuía de que a probabilidade dela ser é realmente grande. Apesar de toda a evidência de anos de abuso estampada em sua autoestima e de todo o conhecimento adquirido em pesquisas referentes a narcisismo materno, você ainda usa de mentiras para proteger sua mãe narcisista e justificar sua atitude descabida, pois foi condicionada a acreditar fielmente em suas supostas “boas intenções” ou “pureza maternal”. Tais pensamentos, errôneos e improdutivos, retardam o seu desenvolvimento pessoal mantendo-a presa a um relacionamento disfuncional. Para proteger-se da influência de tais pensamentos, é imprescindível identificá-los e analisá-los de maneira franca e objetiva.

A seguir, 5 mentiras para proteger sua mãe narcisista da responsabilidade de seus próprios atos:

1- “Ela é uma coitada”

Vamos deixar algo bem claro: a sua mãe narcisista não é uma coitada tampouco vítima de uma grande injustiça, você é. Você não tem de proteger a sua mãe de si mesma, mas se proteger da influência maligna e corrosiva dela. Narcisistas são perfeitamente capazes de distinguir entre o certo e o errado e possuem livre-arbítrio para tomarem suas próprias decisões. O que acontece na vida da sua mãe, a maioria é consequência direta das escolhas dela, inclusive seu comportamento impróprio e abusivo.

2- “Ela é minha mãe”

Mesmo? Se você acredita que mãe de verdade é aquela que cuida do bem-estar físico, emocional e psicológico dos filhos, fica difícil ignorar os fatos. Mãe verdadeira não faz a filha se sentir inadequada e rejeitada para se sentir melhor a respeito de si mesma. Mãe de verdade não usa a boa vontade e o amor incondicional dos filhos para autobenefício, nem os faz responsáveis por seu próprio bem-estar. Mãe não é somente um fato biológico, mas, sobretudo, quem ama e cuida.

3- “Ela não faz de propósito”

Adultos são responsáveis por seus atos. Ponto. Embora narcisista, sua mãe tem idade e experiência suficientes para entender o impacto que sua atitude exerce nos outros, principalmente em você. Mesmo tendo acompanhado seu desenvolvimento de maneira emocionalmente ausente, sabe o que fazer para conseguir a reação desejada. Usa de chantagem emocional para compeli-la a realizar as vontades dela, pois sabe como manipulá-la por meio de suas vulnerabilidades.

4- “Ela pode não demonstrar, mas sei que me ama”

Se a sua mãe de fato a ama, por que você se sente tão rejeitada, insegura e inadequada ao lado dela? Como Camões e Renato Russo explicam, “O amor é bom, não quer o mal, não sente inveja ou se envaidece”. Não é a conexão sanguínea a determinante do amor, mas a afinidade, a harmonia, o respeito e o afeto. Quando você é amada por alguém você se sente em paz com o mundo e você mesma, sente-se inteira. Você não se sente perdida, isolada emocionalmente. O que sustentou seu relacionamento com sua mãe esses anos todos não foi o amor, mas o interesse (dela), a dependência (mútua) e a falta de autoconhecimento (principalmente seu).

5- “Ela está mudando”

Se a sua mãe é narcisista, ela possui um transtorno de personalidade. Transtornos de personalidade não “cessam de existir” independentemente e da noite para o dia, mas seus sintomas são controlados com a ajuda de tratamento psicoterápico. O narcisismo também não se cura com amor, compaixão ou perdão, mas com acompanhamento psicológico efetuado por um profissional especializado no transtorno de personalidade narcisista, como um psiquiatra ou psicólogo com qualificação e experiência clínica. É claro que a sua mãe não é ininterruptamente ruim ou desagradável o tempo todo, pois não é uma máquina. Pode se comportar de modo razoável num dia e, no dia seguinte, apresentar um comportamento abusivo com probabilidade extremamente alta, visto ser a regra e não a exceção. Se você tende a “esquecer” de como é (mal)tratada, eu recomendo muitíssimo registrar suas experiências com a ajuda de um diário.

Se você frequentemente se vê repetindo quaisquer das afirmativas mencionadas, não se engane, você tem utilizado mentiras para proteger sua mãe narcisista. Seja honesta consigo mesma e honre seus sentimentos, se você se sente dominada por emoções de caráter antagônico como a raiva, vergonha e a culpa quando se encontra ao lado de sua mãe, se ela a faz sentir-se triste e abandonada tanto afetiva como emocionalmente é porque isto está de fato acontecendo. Não é fácil encarar de frente a verdade sobre o abuso narcisista, mas muito mais difícil e prejudicial é viver uma vida inteira traindo a si mesma para proteger um relacionamento que não funciona com uma mãe de mentira. Você merece mais, certo?

mentiras para proteger sua mãe narcisista

É comum vítimas de abuso emocional/psicológico, como filhas de mães narcisistas, usarem mentiras para proteger o/a praticante do abuso.

5 sinais de que o relacionamento com sua mãe é disfuncional

Imersa em pensamentos, você pondera se o seu relacionamento com sua mãe é disfuncional e acaba por se convencer: “Mas todo relacionamento não é fácil, não é mesmo?”.  Sim, você tem razão, em parte.  Relacionamentos geralmente exigem dedicação, comprometimento e esforço, mas são especialmente difíceis de serem mantidos com quem possui um transtorno de personalidade tal como o narcisismo. Se você é filha de mãe narcisista, o relacionamento com sua mãe é disfuncional, ou seja, não funciona. Em vez de harmonia, há desentendimento; em lugar de respeito, há desdém; e ao invés de equilíbrio, há uma total disparidade de forças. Como esta dinâmica nunca se altera, este tipo de relacionamento está condenado a um retumbante fracasso.

A seguir, 5 sinais de que o relacionamento com sua mãe é disfuncional:

1- Você é tratada como criança

Ter uma mãe narcisista é como pertencer à Terra do Nunca, pois para ela você é uma eterna criança. Em lugar de apreciar e respeitar seu ponto de vista, sua mãe narcisista responde com desprezo e desdém quando você apresenta-lhe uma ideia que vai de encontro com a dela. Mesmo quando inteligentes e inovadoras, suas opiniões são ignoradas se não se encaixam exatamente ao que a sua mãe narcisista deseja, fazendo-a sentir-se desvalorizada e inútil.

2- Você se sente isolada emocionalmente

Seus sentimentos não são reconhecidos tampouco valorizados por sua mãe narcisista. Você frequentemente se sente rejeitada, culpada e envergonhada sem ao menos saber o porquê. A distância entre vocês é tão intensa e a falta de conexão afetiva tão marcante que você se sente roubada de sua própria humanidade. Você se torna oca e carente de demonstrações de carinho.

3- Você usa a culpa como moeda

Você admite culpa, embora não expresse abertamente. A culpa extravasa pela raiva, mau humor e pelas contrariedades que possam acontecer na vida de sua mãe narcisista. Tudo, é claro, para ser aceita e “amada” por ela. Você se autossabota psicologicamente e sacrifica sua autoestima para manter o relacionamento com ela. Sentindo-se abandonada e tomada por um profundo medo da solidão, você toma para si toda a responsabilidade de sua mãe em troca de um mínimo de atenção e afeto dela.

4- Você se sente roubada de sua própria identidade

Você já recorreu a várias estratégias para ser aceita por sua mãe narcisista: tornar-se mais feminina, magra, elegante, bem-sucedida, popular…, mas nada parece satisfazê-la! Seus gostos e interesses foram tão recauchutados para satisfazer as vontades e preferências dela, que nada que restou parece realmente autêntico. Você passa se reinventando, como se a vida fosse uma eterna busca a si mesma.

5- Você duvida de si

Suas habilidades, sanidade, experiência e inteligência são constantemente reavaliadas como se não fosse capaz de produzir um julgamento maduro e confiável de forma independente. Você se sente inadequada sem alguém para assegurá-la de que está no caminho certo e questiona seus objetivos mesmo quando coerentes com o que deseja para si mesma. Sentindo-se insegura, você se espelha na conduta de terceiros em lugar de manter sua própria opinião, a fim de reduzir sua inquietação interior.

Não é responsabilidade de filha alguma aturar o comportamento egoísta e impróprio da mãe. Também não é sua obrigação aceitar uma sentença de abuso de quem quer que seja, inclusive dela. Não se deixe enganar, você é livre. Se você se identifica com isso, está na hora de quebrar o vínculo com o narcisismo e reaver sua autoestima. Nenhum vínculo sanguíneo pode ser mais importante do que o seu pleno bem-estar emocional e psicológico, acredite.

relacionamento com sua mãe é disfuncional

Se você é filha de mãe narcisista, o relacionamento com sua mãe é disfuncional, ou seja, não funciona.

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