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8 sinais da imaturidade emocional

É comum as vítimas do trauma do desenvolvimento/da infância acreditarem que “atraem as pessoas erradas”, visto que os relacionamentos familiares não são uma boa referência de conexões que favoreçam o bem-estar e crescimento emocional. Se se identificou com essa vulnerabilidade e necessita de ajuda para quebrar o ciclo dos relacionamentos disfuncionais, seguem 8 sinais da imaturidade emocional:

8 sinais da imaturidade emocional
As pessoas emocionalmente imaturas são ruins em regularem as emoções de forma independente

1- Rigidez mental: os indivíduos emocionalmente imaturos possuem crenças rígidas sobre si próprios, o mundo e as outras pessoas que não evoluem com o tempo. Ademais, o seu pensamento preto e branco não lhes permite enxergarem além do certo ou errado, bom ou ruim, o que desemboca numa baixa tolerância à ambiguidade, a tomar riscos e a cometer erros. Devido à mentalidade inflexível, também não respeitam a individualidade nem honram os limites dos outros.

2- Má regulação emocional: as pessoas emocionalmente imaturas são ruins em regularem as emoções de forma independente. Por negligenciarem a saúde emocional, sofrem com a depressão, ansiedade e/ou raiva acumulada por um longo período. Devido à baixa tolerância ao desconforto, fazem o que consideram melhor para si próprios sem considerar os efeitos disso nos outros ou os benefícios de adiarem a gratificação.

3- Alta subjetividade: os emocionalmente imaturos não cultivam o hábito de se distanciarem da própria percepção para darem lugar às análises e interpretações neutras, pois são movidos por crenças fundamentais rígidas e emoções fortes.

4- Falta de responsabilidade: as pessoas emocionalmente imaturas são altamente motivadas pela vergonha e exibem uma mentalidade de vítima, pois não admitem as suas falhas nem se desculpam por estas.

5- Egocentrismo: as pessoas emocionalmente imaturas precisam se sentir o centro das atenções, portanto, despendem tempo excessivo absorbidos em si próprios e preocupando-se consigo mesmos. Além disso, tem o hábito de usarem-se como referência, exibindo traços narcisistas.

6- Comportamento infantil: os indivíduos emocionalmente imaturos esperam que os outros ajam de forma adulta no seu lugar, portanto, seus parceiros amorosos sentem-se pressionados a fazer o trabalho duro por eles, como confrontar as outras pessoas e tomar as decisões, por exemplo. Por outro lado, os filhos de pais emocionalmente imaturos são forçados a agir como se fossem os pais para se sentirem seguros (inversão de papéis/parentificação).

7- Medo da intimidade: a vulnerabilidade e a conexão emocional desencadeiam insegurança no emocionalmente imaturo. Quando “forçado” a se conectar com o eu interior e as outras pessoas, sente-se inadequado e sobrecarregado e lida com o desconforto mudando de assunto (fuga), desconectando-se/não se envolvendo (congelamento) e/ou de forma agressiva (luta).

8- Baixa empatia: devido à sua rigidez mental, má regulação emocional, alta subjetividade, falta de responsabilidade, egocentrismo e medo da intimidade, as pessoas emocionalmente imaturas são insensíveis aos sentimentos dos outros.

A imaturidade emocional também é um efeito do trauma de desenvolvimento. Se sofreu negligência ou abuso emocional na infância e identificou-se com o dito, buscar tratamento para as feridas do trauma o ajudará a abordar a vida e os relacionamentos com equilíbrio, confiança e maturidade.

Vídeo – Entenda o que é o incesto emocional

Neste vídeo exclusivo para o Filhas de Mães Narcisistas, Michele Engelke explica o que é o incesto emocional e como é vivenciado no contexto familiar disfuncional.

Embora o termo “incesto” seja compreendido como uma relação sexual entre parentes, a sua aplicação estende-se aos contextos de negligência emocional, ou seja, trata-se da segunda forma mais comum de maltrato vivenciada por crianças ao redor do mundo.[i] É precisamente por estar tão presente, em a narrativa pessoal de filhos e filhas de mães narcisistas/tóxicas/abusivas, que o incesto emocional merece a nossa atenção.

No vídeo Entenda o que é o incesto emocional, a conselheira do trauma Michele Engelke lida com o tema de forma simples e clara, facilitando a compreensão de seu significado para além do contexto de abuso sexual através de um enfoque direcionado à conexão emocional disfuncional estabelecida entre pais e mães com os filhos. 


Se gostou do vídeo e gostaria de aprofundar-se nos temas “incesto emocional”, “abuso e negligência emocional” e “codependência”, recomendamos:

Capítulo 5 “A imaturidade e a negligência emocional das crianças grandes” do livro Desconstruindo a família disfuncional 

“A cultura familiar de incesto emocional e codependência”, artigo do blog Filhas de Mães Narcisistas (8 de março de 2019)

Cursos online “O abuso e a negligência” e “A codependência”


[i] A primeira forma mais frequente de maltrato vivenciada por crianças é o abuso emocional. Para compreender a magnitude deste fato, recomenda-se a leitura da seguinte pesquisa (disponível somente em inglês): Gama, C.M.F. et al. The invisible scars of emotional abuse: a common and highly harmful form of childhood maltreatment. BMC Psychiatry 21, 156 (2021). https://doi.org/10.1186/s12888-021-03134-0

Gama, C.M.F., Portugal, L.C.L., Gonçalves, R.M. et al. The invisible scars of emotional abuse: a common and highly harmful form of childhood maltreatment. BMC Psychiatry 21, 156 (2021). https://doi.org/10.1186/s12888-021-03134-0

VÍDEO: Como lidar com a culpa

Neste vídeo exclusivo para o Filhas de Mães Narcisistas, a autora do Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade para Filhas de Mães Narcisistas, Filhas de Mães Narcisistas Conhecimento Cura e Desconstruindo a Família Disfuncional, Michele Engelke, oferece uma análise esclarecedora da culpa para as vítimas de abuso emocional.

No Como lidar com a culpa, a conselheira do trauma e terapeuta cognitivo-comportamental explica porque as filhas e os filhos de mães narcisistas/tóxicas/abusivas sentem tanta culpa e, portanto, têm dificuldade de se autoafirmarem e viverem de forma livre e feliz. Você compreenderá porque a culpa é uma emoção tão presente na sua vida e o que deve fazer para superá-la.

Como é o caso em todos os seus cursos online, Michele Engelke usa temas da sua prática profissional para ilustrar as questões em pauta. Neste vídeo, questiona os argumentos, valores e atitudes que tornam as vítimas de abuso emocional prisioneiras da culpa, como os que vêm embutidos na expressão…

“mas se eu… (comportamento), vou me sentir culpada”.

Assista já o vídeo Como lidar com a culpa e aprenda estratégias cognitivas e comportamentais para lidar com esta emoção tóxica, tomar decisões mais assertivas e sentir-se no comando da própria vida.

O que fazer para ser feliz (mesmo vindo de uma família tóxica)

Qual é a importância da felicidade na sua vida? Você a considera quando toma decisões importantes ou tende a esquecê-la, pois se sente sobrecarregado com tanto caos e drama familiar? Se provém de uma família tóxica e é/foi vítima de abuso emocional, é comum apresentar uma tendência de negligenciar a própria felicidade para garantir um senso de (falsa) harmonia com os pais e irmãos, como quando se sente culpado por ter vontades, emoções e opiniões próprias e as sacrifica para não os aborrecer, ser rejeitado e, consequentemente, alienado do grupo, por exemplo. Naturalmente, revela-se como um desafio concentrar-se no que o faz feliz quando a atenção é constantemente divergida para os desentendimentos e a insegurança que causam.

O que fazer para ser feliz (mesmo vindo de uma família tóxica)
Qual é o caminho para a felicidade?

Em Happiness by Design, o professor de ciência do comportamento da London School of Economics Paul Dolan propõe que, para vivermos uma vida feliz, precisamos direcionar a atenção para o que nos faz felizes e não para o que achamos que deva nos fazer felizes. As pesquisas de Dolan expuseram a grande diferença na perspectiva dos dois tipos de “eu”, the experiencing self (o eu que vivencia) e the remembering self (o eu que lembra) e como a nossa confiança no segundo não favorece a nossa felicidade. O autor conclui que, para sermos felizes, precisamos conectar com as experiências no momento em que ocorrem para estabelecermos se nos afetam de forma positiva ou negativa, já que a informação proveniente destas é muito mais acurada do que a das lembranças que criamos.

Portanto, os filhos e filhas de mães narcisistas/abusivas/tóxicas que valorizam a felicidade e querem vivenciá-la na prática precisam atentar para o seguinte:

  • Seja cauteloso ao que dá atenção e com o tempo dispensado. Opte por dedicar-se a atividades e pessoas que o fazem – de fato – sentir-se bem, ou seja, leve, alegre, curioso, energético e animado, enquanto reduz a frequência ou corta o contato com aquelas que produzem o efeito oposto.
  • Não confie em versões de fatos que minimizam o efeito negativo que certas pessoas e circunstâncias provoca em você.
  • Honre o corpo de forma honesta e autêntica seguindo os valores que o favorecem, da cabeça aos pés, tolerando o desconforto que isso causa como um investimento na felicidade a longo prazo.

Embora a pressão cultural de negligenciar a própria felicidade para concentrar-se nas vontades dos pais seja defendida como correta, isso causa infelicidade a muitos. Contudo, é possível desvencilhar-se desta mentalidade medíocre e viver uma vida repleta de felicidade. Se precisa de ajuda para reavaliar os valores que o fazem se sentir preso aos relacionamentos disfuncionais, recomendo a leitura do meu novo livro, Desconstruindo a Família Disfuncional. O Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas contém dicas práticas de como colocar-se em primeiro lugar, como através do corte de contato com a mãe narcisista/tóxica/abusiva.  

Referência:

Dolan, P. (2014). Happiness by design: change what you do, not how you think.
New York, New York: Hudson Street Press.

Psicologia nutricional: o que você come afeta a sua saúde mental

As nossas escolhas alimentares têm um efeito direto na cognição, em como nos sentimos e nos comportamos. Graças ao grande número de pesquisas na excitante nova área da Psicologia da Nutrição, a relação intrínseca entre a nutrição e a ocorrência de doenças mentais recebeu a exposição merecida. Atualmente, podemos afirmar que a nutrição não é apenas um fator contribuinte para o desenvolvimento de certas doenças mentais, mas também se revela como um importante auxílio para a prevenção e, até, o tratamento delas.

Psicologia nutricional o que você come afeta a sua saúde mental
As nossas escolhas alimentares têm um efeito direto na cognição

Em seu livro This is your brain on food, a Dra. Naidoo (2020), psiquiatra nutricional da Harvard Medical School, lista bolos, doces, refrigerantes e outros produtos adoçados com açúcar ou xarope de alta frutose; pão branco, arroz branco, batatas, massas e outros produtos feitos de farinha refinada; aspartame; batata frita, frango frito, frutos do mar fritos ou demais frituras seja em óleo, ou margarina; o bacon, o salame, a salsicha e a outras carnes curadas como alimentos que nos deixam infelizes e ansiosos. Aqueles que sofrem de depressão e ansiedade, portanto, devem comer alimentos ricos em fibras e fermentados, pare desfrutarem dos efeitos positivos e calmantes no humor.

O que você come também interfere com o sono. Enquanto a cafeína e o álcool afetam-no negativamente, os alimentos que contêm melatonina, como ovos, peixe, leite, arroz, frutas, nozes, sementes e vegetais, tais como: aspargos, tomates, brócolis e pepino ajudam a melhorá-lo.

Para combater a fadiga, a Dra. Naidoo recomenda a ingestão de alimentos ricos em ômega 3, magnésio, zinco, vitaminas B 1, 6, 9 e 12, C, D e E, além de vegetais coloridos e especiarias, tais como: o açafrão e o cominho preto.

Tanto a Dra. Naidoo como a psicóloga clínica e a pesquisadora Julia Rucklidge (2017) concordam que a dieta ocidental tem um efeito prejudicial para a saúde mental. Trata-se de uma dieta rica em gorduras ruins, carboidratos de alto índice glicêmico (IG) e glúten; e está fortemente ligada à expressão de uma variedade de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, TDAH e, até, esquizofrenia, além dos de memória e da diminuição da libido.

A conexão mente-intestino não pode mais ser ignorada pelos envolvidos nas práticas de bem-estar físico e mental/emocional. Para quem gostaria de melhorar a saúde mental, mas tem dificuldade de mudar os hábitos alimentares, recomendo buscar o aconselhamento psicológico e nutricional para facilitar o alcance deste objetivo através de uma abordagem mais holística e eficaz.

Referências:

Jacka, F.N., O’Neil, A., Opie, R. et al. A randomised controlled trial of dietary improvement for adults with major depression (the ‘SMILES’ trial). BMC Med 15, 23 (2017). https://doi.org/10.1186/s12916-017-0791-y

Naidoo, U. (2020). This is your brain on food. Hachette Book Group: NY, New York.

Por que estou sempre com raiva? Entenda o vício da raiva

Sentir-se amado incondicionalmente pelo pai e/ou mãe é essencial para promover um senso saudável de autoestima. O amor incondicional é vivenciado quando a criança sente-se percebida, ouvida e vista de forma a satisfazer as necessidades básicas de seu desenvolvimento. Os pais que estão em sintonia com as emoções dos filhos com empatia e sem julgamento ajudam-lhes a cultivar um senso de integridade em seus corpos, mesmo quando afetados por emoções negativas intensas, tais como a vergonha, o medo e a raiva. A negligência (inclusive emocional) e o abuso sofrido durante a infância, entretanto, desembocam em trauma do desenvolvimento e sentimentos de baixa autoestima. Como esses são ativados com facilidade e não processados ​​funcionalmente com a ajuda de uma presença adulta emocionalmente consciente e madura, a criança em desenvolvimento torna-se suscetível a criar um relacionamento disfuncional com o seu mundo interior (Recomendo a leitura do Desconstruindo a família disfuncional para mais detalhes de como a imaturidade emocional parental é vivenciada na prática).

Por que estou sempre com raiva? Entenda o vício da raiva
A raiva ajuda-nos a regular os sentimentos de vulnerabilidade

As crianças que se sentem inadequadas por terem sentimentos negativos (ou, por vezes, sentimentos de qualquer natureza) devido à influência de pais abusivos e/ou (emocionalmente) negligentes têm pouco ou nenhum acesso a ferramentas funcionais para processá-los de modo saudável. Nesses casos, tendem a recorrer a estratégias de enfrentamento mal-adaptativas para lidarem com a vergonha, o medo de abandono e outros sentimentos que os fazem sentirem-se indignos de amor para recuperar alguma sensação de bem-estar, já que é lógico querer se sentir bem. Também é humano evitar o sofrimento e tentar controlá-lo. Os problemas surgem quando uma determinada estratégia se torna “a única” e, sobretudo, quando faz mais mal do que bem a longo prazo. Uma rara experiência de compulsão alimentar na frente da televisão é aceitável quando não é o meio exclusivo de tolerar a dor das perdas causadas pelo trauma. Quando isso é praticado diariamente para lidar com o estresse crônico, o luto não processado e os sentimentos de impotência e isolamento emocional, por exemplo, torna-se um vício (Para ajudá-la a processar o luto das perdas de sua infância, recomendo o meu curso online Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica).

A raiva – vivenciada predominantemente como uma emoção secundária – ajuda-nos a regular os sentimentos de vulnerabilidade. Sob a sua influência, nós nos sentimos dignos de respeito e direitos, bem como justificados, pois nos concede energia e poder, tornando-nos prontos para a luta e nos defendermos de quem ou o que quer que seja – inclusive sentimentos – que nos fazem sentir pequenos e magoados. Nesse estado elevado de agitação, experienciamos uma sensação de euforia que pode tornar-se viciante. Tal como aqueles que estão acima do peso e concentram-se apenas em fazer dieta, mas evitam explorar os mecanismos subjacentes que alimentam o vício da comida e, por essa razão, têm dificuldade de manter um peso saudável – os viciados na raiva permanecem zangados por negligenciar as emoções primárias que a desencadeiam. Portanto, a razão pela qual você está “sempre com raiva” pode estar centrada no medo, na relutância ou dificuldade de acessar as emoções mais profundas e dolorosas que carrega como resultado de anos de negligência (emocional) e/ou abuso. Para aprofundar-se nos temas “abuso”, “negligência” e “trauma” e entender porque sofre de raiva acumulada, depressão e/ou ansiedade, recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.

Se se identifica com o acima relatado, recomendo o aconselhamento do trauma para lidar com os efeitos do trauma complexo, como a raiva acumulada e o vício nesta.

6 sinais de TEPT-C (Transtorno de Estresse Pós-traumático Complexo)

O Transtorno de Estresse Pós-traumático Complexo ou TEPT-C pode ocorrer como um efeito do trauma complexo, o qual resulta da exposição repetida a eventos adversos por um período prolongado. As filhas e filhos de pais narcisistas/tóxicos/abusivos e aqueles que cresceram e se desenvolveram em um ambiente altamente disfuncional são, portanto, propensos a terem sofrido abuso e negligência na infância (incluindo emocional) o que, por sua vez, aumenta a probabilidade de identificarem-se com os seguintes 6 sinais de TEPT-C:

6 sinais de TEPT-C (Transtorno de Estresse Pós-traumático Complexo)
O TEPT-C está conectado à dificuldade de regular as emoções

1- Alta reatividade e dificuldades de regulação emocional: o trauma da infância mal resolvido está ligado ao luto não processado, à raiva acumulada e aos sentimentos profundos de solidão e depressão do abandono que requerem esforços conscientes para serem administrados. Devido à hipervigilância, contudo, os sentimentos de ansiedade surgem rápida e facilmente, tornando mais difícil compreender e gerenciar a vida interior. Portanto, as emoções são frequentemente sentidas de forma intensa e sem uma sensação de correspondência ou mesmo de pertença a um contexto específico.

2- Mudanças na consciência: dissociação, dificuldade de recordar os eventos traumáticos, inclusive emoções relacionadas a estes.

3- Autoimagem negativa: fortes crenças negativas sobre si próprio que são sentidas no corpo mesmo quando não correspondem ao pensamento objetivo (“Sei que sou competente/bom o suficiente/digno de ser amado, mas não me sinto assim”). Presença de um crítico interno influente, tendência a ver o mundo em preto e branco e síndrome do impostor são comuns.

4- Dificuldades na área dos relacionamentos: dificuldade de confiar nos outros e ver os relacionamentos como fontes de bem-estar. Tendência natural de gravitar em torno de indivíduos abusivos/tóxicos e relacionamentos codependentes e emocionalmente dependentes, uma vez que parecem familiares e criam uma falsa sensação de segurança.

5- Percepção distorcida do abusador: ver o abusador como todo poderoso e capaz de causar dor contínua, controlar ou mesmo destruir vidas, mesmo quando é muito mais velho(a), física e mentalmente mais fraco(a) e emocionalmente imaturo(a), por exemplo. Tendência a ficar obcecado por se sentir ouvido e ter as emoções e experiências validadas por este, bem como nutrir pensamentos e fantasias recorrentes sobre conversas, acerto de contas e planos de vingança.

6- Perda dos sistemas de significados: sentimentos de desesperança e perda de propósito em relação ao mundo, à vida, às pessoas e à espiritualidade.

Outros sintomas incluem: dor no peito, dores de cabeça frequentes, enxaqueca, armouring, bruxismo, problemas gastrointestinais, baixa libido, dificuldade de apreciar o sexo, sistema imunológico enfraquecido, distúrbios do sono, flashbacks, comportamentos de evitação, pensamentos suicidas, maior suscetibilidade a comportamentos que desembocam em vício e depressão.

Se se identificou com o relatado, saiba que o tratamento do TEPT-C é possível através de uma atitude consciente e proativa que inclui uma combinação da terapia do trauma, tal como a de EMDR Focada no Apego, e medidas de cuidado pessoal.

Para compreender como crescer em um ambiente de estresse crônico e sob a tirania de uma mãe tóxica pode desembocar em TEPT-C, recomendo a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.

Descubra porque tem medo de confiar em si própria (e o que fazer sobre isso)

“Não é tão ruim assim!”

“Você é muito sensível”

“Eu nunca disse isso!”

“Se você tivesse me ouvido, isso não teria acontecido”

“Você não faz nada certo”

“Está bom, mas…”

Para quem cresceu ouvindo essas frases com frequência é natural que tenha medo de confiar em si própria. Este processo de perda de autoconfiança ocorre ao longo do desenvolvimento da criança proveniente de lares disfuncionais e tóxicos, pois é exposta a um estilo parental emocionalmente negligente e/ou controlador e/ou abusivo, o que compromete a sua capacidade de desenvolver um senso interno de autodireção seguro, pois afetado também pelo medo de abandono, vergonha e culpa.  

Descubra porque tem medo de confiar em si própria
Os filhos e filhas de famílias disfuncionais duvidam de si próprios e questionam o mérito das emoções, visões de mundo, necessidades e vontades

Diferente das crianças que cresceram sentindo-se vistas, ouvidas e percebidas pelos pais, aos filhos e as filhas de pais tóxicos/abusivos e/ou negligentes é negado o privilégio de terem emoções, visões de mundo, necessidades e vontades reconhecidas e validadas pelos adultos responsáveis por seus cuidados, como esclarecido no meu novo livro, Desconstruindo a Família Disfuncional. Com o tempo e a idade, aprendem a trataram-se de forma negligente, desconfiada e, até, abusiva, duvidando de si próprias e questionando o mérito de emoções, visões de mundo, necessidades e vontades, tais como fizeram-lhes os pais.

Por ter ciência deste efeito marcante do trauma complexo, quando os meus clientes recusam-se a acreditar na sabedoria dos corpos, pois reagem de forma insegurança e infantil, inclusive, autossabotadora, questiono-os, no ato, e sugiro-lhes seguirem uma filosofia simples embora bastante libertadora:

Faça de seu eu autêntico a sua religião”

O eu autêntico é aquele que floresce quando se conecta com a sua verdade (emoções, visões de mundo, necessidades e vontades), ou seja, quando os seus valores se alinham com o que pensa, como sente e age. Na prática, isso é vivenciado quando a história de abuso emocional praticado por uma mãe narcisista, por exemplo, é validada através da leitura do Prisioneiras do Espelho Quando pratica “O meu eu autêntico é a minha religião”, o sentimento de validação proveniente de tais experiências é suficiente para que corresponda à expressão da verdade. Portanto, não precisa de ninguém, além de si própria, para validar-se. Por mais que tais leituras sejam motivadoras e produtivas, a decisão de acreditar ou desacreditar em si própria sempre vem de você e, sobretudo, da coragem de se conectar e de ter fé no que sente e pensa, incondicionalmente.  

Desconstruindo a Família Disfuncional, o novo livro de Michele Engelke

O que faz uma família ser disfuncional? O que pode ser observado no comportamento de seus membros e na forma como se relacionam que a definem como tal? De que maneira crescer sem acesso ao amor incondicional dos genitores, em um ambiente estressante e sem harmonia relacional afeta o nosso desenvolvimento e habilidade de nos realizarmos, também, na idade adulta?

Desconstruindo a família disfuncional eBook Image
Chegou o novo livro de Michele Engelke sobre famílias disfuncionais

Chegou o novo livro de Michele Engelke, Desconstruindo a Família Disfuncional, nele, você irá compreender porque…

  • os valores, as atitudes e as estratégias de enfrentamento de problemas das famílias consideradas disfuncionais interferem negativamente na saúde psicológica/mental e relacional
  • tem problemas de relacionamento com a mãe, pai e/ou irmão(os) que parecem não melhorar com o tempo, a idade e a experiência
  • demonstra dificuldade de criar e manter relacionamentos saudáveis também fora do ambiente familiar
  • possui problemas de baixa autoestima e equilíbrio emocional, é codependente, sofre de dependência emocional e tem dificuldade de agir de forma madura, autoconfiante e assertiva – sobretudo com os familiares e, em especial, com os pais
  • se sente frequentemente triste, com raiva, ansioso, culpado, envergonhado, manipulado e com medo de ser rejeitado pela família se agir de forma adulta, consciente, autêntica e autônoma
  • não se sente visto, percebido tampouco ouvido pelos pais

O livro apresenta um conteúdo franco, esclarecedor, além de questionar os valores rígidos e obsoletos sobre a família, os quais servem para perpetuar a falta de funcionalidade deste sistema. Trata-se de uma ferramenta de empoderamento pessoal não somente para os filhos de mães e pais narcisistas/tóxicos/abusivos e negligentes, bem como para os demais indivíduos que desejam validar a história de disfunção familiar e os efeitos que tiveram em si, contribuindo, de modo consciente e proativo, para a expansão da consciência acerca da própria influência, inclusive, para aqueles com quem tem convívio, melhorando, portanto, a qualidade dos relacionamentos e ajudando a interromper o ciclo vicioso de disfunção.

Como se proteger dos relacionamentos tóxicos: identificando a sua criptonita

Os relacionamentos que a pessoa é exposta ao longo de seu desenvolvimento funcionam como uma referência para os futuramente criados e mantidos fora do ambiente familiar, como explico no meu livro Desconstruíndo a família disfuncional. Desta forma, se você provém de uma família disfuncional ou tóxica, é fundamental que se conscientize disto caso deseje relacionar-se de forma saudável. A maioria dos filhos e filhas de mães narcisistas/tóxicas/abusivas tende a sofrer de baixa autoestima, dependência emocional e codependência, sentem-se forçados a agradar, gostar e até tolerar a companhia das outras pessoas com quem não tenham afinidade. Isso se deve, muitas vezes, ao fato de se acreditarem menos interessantes e considerarem o outro melhor e, portanto, merecedor de atenção, tempo e consideração até quando não os favorecem.       

Como se proteger dos relacionamentos tóxicos: identificando a sua criptonita
A criptonita é aquela pessoa que funciona como um gatilho de traumas passados

A maneira de se proteger de influências negativas ao bem-estar e crescimento pessoal é identificar a “criptonita”. Para quem não sabe o que isso significa, a criptonita, apesar de ser um material originário do planeta nativo de Superman, personagem dos quadrinhos, causa-lhe fraqueza quando entra em contato com ela. No contexto dos relacionamentos disfuncionais e tóxicos, uso o termo como metáfora para ilustrar aquela pessoa que, quando nos vemos expostos a sua presença – com ou sem a nossa intenção – faz-nos sentir inadequados, vulneráveis, envergonhados, inseguros, pressionados, incompetentes e/ou indignos de amor e respeito. Para quem sofreu abuso, manipulação e negligência na infância, a criptonita tende a ser aquela pessoa que funciona como um gatilho de traumas passados. Isto afeta a vítima de maneira automática inconsciente, fazendo-a sentir como uma criança desprotegida que deve diminuir-se perante o outro para não ser agredida, por exemplo, ou por se sentir responsável pelo bem-estar do outro para ser aceita e sentir-se segura.

Há muitos exemplos de criptonitas que ativam as reações emocionalmente imaturas nos filhos e filhas de mães narcisistas/tóxicas/abusivas, como as figuras de autoridade que têm o hábito de subjugar,  manipular e praticar o bullying; indivíduos controladores, com problema de raiva acumulada e que agem de forma agressiva ou passivo-agressiva; pessoas que se encontram presas à vitimização e, portanto, projetam a responsabilidade de melhorar as condições próprias no outro; filhos e filhas de famílias tóxicas que se recusam a quebrar a barreira da negação e inadequação em relação ao tratamento que recebem da própria família abusiva e, por isso, projetam a vergonha no outro (isso ocorre num esforço para manter as aparências de uma conexão emocional e afetiva inexistente); e aqueles que têm dificuldade de ouvir, acreditar e ter empatia com o próximo, entre outros.

Então, quem é a sua criptonita?      

Se respondeu “a minha mãe”, recomendo adquirir o Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas para confirmar se a sua mãe é narcisista e validar a sua experiência de abuso. Para comprar o seu exemplar, clique aqui.

5 sinais de que está preparada para cortar o contato com a mãe narcisista

Quando a percepção de família evolui como resultado da descoberta da verdade narcisista e expande-se para muito além dos chavões do senso comum tais como “Mãe é mãe” e “Família é tudo”, por exemplo, é natural para a vítima de abuso narcisista considerar a possibilidade de cortar contato com o seu gatilho número um: a genitora tóxica. Se necessita de ajuda para avaliar se está de fato disposta a tomar esta decisão, elenco 5 sinais de que está preparada para cortar o contato com a mãe narcisista:

5 sinais de que está preparada para cortar o contato com a mãe narcisista
Você tem o direito de dizer não ao abuso

1- Você está exausta de se sentir responsável pelo modo como os outros sentem: filhos e filhas de pais tóxicos são comumente codependentes, ou seja, colocam sentimentos, vontades e interesses dos outros na frente dos seus. Se já está consciente deste fato e se esforça para mudar isto, você está com uma predisposição favorável a priorizar o próprio bem-estar e iniciar o contato zero.

2- Você está exausta de se preocupar com o que os outros pensam: enquanto o emocionalmente dependente apresenta tendência à ansiedade, coloca a atenção no outro para criar um senso de direção e sabota a própria realização pessoal no processo; o emocionalmente maduro considera a opinião do parente, amigo, vizinho, colega etc. de forma centrada, ou seja, refletindo e levando em consideração quando esta lhe favorece – na maioria das vezes.     

3- Você está ciente de que a culpa que sente faz parte do processo de distanciamento: os filhos e filhas de mães narcisistas que conseguem superar a fobia às emoções negativas e contextualizá-las de acordo com a sua história de abuso e trauma, não permitem que estas os paralisem, mas lidam com elas de forma equilibrada, vendo-as como sintomas da manipulação e chantagem emocional as quais foram expostos por longos anos.

4- Você se vê como a expert da própria vida: a sobrevivente que consegue superar os efeitos de seu trauma é aquela que tem o próprio eu como o guia mais influente e sábio. Só você realmente sabe o que é sofrer abuso de uma mãe tóxica e ser negligenciada por um pai facilitador, portanto, é a única que possui verdadeira experiência e conhecimento para saber tanto o que compromete como o que promove o seu desenvolvimento pessoal.

5- Você confia nos seus sentimentos: se já superou os efeitos de anos de gaslighting e abuso da verdade, e acredita na sabedoria do próprio corpo – o qual não é facilmente corruptível como o pensamento – e segue a sua direção com consistência e comprometimento, ciente de que não há necessidade de explicar as próprias decisões, inclusive aos familiares.

Diferente do que é defendido pelos valores rígidos da família disfuncional e tóxica, o amor é fluido e independe de laço sanguíneo, portanto, é possível, sim, ser feliz e realizar-se como pessoa quando se corta o contato com qualquer indivíduo tóxico – inclusive a própria genitora. Recomendo o meu livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas, no qual incluo dicas práticas de como cortar o contato a mãe narcisista; caso concorde comigo e esteja disposta e revolucionar a própria vida de maneira corajosa e inovadora. Se já leu o Prisioneiras… e necessita de ajuda para processar o luto desta perda, também sugiro o meu curso online: Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica.

O legado dos pais emocionalmente ausentes: os sentimentos de solidão, rejeição e abandono

Para quem provém de uma família disfuncional tende a ser difícil, se não impossível, sentir-se devidamente visto, ouvido e percebido. Isso se deve ao fato de ter sido educado, de crescer e se desenvolver em um meio de grande negligência emocional e até abuso. Quando uma criança não tem as emoções validadas e lhe é negado expor seus interesses, vontades e limites pessoais, sente-se alienada, invisível e sem importância, como se não existisse nem tivesse valor. O trauma gerado por carregar este vazio existencial por tantos anos resulta em baixa autoestima que perdura até a idade adulta, além da dificuldade de confiar nos outros e de se sentir seguro nos seus relacionamentos.

O legado dos pais emocionalmente ausentes: os sentimentos de solidão, rejeição e abandono
Para quem tem pais emocionalmente ausentes, é difícil sentir-se devidamente visto, ouvido e percebido

Na prática, ter pais emocionalmente ausentes faz com que o filho sinta que raramente algo referente a si ou a sua vida seja importante o suficiente para merecer a atenção alheia. Como terapeuta do trauma especializada em filhos de famílias disfuncionais e tóxicas, já ouvi muitos relatos de clientes que nunca tiveram momentos relevantes de suas vidas reconhecidos e levados em consideração de forma apropriada pelos pais, seja por razões positivas ou negativas. Por forma apropriada significa dizer terem demostrado atenção genuína em tempo real e se feito presentes física direta ou indiretamente (através de meios de comunicação) e, sobretudo, mental/emocionalmente, permitindo, portanto, que os filhos se sentissem valorizados e dignos de seu amor.

Por serem egocêntricos e negligentes, além de terem um baixíssimo nível de consciência, mães narcisistas e pais facilitadores, por exemplo, têm a tendência de ignorarem, invalidarem e, inclusive, esquecerem eventos marcantes na vida dos filhos, tais como conquistas acadêmicas e profissionais, casamento, nascimento de filho, aniversários, mudança de residência/cidade/país, bem como rompimentos de relacionamento/separação/divórcio,  presença ou diagnóstico de doenças crônicas (de ordem mental ou física) perda de emprego, falecimento de cônjuge ou amigo etc. Os pais em questão se mantêm absorvidos nos próprios dilemas, dramas e necessidades enquanto negligenciam os dos filhos; são incapazes, portanto, de os apoiarem e fazer com que se sintam amados e confortados quando mais necessitam.

O legado de pais emocionalmente ausentes é observado na constante presença de fortes sentimentos de solidão, rejeição e abandono que parecem não diminuírem com o tempo, a idade e a experiência. Basta passarem por momentos difíceis para que os filhos se sintam invadidos por sentimentos de impotência, inadequação e desesperança. Se se identifica com o aqui reportado, recomendo tratar esse vazio de forma consciente e proativa, volte a atenção para o próprio eu e coloque as necessidades das emoções sentidas no corpo em primeiro lugar. Para restabelecer uma relação saudável e livre com o eu autêntico, sugiro os meus três cursos online: A codependência, A dependência emocional e Como Fazer o Luto da Mãe Narcisista de Forma Orgânica.

É normal sentir empatia pela mãe narcisista?

O abuso e a negligência sofridos por filhos e filhas de mães narcisistas, embora pareçam inimagináveis para aqueles que não ousam questionar os valores rígidos e obsoletos do senso comum, tais como “Toda a mãe ama os filhos” e “Família é tudo”, são bastante reais. Seja através dos e-mails que recebo, diariamente, através do Filhas de Mães Narcisistas ou de relatos direitos de clientes, nunca deixo de me impressionar com as histórias chocantes dos maltratos que sofrem, independente de idade, gênero, nível de escolaridade, social ou financeiro.

É normal sentir empatia pela mãe narcisista
É normal sentir empatia por uma pessoa abusiva?

Seja de natureza física, sexual, emocional/psicológica, verbal, espiritual ou até vicária, o abuso praticado por um adulto a uma criança, adolescente ou a outro adulto vulnerável consiste em um ato bárbaro, tirano e impiedoso. Sobretudo, mulher ou homem – quando comete abuso e negligencia os filhos – não é merecedor de consideração excepcional por ser mãe ou pai. Na realidade, os efeitos do trauma causados por abuso e negligência cometidos por uma mãe ou pai narcisista/tóxico é muito mais difícil de ser tratado e superado do que o cometido por um estranho. Portanto, a responsabilidade dos genitores é muito maior por causa do impacto que exerce no desenvolvimento, saúde e bem-estar dos filhos, assim como na habilidade de se tornar um adulto competente e realizar-se como pessoa.

Quando temos conhecimento disso e vemos claramente o poder nocivo do trauma familiar e os efeitos negativos não somente em nível individual, mas também coletivo, é inevitável sentirmos certo desconforto emocional e até nutrimos raiva contra os responsáveis, como a mãe narcisista. Se esse for o seu caso, gostaria de reiterar que tem todo o direito de se sentir desta forma, pois é humano e foi programado para proteger-se de ameaças ao seu bem-estar. Eu, Michele Engelke, também reajo com indignação e revolta contra qualquer pessoa abusiva que se recusa a assumir a responsabilidade pelos danos causados às suas vítimas, principalmente quando são os próprios filhos, contudo, também sou capaz de sentir empatia por tais indivíduos. Isso não é privilégio meu por ser terapeuta e, supostamente, “superior”, mas da maioria dos seres humanos, já que somos hábeis para possuir sentimentos opostos ao mesmo tempo e a nos identificarmos com o sofrimento alheio, mesmo quando desconhecemos a sua origem.

É normal e humano sentir empatia por uma pessoa abusiva, mesmo quando este sentimento provenha da vítima/sobrevivente, contudo, isso não implica, necessariamente, ação. Em outras palavras, você pode sentir empatia por sua mãe narcisista (e até pena), mas não é responsável pelo bem-estar dela ou pela suposta “cura” do problema dela. Afinal, a empatia é, em essência, a capacidade de se colocar no lugar do outro de forma abstrata,  não corresponde, portanto, à incumbência de corrigir a deficiência deste nem reparar o relacionamento, sobretudo, quando uma das partes envolvidas recusa-se a refletir sobre os comportamentos impróprios e admitir a culpa. Caso tenha dificuldade de agir empática e autonomamente não apenas com a mãe narcisista, como também com outras pessoas chaves em sua vida, recomendo muitíssimo o meu curso online A codependência.

2 grandes mitos sobre a raiva que impedem a assertividade

Aqueles que provenham de famílias tóxicas e, portanto, já sofreram abuso, possuem uma dificuldade natural de se conectarem com a raiva de forma saudável e agirem assertivamente. A assertividade – ou habilidade de nos posicionarmos com autoconfiança e fazermos valer nossos interesses e sentimentos, bem como os nossos limites pessoais – é um recurso precioso para os sobreviventes de abuso narcisista que desejam superar o trauma e viver uma vida autêntica e realizadora. Ser assertivo exige que o indivíduo se conecte com a raiva de modo maduro e centrado, respeitando-a e honrando-a sem culpa, medo e vergonha. A fim de melhorar o seu relacionamento com esta emoção tão importante e conseguir priorizar as necessidades de seu eu autêntico, elencam-se 2 grandes mitos sobre a raiva que impedem a assertividade:

2 grandes mitos sobre a raiva que impedem a assertividade
A raiva fica armazenada no corpo e pode tornar-se tóxica com o tempo

Sentir a raiva é feio: você não precisa ter uma mãe narcisista ou provir de uma família tóxica para já ter ouvido a famosa frase, “Sentir raiva da mamãe/do papai/da vovó… é feio”. Muitos de meus clientes se orgulham de “não sentir raiva”, como se isso fosse sinônimo de uma atitude educada, nobre, adulta e até sofisticada. Isso não somente é impossível, visto que são humanos e a raiva é uma expressão bastante orgânica desta humanidade, como também superprejudicial à saúde mental e dos relacionamentos. Conectar e sentir a raiva não é feio ou bonito, bom ou ruim, mas humano e essencial para nos protegermos e mantermos a nossa integridade e autoestima.   

A raiva é sempre expressa de forma tóxica: esta crença é típica de quem nunca presenciou a raiva no ambiente familiar sendo expressa de forma adulta e funcional, mas de forma agressivo-passiva ou superagressiva, ou seja, de um ou outro extremo disfuncional. A vítima de abuso narcisista, em particular, sabe muito bem o poder destruidor da agressividade tóxica – seja expressa de forma ativa (Para mais informações sobre “A ira narcisista”, recomendo a leitura do meu primeiro livro, Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas) ou passiva (ofereço um estudo detalhado da agressividade passiva no meu segundo livro, Filha de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura) e nutre um receio terrível de comportar-se que nem a genitora abusiva, “perder o controle” e magoar as outras pessoas. Nós somos capazes de expressar a raiva de forma centrada e até empática, basta nos conectarmos com ela e comunicá-la de forma emocionalmente madura, como, por exemplo: “Eu entendo como se sente, mas quando você ______ (comportamento) eu me sinto _______ (emoção ou sentimento, tal como com raiva/frustrada/irritada etc.)”.

Para conseguir conectar e expressar a raiva de forma saudável e comportar-se assertivamente, revela-se fundamental começar a questionar as crenças rígidas e disfuncionais sobre as emoções “negativas” como a raiva, como fizemos acima. Vale lembrar que, por mais que não seja registrada totalmente de modo consciente, a raiva fica armazenada no corpo e pode tornar-se tóxica com o tempo, causando problemas não somente de ordem psicológica/emocional, como também física. Se quiser se tornar mais tolerante com a própria raiva, recomendo a leitura dos seguintes artigos de minha autoria:

As diferenças importantíssimas entre a responsabilidade e a culpa

Descobrir que a própria mãe tem tendências abusivas e, provavelmente, é narcisista representa um evento marcante na vida de qualquer indivíduo, independente de idade, sexo, etnia ou classe social. Isso ocorre porque fomos criados para nos conectarmos emocional e afetivamente com outros seres humanos, principalmente dos quais dependemos quando pequenos e vulneráveis para sobrevivermos, desenvolvermo-nos de modo saudável e operarmos de forma satisfatória também ao nos tornamos adultos. Portanto, quem possui, pelo menos, um genitor tóxico, tem todo o direito de buscar informações que o esclareçam sobre como esse comportamento afetou o desenvolvimento, especialmente, a sua neurobiologia, saúde emocional/psicológica, habilidade de formar e manter relacionamentos funcionais e realizar-se como pessoa.

As diferenças importantíssimas entre a responsabilidade e a culpa
Embora tenha todo o direito de investigar o seu passado, isto tende a desembocar em culpa

Embora a pessoa tenha todo o direito de investigar o seu passado e tentar compreender como os pais influenciaram a sua habilidade de perceber-se como um indivíduo competente, bom o suficiente e digno de ser amado incondicionalmente, isto tende a desembocar em culpa. Muitos de meus clientes, quando começam a desabafar a respeito do modo como foram maltratados e negligenciados pelos genitores tóxicos, citando vulnerabilidades, atitudes impróprias e até abusivas, sentem-se envergonhados de “falarem mal” deles ou “culpá-los” por seus atos. Após os relatos, tendem a despender grande energia para justificar as suas atitudes como se fossem obrigados a desculparem-se pelo seu comportamento, negligenciando as próprias emoções e os efeitos de seu trauma no processo.

Isso se deve ao fato de que a nossa cultura não reconhece as importantíssimas diferenças entre a responsabilidade e a culpa, seja por influência religiosa seja devido aos valores rígidos do senso comum. Contudo, não precisa seguir esta mentalidade simplista e conformar-se com uma atitude julgadora, pois você é um indivíduo autônomo e capaz de posicionar-se de forma diferente, com consciência, inteligência e empatia. A culpa não lhe permite conduzir-se assim, pois resulta em inadequação, hostilidade e ressentimento, enquanto atribuir responsabilidade de forma adulta e centrada – constitui um direito humano e universal de se conhecer, assim como as circunstâncias de seu desenvolvimento – consiste em um ato emancipador. Diante disso, abdique da vergonha, dependência e vitimização promovida pela cultura da culpa e chantagem emocional, torne-se verdadeiramente livre e dono de seu corpo e destino.   

O conteúdo de Filhas de Mães Narcisistas e dos livros Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas e o Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura de minha autoria, tem como objetivo promover a conscientização e ajudar-lhe a organizar a sua narrativa validando a sua história, seus sentimentos e seu direito ao conhecimento. Portanto, na próxima vez que alguém disser: “Deixa isso prá lá, está no passado” ao relatar o abuso e a negligência sofridos na infância que lhe afetaram como pessoa, lembre-se de que este tipo de balela retarda o crescimento pessoal tanto do falante quanto do ouvinte, além de criar uma distância emocional e afetiva entre os dois. 

5 razões dos irmãos não ficarem do seu lado

Se for leitora assídua deste blog e já devorou o meu segundo livro Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura sabe como uso a minha experiência como terapeuta de filhas e filhos de mães narcisistas para ilustrar como o abuso narcisista afeta a saúde mental e os relacionamentos. Uma reclamação frequente é a dificuldade de terem o seu sofrimento reconhecido de forma íntegra pelos irmãos, algo que se torna um grande desapontamento. Para entender isso e libertar-se de outro fardo do legado narcisista, elencam-se 5 razões dos irmãos não ficarem do seu lado:

5 razões dos irmãos não ficarem do seu lado
A filha de mãe narcisista raramente tem o seu sofrimento reconhecido pelos irmãos

1- Carência de amor de mãe: mesmo que amem muito os irmãos, este amor não é páreo para a sua necessidade orgânica de sentirem-se amados e aceitos pela mãe, o que nunca se materializa de forma incondicional e genuína, já que se trata de uma narcisista. Além disso, vivem em um mundo de negação e recusam-se a enfrentar a verdade narcisista; o luto pela perda da mãe no sentido afetivo da palavra fica pendente e contribui para perpetuarem esta carência profunda.  

2- Medo, culpa e vergonha: a mãe narcisista é mestra em chantagem emocional, portanto, usa o medo, a culpa e a vergonha para manipular os filhos a sentirem-se eternamente endividados, dependentes e aprisionados a si. Desta forma, ir contra uma mãe narcisista para defender o irmão ou a irmã que ousa expor o seu comportamento abusivo e impróprio não somente requer estâmina, mas muita coragem.

3- Falta de empatia: é natural para certos filhos e filhas de mães narcisistas terem certa dificuldade de sentirem verdadeira empatia pelos outros, já que foram educados por um indivíduo extremamente egoísta e egocêntrico.  

4- Dependência emocional: como precisam que a mãe se sinta bem para nutrirem um falso senso de segurança interno, os filhos e filhas de mães narcisistas emocionalmente dependentes são incapazes de defenderem alguém de sua presença nefasta, sejam os irmãos ou, até, a si próprios.   

5- Conveniência e crença negativa “sou incompetente”: aquele irmão ou irmã condicionado a acreditar, desde criança, que não é capaz de prosperar ou conseguir administrar a própria vida sem a influência da mãe narcisista e da família tóxica, dificilmente irá desvencilhar-se desse controle e sacrificar os ganhos secundários (ajuda financeira e/ou com os filhos, acomodação grátis etc.) por você ou quem quer que seja.

Para conseguir superar ainda mais outra perda – a da validação e do apoio dos irmãos – recomendo continuar a praticar o luto e a agir de maneira adulta, centrada e emocionalmente autônoma. Lembre-se de que, apesar de sentir-se triste e com raiva da injustiça que ainda sofre, possui o dom da autoconsciência e uma incrível resiliência, os quais lhe permitem traçar uma jornada de crescimento pessoal intensa, autêntica e recompensadora.    

Você é viciada em drama?

Como filho ou filha de mãe narcisista, foi criado e se desenvolveu em um ambiente permeado de ameaças ao seu bem-estar. A longo prazo, isso tem um efeito marcante e duradouro no cérebro, particularmente na região que nos prepara para lidar com perigos, chamada sistema límbico (ou “cérebro emocional”). Para tais vítimas do estresse crônico e abuso por prolongados períodos, o sistema de alerta permanece preso no modo sobrevivência – o que pode contribuir para que se tornem “viciados no medo” ou nas sensações de euforia associadas ao efeito desta emoção no corpo.

Você é viciada em drama
O medo produz sensações de euforia que podem tornarem-se viciantes

Por mais que pareça incoerente, “sentir-se bem” ou “menos inadequado” quando com medo ou inseguro faz sentido sob uma perspectiva neurobiológica. Isso se deve ao fato de que a resposta luta ou fuga ou o medo que se origina da nossa percepção de perigo, por exemplo, aciona os receptores de adrenalina e dopamina no cérebro. A dopamina, em particular, foi conectada não apenas ao prazer, mas também aos comportamentos de recompensa, busca e evasão. A combinação desses hormônios nos faz sentir física e emocionalmente “turbinados” e produz uma sensação de euforia com o potencial, portanto, de tornar-se bastante viciante.

Esse vício no medo faz com que muitos filhos e filhas de mães narcisistas tornem-se, literalmente, viciados em drama. A seguir exemplos de como isso pode ser observado na prática:

  • A história da sua vida é facilmente resumida por um grande número de desastres e eventos adversos. A sua narrativa pessoal é, portanto, supernegativa e carregada de pessimismo e falta de objetividade.
  • Aqueles que são maduros emocionalmente, centrados, possuem uma atitude positiva e, portanto, vivem uma vida tranquila, entediam você. Embora de forma altamente inconsciente, você atrai pessoas difíceis, com problemas de saúde mental, abusivas e/ou imaturas emocionalmente ou gravita na direção destas para manter a vida repleta de altos e baixos e o medo de rejeição e abandono sempre presentes, o qual lhe é tão familiar e confere-lhe um senso de segurança deturpado.
  • O que você consome, faz e vivencia reforça o seu medo e estado de hipervigilância. Garantir que os dias sejam preenchidos com milhares de atividades, sentir-se (secretamente) orgulhosa de estar sempre ocupada, ouvir podcasts ou assistir documentários de crimes reais, ser viciada em notícias e controvérsias, recusar-se a não se envolver nas histórias de drama e participar dos processos de triangulação da família tóxica, assim como ler livros referentes a histórias de violência, abuso e trauma – sejam de natureza técnica ou biográfica – além de beber grandes quantidades de café e consumir alimentos ricos em carboidratos refinados – tais como pão branco e massa – são todos exemplos de como os viciados no drama mantêm-se “ligados”

Para reduzir a dependência no medo e manter-se em um estado equilibrado, recomendo as práticas que estimulam a ativação do córtex pré-frontal, a região do cérebro responsável, entre outros, pelo controle do impulso e equilíbrio emocional. Incluir a meditação mindfulness na sua rotina, aumentar a autoconsciência através do monitoramento e questionamento dos pensamentos negativos, adotar uma dieta integral baseada em plantas, fazer exercício regularmente e reduzir drasticamente ou cortar o contato com a família tóxica, por exemplo, são algumas medidas que o ajudarão a baixar o basal do estresse e garantir um aumento na qualidade de vida e melhora em sua saúde física e psicológica/emocional.

A mania de grandeza na filha de mãe narcisista: a pior e a melhor em tudo

Se você já possui certo conhecimento e experiência com o narcisismo, seja de forma direta como filho(a) de uma mãe ou pai narcisista, seja indireta como terapeuta de um(a), compreende como a mania de grandeza influencia o comportamento destes tipos de genitores. Trata-se de uma das características mais facilmente associadas ao narcisismo estereotipado ou àquele indivíduo arrogante e inseguro que usa o que é belo, caro e sofisticado, por exemplo, assim como tudo o que lhe confira poder, influência e status, tais como: títulos, aparência pessoal, sucesso profissional, financeiro e acadêmico etc. como suprimento para criar um falso senso de identidade, autoestima e bem-estar  (para um estudo mais aprofundado da mania de grandeza na mãe narcisista, recomendo a leitura do capitulo “1.7 A mania de grandeza” do meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas).   

A mania de grandeza na filha de mãe narcisista a pior e a melhor de tudo
Exagerar o valor de suas habilidades, aparência ou conquistas ou nutrir uma percepção pessoal negativa também é mania de grandeza

Embora a mania de grandeza e a necessidade patológica de se destacar sejam evidentes nos comportamentos narcisistas mencionados, não se limita a quem o possua, pois a mania de grandeza surge da ênfase do que é extremo e, portanto, qualquer um pode manifestá-la para exagerar a importância ou o valor de algo, seja para um nível alto ou baixo. Desta forma, tanto a filha de mãe narcisista quanto a genitora podem exibir comportamentos condizentes com a mania de grandeza quando, por exemplo, exageram o valor de suas habilidades, aparência ou conquistas ou nutrem uma percepção pessoal negativa. Em ambos os casos, o indivíduo não consegue obter um senso de bem-estar através de uma autoimagem realista e equilibrada, mas realça qualidades ou defeitos que supõe possuir para adquirir um senso de relevância e “amor-próprio” deturpados.

Isso se torna claro na sala de terapia quando os meus clientes, filhos de pais e mães tóxicos/narcisistas/abusivos/emocionalmente negligentes gravitam entre “a melhor” e “a pior” versão de si próprios no decorrer do processo de autoexploração e conhecimento ou na fase inicial de reorganização de sua narrativa pessoal. O relato do(a) cliente bem-sucedido(a) profissional e financeiramente, por exemplo, que não consegue ver-se além de seu peso e feitos incríveis de forma íntegra e centrada não se diferencia daquele(a) que quando pergunto, “Me conta algo sobre você” e define-se – exclusivamente – através de uma longa lista de eventos traumáticos, problemas catastróficos e diagnósticos terríveis. Vale lembrar que ter o sofrimento validado com empatia no contexto terapêutico é, sem dúvida, importante para lidar com os efeitos do trauma, contudo, é igualmente importante se reconhecer como filho(a) de mãe narcisista. Dessa maneira, há probabilidade do pensamento e comportamento estarem sendo guiados pela mania de grandeza herdada da educação tóxica, o que corrompe a autopercepção ao mesmo tempo em que pode impedir o indivíduo de se conceber de modo saudável e realizar-se como pessoa.        

Caso tenha se identificado, recomendo aumentar a autoconsciência e monitorar ativamente a tendência de formular uma visão própria demasiadamente tendenciosa – seja para o negativo ou positivo – como se houvesse algo de errado em ser simplesmente você, excluindo as ações extraordinárias e os superlativos. Celebre a sua humanidade através da prática de ver-se como uma mistura maravilhosa de adjetivos e cores variadas ou como uma linda pintura que, apesar de inacabada, bela e falha, exibe riqueza e complexidade únicas.    

A sua família é tóxica? Faça o teste

Faça o teste “A sua família é tóxica?” se acredita que provenha de uma. O questionário a seguir ajudará a revelar o nível de falta de funcionalidade de sua família. Responda com “sim” ou “não”. Após completar o questionário, conte o número de respostas “sim” e leia o comentário de interpretação de pontuação.

Descubra o nível de falta de funcionalidade de sua família

1- Embora não se sinta confortável com o termo “abuso” (verbal, emocional/psicológico, físico, sexual, espiritual), consegue identificar os comportamentos da mãe e/ou do pai como característicos de quem os pratica.

2- Há muitos segredos e triangulação em sua família, a ponto de nunca saber o que é verdade ou em quem pode confiar.

3- Os seus pais têm o hábito de envolvê-la, de forma direta e consciente, nos problemas de ordem financeira, relacional e/ou emocional deles, invertendo os papéis como se você fosse a mãe.

4- Você não se sente vista tampouco ouvida por sua família, é como se os seus sentimentos, interesses e suas vontades não tivessem nenhuma importância.

5- Pelo menos um de seus pais tem o vício ou hábito de se automedicar com drogas, álcool ou comida.

6- Você nunca recebe reconhecimento genuíno por esforços e conquistas, pelo contrário, quando consegue um êxito, é tratada com indiferença, desdém ou desrespeito.

7- Os seus pais usam as suas vulnerabilidades contra você para mantê-la pequena, infantilizada e submissa.

8- A autoafirmação é um supergatilho para você. Quando necessita defender-se ou tomar decisões de forma independente e assertiva, fica ansiosa, congela, faz tudo para evitar conflitos, procrastina e/ou age de modo desnecessariamente agressivo.

9- Na presença da sua família, sente-se inferior, insegura, inautêntica, impotente, desesperançada e cansada. É como se sugassem toda a sua alegria, boa vontade, autoestima e energia de vida.

10- Dizer não ou não fazer exatamente o que os seus pais querem desemboca em brigas e desentendimentos, portanto, acredita que é melhor submeter-se a sua tirania “para não se desgastar mais”.

11- Os seus pais exigiam que trabalhasse, cuidasse de si própria, dos irmãos e/ou da casa, quando ainda não tinha idade ou maturidade para isso.

12- Nenhum momento especial da sua vida é verdadeiramente seu ou celebrado com alegria e orgulho por seus pais. Aniversários, formatura, casamento, nascimento de filho, promoção no trabalho etc. passam em branco ou são “comemorados” de forma forçada ou sem entusiasmo genuíno.

13- Os seus pais não toleram erros. Quando alguém erra, é bombardeado com crítica destrutiva ou destratado.

14- Você vive pisando em ovos ao redor de, pelo menos, um de seus pais, pois são extremamente reativos e imprevisíveis.

15- Os sentimentos mais associados à sua família são culpa (dever/obrigação), vergonha, medo/ansiedade, tristeza, raiva e impotência.

16- Você não se sente compreendida pelos irmãos ou tem sérios problemas de relacionamento com eles.

17- Se já não cortou contato com pelo menos um membro de sua família, constantemente pensa nessa possibilidade.

18- Embora o seu pai ou a sua mãe reconheça, mesmo de forma silenciosa, que o outro é tóxico e uma péssima influência para os filhos, não se posiciona com firmeza para protegê-los, pelo contrário, facilita, de modo indireto e negligente, a perpetuação dos comportamentos disfuncionais.

19- Você tem a tendência de agir de forma codependente e emocionalmente dependente nos relacionamentos e, embora seja consciente disso, tem dificuldade de sentir-se confortável ao dizer não, em acreditar e priorizar os seus sentimentos, bem como agir de forma autônoma.

20- Você possui uma tolerância baixíssima ao desconforto, portanto, fica ansiosa quando alguém não está bem a sua volta ou quando as coisas não dão certo, levando tudo para o lado pessoal.

Análise de pontuação do teste família tóxica:

1 – 5: a sua família tem traços de falta de funcionalidade

6 – 9: a sua família é disfuncional

10 – 15: a sua família é altamente disfuncional

16 – 20: a sua família é tóxica

Para um estudo aprofundado do que é uma família disfuncional e os efeitos no desenvolvimento, recomendo a leitura do meu novo livro Desconstruindo a família disfuncional

Isso também é abuso sexual: entenda o que é o abuso sexual oculto/dissimulado

Já que o índice de abuso sexual é tão alto entre filhos e filhas de mães narcisistas e suas consequências tão marcantes na sua autoimagem, autoestima e qualidade de vida sexual e nos relacionamentos a longo prazo, é pertinente usar este espaço para esclarecê-lo. Ao contrário do mantido pela população leiga, o abuso sexual é mais abrangente do que a violação sexual aberta através de toque ou relações induzidas ou forçadas, pois também ocorre de forma indireta através de comportamentos negligentes e verbalmente abusivos. Para auxiliar a sua compreensão acerca do abuso sexual oculto/dissimulado, incluo exemplos de como pode ser observado no contexto familiar disfuncional:

Abuso sexual oculto dissimulado
Não conversar com a criança sobre sexo e menstruação constitui abuso sexual oculto

Não receber educação sexual: não conversar com a criança sobre sexo e menstruação, por exemplo, constitui abuso sexual oculto, pois afeta a sua capacidade de entendimento e identificação funcional com os processos naturais de crescimento, desenvolvimento e funcionamento de seu corpo. Quem é forçado – através de muito segredo e sentimentos de inadequação – a negar a própria sexualidade como se fosse algo impróprio até para o diálogo, aprende a associar a expressão sexual com a vergonha não de uma forma saudável, mas de forma tóxica através da autorrejeição.

Abuso verbal: consiste em “falar sobre sexo de forma inapropriada” (Bradshaw, 2005). Isso pode compreender o uso frequente e indiscriminado de nomes de ordem chula ou desrespeitosa com a criança ou adolescente, tais como “puta” ou “vagabunda” quando demonstra interesse por sexo de uma forma saudável e condizente com o seu estágio de desenvolvimento, por exemplo. Condenar a masturbação e a autoexploração sexual através de comentários maldosos e insultos que comunicam a repugnância e visam envergonhar a criança também é abuso sexual oculto/dissimulado. Além disso, ter o hábito de tratar o filho com desdém por ser do sexo masculino e ter ereções e desejo sexual, afirmando que todos os homens “só pensam em sexo”, por exemplo, é um ato que compromete o desenvolvimento de uma identidade sexual saudável e sem culpa.  Fazer comentários inapropriados sobre o tamanho dos seios, vagina ou pênis da criança ou adolescente, por exemplo, ou sexualizar a união de afeto e carinho da filha com o pai ou do filho com a mãe são outros exemplos de como o abuso verbal também desemboca no sexual.

Violação de limites: pais que não trancam a porta ou agem de forma indiscreta quando estão tendo relações sexuais, por exemplo, que tem o hábito de circularem pela casa em vestimentas sexualmente provocativas ou até nus, assim como aqueles que não respeitam o direito da criança ou adolescente à privacidade em seus próprios quartos ou no banheiro, estão infringindo os limites e cometendo abuso sexual oculto (Para aprender a criar e honrar os limites pessoais, recomendo a leitura do capitulo “4.7 Entendendo e respeitando limites” do meu primeiro livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas).

Abuso sexual emocional/Incesto dissimulado: é quando o pai ou a mãe usa a criança ou adolescente como uma fonte de apoio emocional compartilhando detalhes de sua vida romântica/sexual como se estivessem conversando “de igual para igual”.  Tratar os filhos como pequenos cônjuges e usar o relacionamento para satisfazer as necessidades de conexão e intimidade emocional que deveriam ser atendidas por outro adulto também é abuso sexual oculto/dissimulado.

Portanto, é impossível manter um relacionamento íntimo e saudável consigo próprio e com um parceiro amoroso quando se sofre de vergonha crônica resultante de trauma provocado por abuso de qualquer natureza e, em especial, sexual (seja aberto ou oculto). Se se identificou com o que foi relatado, recomendo tratar a questão com a seriedade e atenção que merece e abordá-la de maneira proativa, já que pode estar afetando – de forma extremamente negativa – a sua habilidade de sentir-se confortável dentro da própria pele e no contexto de relacionamentos.

Referência:

Bradshaw, J. (2005). Healing the shame that binds you (2nd ed.). Deerfield Beach: Health Communications Inc.

Quando o sucesso é gatilho: a síndrome do impostor

Recentemente, a atitude de um cliente, filho de pais narcisistas, relembrou-me de como a síndrome do impostor é debilitante. Robert*, britânico de 35 anos, iniciou a sessão de terapia relatando, de forma bastante animada, como havia se destacado em um curso de liderança, do qual participou com os colegas da empresa de consultoria em que trabalha. Com um supersorriso, começou a descrever como haviam comentado de que, até então, não tinham percebido o quão significantes eram o seu conhecimento e experiência e entusiasmado, finalizou com o comentário: “Até o meu chefe e dono da empresa ofereceu-me um cargo fixo de liderança após o curso, foi mesmo incrível”.  Quando comecei a parabenizá-lo pelo sucesso e compartilhar de seu entusiasmo com o que havia acontecido, reparei que a sua linguagem corporal começou a mudar, os ombros caíram, os olhos ficaram brilhantes como se estivessem com lágrimas e o tom de sua voz tornou-se mais baixo e lento. O meu corpo e as emoções que sinto são grandes ferramentas no trabalho que faço, perguntei se havia algo de errado, pois captara certo desconforto da parte dele. Com a postura, então, já bastante retraída, confessou que estava se sentindo inadequado por ter falado de si próprio de modo autoconfiante e tido a sua história de sucesso validada por mim.

Quando o sucesso é gatilho: a síndrome do impostor
A síndrome do impostor é a tendência de questionar o próprio mérito e duvidar das próprias habilidades

O ataque de vergonha do Robert é típico de quem possui a síndrome do impostor. Como explico em meu livro Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, é a tendência de questionar o próprio mérito e duvidar das próprias habilidades, resultado de anos de abuso verbal e manipulação emocional por um ou demais genitores tóxicos e/ou negligentes emocionalmente. O excesso de crítica, a inveja, o desdém e a falta de interesse da mãe narcisista, por exemplo, causam grande trauma no filho ou na filha, a ponto destes associarem as conquistas e os eventos positivos em suas vidas com algo ruim com o potencial de desembocar em sentimentos de inadequação e perda. Porque a mãe narcisista tem o hábito de demonstrar grande desgosto ou ignorar, conscientemente, a performance de excelência dos filhos, assim como questionar o mérito de suas habilidades, ficam condicionados por tais experiências traumáticas a conceberem o próprio sucesso como algo vergonhoso. Foi triste observar como o momento de triunfo e glória de Robert funcionou como um gatilho para o surgimento de seu trauma da infância e afetou a sua capacidade de se sentir orgulhoso e celebrar a sua vitória sem um medo irracional da sua suposta “incompetência” ser descoberta, como se não fosse digno tanto de suas próprias qualidades como do reconhecimento destas.

Se como o Robert sente-se “nervoso” (envergonhado/inadequado e com medo/ansioso) quando alguém reconhece uma qualidade sua, faz um elogio ou expressa qualquer tipo de interesse e até entusiasmo por você e suas capacidades, recomendo analisar o problema conscientemente, pois a síndrome do impostor pode influenciar, de forma bastante negativa, a sua habilidade de realizar o seu potencial. Quando demonstra uma linguagem corporal insegura, desconfortável ou receosa de ser visto como um indivíduo adulto e competente, a probabilidade de que os outros o vejam desta forma aumenta. Enquanto que não se faz necessário sentir-se 100% confiante por dentro para emanar uma energia de autoestima por fora, é vital que mude a mentalidade de perdedor e farsante para uma de credibilidade e assertividade caso tenha como objetivo crescer e desenvolver-se, seja na área pessoal, acadêmica ou profissional. Se for filho ou filha de pais tóxicos e necessita de ajuda para agir com amor-próprio e sentir-se com mais autonomia de dentro para fora, recomendo a leitura, em especial, do capítulo final de número quatro do meu livro Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, “Os cinco ases de emancipação da filha de mãe narcisista”.

*Nome fantasia para proteger o anonimato de meu cliente

Para honrar a sua raiva

Embora seja instrumental para o nosso senso de valor e autoproteção, a raiva é uma das emoções mais incompreendidas. Crianças e mulheres, especialmente, são criticadas por possuírem-na e expressarem-na, como se a raiva nunca tivesse mérito ou aplicação na sua experiencia. É através desta emoção, contudo, que o corpo mobiliza a energia para reavermos a nossa autoestima, por exemplo, bem como respeitarmos os nossos limites ou nos defendermos, seja de forma física ou verbal. A raiva também ajuda a equilibrar a tristeza e o medo e a fazer com que reavemos o controle sobre uma situação ou até de nós mesmos. Um corpo humano, cuja raiva tenha sido condicionada a ser reprimida, torna-se vulnerável ao abuso, à negligência e a uma grande variedade de problemas de ordem física, psicológica/emocional e relacional. Apesar da conexão com a raiva ser tão fundamental para garantir o nosso bem-estar, a atitude de ignorância em relação a ela é tão grande que achei pertinente usar o meu blog para ajudar a esclarecer para desmitificá-la e humanizá-la. Este artigo, portanto, tem o intuito de honrar a sua raiva.

Para honrar a sua raiva
A conexão com a raiva é fundamental para garantir o nosso bem-estar

“Sentir raiva da mãe é feio”

Você não precisa ter uma mãe narcisista para ter ouvido esse comentário em sua infância. Se como a maioria de nós, tiver recebido uma educação rígida e que reflita uma atitude de imaturidade e negligência emocional, aprendeu, desde pequeno, a negligenciar as emoções negativas como propósito prático e, por isso, não devem ser toleradas. Também aprendeu que deve sentir-se envergonhado e culpado por possui-las, as quais só são válidas se justificadas por um argumento objetivo e se aprovadas por outras pessoas. A sua raiva, portanto, assim como tristeza, surpresa, medo, nojo e vergonha sentidos, deve ser racionalizada e aceita por terceiros para que tenha valor. Esta atitude errônea e inflexível de racionalização e consequente desumanização das emoções negativas, embora mantida por pais bem-intencionados, compromete a nossa integridade e habilidade de nos desenvolvermos de forma saudável e operarmos satisfatoriamente em todas as áreas de nossas vidas.  

“Quem expressa a raiva é fraco, descontrolado”

Embora sufocar a raiva, fazer um esforço tremendo para controlar as emoções negativas e negar a sua existência seja visto como um sinal de força e equilíbrio, negligenciar as próprias emoções é, na realidade, uma atitude imatura e impensada de quem não monitora a própria experiência, seja de forma interna ou externa, para compreender o efeito que os seus atos tem em si e nas outras pessoas. A raiva, mesmo quando reprimida pela cultura de excesso de racionalização, fica armazenada no corpo e extravasa, até de forma inconsciente, em contextos diversos. Por não ser respeitada e aceita socialmente, a raiva tende a ser a emoção negativa que sofre mais descolamento, ou seja, mecanismo de defesa que faz com que lidemos com emoções negativas através de uma pessoa ou circunstância menos ameaçadoras, ou que nos deixa mais à vontade para a sentirmos e a expressarmos. A tendência de descarregar a raiva nos filhos e agir de modo agressivo-passivo, ambos comportamentos típicos de genitores tóxicos, tais como da mãe narcisista, são exemplos clássicos de como o esforço para negá-la é infrutífero e desemboca em problemas sérios de relacionamento e, até, em abuso e trauma.

A raiva acumulada

Caso tenha sido vítima de abuso narcisista, a probabilidade que sofra de raiva acumulada é muito grande, já que se trata de um dos efeitos mais comuns do trauma do desenvolvimento. Quem sofre de raiva acumulada tende a apresentar, entre outros, os seguintes sintomas:

  • alta reatividade
  • irritabilidade, falta de paciência
  • hipervigilância
  • tristeza
  • sentir-se usado, desvalorizado, baixa autoestima
  • sarcasmo, desejo de criticar e ferir o outro com palavras, agressividade passiva
  • ver a vida como uma batalha, os outros como inimigos ou pessoas que querem se aproveitar de você ou humilhá-lo  
  • levar tudo para o lado pessoal
  • problemas do sono
  • armouring: rigidez nos músculos dos ombros, costas, pescoço e mandíbula
  • dores de cabeça
  • fadiga
  • aumento da pressão sanguínea
  • problemas gastrointestinais

Se se identifica com o dito acima, recomendo abordar o seu problema de raiva acumulada o quanto antes através de uma atitude proativa, consciente e responsável, já que tem o potencial de afetar a sua saúde, a qualidade de vida e relacionamentos de uma forma dramática. 

Você tem direito a sua raiva

Como ser humano, você tem total direito de sentir o que for. Ninguém tira este direito de você, independente do argumento (incluindo, “Mas ela é sua mãe”), já que a sua experiência subjetiva consiste em um direito universal seu. Assim como você não precisa justificar o seu valor para tê-lo, todas as suas emoções não precisam ser explicadas para que adquiram relevância e sejam honradas, basta existirem para que, automaticamente, sejam merecedoras de sua atenção. É claro que honrar a sua raiva não lhe dá permissão para abusar dos outros livremente. Se você só consegue expressar a raiva de forma polarizada e disfuncional, ou seja, reprimindo-a ou expressando-a de forma extrema, precisa reavaliar o seu estilo e aprender formas saudáveis de lidar com ela.  Aprender a comunicar a sua insatisfação de forma assertiva, não violenta e polida, revela-se essencial para quem deseja conectar-se com a raiva de maneira autêntica e produtiva.

Honrando a raiva do filho e filha de mãe narcisista

Passar anos sendo humilhado, rejeitado e ignorado por uma mãe narcisista, abusiva, egoísta e egocêntrica, enquanto se é negado o direito de sentir-se mal em relação a tudo isso, é enfurecedor. Tornar-se adulto e dar-se conta disso e, ainda, não ter o direito de validar essa raiva, mais ainda. Para encerrar com este ciclo de negligência e dependência emocional (para compreender o que é a dependência emocional e como superá-la, recomendo o meu curso online, “A dependência emocional”), é vital que comece a honrar a sua raiva neste momento e de forma autônoma, mesmo que ninguém a sua volta esteja disposto a fazê-lo. Só você tem o poder de transformar a sua vida e o relacionamento que tem com as emoções. Para beneficiar-se de uma conexão saudável com a raiva, faça dela a sua melhor amiga e aprenda a processá-la e observá-la, sem julgamento. Quando acolhe todas as partes de si, está praticando o amor-próprio de dentro para fora. Se necessita de ajuda para mudar o relacionamento com a raiva, recomendo o meu curso online “Como fazer o luto da mãe narcisista de forma orgânica”. Neste curso, você aprenderá a reconectar com o corpo e a processar a raiva resultante de seu trauma de forma saudável.   

Por que sofro tanto? Entenda o que é a compulsão da repetição do trauma

Você se sente como um ímã para problemas? Seja na área pessoal/relacional, acadêmica ou profissional? Parece não conseguir levar a vida de uma forma harmoniosa e sem drama? Você atrai, com grande frequência, pessoas difíceis ou se coloca em situações que prejudicam a sua saúde emocional?

Por que sofro tanto? Entenda o que é a compulsão da repetição do trauma

Na compulsão da repetição do trauma, o cérebro da vítima fica “preso” no modo resolução

Caso tenha se identificado e tenha uma história de trauma da infância – como é o caso de filhos e filhas de mães narcisistas – pode estar sob a influência de um de seus efeitos mais marcantes: a compulsão da repetição do trauma. Neste artigo, aprenderá o que é, porque acontece e como superar esta tendência.

A compulsão da repetição do trauma

A compulsão da repetição do trauma compreende uma estratégia de defesa que faz com que a vítima “recrie e, repetidamente, reviva o trauma nas suas vidas presentes” (Levy, 1998). Na prática, esta inclinação é observada, primeiramente, na alta ocorrência de abuso de quem sofreu o trauma da infância, por exemplo. Na minha prática como conselheira do trauma e de filhos e filhas de pais tóxicos, este fato mostra-se bastante óbvio, já que o abuso e a negligência que sofreram com a mãe narcisista e o pai facilitador tendem a se repetir na idade adulta e fora do ambiente familiar. Este fenômeno é tão comum que, para a população leiga, parece ser um “vício” ou “amor” pelo drama. Embora aparentem ser atos conscientes e refletir uma escolha da vítima, são de natureza altamente involuntária, pois correspondem a estratégias de enfrentamento disfuncionais resultantes de uma tendência hipervigilante e neurobiologia alterada pelo trauma.

Mestre do seu trauma?  

Quando um evento adverso ocorre em nossas vidas, é natural despendermos grande energia para tentarmos compreendê-lo para que possamos integrá-lo, cognitivamente, além de aprendermos com a experiência para que a probabilidade de ocorrer novamente seja reduzida. Ruminar acerca do trauma também tem um efeito emocional positivo, pois nos ajuda a aceitá-lo e sentirmo-nos em paz com o ocorrido, facilitando o crescimento pós-traumático. Quem já levou um fora de um(a) namorado(a), sabe como refletir acerca do relacionamento e das possíveis razões deste desfecho tem, muitas vezes, um efeito calmante. Conversar com o(a) ex para entender o que aconteceu revela-se, em certos casos, fundamental para o processo curativo da ferida emocional. Este mecanismo é muito eficiente, pois está no centro dos nossos mecanismos de equilíbrio emocional, defesa e autopreservação. Em tais casos, tornar-se mestre do seu trauma reflete o uso de estratégias de enfrentamento saudáveis e tem um efeito produtivo na sua vida.

Em outros cenários, contudo, este mecanismo é usado de forma obstinada, inconsciente e disfuncional. No contexto de filhos e filhas de mães narcisistas, por exemplo, tende a não resultar na resolução e superação do trauma, mas na sua perpetuação. Isso se deve ao fato de que o abuso e a negligência que sofrem nas mãos de uma mãe narcisista e pai facilitador é um problema sem solução. Porque o problema não pode ser corrigido tampouco resolvido, já que ambos raramente admitem o efeito que têm sobre os filhos e melhoram a sua atitude, o cérebro da vítima fica “preso” no modo resolução, até que consiga solucioná-lo, de alguma forma. Sob a influência de tal configuração cognitiva,  tornam-se escravos cegos de tais forças e gravitam na direção de pessoas e situações que replicam as do trauma da infância, para que consigam resolvê-lo, aprender com o mesmo e reduzir a probabilidade de se repetir. No entanto, continuar a expor-se ao abuso e à negligência, repetidamente, tem o efeito contrário, não de aperfeiçoamento, mas de retraumatização, além de trazer mais desapontamentos e destruição de autoestima.

Para entender como isso funciona na prática, seguem alguns exemplos de compulsão da repetição do trauma em filhos e filhas de mães narcisistas:

  • Insistir em reparar o relacionamento com a mãe abusiva, “curá-la” de seu narcisismo ou “aprender a lidar com ela” (desenvolvendo, supostamente, uma tolerância ao abuso)
  • Ter uma história de relacionamentos disfuncionais com pessoas emocionalmente imaturas, negligentes e, até, abusivas, enquanto tenta “ajudá-las” (tendência codependente)
  • Valorizar (inconscientemente) profissões ou ambientes de trabalho que possuem ou até glamorizam uma cultura de bullying e negligência emocional
  • Forçar-se a expor-se a situações difíceis, que a façam sentir-se mal e funcionam como gatilhos de seu trauma para “aprender a lidar”

Livre de compulsão, livre de trauma  

A compulsão da repetição do trauma envolve crenças e comportamentos rígidos mantidos de forma impensada. Quando os seus atos tornam-se hábitos que raramente são questionados ou reavaliados de modo consciente, você opera em piloto automático e perde a conexão com o presente e o próprio bem-estar. Como uma marionete do seu trauma da infância, passa a vida tentando solucionar um problema sem solução, desperdiçando precioso tempo e energia de vida. Caso queira readquirir o controle sobre si própria e, finalmente, libertar-se desta compulsão, seguem 5 dicas de como erradicar a compulsão da repetição do trauma:

  • Torne-se superconsciente de suas verdadeiras motivações de vida: observe os seus pensamentos, relacionamentos e suas atitudes com a cautela de quem está em processo de cura de uma longa história de trauma e, por esta razão, apresenta uma tendência à compulsão da repetição do trauma. Traga o obscuro à superfície e analise-o com muita maturidade e objetividade, resistindo a tendência de agir somente baseado em reflexos, intuições e emoções fortes.
  • Pare de forçar-se a sofrer para, supostamente, “aprender” com o ocorrido: você não aprende somente com a dor ou com os eventos adversos de sua vida, mas, também, através de pessoas, experiências e coisas boas, bem como de forma adulta, consciente e centrada. Chega de sofrimento. Comece a praticar a autopreservação de maneira consciente e proativa.
  • Reavalie o verdadeiro papel dos seus relacionamentos e o efeito que têm em você: se o seu amigo/parceiro amoroso não respeita as suas emoções, usa o seu ouvido como penico e não mostra interesse nenhum em você, por que insiste neste relacionamento? Isso é amor ou uma reencenação do seu trauma? Reconecte-se com os sentimentos, concentre-se em quem lhe faz bem e pare de sabotar a sua felicidade.
  • Aprenda a valorizar-se: questione as crenças rígidas que não a favoreçam e fazem com que acabe sempre em ambientes e relacionamentos disfuncionais. Celebre a paz, o amor e o respeito em todas as áreas de sua vida e cultive-os nos lugares e com as pessoas certas. Se necessita de mais ajuda para atingir este objetivo, recomendo a leitura do meu segundo livro, Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.
  • Não tolere abuso, seja de quem for: pare de tentar justificar o abuso e comece a defender o seu bem-estar. Aceite quando uma pessoa é abusiva e/ou tem o hábito de ignorar as suas emoções e distancie-se dela ou mude a dinâmica do relacionamento, drasticamente. Concentre-se em pessoas que a tratam com respeito e fazem-na sentir-se vista, adulta e relevante.  O meu livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas contém dicas superpráticas de como cortar o contato com a mãe narcisista.

Referência:

Levy, M. S. (1998). A Helpful Way to Conceptualize and Understand Reenactments. J Psychother Pract Res 7(3): 227–235. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3330499/

3 sinais de que está presa em uma mentalidade de vítima

3 sinais de que está presa em uma mentalidade de vítima

A superidentificação com o papel de vítima faz com que se esqueça que tem o poder de dizer não ao abuso

É terrível, cruel e desesperador sofrer abuso da própria mãe, além de ser solitário e doloroso não contar com o apoio emocional dos responsáveis pelos próprios cuidados quando se é criança, vulnerável e dependente. Sobretudo, é injusto ter o seu desenvolvimento prejudicado e a visão de mundo corrompida por uma mãe egoísta e transtornada que nunca é devidamente considerada responsável pelo mau que causa aos filhos. Embora tudo isso seja a mais pura verdade e reflita a história dos filhos e filhas de mães narcisistas, não precisam pensarem, comportarem-se e sentirem-se como uma vítima para o resto de suas vidas. Quando este é o caso, no entanto, a superidentificação com o papel de vítima faz com que se concebam, exclusiva e excessivamente, através deste ângulo e “esqueçam” que, como adultos, são capazes e têm o poder de dizer não ao abuso e viver uma vida realizadora. Para ser relembrada da própria força e ajudá-la a pensar e agir como uma sobrevivente, destacam-se 3 sinais de que está presa em uma mentalidade de vítima:

1- A sua motivação de vida é o “tenho que”: desde o momento em que acorda até quando volta para a cama, o seu dia-a-dia é recheado de tarefas e obrigações que “têm que” cumprir. Quase nada do que faz é tratado como uma escolha, mas como uma obrigação, já que pensa e age como se fosse impotente e uma vítima das próprias circunstâncias. Apesar da vida, por vezes, exigir sacrifício e esforço, a sua existência é regida por supostas “necessidades” que são, aparentemente, criadas fora de você ou lhe foram impostas. Aí, você indaga, “mas eu tenho que escovar os dentes todas as manhãs, da mesma forma que também tenho que trabalhar para pagar as contas, já que os meus dentes não se limpam sozinhos e o dinheiro não nasce em árvore!”. Correto, concordo. Contudo, manter os dentes limpos e as contas em dia permanecem escolhas suas. Mesmo sendo mãe e responsável por outras vidas, agir de forma responsável também é uma escolha sua (pergunte a sua mãe narcisista!). Na realidade, a maior parte do que fazemos e, de certa forma, do que acontece em nossas vidas, também é uma consequência direta ou indireta das nossas escolhas, sejam feitas de forma consciente ou não.

2- Você tem uma baixa tolerância ao desconforto: por que algumas pessoas conseguem se controlar e não comer, beber ou comprar em excesso, por exemplo, enquanto outras têm tanta dificuldade? Há inúmeras razões que explicam os diferentes comportamentos humanos, já que somos seres complexos e únicos, o que torna impossível responder esta pergunta sem conhecer o indivíduo em questão, bem como a sua história pessoal. Uma característica universal de todos os sobreviventes de abuso e demais pessoas que conseguem implementar mudanças positivas em suas vidas e libertarem-se dos hábitos que não os favorecem, no entanto, é a habilidade de tolerar o desconforto, ou “sair da zona de conforto”. Embora tenda a ser extremamente custoso para as vítimas do trauma do desenvolvimento, tais como os filhos e filhas de mães narcisistas, não adotarem comportamentos autodestrutivos e que lhes proporcionem gratificação imediata, já que exibem uma dificuldade de regulação emocional, quando se esforçam em tolerar o desconforto proveniente de dizer não, resistir à pressão e tentação, agir de forma autêntica ou se afastarem  de pessoas tóxicas, por exemplo, as recompensas pessoais tendem a ser incríveis a longo prazo. Para aqueles que desejam quebrar o ciclo do abuso e viver uma vida autônoma e realizadora, é fundamental que estejam dispostos a se sentirem mal antes de se sentirem bem.

3- Você se afunda na autopiedade: enquanto reconhece o valor de sentir pena de si mesmo, já que é essencial no período de luto, além de refletir uma atitude complacente, tolerante e empática em relação a si, não é um recurso psicológico que deva ser usado em demasia. A vítima abusa deste recurso quando o usa com grande frequência e no lugar da autoconsciência. Na prática, isso acontece quando se concentra mais em sentir-se mal do que em questionar as circunstâncias de seu infortúnio e a sua participação, direta ou indireta, no decorrer dos eventos que o ocasionaram. Desta forma, perpetua esse estado convencendo-se de que é impotente, através da recusa de analisar o papel que o pensamento e comportamento exercem na própria existência. Portanto, se você dedica grande parte do tempo a reclamar da vida, mas nunca reflete sobre a função que exerce nela ou toma responsabilidade pelos próprios atos (ou ausência destes), está agindo como uma vítima. Embora sofrer com os maus-tratos de uma família abusiva, assim como não ter o seu sofrimento validado seja uma grande injustiça, forçar-se a manter-se eternamente endividada a esta, além de ficar presa à identidade de vítima e atitude passiva enquanto aguarda ser resgatada é uma atitude de sabotagem e negligência com a própria felicidade.

Caso tenha se identificado com o relatado e deseje mudar este cenário e adotar uma mentalidade de sobrevivente, recomendo o seguinte:

1- Use o “quero” no lugar do “tenho que”: quem é o agente da própria felicidade faz, predominantemente, o que quer e não o que “deve”. Se a sua rotina está repleta de atividades que se vê forçada a fazer, mas não se identifica, está na hora de reavaliar o seu propósito. Na minha experiência, contudo, é a mentalidade de vitimização e não necessariamente a qualidade do ato em si que define o efeito que tem em você. Passe a ver o mundo como um resultado das suas escolhas e diga para si mesma: “Eu quero ir trabalhar”, “Eu quero limpar a casa”, “Eu quero estudar”, por exemplo, em vez de “tenho que”, afinal de contas, correspondem ao que escolheu para si.

2- Aumente a tolerância ao desconforto: se ainda está aqui e conquistou tudo que tem após anos de abuso narcisista, significa que é muito resiliente. Portanto, é competente e tem a capacidade de implementar mudanças positivas em sua vida, apesar das adversidades. Não desista e aprenda a tolerar o desconforto que provém de se engajar em comportamentos produtivos e funcionais que a removem da zona de conforto e a catapultam ao sucesso pessoal, como dizer não ao que e a quem lhe faz mal. Faça um investimento a longo prazo em si mesma e passe a se tratar bem e agir com a autoestima. Você é merecedora do seu amor-próprio.

3- Redirecione o foco da sua atenção para dentro e não fora de si: em vez de passar horas tentando entender porque os seus familiares, “amigos” e vizinhos não conseguem nem estão dispostos a reconhecer o mal causado a você, pense no que você pode fazer para melhorar a sua qualidade de vida e estimular o seu bem-estar e crescimento pessoal. Chegou a hora de parar de depender dos outros para sentir-se bem e dar sentido a sua vida. Liberte-se da escravidão da aprovação alheia, das garras da culpa e vergonha e retome o controle sobre o próprio corpo e destino.

Como administrar a hipervigilância e sair do modo luta ou fuga

Como administrar a hipervigilância e sair do modo luta ou fuga

A meditação aumenta a felicidade

Como aprendemos no artigo anterior do blog do Filhas de Mães Narcisistas, a hipervigilância, ou a visão tendenciosa ao perigo, é um dos efeitos do trauma complexo de se crescer em um ambiente de abuso e estresse tóxico. Este estado contínuo de alerta, além de interferir com a capacidade de se sentir segura e ter controle das emoções, mantém ou exacerba os sintomas dos transtornos de ansiedade, como o obsessivo compulsivo e de estresse pós-traumático (simples ou complexo), por exemplo. Se sofre de ansiedade e gostaria de resolver o problema de forma autônoma, saudável e sem depender de remédios, seguem algumas estratégias funcionais de como administrar a hipervigilância e sair do modo luta ou fuga:

Pratique a meditação regularmente: a meditação é uma superferramenta de equilíbrio emocional, principalmente para quem sofre com os pensamentos disfuncionais e a preocupação excessiva. Uma vez que você consiga introduzir o hábito de limpar a sua mente deste lixo cognitivo, ficará em uma posição privilegiada para exercer o controle sobre as emoções antagônicas. Os benefícios da meditação, no entanto, excedem o da regulação emocional, mas incluem os seguintes:

A meditação aumenta …

  • a felicidade
  • a função imunológica
  • a massa cinzenta
  • o volume de áreas relacionadas à regulação emocional, emoções positivas e autocontrole
  • a espessura cortical em áreas relacionadas à atenção
  • a conexão social e a inteligência emocional
  • o foco e a atenção

Diminui…

  • a dor
  • a Inflamação em nível celular
  • a depressão
  • a ansiedade
  • o estresse

Melhora…

  • a capacidade de regular as emoções
  • a capacidade de introspecção
  • a produtividade
  • a capacidade de multitarefa
  • a memória
  • a criatividade

Eu recomendo muitíssimo o livro do Mark Williams, Atenção Plena: Mindfulness  para quem quer se iniciar na prática da meditação, já que contém áudios de meditações guiadas e vem no formato de um programa de oito semanas, o qual foi comprovado cientificamente ser capaz de induzir mudanças positivas no cérebro.

Faça um detox das redes sociais: a sua dependência do celular como fonte de entretenimento e distração, bem como de outros aparatos eletrônicos, tais como a TV, o computador e o tablet, tem um grande potencial de resultar em sobrecarga sensorial. Esta superestimulação, a qual tem início já quando acorda e termina somente à noite, aumenta a hipervigilância e, portanto, a ansiedade, além de mantê-la presa a um mau hábito. Limite o contato com as “telas” e o acesso às redes sociais para que, conscientemente, resista à tentação e aprenda a controlar o impulso. No seu tempo livre, leia um livro, jogue ou brinque com os filhos, medite, converse com um colega, parceiro ou com o vizinho, faça um chá, dance, ouça música, faça exercício ou saia para caminhar, por exemplo, substituindo, de forma proativa, um hábito prejudicial por aqueles que favorecem a sua saúde emocional.

Reduza o consumo de alimentos ricos em carboidratos: o que você come também afeta o seu humor. O consumo de alimentos ricos em carboidratos refinados como o pão branco, batata, arroz branco, massa branca, cereais/sucrilhos, bolos, biscoitos, iogurte com açúcar e sucos, por exemplo, pode causar um desequilíbrio hormonal que resulta na produção dos hormônios do estresse, tais como o cortisol e a adrenalina. Isso explica porque muitos de nós se sentem ansiosos entre as refeições, quando se observa um declínio no nível de glicose no sangue e uma produção dos hormônios do estresse, os quais são responsáveis, também, por restaurá-lo.

Faça exercício/atividade física regularmente: caminhar, correr e fazer aula de dança, por exemplo, contribuem com a melhora de humor, pois reduzem os sintomas da depressão e ansiedade. Isso se deve ao fato de que o exercício e a atividade física aumentam a produção de endorfinas e a sensibilidade do cérebro aos hormônios serotonina (associado ao bem-estar) e norepinefrina (associado à energia), os neurotransmissores que se acredita interferirem com o humor.

Reduza drasticamente ou corte o contato com as pessoas tóxicas: uma característica universal das pessoas tóxicas é que não conseguem regular as emoções nem agirem de forma centrada e empática nos relacionamentos. A mãe narcisista não é uma exceção, pois usa os filhos como muletas emocionais, manipulando-os e abusando destes para se sentir melhor consigo própria. Desta forma, o convívio com tal pessoa irritadiça, inquieta e profundamente insatisfeita, faz com que os filhos se vejam forçados a lidar com uma descarga negativa emocional que não provém de seus próprios corpos. Infelizmente, isso não é algo que possamos controlar com facilidade, pois as emoções são extremamente contagiosas, sejam positivas ou negativas. Essa nossa capacidade de sermos diretamente afetados pelo humor do outro se deve, grandemente, ao que os neurocientistas referem-se como “mimetismo automático” (Chartrand; van Baaren, 2009), ou a imitação inconsciente ou automática da fala, movimentos, gestos, expressões faciais e olhar fixo  das pessoas com as quais interagimos. De acordo com Prochazkova e Kret (2017), “Quando as pessoas inconscientemente imitam as expressões de emoção do parceiro, elas também passam a sentir as reflexões dessas emoções” (“When people unconsciously mimic their partner’s expressions of emotion, they come to feel reflections of those emotions as well”), o que explica porque você se sente tão mal ao lado da genitora narcisista, até quando se encontra de boca fechada. Portanto, se deseja sentir-se feliz e equilibrada, é vital que se concentre nos relacionamentos funcionais e nas pessoas que a favorecem emocionalmente, limitando o contato com aquelas que não lhe fazem bem, como, por exemplo, o seu gatilho número 1, nominalmente, a mãe narcisista. Se isto lhe parece uma ideia atraente, mas não sabe como executá-la, recomendo a leitura do meu livro Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas, pois contém dicas práticas de como cortar ou reduzir o contato através do “Relacionamento Light” (Prisioneiras… página 201).

Faça terapia: somente o fato de saber que tem alguém com quem conversar, que a compreende sem julgamento, é confortante, pois reduz os sentimentos de solidão, rejeição, alienação e isolamento, tão característicos das filhas de mães narcisistas. Além disso, ter um espaço seguro para desabafar, dar voz à angustia e externá-la ajuda a regulá-la, assim como as demais emoções antagônicas, tais como a raiva acumulada, tristeza e vergonha crônica, entre outros efeitos do trauma. Para ter acesso a uma lista completa dos efeitos do trauma e abordagens terapêuticas que recomendo para filhos e filhas de mães narcisistas, sugiro a leitura do Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.

Para não se sentir presa no feedback loop da hipervigilância e ansiedade (hipervigilância » ansiedade » hipervigilância), monitore como se sente, assim como atitudes, hábitos, pensamentos e relacionamentos que tenham um efeito nocivo em seu equilíbrio e em sua saúde emocional. Sobretudo, para sair do modo luta ou fuga e começar a curtir a vida, saia da zona de conforto, aprenda a tolerar o desconforto e passe a agir como uma sobrevivente e agente de mudanças.

Sinais e sintomas de que está operando no modo luta ou fuga

Se é uma leitora assídua deste blog, sabe quais são os efeitos do estresse tóxico resultantes de um longo convívio com uma família disfuncional e mãe narcisista na sua mente, no seu corpo e no espírito. Um dos efeitos mais marcantes deste trauma é a hipervigilância ou um estado contínuo de alerta. Isso se deve ao fato de que, neurobiologicamente, as filhas e os filhos de mães narcisistas foram programados para estarem sempre preparados para enfrentar um eminente perigo ou ameaça ao seu bem-estar, ou seja, para lutar ou fugir de ataques, essencialmente, de sua genitora abusiva. Como este estado é extremamente prejudicial não somente a sua saúde psicológica e emocional, mas também física, segue uma lista completa dos sinais e sintomas de que está operando no modo luta ou fuga para aumentar a sua compreensão acerca do problema:

Sinais e sintomas de que está operando no modo luta ou fuga

Um dos efeitos mais marcantes do seu trauma é a hipervigilância ou um estado contínuo de alerta

  1. Você tem o hábito de imaginar catástrofes ou antecipar um resultado negativo.
  2. Você sofre de armouring ou tensão nos músculos da região dos ombros, nuca e mandíbula.
  3. Você dispõe de grande energia em agradar e sente-se insegura e até culpada quando não consegue cativar a todos.
  4. Você é impulsiva e age com base em emoções fortes, além de não ter paciência para aguardar por uma resolução mais centrada e refletir com calma acerca das alternativas.
  5. Você possui uma visão de mundo excessivamente subjetiva e tendenciosa para o negativo, portanto, quando algo não ocorre como esperado, acredita que a responsabilidade é sua ou tem a ver com você de alguma forma.
  6. Você tem dificuldade de se identificar com as emoções antagônicas em suas diversas intensidades e parece ser capaz de senti-las somente de forma excessiva, crônica ou patológica. O que é, potencialmente, uma expressão coerente e saudável de tristeza, por exemplo, torna-se “depressão”, a raiva é considerada “descontrole/loucura” e o medo, “ansiedade”.
  7. Você tem dificuldade de criar e manter relacionamentos funcionais e duradouros.
  8. Você tem medo de perder as pessoas que ama, bem como os animais de estimação, e tem pensamentos intrusivos com cenários nos quais morrem de um jeito terrível ou inesperado.
  9. Você sofre de terror noturno e demais distúrbios do sono, tal como a insônia.
  10. Quando percebe certa seriedade, insegurança, ansiedade ou frustração no comportamento de outra pessoa, prepara-se para “o pior”.
  11. Quando alguém age de forma ríspida ou não demonstra interesse por você, leva para o lado pessoal e fica ruminando sobre o ocorrido por um longo período.
  12. Você se sente vulnerável e incapaz de se autoafirmar, proteger-se e implementar mudanças positivas em sua vida.
  13. Você tem plena ciência do que não lhe agrada, mas se sente perdida em relação a si mesma e não sabe quem verdadeiramente é, do que gosta e deseja fazer da própria vida.
  14. Você fica nervosa em relação aos afazeres ou às pessoas com as quais convive, sem ao menos saber o porquê e mesmo quando tem plena competência para executá-los e de interagir socialmente de modo satisfatório.
  15. Você sente um medo terrível de forma bastante inesperada, o qual não corresponde às circunstâncias atuais.
  16. Quando recebe uma crítica construtiva ou é agredida verbalmente, sente-se pessoalmente atacada, assume uma atitude defensiva ou congela na frente do outro, tornando-se muda e desorganizada cognitivamente e sem saber o que dizer, como agir ou se defender.
  17. Você está solteira há bastante tempo e evita envolver-se emocionalmente com outra pessoa por ter sido magoada no passado e acredita que irá passar por isso novamente.
  18. No seu caso, não existe estresse bom (temporário, saudável/energizante e motivador), mas somente ruim (crônico, disfuncional/patológico e debilitante).
  19. Você está sempre irritada com alguém ou alguma coisa e tem crises de raiva com facilidade.
  20. Você é bombardeada por pensamentos intrusivos de cenários imaginários em que se vê exposta a perigos ou a ataques ao seu bem-estar e a sua autoestima.
  21. A paz, calma e harmonia são entediantes para você e só se sente verdadeiramente viva quando engaja em comportamentos excessivos, a vida é repleta de drama ou passa por momentos de altos e baixos.
  22. Você não tem vontade de ter relações sexuais com o(a) parceiro(a), consegue ter prazer no sexo ou sente que precisa forçar-se para concentrar-se no momento e conseguir curti-lo.
  23. Você se sente desconectada das pessoas a sua volta ou as considera como uma ameaça a sua autoestima e ao seu bem-estar.
  24. Quando precisa entregar um trabalho ou fazer algo que será analisado por outra pessoa, leva um longo tempo para iniciá-lo, procrastina e, quando finalmente o finaliza, revisa o que produziu mil vezes e de forma neurótica como se fosse proibido cometer erros.
  25. Você tem uma imensa dificuldade de relaxar e parece estar sempre cansada, desmotivada e sem energia até para fazer o que lhe dá prazer.
  26. Você tem problemas de relacionamento que parecem não melhorar com o tempo e a idade.
  27. Você possui um transtorno alimentar, de personalidade, ansiedade e/ou humor.
  28. Você sente uma solidão e um vazio existencial imensos que parecem não diminuir com a experiência.
  29. Você tem dificuldade de viver no presente e curtir os pequenos prazeres da vida.
  30. Você tem pensamentos de suicídio.
  31. Você se assusta com grande facilidade.
  32. Você tem asma, câncer, é diabética ou sofre de uma doença crônica inflamatória ou autoimune.
  33. Você evita ambientes novos ou o contato com as pessoas que não conhece bem, a todo o custo, assim como as interações comunicativas delicadas e que exijam uma atitude assertiva.
  34. Quando você se força ou precisa encontrar uma pessoa desagradável, fica tentando prepara-se para o evento de forma neurótica e obsessiva, como se fosse uma questão de vida ou morte.
  35. Você perde o sono com muita facilidade, seja porque tem de entregar um trabalho na faculdade, mudar de residência, fazer uma apresentação no trabalho, interagir com uma pessoa difícil/importante etc.
  36. Você tem dificuldade de concentração e sente-se facilmente distraída pelo que acontece a sua volta.
  37. Você tem o hábito de desconfiar dos outros e tentar ler a sua mente para descobrir quem são e as “verdadeiras intenções”.
  38. O seu desenvolvimento (formação de identidade, autonomia, maturidade emocional, crescimento pessoal e profissional) parece não progredir de maneira substancial com a passagem do tempo, ou se iniciou mais tarde do que a média das pessoas.
  39. Você é impaciente, reativa e sente-se frequentemente insatisfeita, envergonhada e culpada pela forma como age.
  40. Você se sente inepta intelectualmente ou acredita ter dificuldade de aprendizado, pois leva tempo para resolver os problemas e/ou memorizar e aprender coisas simples.
  41. Você se atrasa com grande frequência e tem dificuldade de se organizar e manter compromissos.
  42. Você sofre de ansiedade crônica e só consegue sentir-se bem quando come, faz compras, está sob medicação psiquiátrica tal como os antidepressivos e ansiolíticos, consome bebida alcoólica, joga, usa drogas ou exercita-se, por exemplo.
  43. Você já teve pelo menos um episódio depressivo e se vê em risco de passar por isso novamente.

Caso tenha se identificado com esses exemplos e acredita que esteja operando no modo luta ou fuga, recomendo que enderece o problema da hipervigilância através de uma atitude proativa e consciente. No próximo artigo, incluirei dicas de como administrá-la de forma natural, saudável e, sobretudo, sem a ajuda de remédios. Para ser avisada por e-mail da data de publicação deste e outros artigos publicados no Filhas de Mães Narcisistas, basta cadastrar-se na nossa Newsletter.

Os efeitos do trauma da infância na saúde fisica – O estudo dos ACEs

Os efeitos do trauma da infância na saúde fisica - O estudo dos ACEs

O trauma da infância compromete, também, a saúde física

Um dos objetivos centrais do Filhas de Mães Narcisistas é aumentar a consciência acerca do trauma da infância e dos efeitos do estresse tóxico na criança em desenvolvimento. Se você é um leitor assíduo deste blog e já devorou o Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade para Filhas de Mães Narcisistas e o Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, está ciente dos efeitos cognitivos, comportamentais, relacionais, sexuais e espirituais de seu trauma. Para um filho ou filha de uma mãe narcisista/tóxica/abusiva que exibe um alto nível de consciência, os termos “estresse (tóxico)”, “trauma”, “família disfuncional”, “abuso” e “negligência” são-lhe bastante conhecidos. O intuito do presente artigo é ampliar o seu conhecimento em relação aos efeitos que estas experiências negativas podem ter no seu corpo, precisamente, na sua saúde física. Para que consiga atingir este objetivo e compreender a verdadeira dimensão dos efeitos do trauma da infância, é essencial familiarizar-se com o estudo dos ACEs.

O estudo dos ACEs      

O estudo dos ACEs foi uma pesquisa conduzida no final dos anos 90 por um centro de controle e prevenção de doenças nos Estados Unidos chamado Kaiser Permanente. A finalidade do estudo foi estabelecer a conexão entre as experiências adversas da infância (Adverse Childhood Experiences = ACEs) e a ocorrência de doenças a longo prazo. Elenca-se, abaixo, os exemplos centrais ao que se refere como ACEs ou experiências adversas/eventos traumáticos:

  • Abuso físico
  • Abuso sexual
  • Abuso emocional
  • Negligência física
  • Negligência emocional
  • Violência por um parceiro íntimo
  • Mãe tratada violentamente
  • Uso indevido de substâncias dentro de casa
  • Doença mental de um membro da família
  • Separação parental ou divórcio
  • Membro da família encarcerado

Cada experiência adversa ou trauma listado equivale a uma pontuação de ACE. No estudo dos ACEs, realizado com mais de 17.000 adultos, 87% dos entrevistados apresentaram uma pontuação de pelo menos um trauma/evento adverso na infância, fato que revela, inequivocamente, a natureza penetrante do trauma. Os resultados da pesquisa também determinaram que quanto maior o nível de disfunção familiar e a exposição do indivíduo em desenvolvimento a maltrato e ao estresse tóxico, maior a sua probabilidade de sofrer a longo prazo os seguintes problemas de saúde física:

  • Doenças gastrointestinais
  • Doenças cardiovasculares
  • Doenças respiratórias
  • Doenças sexualmente transmissíveis
  • Fraturas ósseas
  • Obesidade
  • Diabetes
  • Câncer

O estudou também estabeleceu que uma pontuação de 4 ou mais ACEs aumenta a probabilidade de…

  • Alcoolismo em 700%
  • Câncer em 200%
  • Doença pulmonar crônica em 390%
  • Hepatite em 240%
  • Depressão em 460%
  • Tentativa de suicídio em 220%

Já uma pontuação de 6 ou mais ACEs, reduz a expectativa de vida, em média, 20 anos (é 80 anos para os indivíduos com uma pontuação de ACEs zero) e aumenta ainda mais a probabilidade de se tentar o suicídio (3.000%).

Reiterando a relevância do estudo dos ACEs

O estudo dos ACEs destacou a relação tão elementar entre a qualidade dos relacionamentos familiares e circunstâncias de desenvolvimento de uma criança com o seu bem-estar físico e não somente o aspecto psicológico e emocional. Através das estatísticas significativas de um estudo de tal magnitude obtém-se a confirmação cientifica de um conhecimento que para a sobrevivente é bastante intuitivo, ou seja, que o abuso e a negligência, em todas as suas formas, causam um grande impacto negativo no ser humano como um todo, corpo e mente. Portanto, faz-se elementar, também para a vítima que ainda busca tanto a validação do seu trauma como o entendimento do impacto que exerce em si e no seu desenvolvimento, inteirar-se sobre os resultados do estudo dos ACEs e informar-se a respeito dos potenciais efeitos prejudiciais que as experiências adversas sofridas na infância podem causar ou já causaram na sua saúde física na idade adulta.

O aumento da consciência acerca de sua condição de vulnerabilidade pode ajudá-lo a ganhar uma renovada apreciação pelas práticas de cuidado pessoal, manutenção do bem-estar e prevenção de doenças, tais como o exercício ou atividade física, uma dieta equilibrada e o controle do consumo de álcool e alimentos ricos em açúcar, por exemplo. Sobretudo, o estudo dos ACEs reafirma a necessidade de uma mudança radical nas atitudes relacionadas ao abuso e à negligência, seja em nível micro, meso ou macrossocial, já que as implicações à saúde pública, bem como sociais e econômicas, compreende a todo nós e não somente às minorias marginalizadas, como divulgado pelo senso comum. Os indivíduos e as famílias que compõem a nossa sociedade, assim como os profissionais da saúde mental e física, escolas e instituições religiosas e governamentais envolvidos direta ou indiretamente nos contextos de abuso e negligência necessitam adotar uma atitude de respeito e apoio evidentes às vítimas/sobreviventes, a qual é comunicada sem ambiguidade e sustentada incondicionalmente.

Para calcular a sua pontuação de ACEs, responda o questionário contido aqui (disponível somente em inglês).

Fontes:

Aces too High News

Adverse Childhood Experiences Study

Center on the Developing Child Harvard University

SAMHSA Substance Abuse and Mental Health Services Administration

Como regular as emoções negativas

Uma das reclamações mais frequentes que recebo de minhas clientes é que têm dificuldade de regular as emoções antagônicas. Como cresceram em um ambiente de extrema negligência emocional, é compreensível que sejam deficientes nesta área, já que foram condicionadas, desde pequenas, a reprimirem e até a descartarem a própria inadequação para se concentrarem nas necessidades de suas mães narcisistas. Além disso, em função do seu desenvolvimento ter ocorrido em um ambiente de intenso estresse resultante do convívio com uma mãe abusiva, possuem uma alta sensibilidade do sistema límbico, o que aumenta a sua reatividade (para mais informações sobre o sistema límbico e como o trauma do desenvolvimento afeta o cérebro, clique aqui).  Em vista destes fatores, faz-se vital que aprendam como superar esta deficiência para aumentarem a sua qualidade de vida e dos relacionamentos.

Como regular as emoções negativas

As filhas de mães narcisistas têm dificuldade de regular as emoções antagônicas

Para ajudá-la a regular as emoções negativas, recomendo seguir os 5 passos abaixo descritos, na ordem sugerida:

1- Avalie o seu estado emocional e decida se precisa agir

Assim que perceber uma mudança em seu humor, aumente a consciência sobre o seu estado emocional registrando o momento mentalmente, ou seja, que não está bem. Validar a própria inadequação e atribuir-lhe a relevância que merece de forma consciente e autônoma facilita o desencadeamento do processo de regulação emocional. Logo que notar que não está se sentindo bem (estressada, com raiva etc.), pergunte-se: “Preciso fazer algo a respeito?”. O intuito desta simples pergunta é mobilizá-la para a ação, se julgar necessária. Se não sabe como avaliar se precisa tomar uma atitude, lembre-se do seguinte: a emoção negativa de maior duração é a tristeza, podendo durar até cinco dias, enquanto que a vergonha, a surpresa, o  medo, a repulsa e a irritação possuem duração menor (em média, 30 a 60 minutos (Verduyn & Lavrijsen, 2015)), portanto, se exceder esta média, provavelmente, merece a sua atenção.

2- Identifique as emoções, a primária e a secundária

Quando estudamos os processos de fluxo e regulação das emoções, percebemos que não são tão simples como parecem. A raiva ou culpa que você sente, por exemplo, pode não ser o sentimento que predomina na sua reação emocional. Segundo Lazarus (1991), o renomado psicólogo e teórico das emoções, o processo de regulação emocional é feito através de uma transição entre uma emoção primária (instantânea, desregulada) e secundária (reguladora), o que pode dificultar o nosso entendimento acerca do que estamos sentindo e porquê. Para entender este fenômeno, imagine que está dirigindo em alta velocidade, quando um motorista inconsequente corta a sua frente. Então, o que sente, raiva? Nestes casos, a raiva é a emoção secundária e não a primária, pois ocorre após o medo de perder o controle do carro e nos ajuda a regulá-lo. A raiva, neste contexto, contribui para reavermos a nossa autoestima e confiança em nós mesmos, bem como nossas habilidades. O conhecimento de que as emoções vêm em tais “ondas” pode direcioná-la de forma mais acurada para a raiz da sua inadequação, um processo que, por si só, diminuirá a sua intensidade.

3- Aja imediatamente

Quando dominada ou incomodada por uma emoção antagônica persistente, não perca tempo e faça algo a respeito, o quanto antes. Quanto mais cedo você lidar com a sua inadequação, menos prejuízo lhe causará. Há várias maneiras de lidar ativamente com as emoções antagônicas, como através de exercícios de respiração e relaxamento muscular progressivo de Jacobson. Eu sugiro muitíssimo ambos não somente como estratégias funcionais de regulação emocional, mas também como práticas regulares para o controle da hipervigilância (um dos principais sintomas do TEPT-C, Transtorno do Estresse Pós-traumático Complexo).

4- Exerça o controle cognitivo

Se deseja desenvolver a sua capacidade de autocontrole, é fundamental que trabalhe com o seu córtex pré-frontal, a região do cérebro responsável, entre outros, pela metacognição e regulação de comportamentos impulsivos, tais como aqueles altamente influenciados pela raiva. Abaixo são elencadas algumas técnicas cognitivas básicas que a ajudarão a ativar esta área altamente sofisticada do seu cérebro:

  1. Redobre o seu nível de autoconsciência. Monitore os seus pensamentos, comportamentos e emoções diariamente. Registre, seja mentalmente ou com a ajuda de um diário, a maneira como os seus pensamentos influenciam o seu estado emocional e comportamento e vice-versa. Identifique, sobretudo, o tom do seu diálogo interno e os tipos de pensamentos que funcionam como gatilhos para a sua inadequação e desembocam em comportamentos disfuncionais.
  2. Questione os pensamentos negativos com a ajuda de um Relatório Diário de Pensamentos Disfuncionais (RDPD). As filhas de mães narcisistas tendem a sofrer com a autocrítica e uma grande variedade de pensamentos improdutivos, como explico no meu livro Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura. Estes pensamentos disfuncionais estão no cerne de sua inadequação, já que é difícil sentir-se alegre e confiante quando se carrega uma mini mãe narcisista dento do próprio cérebro. Para calar a boca desta tirana interna e exercer mais controle sobre as emoções, recomendo completar um RDPD pelo período de no mínimo duas semanas, para aprender como questionar os pensamentos negativos que afetam o seu humor.
  3. Identifique as suas vulnerabilidades. Quando as minhas clientes não estão bem emocionalmente, os seus níveis de codependência, procrastinação e perfeccionismo, por exemplo, tendem a encontrarem-se altos. Isso se deve ao fato de que tais vulnerabilidades abrangem estratégias de enfrentamento disfuncionais para reavermos a nossa autoestima e regularmos a nossa inadequação. A questão é que não resolvem o problema a longo prazo, mas acabam por estendê-lo, portanto, ao se flagrar fazendo uso de tais táticas, abandone-as imediatamente e aplique as sugeridas neste artigo.

5- Pratique a autoaceitação

Sentir as emoções negativas faz parte de ser humano. Assim como nem toda a emoção negativa tem um propósito, é normal senti-las na grande diversidade de situações que compõe a existência. O seu sucesso em regular e até controlar as emoções também depende da sua capacidade de aceitá-las com tolerância e respeito. Mesmo quando parecer não fazerem sentido, aceite-as para que consiga aceitar a si mesmo. Indivíduos autoconfiantes, íntegros e centrados são aqueles que agem de forma emocionalmente congruente e madura e que se permitem honrar todas as emoções que constituem o repertório humano, sejam positivas ou não.

Referências

Lazarus, R. S. (1991). Progress on a cognitive-motivational-relational theory of emotion. American Psychologist, 46, 819-834.

Verduyn, P. & Lavrijsen, S. (2015). Which emotions last longest and why: The role of event importance and rumination. Motiv Emot, 39, 119–127. DOI 10.1007/s11031-014-9445-y

A mãe narcisista tem consciência dos seus atos? Ela tem consciência do mal que faz aos filhos?

A mãe narcisista tem consciência dos seus atos? Ela tem consciência do mal que faz aos filhos?

Para que você chegue à resposta desta pergunta de forma independente, adulta e respeitando a sua verdade, convido-a, primeiramente, a reflexionar sobre as seguintes questões:

A mãe narcisista tem consciência dos seus atos?

Toda a filha de mãe narcisista reconhece que a genitora tem uma postura na frente de plateia e outra no convívio com a família

1- Se você ou qualquer outra pessoa defender que a mãe narcisista não tem consciência dos seus atos, está afirmando que ela é insana, ou seja, não sabe distinguir entre a fantasia e a realidade. Se a mãe narcisista não conseguisse distinguir entre a fantasia e a realidade, não saberia como agir de forma tão calculada e dissimulada, tanto dentro quanto fora do ambiente familiar. Portanto, a sua aparente “doidice” ou comportamento incontrolável e impulsivo seriam óbvios para todos com quem tem contato. Esse tipo de comportamento, contudo, não corresponde ao da mãe narcisista, pois sabe como cultivar uma imagem de perfeição e viver de aparências. Toda a filha de mãe narcisista reconhece que a genitora tem uma postura na frente de plateia (dedicada, educada e carinhosa) e outra no convívio com a família (negligente, abusiva e fria), o que denota possuir pleno controle das faculdades mentais e sabe com quem e onde pode se comportar de forma abusiva, sem nunca ser descoberta e considerada responsável por seu comportamento impróprio.

2- Para que a mãe narcisista consiga se sentir bem consigo mesma, precisa receber estímulo negativo daqueles com os quais se relaciona. Em outras palavras, precisa rebaixar os outros para se sentir superior (dinâmica a que me refiro como “o relacionamento gangorra” em meu segundo livro, Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura e que expõe o valor da filha como suprimento narcisista). Se a mãe narcisista não tivesse consciência de seus atos, ou de como magoa e faz a filha se sentir pequena e rejeitada, seria intelectualmente incapaz de se beneficiar destes sentimentos de inadequação ou de usar a filha ou qualquer outra pessoa como suprimento narcisista. Como resultado, os seus relacionamentos seriam funcionais e harmoniosos e não de extrema dependência emocional, como é o caso dos que mantém com todos a sua volta. Além disso, quando a filha de mãe narcisista se recusa a se submeter ao abuso com autoconfiança e cortando o contato, a matriarca narcisista sente-se desconsertada – mesmo não gostando da companhia da filha nem nutrindo nenhum amor genuíno ou respeito por ela. Diante disso, faz tudo para reaver o controle, provando, portanto, que entende a forma pela qual os seus comportamentos abusivos a conferem um senso de autoestima, identidade e “bem-estar” emocional.

3- Porque uma pessoa tem uma doença mental, tal como um transtorno de personalidade, não significa que seja abusiva. Por mais que haja um grande número de pessoas abusivas que possui uma doença mental, nem todo mundo que abusa é narcisista, por exemplo. Correlação não é causalidade. Uma doença mental ajuda a explicar o contexto do abuso, mas não o justifica. Assim como laço sanguíneo não equivale à licença para se comportar de maneira agressiva, doença mental não serve de desculpa para se aproveitar do amor e da vulnerabilidade de uma criança ou adolescente, afetar o seu crescimento e desenvolvimento negativamente e comprometer, de forma irresponsável e inconsequente, com a sua qualidade de vida não apenas na infância, como também na idade adulta. Para a profissional de saúde mental que tem ampla experiência com os relacionamentos abusivos, seja de forma direta como sobrevivente ou indireta através dos relatos de suas clientes, ou uma mistura de ambos, afirmar que o abusador faz o que faz porque é, supostamente, doente mental, simplesmente “não cola”. Vale a pena lembrar que a esmagadora maioria das filhas de mães tóxicas nunca recebe a confirmação de que as suas genitoras são, de fato, narcisistas, ou que possuem qualquer outro tipo de doença mental. Por mais que o termo “narcisismo” seja elucidador, não exclui as características mais marcantes das mães abusivas/tóxicas/narcisistas: o pensamento rígido e a falta de empatia e respeito pelos limites, identidade e direito à individualidade de seus filhos.

4- Sob esta perspectiva, pode-se alegar que a mãe narcisista não sabe da extensão do mal que causa a seus filhos porque também foi abusada e maltratada pelos próprios pais e, portanto, julga a sua atitude imprópria como “normal”. Isso pode ser considerado como uma “meia verdade”, em virtude dos seguintes aspectos:

  • A mãe abusiva/tóxica/narcisista usa as mesmas táticas de negação de problemas da maioria dos indivíduos provenientes de famílias disfuncionais. Estas táticas, como escudar-se atrás de chavões do senso comum tais como “Mãe/família é tudo”, “Toda a mãe boa” e “Toda a família tem problema” invalida a realidade de abuso e a negligência de todos, inclusive a de si mesma. O trauma e o abuso são tabus não somente para quem é vítima, mas também para quem é testemunha (direta ou indireta) ou os tolera sem questionamento. Nos casos de quem foi ou é vítima de abuso e se torna, também, um abusador, o peso deste tabu aumenta e, com ele, a vergonha e a necessidade de negá-lo, até para si.
  • Nem todo mundo que é vítima de abuso, abusa. Eu conheço inúmeras vítimas sobreviventes que nunca cometeriam as atrocidades que sofreram e que se sentem extremamente abaladas e decepcionadas consigo quando agem de forma agressiva.
  • Mesmo quando a mãe abusiva/tóxica/narcisista torna-se ciente de quão nociva a sua atitude é para a autoestima e bem-estar psicológico e emocional dos filhos, continua a tratá-los de forma imprópria e a negar o impacto negativo que lhes causa, bem como qualquer tipo de responsabilidade nos problemas deste relacionamento.

É importante sabermos as razões que podem levar um ser humano a cometer atos de abuso, assim como definir o seu nível de consciência acerca destes, sobretudo quando são nossos genitores e tiveram uma influência direta em nosso desenvolvimento. A ciência acerca dos fatores que contribuem com tal crueldade e o sentimento de compreensão e empatia que seguem esta descoberta não diminuem a sua malignidade, contudo, tampouco isentam quem os comete de sua responsabilidade, ou nas sábias palavras da grande psicóloga e filosofa suíça Alice Miller (2002):

“Empathising with a child’s unhappy beginnings does not imply exoneration of the cruel acts he later commits”

(“Demostrar empatia pela infância triste de uma criança não implica a exoneração dos atos cruéis que depois comete”)

Então, no que você acredita?

Referência:

Miller, A. (2002). For your own good. Hidden cruelty in child-rearing and the roots of violence (4th ed.). New York, NY: Farrar, Straus and Giroux.

O segredo do sucesso da sobrevivente de abuso narcisista

O segredo do sucesso da sobrevivente de abuso narcisista

A sobrevivente de sucesso é aquela que transcende o próprio trauma

Descobrir que se é filha ou filho de uma mãe narcisista representa um momento que marca não somente a história, como também a trajetória de crescimento e desenvolvimento pessoal destes indivíduos. Isso se deve ao fato de que a verdade narcisista é tão reveladora que se torna impossível ignorá-la e tocar a vida como se ela não existisse. A autoconsciência acerca do problema (narcisismo materno), seus efeitos (abuso e trauma) e implicações (cortar o contato) tende a dar origem a uma intensa mistura de sentimentos, tais como: alívio, medo, vergonha e revolta, entre outros. Sobretudo, tende a despertar na vítima uma grande vontade de mudar e reaver a sua autonomia e dignidade. Este forte desejo de viver uma existência feliz, de paz e realizações através da livre expressão de sua essência – tão castigada pelos ataques de uma mãe egoísta, controladora e invejosa – é a energia motivadora que dá início ao seu processo de libertação pessoal.

Embora a vontade de se libertar das garras de uma mãe abusiva tenda a ser voraz, nem todas as filhas de mães narcisistas conseguem retomar as rédeas da própria vida e se afastarem dessa influência nefasta. Este artigo visa explorar a diferença entre elas, ou trazer à luz as características da filha de mãe narcisista que pretende acabar com o ciclo de abuso narcisista e propulsar o seu processo de cura e sua independência psicológica e emocional.

Vítima ou sobrevivente?

A libertação pessoal da vítima de abuso narcisista, independente de sexo, é alcançada quando investe esforço e determinação em uma mudança radical de atitude. Mudar, neste contexto, exige pensar e agir como uma sobrevivente e, não mais, como uma vítima. Na prática, esta mudança pode ser observada quando a vítima substitui as suas estratégias de enfrentamento disfuncionais, como a negação e a repressão emocional por táticas mais saudáveis, autoconfiantes e maduras. Em vez de se sentir permanentemente intimidada e à mercê de sua própria inadequação a, então, sobrevivente não só é capaz de reconhecer o abuso sofrido como algo amoral, brutal e injusto, bem como validar todas as emoções antagônicas desta descoberta terrível, tais como: a tristeza, a raiva e os demais sentimentos que compreendem o luto, com honestidade e coragem. A sobrevivente não foge da própria dor e dos sentimentos de abandono e solidão que acompanham a genuína conscientização de sua perda, tampouco os normaliza ou diminui o impacto negativo que a mãe exerce sobre os seus bem-estares físico, psicológico e emocional, mas se permite registrá-los, processá-los e aprender com estes.

Devido ao fato da sobrevivente valorizar o próprio bem-estar e honrar suas emoções, cortar ou reduzir drasticamente o contato com a mãe narcisista revelam-se como as alternativas mais sensatas e responsáveis. Diferente da vítima que perpetua o processo de vitimização, insistindo em forçar uma falsa conexão afetiva com uma mãe exploradora e egoísta, a sobrevivente recusa-se a submeter-se a sua atitude errática, de forma consistente e firme, colocando a sua sanidade e qualidade de vida em primeiro lugar.

O segredo do sucesso da sobrevivente: a tolerância do desconforto emocional

Visto que se afastar da própria mãe – mesmo quando extremamente abusiva – trata-se de uma tarefa inédita nos contextos socioculturais que glorificam os valores de família rígidos e obsoletos, comportar-se como uma sobrevivente requer estâmina. Como se não bastasse esta mentalidade coletiva retrógrada, a filha de mãe narcisista também deve enfrentar a sua notória falta de autoconfiança e medo insuportável de se autoafirmar. Quando uma criança é sistematicamente atacada e rejeitada cada vez que expressa a sua identidade, vontades e interesses próprios, aprende a associar a autoafirmação com uma experiência extremamente dolorosa. No decorrer do tempo, é condicionada a fazer somente o que favorece os pais controladores e a família disfuncional, sacrificando a própria alma como se fosse algo irrelevante. Portanto, para a filha de mãe narcisista a qual foi submetida a anos de maltratos psicológicos, emocionais e físicos, dizer não a quem abusa dela resulta, naturalmente, em grande desconforto emocional.

Como se autoafirmar é um supergatilho que remete a filha de mãe narcisista a várias experiências traumáticas de seu passado, tais como desentendimentos e discussões intermináveis, aprender a tolerar o medo, a insegurança e a ansiedade, assim como os demais sentimentos de inadequação associados a uma atitude autêntica e autônoma é determinante para o sucesso de seu processo de emancipação e crescimento pós-traumático. A filha de mãe narcisista consegue superar o trauma e até prosperar nos campos pessoal e profissional, quando reconhece e aceita tais vulnerabilidades, mas não se permite ser dominada por elas. Logo, a sobrevivente de sucesso é aquela que, por estar ciente de seus gatilhos, transcende o próprio trauma resistindo à pressão de se diminuir e se fazer insignificante diante da mãe narcisista e demais familiares, ato que, apesar de sua natureza incoerente, ainda é encorajado por um grande número de indivíduos que defende as instituições “mãe” e “família” como invioláveis.

Se você está pensando ou já iniciou o processo de corte ou redução de contato com a mãe narcisista e/ou família tóxica, mas não se sente segura, lembre-se de que este desconforto é normal considerando o seu histórico de abuso e trauma. Você não foi educada para se autoafirmar e agir de acordo com a sua cabeça, mas para submeter-se a eterna tirania de sua mãe narcisista. O que você está fazendo é um ato revolucionário até para o seu próprio entendimento, logo, dê tempo a si mesma, ao seu cérebro, ao seu corpo e as suas emoções, para se acostumarem com a ideia. Todo o tipo de hábito, por mais prejudicial a sua saúde, não é fácil de ser erradicado ou substituído sem um mínimo de desconforto emocional. Se você se sente inadequada para tomar uma decisão tão adulta e independente, tal como se distanciar de uma pessoa ou pessoas que lhe faz/fazem mal, a sua inquietação é um bom sinal, pois marca a saída da sua zona de conforto e um superavanço na sua habilidade de implementar mudanças positivas na própria vida.

Você não é a sua mãe narcisista, você está tendo um flashback

Você não é a sua mãe narcisista, você está tendo um flashback

Você tem um flashback quando é lembrada de uma experiência passada

Como filha de mãe narcisista, não é fácil separar-se do abuso sofrido. Isso se deve ao fato de que o trauma do desenvolvimento influencia a sua perspectiva de mundo e autoimagem. Quando você sofre uma série de eventos adversos durante o período de crescimento e desenvolvimento, estes moldam a maneira como você interpreta a informação a sua volta. Isto ocorre porque o seu sistema límbico ou cérebro emocional torna-se hiperativo como resultado de uma longa exposição ao estresse e às ameaças ao seu senso de segurança e bem-estar, você faz senso da sua experiência sob a lente do trauma, ou seja, de forma rápida, automática, emocional, tendenciosa e subjetiva.

Na prática, isso se reflete em atitudes e estados emocionais que seguem a incidência de um flashback. Você o tem quando lembrada de uma experiência passada, seja ou não prazerosa. Os flashbacks são normalmente visuais, fazendo com que se recorde de uma imagem de um evento passado e se sinta bem ou mal, ou puramente emocionais, permitindo que sinta as emoções de uma experiência passada (normalmente traumática), mas sem conseguir identificá-la ou visualizá-la. Esta última modalidade de flashback tende a ser a razão por trás dos episódios de intensa tristeza, raiva e inadequação, por exemplo, que causam angústia nas vidas de filhas de mães narcisistas mesmo quando não haja razão aparente para justificá-la.

Os flashbacks também são responsáveis por manter a memória de sua mãe narcisista presente na sua vida, mesmo depois de ter cortado o contato. Isso acontece, pois tudo que seja semelhante a ela ou ao vivido com ela, como a sua aparência e seu comportamento, por exemplo, pode tornar-se um gatilho. Assim que uma memória em relação a ela é ativada através de um gatilho, a probabilidade de você ter um flashback, visual ou emocional, é grande. Na prática, isso acontece de várias formas, como nos exemplos:

– Você está conversando com uma amiga no telefone e, de repente, faz um comentário usando uma expressão característica de sua mãe narcisista. Ao se dar conta do que disse, sente-se desconfortável, como se fosse, novamente, a criança insegura copiando o estilo de falar da mãe fria e desinteressada em busca de aprovação.

–  Você é mãe e está tendo um dia “daqueles”. Enquanto o seu marido vegeta na frente da televisão, você tenta sem sucesso colocar a roupa no seu filho de dois anos que, na fase do “não!”, torna o processo bem mais lento do que necessário, atrasando-a para o encontro com as amigas. Não conseguindo controlar a irritação, você perde a paciência com ele “da mesma forma que a sua mãe fazia com você”. Assim que nota, sente-se dominada por um terrível sentimento de culpa e fica envergonhada como se uma pequena explosão de raiva fosse o suficiente para defini-la como uma mãe abusiva.

– Você passou um fim de semana completando uma rota gastronômica. A experiência foi incrível, mas o resultado no seu estômago, nem tanto. Indo em direção à máquina de lavar com as roupas sujas tiradas da mala da viagem, você se flagra andando com o cabelo preso em um coque e com a protuberância abdominal para fora da camiseta, tal como a sua mãe narcisista circulava dentro de casa. A projeção e visualização desta imagem lhe causa intensa náusea, como se tivesse se tornado uma com a sua mãe narcisista.

Quando você tem um flashback como os citados, a tendência é pensar em algo do tipo, “Meu Deus, eu sou que nem a minha mãe/estou me tornando a minha mãe” ou indagar, “Será que eu sou narcisista?” e sentir-se extremamente inadequada e impotente. A verdade, contudo, na esmagadora maioria dos casos,  é outra. Somente porque você está se comportando de maneira similar a sua mãe (ou se parecendo fisicamente com ela), não significa que seja ou esteja agindo como ela, mas que, provavelmente, esteja tendo um flashback. Este, por ser carregado de significado emocional, pode distorcer o seu modo de interpretar o que está acontecendo, inclusive quando o que está vivendo no presente não tem nada a ver com o passado a qual foi remetida. Portanto, é importante entender que as observações mentais resultantes de flashbacks só fazem sentido sob a perspectiva do trauma, mas não refletem, necessariamente, o momento atual nem a pessoa que realmente você é. Portanto, fique tranquila: você não é a sua mãe narcisista, você está tendo um flashback.

Para reduzir a incidência de flashbacks e lidar com os demais efeitos do trauma, recomendo buscar uma terapeuta especializada em uma das abordagens terapêuticas do trauma, tal como a EMDR. Além disso, criar um inventário dos seus gatilhos, monitorar os seus humores e criar o hábito de conectá-los às experiências recentes e à ocorrência de flashbacks correspondem a atos simples que lhe ajudam não só no senso de autocontrole e autoeficácia, bem como no autoconhecimento e no processo de autorregulação emocional.

Declaração dos direitos da filha de mãe narcisista

Declaração dos direitos da filha de mãe narcisista

O reconhecimento que você procura está dentro de você

De forma incoerente, egoísta e cruel, filhas e filhos de mães narcisistas são forçados a se sentirem culpados por se recusarem a tolerar o comportamento transtornado de suas mães narcisistas.  A mensagem que recebem dos pais facilitadores, parentes, amigos e colegas – bem como da sabedoria burra do senso comum – tende a permanecer a mesma: independente do que a sua mãe fez ou faça, nada parece ser condenável o suficiente para ser reprovado. O que ouvem, pelo contrário, é que é “seu dever” aturá-la, aplacá-la, satisfazê-la e até perdoá-la, mesmo quando esta não possui humildade nenhuma para pedir desculpas tampouco perdão pelo abuso que cometeu e ainda comete contra os próprios filhos. Não é nenhuma surpresa, portanto, que como filho ou filha de mãe narcisista, você se sinta pequeno e insignificante, além de apresentar problemas de baixa autoestima. Como conseguir se autoafirmar contra tamanha injustiça, quando é tão difícil encontrar aliados ou pessoas corajosas o suficiente para reconhecerem esta verdade?

Chegou a hora de parar de buscar confirmação externa para o seu sofrimento. O reconhecimento que você procura assim como o amor e o respeito que tanto merece estão dentro de você.  Para ajudá-lo a dar voz a você a tudo o que sente e passou nas mãos de uma mãe e família tóxicas, leia e memorize a lista abaixo para relembrá-lo de sua humanidade e valor:

Declaração dos direitos da filha de mãe narcisista

  1. Eu tenho o direito de sentir raiva de quem abusa de mim.
  2. Eu tenho o direito de ser tratada como adulto.
  3. Eu tenho o direito de dizer não.
  4. Eu tenho o direito de cometer erros.
  5. Eu tenho o direito de cortar o contato com pessoas tóxicas, independente de quem sejam.
  6. Eu tenho o direito de viver a minha vida de acordo com a minha cabeça.
  7. Eu tenho o direito de reclamar do que não acho correto e das injustiças cometidas contra mim.
  8. Eu tenho o direito de validar a minha história e realidade.
  9. Eu tenho o direito de me proteger.
  10. Eu tenho o direito de sentir emoções antagônicas, bem como expressá-las de uma forma não abusiva.
  11. Eu tenho o direito de pedir e recusar ajuda.
  12. Eu tenho o direito a ter minha própria vontade, opinião e interesses.
  13. Eu tenho o direito de mudar a minha forma de agir e pensar.
  14. Eu tenho o direito de viver uma vida plena e de realizações.

Use e abuse desta lista para lembrar-se de que ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de abusar de você. Como explico no meu livro Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura, “laço sanguíneo não equivale à licença para se comportar de maneira agressiva e boçal”. Ainda que a mulher que lhe deu à luz pareça ter mais direitos do que você, não se deixe lograr por uma cultura familiar paternalista, condescendente e de superioridade que protege pais e mães negligentes e abusivos, enquanto ignora o trauma, a dor e o desespero de filhos e filhas. Você tem todo o direito ao listado acima e muito, muito mais. Faça de seus direitos a sua bandeira de amor-próprio e carregue-a consigo, permanentemente e onde estiver. Não se permita ser manipulado por chantagem emocional e pare de praticar gaslighting contra si mesmo. A melhor maneira de legitimar a sua verdade é vivendo-a de forma autêntica, autônoma e de dentro para fora, com muita coragem e determinação.

A mãe narcisista como o seu gatilho número 1

Se você é filha ou filho de uma mãe narcisista, já deve ter formulado a seguinte suposição:

“Se eu aprender a lidar com a minha mãe, tornar-me mais fria e não me preocupar com o que ela diz ou faz, serei capaz de aguentá-la e não precisarei cortar o contato.”

No meu trabalho com filhas e filhos de mães narcisistas, é bastante comum encontrar clientes que mencionam isso como um de seus objetivos de terapia. Por ser uma noção tão comum e, ainda, tão errônea no contexto do relacionamento entre filhos e mães narcisistas/tóxicas, achei pertinente usar este espaço para esclarecer.

Então, vamos lá: é possível “treinar-se” para não se abalar emocionalmente com o comportamento abusivo e impróprio de uma mãe narcisista?

A resposta, na esmagadora maioria dos casos, é não. Isso se deve ao fato de que a sua mãe narcisista está no centro da sua história de trauma do desenvolvimento. Como a praticante de grande parte do abuso que você sofreu, a sua mãe narcisista é o seu gatilho número um. Para compreender a extensão do efeito que ela provoca sobre você, é vital entender o conceito de “gatilho”.

A mãe narcisista como um gatilho

A mãe narcisista como o seu gatilho número 1

Um “gatilho” é uma experiência que faz com que a vítima relembre um evento traumático

No contexto de qualquer tipo de trauma, seja físico, psicológico/emocional, de uma ocorrência singular ou complexo (uma série de eventos adversos), um “gatilho” (trigger, em inglês) é uma experiência que faz com que a vítima relembre um evento traumático de seu passado. Para usar um exemplo bem estereotípico, o barulho de uma explosão pode tornar-se um gatilho para um soldado de guerra traumatizado. Toda a vez que houve um barulho semelhante, independente da origem e donde esteja, sente-se aterrorizado tal como quando se encontrava no campo de batalha. Este gatilho – o barulho de explosão – ativa a sua memória do trauma que, por sua vez, ativa as emoções antagônicas sentidas no momento em que ocorreu (por exemplo, medo), fazendo-o sentir-se vulnerável e indefeso, inclusive se estiver longe de qualquer perigo real.

É claro que há diferentes contextos de trauma, nos quais os gatilhos não são tão simples de serem identificados, tal como o do exemplo. No contexto de trauma complexo – a modalidade sofrida por vítimas de abuso narcisista – estes gatilhos podem ser pessoas e até emoções. A mãe narcisista, portanto, representa um supergatilho. Isso se deve ao fato de que tudo a respeito de sua pessoa, bem como o seu olhar, linguagem corporal, maneira etc. funcionam como gatilhos. Na presença de uma mãe narcisista, o filho ou filha sente-se, com grande frequência e quase automaticamente, como aquela criança vulnerável de muitos anos atrás. Portanto, todo aquele autocontrole, autoridade e autoconfiança de homem ou mulher adulto conquistado ao longo de sua experiência e longe de influência materna parece desvanecer-se na presença de sua mãe narcisista.

Este processo é tão rápido e sutil que escapa a sua consciência. Basta um comentário afetado ou uma crítica destrutiva para que as memórias e crenças do seu trauma sejam ativadas. Uma vez que você é transportada para o passado através destes gatilhos, o seu sistema límbico é ativado e as suas reações tornam-se rápidas, subjetivas, emocionais e até irracionais. Como esclareci no artigo anterior deste blog, esta área do seu cérebro, referido como o “cérebro emocional”, é onde são armazenadas as memórias do seu trauma e é, também, a região responsável por detectar ameaças e nos mobilizar para uma resposta: a fuga ou a luta. Portanto, as suas reações, quando na presença da sua mãe, serão, na maioria das vezes, motivadas por intensas emoções antagônicas, até mesmo nas circunstâncias em que ela não estiver apresentando um comportamento que, tecnicamente, justifique a amplitude da sua reação. Lembre-se de que o seu sistema límbico é hiperativo em consequência do trauma, a probabilidade de você não se sentir inadequada na presença da pessoa que a abusou por longos e sofridos anos é quase nula. Quando você se familiariza com os aspectos neurobiológicos e entende o conceito de gatilhos, insistir em manter este relacionamento tóxico corresponde a uma atitude ingênua e incoerente.

Honrar as suas emoções é honrar você

A reação normal de um ser humano constantemente atacado verbal e fisicamente e tem a autoconfiança sistematicamente destroçada é se sentir mal e inadequado. Ninguém deve se esforçar para tolerar o abuso, seja de quem ou da natureza que for. As suas emoções, mesmo quando exageradas, são fontes de grande sabedoria, pois lhe avisam ou relembram da ameaça ao seu bem-estar. No contexto de abuso, tentar “controlá-las”, reprimi-las, ignorá-las ou normalizar o seu significado só promove ainda mais o mal-estar emocional e até a ocorrência de problemas de saúde física e mental. Logo, a melhor maneira de lidar com as suas emoções é respeitá-las e aprender com elas. Mesmo que você faça terapia e certas pessoas insistam que você “tem que” ter um relacionamento com a sua mãe, ou que cabe a você “aprender” a relevar a sua atitude abusiva e transtornada, o seu corpo ou você inteira – da cabeça aos pés – permanece o seu guia mais inteligente e humano. Está na hora de honrar a si própria e dizer não ao abuso narcisista. Se precisar de ajuda para reduzir ou cortar o contato com uma mãe narcisista, recomendo os meus livros, Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas e Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.

De que forma o trauma do desenvolvimento afeta o cérebro?

Crescer em um ambiente marcado pelo abuso tende a afetar o desenvolvimento de uma criança

Crescer em um ambiente marcado pelo abuso, seja de ordem emocional/psicológica e/ou física, tende a afetar o desenvolvimento de uma criança. Para filhos e filhas de mães narcisistas, assim como de mães tóxicas, o trauma do desenvolvimento compromete a sua capacidade de viver uma vida plena e de realizações. Isso se deve ao fato de que o estresse ao qual são submetidos quando crianças exerce um impacto negativo em seu desenvolvimento neurobiológico. Indivíduos que, durante a infância, sofreram com a negligência dos seus responsáveis e/ou foram constantemente agredidos de forma física e/ou verbal e, como consequência, estiveram sob a influência frequente de intensos sentimentos de inadequação, tais como: a solidão, o medo, a culpa e a vergonha, apresentam cérebros programados no modo “sobrevivência”.

Na prática, este constante estado de alerta permanece devido ao alto funcionamento de certas áreas do cérebro, enquanto outras se mantêm inativas ou apresentam baixa atividade. A seguir, elencam-se as consequências mais proeminentes e que foram estudadas nos exames de imagem realizados em um grande número de pesquisas científicas referente aos efeitos do trauma na infância, juntamente com os seus efeitos nas vítimas sobreviventes:

1- Alta sensibilidade do sistema límbico

O sistema límbico, composto por estruturas como o hipotálamo, o tálamo, a amígdala e o hipocampo, é considerado o “cérebro emocional”. Esta área é responsável, entre outras, por detectar ameaças ao nosso bem-estar e nos mobilizar para uma resposta: a fuga ou a luta. Nos indivíduos cujas histórias pessoais de desenvolvimento incluem a negligência e/ou abuso, o sistema límbico (especialmente a amígdala) é hiperativo, ou seja, tende a responder muito mais fácil e rapidamente a supostas “ameaças”. No entanto, trata-se de uma reação exagerada que não reflete a realidade de forma acurada, na maioria das vezes, identifica perigos onde não existem e gerando estresse desnecessário.

Efeitos: índice elevado do hormônio do estresse – cortisol – no sangue, problemas de concentração, dificuldade de aprendizado, de manter metas, de se organizar e de regular as emoções, irritabilidade, insônia/problemas do sono, reflexo de susto exagerado, hipersensibilidade à luz e a sons, entre outros.

Uma das reclamações mais comuns de minhas clientes é que se consideram altamente reativas – ou que se abalam com grande facilidade – até quando reconhecem que as suas reações emocionais são desproporcionadas. Além disso, relatam que ao se sentirem afetadas emocionalmente, seja pela raiva ou ansiedade (em geral, causada pela preocupação excessiva), por exemplo, têm dificuldade de voltarem “ao normal” ou se desligarem destas com a agilidade de que gostariam.

2- Baixa atividade do córtex cerebral

O córtex cerebral compreende a parte do cérebro onde se originam os pensamentos analíticos e racionais, além de tratar de funções relacionadas ao aprendizado e à nossa habilidade de resolver problemas de modo objetivo. O córtex pré-frontal, em especial, é responsável pela reflexão balanceada e objetiva que permite ao indivíduo analisar e fazer planos, decisões e julgamentos baseado em comportamentos passados. Também é onde não só se avalia o próprio pensamento ou funções cognitivas (metacognição) (Fleming, Huijgen & Dolan, 2012), bem como regula os impulsos, as vontades, as compulsões e o comportamento nas interações sociais. Nas vítimas sobreviventes do trauma do desenvolvimento, a reatividade emocional é tão grande e a atividade da amígdala tão rápida e intensa, que tende a dominar o processo de interpretação de informação. Como resultado, o córtex, literalmente, “não tem chance” (Van der Kolk, 2014) de auxiliá-las a interagirem com o mundo a sua volta e com seus próprios pensamentos de uma forma equilibrada, adulta e sem a influência das crenças e emoções relacionadas ao trauma.

Efeitos: alta reatividade emocional (ex.: alta raiva e ansiedade que não diminuem com o tempo), temperamento volátil, dificuldade de criar e manter relacionamentos saudáveis e de regular as emoções, as vontades, os impulsos e os comportamentos nas interações sociais.

Este fenômeno é observado, de forma clássica, na atitude daquela cliente e filha de mãe tóxica/narcisista que, embora seja adulta, inteligente e tenha plenas condições de viver uma vida autônoma, sente-se como uma criança e totalmente pressionada pela própria inadequação. Portanto, assemelha-se ao indivíduo que primeiro age para pensar depois e, por consequência, arrepende-se seguidamente de seu próprio comportamento ou sente-se descontente com a maneira pela qual responde a situações estressantes ou que requerem uma atitude mais equilibrada e autocentrada. Quando se permite parar para pensar a respeito de si e suas opções de forma calma e centrada – tal como no ambiente da terapia – agem de maneira a, naturalmente, ativar as áreas de seu cérebro responsáveis pelo raciocínio objetivo, tal como o córtex.

Se você se identifica com os pontos mencionados, não é por ser “incompetente”, “burra”, “errada” ou “lesada”, mas porque está sofrendo com os efeitos do trauma do desenvolvimento. Estas reações não são aberrantes, mas normais considerando o contexto do abuso e da negligência ao qual foi submetida durante muito tempo. Neste sentido, o seu cérebro não é deficiente e exerceu perfeitamente o papel que deveria, ao tentar não apenas proteger os seus bem-estares físico, emocional e psicológico, assim como preservar o relacionamento com as pessoas responsáveis pela sua sobrevivência e que deveriam, em teoria, terem-na protegido e assegurado um ambiente familiar funcional e harmonioso para o seu desenvolvimento. Para lidar com os efeitos do trauma da melhor maneira possível, é vital que, em primeiro lugar, conscientize-se desta verdade.

Referências

Fleming, S. M., Huijgen, J. & Dolan, R. J. (2012). Prefrontal Contributions to Metacognition in Perceptual Decision-Making. J Neurosci. 32(18): 6117–6125. doi: 10.1523/JNEUROSCI.6489-11.2012

Van der Kolk, B. (2014). The Body Keeps the Score: Mind, Brain and the Body in the Transformation of Trauma. London, UK: Penguin Books.

 

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