A codependência é uma inclinação comportamental excessiva à preocupação e ao cuidado dos sentimentos, desejos e necessidades dos outros. O termo teve origem nos anos setenta na comunidade terapêutica norte-americana especializada em lidar com vítimas diretas e indiretas do alcoolismo. Observou-se que familiares e demais pessoas envolvidas com o(a) alcoólatra exibiam uma tendência exagerada ao controle de problemas alheios. Por possuir uma aplicação tão abrangente, o conceito de “codependência” tornou-se popular também fora da área de dependência química e hoje é amplamente adotado como jargão psicoterápico. Acredita-se que a codependência esteja no âmago de uma grande variedade de problemas de saúde mental, como os relacionados à baixa autoestima (comportamentos autodestrutivos), à ansiedade e ao descontentamento pessoal generalizado.
A codependência é um comportamento aprendido nos contextos das famílias disfuncionais. Entre os sistemas familiares com o potencial de causar a codependência, estão aqueles marcados por:
- segredos e/ou relutância ao diálogo;
- comunicação de forma indireta (uso de intermediários, por exemplo: filho(a), irmão(ã) para se dizer o que quer/pensa de um outro membro da família, por exemplo: mãe, pai);
- negligência afetiva caracterizada pela repressão e a opressão da expressão de sentimentos, principalmente quando antagônicos;
- problemas de saúde mental como a depressão, ansiedade, transtornos de personalidade e dependência química;
- recusa de lidar com problemas de ordem psicológica e emocional;
- acobertamento da incidência de problemas;
- limites pessoais fracos, inconsistentes e que não são respeitados;
- valorização do excesso de drama em vez de valorizar o entendimento e a serenidade;
- excesso de controle/influência;
- falta de incentivo ou rejeição à individualidade (vista como egoísmo) e à independência (vista como abandono/traição);
- rigidez e inflexibilidade de valores;
- chantagem emocional;
- perfeccionismo;
- incongruência: inconsistência entre o discurso e a ação;
- excesso de culpa, raiva, agressividade (ativa ou passiva) e vergonha.

A codependência é uma tendência a se sentir responsável pelo bem-estar dos outros
Para filhas de mães narcisistas, a codependência é uma consequência “natural” do convívio com o narcisismo. A dinâmica dos relacionamentos entre familiares sob a influência do narcisismo, seja materno ou paterno, rejeita a autonomia e o crescimento pessoal e favorece, indireta ou diretamente, comportamentos e atitudes que se submetem aos sentimentos e vontades do(a) narcisista. A família, quando regida pela tirania narcisista, “funciona” somente quando seus membros estão dispostos a ignorar seus próprios interesses para se concentrarem nos do narcisista, fazendo da negligência pessoal um processo “lógico” e necessário para a manutenção do status quo. Através deste processo de autoanulação constante, filhas, filhos e parceiros da pessoa com narcisismo aprendem a direcionar a sua atenção para fora de si mesmos, tomando para si a responsabilidade pelo bem-estar alheio. Com o tempo, esta dinâmica se torna a referência para relacionamentos não somente dentro, mas também fora do ambiente familiar.
Filhas de mãe narcisistas têm a tendência de agir como a mãe, psicóloga e adulto responsável pelas escolhas, necessidades, bem-estar, situação financeira, afetiva, social e emocional de seus parentes, amigos, parceiros amorosos, colegas de trabalho, e praticamente qualquer pessoa que julga “precisar” de ajuda, independente do nível de intimidade do relacionamento. Como filha de mãe narcisista e codependente, está sempre envolvida com problemas alheios enquanto ignora a própria felicidade. Filhas de mães narcisistas são “mártires”, ou “Madre Terezas” disfarçadas, colocadas ao mundo para consertar o que há de errado e curar o sofrimento do outro. Sem o drama e a confusão do desespero do próximo, a filha de mãe narcisista se sente entediada, vazia e perdida.
Como codependente, você…
– acha difícil falar sobre seus próprios sentimentos por não acreditar que sejam importantes,
mas se ressente quando não são valorizados;
– é obcecada em ajudar, mas se recusa a ser ajudada e se ressente quando não é oferecida ajuda;
– ajuda mesmo quando não é solicitada e fica ressentida quando esta é recusada;
– reage de maneira exagerada ao que não lhe diz respeito;
– preocupa-se com o que acontece com os outros;
– opta por relacionamento caóticos e repletos de drama, mas se ressente quando não dão certo;
– tem problemas de intimidade emocional;
– sabe o que é melhor para os outros, mas não tem ideia do que seja bom para si mesma;
– sente-se forçada a resolver o problema dos outros, mas ignora aqueles que lhe dizem respeito;
– fica chateada com os outros quando não seguem o que você sugere;
– sente-se atraída por pessoas carentes, inseguras, imaturas ou com problemas de baixa autoestima;
– se faz permanentemente disponível para ajudar os outros, mas se ressente quando abusam de sua ajuda;
– ajuda a perpetuar – mesmo que inconscientemente – a irresponsabilidade e a carência, como comportamentos abusivos e a dependência, seja emocional, psicológica, financeira e/ou química.
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