Comportamento facilitador

Filhas de mães narcisistas, assim como a maioria das pessoas normais, nascem programadas para reconhecer a dor alheia. Tão cedo, quando no berçário, os bebês são capazes de se sentirem afetados pelo sofrimento ou inquietude do próximo. Basta um começar a chorar para que os vizinhos se unam em um coro de lamentações, representando uma reação imediata ao desconforto.

Ao longo do desenvolvimento, esta resposta se torna mais sofisticada e condizente com que entendemos na idade adulta por empatia. Uma criança de 2 anos já é capaz de identificar a aflição de um bebê choroso oferecendo seu biscoito ou brinquedinho. Com o passar do tempo e através de instrução e do aprendizado, esta habilidade de conectar com os sentimentos dos outros se torna mais direta e ativa, envolvendo não somente o reconhecimento, como também um forte desejo de remediar o efeito de emoções antagônicas.

Mães normais estimulam o desenvolvimento e a prática da empatia em seus filhos de maneira coerente e saudável. Entendem o conceito de compreender e compartilhar dos sentimentos dos outros como uma reação humana perfeitamente aceitável.

Como agem de maneira a preservar seu bem-estar, ensinam-lhes a serem solidários embora respeitem seus próprios limites, ou seja, a distinguirem quando o auxílio tem um efeito positivo (ajuda) ou negativo (comportamento facilitador) tanto no outro quanto em sua própria vida.

Mães narcisistas, por terem sérios déficits neste setor, são péssimas em sua interpretação do que seja comunicar empatia ou ajudar, principalmente quando é a recebedora desta ajuda. Por colocar seus interesses na frente dos filhos na maioria das ocasiões, adestra-os a acreditarem ter o dever de servi-la. Como não reconhece limites pessoais, abusa da boa vontade e do amor incondicional destes tornando-os responsáveis por seu bem-estar. A mãe narcisista envolve os filhos diretamente na resolução de seus problemas como se fosse dever deles solucioná-los e usa de chantagem emocional e da culpa para manipulá-los a se submeterem às suas vontades.

É normal que a filha de mãe narcisista tenha um desejo imenso de dar um basta neste processo, embora não saiba por onde começar. A seguir uma tabela comparativa das características da “ajuda” em contraste do “comportamento facilitador”. O termo “comportamento facilitador” se refere a uma tendência à codependência ou de manter problemas (atitude abusiva, dependência química etc.) em vez de consertá-los, como, por exemplo, perpetuar o abuso narcisista em lugar de aboli-lo. O intuito desta comparação entre ajuda e comportamento facilitador não é de invalidar a sua boa índole, mas de colocar a sua atitude na perspectiva do narcisismo materno, ou seja, fazer com que você entenda que a sua concepção do que consista ajudar pessoas precisa ser reavaliada a fim de que você retome o controle de sua própria vida.

Ajuda Comportamento facilitador
É motivada por sentimentos positivos, como a empatia e a solidariedade. É motivado por sentimentos tóxicos, como a culpa e a vergonha.
Proporciona o desenvolvimento pessoal. Corrobora com e promove comportamentos e atitudes disfuncionais.
É baseada em ideais de amor-próprio e de uma autoestima saudável. Reflete baixa autoestima e uma necessidade de “ajudar” para se sentir aceito(a) e/ou amado(a) pelo outro(a).
É na, maioria das vezes, prazerosa. Exige sacrifício.
É oferecida de igual para igual. É fornecida de superior para inferior (do(a) “generoso(a)” para o(a) “coitado(a)”).
É honesta e concentrada no resultado. Proporciona uma falsa sensação de controle do problema a quem “ajuda”.
Lida com o que está acontecendo de errado de maneira franca. Ignora comportamentos inaceitáveis e atitudes impróprias.
É produtiva. É ineficaz.
É pedida, reconhecida e apreciada. É esperado, considerado normal ou até como um dever/obrigação. Não é requisitado tampouco notado.
Promove o entendimento. Acarreta brigas, discussões e mais desavenças.
É compassiva de forma inteligente e justa. Usa de ideais de solidariedade para acobertar problemas de autoaceitação e falta de amor-próprio.
Tem um início, meio e fim. Tem um início, por vezes um meio, mas nunca fim.
É executada de maneira objetiva, consistente, aberta e clara. É abordado subjetivamente e ocorre de maneira inconsistente e indireta por meio de segredos, intenções obscuras e meias verdades.
Fortalece e revitaliza quem ajuda. Faz com quem ajuda se sinta manipulado(a), usado(a) e decepcionado(a) consigo mesmo(a) e com quem recebe a “ajuda”.
Favorece o processo de mudança e de melhoramento na qualidade de vida Atrasa soluções, perpetua problemas e mantém o status quo.
Reforça e mantém o relacionamento saudável. Pouco a pouco, prejudica e deteriora o relacionamento.
Estimula o autoconhecimento e a amplificação de horizontes. Reduz as possibilidades de crescimento pessoal.
Semeia ideais de maturidade, responsabilidade, independência e autonomia Mantém ideias de imaturidade, irresponsabilidade e dependência.
Beneficia todos os envolvidos, em curto ou longo prazo. Não produz vencedores. Promove uma falsa noção de benefício a quem é “ajudado(a)” por um curto período. O problema permanece ou reincide em longo prazo.
Revigora e consolida a autoestima e a autoaceitação. Perpetua a codependência e o descontentamento pessoal.
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