Ser adulto

O que é ser adulto não é um conceito claro, principalmente para filhas de mães narcisistas.

Um dos grandes desafios da filha de mãe narcisista na idade adulta é identificar-se como tal. Filhas de mães narcisistas têm dificuldades de se associarem à imagem de mulher madura e capaz. Apesar de teoricamente ter ciência de suas competências, na prática, a filha de mãe narcisista se sente insegura em confiar no seu conhecimento e poder de decisão.

Isso se deve ao fato de que a educação narcisista não estimula a individualidade e a autoconfiança, mas a dependência. Desde a infância até a idade adulta, a filha de mãe narcisista é condicionada a se identificar somente com as vontades, opiniões e interesses maternos. Sem a presença e orientação da matriarca, tudo a respeito da filha de mãe narcisista perde a relevância. O que lhe é autêntico torna-se descartado ou rejeitado. Acredita que para conseguir algo de valor em sua própria vida, somente através da instrução, supervisão e avaliação minuciosas de sua mãe. Segundo a visão desta, a filha de mãe narcisista sozinha, não é considerada competente para conquistar nada de valor, independentemente de seu estágio de desenvolvimento, idade ou nível de experiência.

Com o tempo, esta mensagem consolida-se com uma crença que a filha de mãe narcisista mantém sobre si mesma, como um insistente lembrete de autodepreciação. Mesmo ao exalar uma aura de aparente segurança e convicção, internamente, duvida das próprias habilidades. Em sua memória, a imagem daquela criança que “nunca consegue fazer nada certo”, sabota o seu desejo de se sentir madura e em controle de si mesma.

Ser educado por uma pessoa com um transtorno de personalidade, tal como o narcisismo, transforma o processo de diferenciação na idade adulta uma tarefa de peso. Os exemplos mais próximos do que é ser adulto, ou seja, sua mãe e/ou seu pai, são inconsistentes demais para serem confiados. Grande parte das lições e valores transmitidos pela mãe narcisista precisa ser desaprendido para se reconhecer como uma pessoa adulta e capaz.

Para ajudar a compreender o que se entende por uma atitude condizente com a de um adulto, ou ser adulto, seguem oito características observadas no comportamento da filha de mãe narcisista:

É responsável pelos seus atos: adultos estão psicológica e emocionalmente preparados para lidar com as consequências de seus atos. Como sabem que é seu dever limpar a própria sujeira, não tentam encontrar falsas justificativas por agirem da maneira que agem. Eles honram tanto seus momentos bons quanto ruins, celebram o sucesso sem falsa modéstia, admitem a própria culpabilidade e pedem desculpas por magoarem os outros ou influenciarem suas vidas de forma negativa. Adultos não ignoram desavenças para que sejam “curadas” sozinhas e pelo efeito do tempo, são proativos em expressarem seus pensamentos e sentimentos com honestidade e respeito, reconhecendo e admitindo suas próprias vulnerabilidades.

É responsável pela própria vida: com a maturidade vem a consciência de nossos próprios limites. A pessoa adulta reconhece e vive em paz com suas fraquezas sem se sentir limitada por isso, aprende a respeitá-las, optando por um estilo de vida que complemente sua personalidade e perfil físico e psicológico. Quando comete falhas de julgamento, não usa de subterfúgios para evadir da responsabilidade de suas próprias escolhas, mas encara seus erros de frente – mesmo quando temerosa e com a autoconfiança destroçada – tomando as rédeas de sua vida com a coragem de quem é dono do próprio destino.

Aceita e respeita uma crítica: o adulto não leva a crítica pessoalmente, mas reage de forma objetiva ao recebê-la. Ele não se escuda na arrogância e na dissimulação para emanar uma imagem de eterna superioridade mesmo quando se sente perdido, pois aceita suas vulnerabilidades, priorizando o aprendizado e o crescimento pessoal. Quando bombardeado por pareceres negativos injustos, prefere o diálogo e o entendimento a engajar-se em brigas ou discussões.

Supera suas inseguranças: quando crianças e no período da adolescência, passamos por etapas de profunda insegurança pessoal. Antes de atingirmos uma idade mais madura, embarcamos em um processo de intensa autoexploração e conhecimento. Se esta busca a um senso de identidade ocorre de forma natural e sadia, quando nos tornamos adultos já possuímos estratégias psicológicas e emocionais para lidar com sentimentos antagônicos de maneira efetiva e centrada. Devido a este aprendizado, o adulto tende a não reagir de forma exageradamente imprópria ao se sentir inadequado, mas usa dos recursos existentes para gerenciar suas emoções com maior controle.

É fiel a si mesmo: o adulto sabe quem é e o que quer. Ao reconhecer o valor do aprendizado resultante das interações sociais e do compartilhamento de visões de mundo divergentes, é capaz de se conceber como entidade autônoma e de julgamento independente. Em harmonia com sua própria essência, é hábil a distinguir entre atitudes e comportamentos que os favorece tanto física quanto psicologicamente, priorizando seu bem-estar e qualidade de vida.

É integro: a integridade representa uma das caraterísticas mais marcantes e respeitadas na idade adulta, caracterizada principalmente pela consistência entre identidade e atitude, ou seja, o adulto, quando íntegro, é congruente, pois age de acordo com o que alega, assim como seus valores e princípios. Além de ser justo, exibindo uma sólida consciência no que se refere a comportamentos de base moral e ética, ideologia que pode ser observada não somente em teoria ou na qualidade de sua retórica, mas na maneira como se conduz nos relacionamentos com as outras pessoas.

Envelhece graciosamente: envelhecer com dignidade indica sabedoria e maturidade. A pessoa adulta não ressente a própria idade, mas aceita o processo de envelhecimento com naturalidade. Mesmo ciente do que representa, usa de sua criatividade pessoal para manter-se ativo e produtivo, celebrando seu conhecimento e experiência com o orgulho de quem valoriza a si mesmo e se faz responsável por sua própria felicidade e qualidade de vida.

Supera seu medo da morte: o adulto lida com a morte como um dos eventos mais comuns e naturais a todos nós. Trata do assunto com a coragem e a objetividade de quem é forte e maduro o suficiente para aceitar suas próprias vulnerabilidades. O adulto se entrega a ideia da morte com a mesma paz de espírito com que renuncia o desejo de controle absoluto, com humildade perante o grande mistério da vida.

Quando se pegar questionando o mérito do seu próprio conhecimento e experiência, lembre-se de uma grande verdade: o sofrimento ensina. O seu sofrimento, filha de mãe narcisista, ensinou-lhe muito. Aprendeu, cedo, a tomar conta de você mesma, a administrar seus sentimentos e a continuar tocando a sua vida para frente embora se sentisse abandonada afetivamente pela própria mãe. Não subestime a sua sabedoria interior. O seu problema não é falta de competência, mas de consciência de quem realmente é. Tenha como objetivo acreditar em si mesma. Cultive o hábito de questionar o mérito de todo e qualquer pensamento que não substancie a imagem da mulher adulta e capaz que você sempre foi. Torne-se a defensora número 1 da sua autoestima. Se a sua insegurança persistir diante da realização de tarefas de alta complexidade, aceite as suas fraquezas com complacência e se entregue de corpo e alma ao aprendizado e desenvolvimento pessoal. O segredo do seu sucesso está na sua atitude.

Para acessar uma tarefa de terapia sobre o que é ser adulto, clique aqui

Scroll to top