Sobre o Narcisismo

O termo “narcisismo” já faz parte da cultura ocidental há mais de século. O que se originou no mito grego há milhares de anos atrás, hoje é usado para descrever uma característica ou transtorno de personalidade. Atualmente, a interpretação mais prevalente do que consiste ser um(a) narcisista é a do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição. Este manual é de autoria da Associação Americana de Psiquiatria e é usado como referência de critério de diagnóstico de transtornos mentais em todo mundo.

Para a definição de narcisismo das ultimas edições do Manual Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV & DSM-5), clique aqui (disponível somente em inglês).

Origem e história do Narcisismo

A palavra narcisismo tem origem no mito grego de Narciso, rapaz jovem e orgulhoso cuja beleza era admirada por todos. Em uma caminhada ao lado de um rio, Narciso vê seu reflexo na água pela primeira vez. Apaixonado pela própria imagem, ele se mantém junto ao rio para melhor apreciá-la. Por recusar-se a abandoná-la, Narciso morre no local, admirando a si mesmo.

O pai da psicanálise, Sigmund Freud (1914), é comumente referido como o pioneiro na produção de uma versão teórica coerente para o narcisismo, quando liga o termo ao desenvolvimento psicossexual da criança.

No final dos anos 60, o psicanalista Otto Kernberg (1967) faz referência ao conceito de “estrutura de personalidade narcisista” em uma publicação sobre a personalidade borderline.

O interesse da comunidade psicanalítica no narcisismo também se encontra presente no marcante trabalho de Heinz Kohut (1968), ao introduzir a expressão “transtorno de personalidade narcisista” em um artigo na revista acadêmica Pychoanalitic Study of the Child.

Em 1980, o termo introduzido por Kohut (1968) é, finalmente, reconhecido pela comunidade psiquiátrica norte-americana e passa a constar no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-3), no item Personality Disorders.

O Narcisismo como transtorno de personalidade

A pessoa que exibe traços narcisistas de forma patológica possui um transtorno de personalidade narcisista. Os seguintes comportamentos são característicos do(a) narcisista:

  • Precisa ser o centro das atenções.
  • Tem baixa autoestima.
  • É obcecado(a) consigo mesmo(a) e acredita ser merecedor(a) de tratamento diferenciado.
  • Exagera a importância de tudo o que faz, como de habilidades e conquistas.
  • É incapaz de se colocar no lugar dos outros e de expressar comiseração e compaixão genuínas em face do sofrimento alheio, ou seja, tem zero empatia.
  • Tem grande dificuldade de controlar sentimentos negativos, como a insatisfação, a insegurança, a raiva, a culpa e a vergonha.
  • Acredita que tudo deva funcionar de acordo com o que pensa e corresponder aos seus gostos e preferências e, por isso, possui um senso de direito exagerado e anormal.
  • Possui ideais perfeccionistas, inflexíveis e superficiais.
  • Tem dificuldades de manter relacionamentos saudáveis.
  • Vê tudo e a todos como instrumentos para obter seus fins egoístas e egocêntricos.
  • Tem uma inveja doentia do sucesso dos outros, ou habita uma realidade fictícia em que todos têm inveja dele(a).
  • Não tem respeito por pessoas que considere inferiores, as quais trata de modo arrogante.
  • Se vê facilmente deslumbrado(a) pelo que seja belo, caro, grandioso ou sofisticado.

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Causas do Narcisismo

Embora as causas do narcisismo permaneçam desconhecidas, um grande número de estudos científicos publicado recentemente tem ajudado a revelar os fatores – tanto genéticos quanto ambientais – que tendem a influenciar a ocorrência e a manifestação do transtorno de personalidade narcisista. Dentre os quais, o estilo de educação adotado por pais e mães, assim como a genética ou índice de hereditariedade.

Educação

Pais e mães com tendência a tratarem os filhos com apreciação e dedicação exageradas, como se fossem merecedores de tratamento especial, contribuem com o desenvolvimento de traços de personalidade narcisistas na criança.

Atitudes inflexíveis de pais e mães que não toleram erros ou vulnerabilidades também estão relacionadas à manutenção de uma tendência comportamental de constante admiração. Neste contexto familiar de negligência afetiva e emocional, sobretudo de sentimentos antagônicos, a criança aprende a cultivar um falso senso de autoestima e amor-próprio, tornando-se dependente de afirmação externa para se sentir aceita e amada.

Fatores genéticos

Uma variedade de pesquisas científicas ao redor do mundo tem apontado o narcisismo como hereditário, ou seja, como um problema que é passado de uma geração para a outra. Estima-se que o índice de hereditariedade do transtorno de personalidade narcisista pode chegar a 64%.

Complicações

Indivíduos que apresentam sintomas de transtorno de personalidade narcisista costumam exibir problemas nas seguintes áreas:

Saúde Mental: o narcisismo tende a ocorrer juntamente com a depressão.

Relacionamentos: narcisistas são notórios por suas dificuldades de estabelecerem relacionamentos estáveis e saudáveis, sejam de ordem familiar, social, amorosa ou profissional.

Dependência: é comum para narcisistas desenvolverem problemas com o álcool e as drogas.

Fatos

O transtorno de personalidade narcisista é encontrado em 1% da população geral.

Quando convertemos este índice usando como exemplo a população brasileira atual de 208 milhões de pessoas, podemos estimar que o número de narcisistas no Brasil chega a aproximadamente 2 milhões de pessoas.

Na população clínica, o narcisismo é o diagnóstico de 2% a 16% dos casos de transtornos mentais.

O narcisismo tende a ocorrer comorbidamente com a depressão.

No livro The Narcissism Epidemic: Living in the Age of Entitlement, Twenge and Campbell (2009) estimam que um em dezesseis norte-americanos de todas as idades exibe caraterísticas de personalidade narcisista.

Narcisistas famosos

Embora nunca tenham sido oficialmente diagnosticados, Adolf Hitler, Napoleão Bonaparte, Saddam Hussein, Bill Gates, Steve Jobs, Warren Beatty, Kanye West, Madonna, Donald Trump, Paris Hilton e Justin Bieber são alguns dos muitos nomes comumente associados com o narcisismo.

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Simbolismo

No brilhante The Wizard of Oz and other Narcissists: Coping with the One-Way Relationship in Work, Love, and Family, Payson (2002) faz uma analogia do caráter do narcisista comparando-o ao mágico de Oz, personagem do filme de mesmo nome.

Segundo Payson (2002), o comportamento enganoso do mágico de Oz é equivalente à atitude do narcisista de aparente “poder” e “superioridade” diante dos outros, quando “por trás da cortina”, não passa de um ser frágil, patético e incapaz de cumprir com o que alude.

O livro também se refere à jornada de Dorothy e seus companheiros ao encontro do mágico para ilustrar a dinâmica dos relacionamentos entre os narcisistas e demais pessoas. Em face da pseudograndiosidade narcisista, se veem encantados pelas supostas qualidades do ilusionista, enquanto se esquecem de reconhecer e valorizar suas próprias habilidades.

O Narcisismo em Filmes

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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